PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado EDGAR EVANGELISTA DOS SANTOS. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Após a manifestação do Exmo. Sr. Procurador de Justiça, Dr. Paulo Juricic, e sustentação oral do Defensor Público, Dr. Cezar Augusto Luiz Leonardo, Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação Criminal nº Comarca: São Paulo Apelante: Ministério Público Apelado: EDGAR EVANGELISTA DOS SANTOS VOTO Nº Apelação. Homicídio qualificado. Absolvição. Pleito ministerial de novo Júri, por ter sido a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. Conselho de sentença que optou por uma das possíveis teses que lhe foram apresentadas. Absolvição mantida. Recurso improvido. Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Ministério Público, contra sentença de primeiro grau (fls. 612/613), prolatada em 15 de dezembro de 2014, pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Rafael Dahne Strenger, da 1ª Vara do Júri da Comarca de São Paulo, que, de acordo com a decisão dos jurados, absolveu Edgar Evangelista dos Santos da imputação contida no art. 121, 2º, inciso IV, do Código Penal, com fundamento no art. 5º, inciso XXXVIII, c, da Constituição Federal. Irresignado, o Ministério Público interpôs o presente recurso de apelação (fls. 626/628) objetivando, em síntese, novo Júri, por ter sido a decisão dos jurados Apelação nº

3 manifestamente contrária à prova dos autos. Em suas contrarrazões (fls. 630/636), a defesa de Edgar, bateu-se pela manutenção do decisium. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer (fls. 648/650), opinou pelo desprovimento ao apelo. É o relatório. Devidamente processado, o apelo não comporta provimento, merecendo ser mantida a r. decisão atacada. Consoante descreve a denúncia, no dia 26 de setembro de 2004, por volta das 20h40min, na Rua Gonçalo Lopes de Camargo, altura do nº 12, Guaianazes, cidade de São Paulo, Edgar, agindo com animus necandi e mediante disparos de arma de fogo, matou Josuel Pereira do Carmo, consoante demonstra o laudo de exame de corpo de delito, exame necroscópico de fls. 38/41. Segundo consta, no dia dos fatos, o ofendido estava num bar quando teve um desentendimento com Ademil Evangelista dos Santos, iniciando-se, então, uma luta entre ambos. Consta, ainda, que o ofendido foi arremessado ao solo por Adenil e, neste momento, o denunciado chegou de surpresa e, de arma em punho, disparou contra o mesmo. Consta, por fim, que Edgar e Ademil, após os disparos, fugiram do local. Apelação nº

4 O crime foi praticado de modo a dificultar a defesa da vítima, eis que colhida de surpresa e ainda estava deitada sem qualquer possibilidade de reação. Finda a instrução, Edgar foi absolvido pelo Tribunal do Júri. Em que pesem os argumentos trazidos na apelação, a absolvição merece subsistir, porquanto a decisão se coaduna com as provas coligidas nos autos, sendo a tese defensiva corroborada pela única testemunha ouvida em plenário e o próprio interrogatório do acusado. Ressalta-se apenas ser possível a determinação de novo julgamento quando a decisão tomada pelo Conselho de Sentença afrontar de forma nítida e cristalina o conjunto probatório contido nos autos. Assim, se os jurados optam por uma das plausíveis interpretações que se possa dar às provas colhidas, não há que se falar em novo julgamento. A testemunha comum Ivanize, em plenário, informou que o ofendido estava na porta do bar quando Ademil saiu do estabelecimento e Josué lhe deu um soco, derrubando-o. Quando a vítima foi levantá-lo para continuar as agressões, Edgar saiu do bar e atirou. Josuel não tinha costume de ir ao referido bar, porém no dia foi atrás de Ademil. A testemunha Ademil, em juízo, disse ter a vítima entrado em um bar, já discutindo e provocando o mesmo para uma discussão. Afirmou que, em seguida, o declarante foi puxado pela vítima para fora do bar e ambos entraram em uma Apelação nº

5 luta corporal, sendo agredido por Josuel. A testemunha Adriano, em seu depoimento, disse se lembrar de dois disparos efetuados por Edgar e, apenas um acertou a vítima. A testemunha Fabiana, também lembrouse de ter ouvido dois disparos. A testemunha Reginaldo, ouvido em fase judicial, relatou ter visto a vítima e Ademil se agarrando, momento em que Edgar saiu do bar com arma em punho e efetuou dois disparos na direção da vítima, evadindo-se em seguida. O acusado, em juízo, sustentou que a arma estava nas costas da vítima quando seu tio gritou me acuda porque ele está armado, ocasião em que tomou a arma dela e deu um tiro pra cima. Neste momento, Josué foi para cima dele, tendo efetuado o segundo disparo para se defender. Temos, portanto, não ter o Júri decidido de forma contrária às provas dos autos, mas sim optado por uma das teses que lhe foram apresentadas, respondendo afirmativamente para absolver o acusado. A absolvição, portanto, está em perfeita harmonia com as provas produzidas. Nesse sentido vimos entendendo: Em suma, não cabe a anulação do julgamento, quando os jurados optam por uma das correntes de interpretação da prova possíveis de surgir. Não se trata de Apelação nº

6 decisão 'manifestamente' contrária à prova, mas se situa no campo da interpretação da prova, o que é bem diferente. Consideramos que a cautela, na anulação das decisões do júri, deve ser redobrada, para não transformar o tribunal togado na real instancia de julgamento dos crimes dolosos contra a vida. 1 Ante o exposto, pelo meu voto, dou nego provimento ao apelo ministerial, mantendo-se, in totum, a r. decisão, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator 1 NUCCI, Guilherme de Souza. Tribunal do Júri, 5ª Ed., Forense, p Apelação nº