PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de São Paulo, em que é apelante VINICIUS RAFAEL ALVES DA SILVA, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores LEME GARCIA (Presidente) e NEWTON NEVES. São Paulo, 6 de dezembro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: São Paulo Apelante: VINICIUS RAFAEL ALVES DA SILVA Advogado: Daniele Barbato VOTO Nº Apelação. Posse ilegal de munição. Pleito almejando a absolvição por atipicidade da conduta. Inviabilidade. Laudo que conclui a inaptidão da arma para efetuar disparos, porém comprovou a eficiência da munição para ser deflagrada. Perigo abstrato evidenciado. Condenação mantida. Reprimenda devidamente fixada no patamar mínimo legal. Regime e substituições escorreitos. Improvido. Trata-se de recurso de apelação interposto por VINICIUS RAFAEL ALVES DA SILVA contra sentença de primeiro grau (fls. 116/120), prolatada em 6 de abril p.p., pela MM. Juíza de Direito, Dra. Cynthia Torres Cristofaro, da 23ª Vara Criminal da Comarca da Capital, que o condenou às penas de 2 anos de detenção, em regime inicial aberto, e pagamento de 10 dias-multa, no piso legal, substituída por prestação de serviços à comunidade, em igual prazo, em favor de entidade assistencial, e multa no importe de 10 dias-multa, declarando-o como incurso, por duas vezes, na conduta delitiva tipificada pelo art. 14 da Lei nº /03. Apelação nº

3 Irresignado, interpôs recurso de apelação almejando, em resumo, a absolvição por insuficiência de provas ou mediante o reconhecimento de atipicidade da conduta, decorrente da inaptidão da arma para realização de disparos, e, subsidiariamente, por insuficiência probatória. Em suas contrarrazões, o Ministério Público bateu-se pelo acerto do decisum, reiterando manifestação anterior, consoante art. 2º, caput do Ato nº. 536/2008-PGJ-CGMP. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, endossou as contrarrazões ministeriais, opinando pelo improvimento ao apelo. É o relatório. Devidamente processado, o apelo defensivo não comporta provimento, merecendo subsistir a r. decisão atacada. Segundo descreve a denúncia, no dia 30 de novembro de 2014, na Rua Conde de Porto Alegre, nº 2142, policiais militares surpreenderam o apelante portando uma arma de fogo revólver da marca Castelo, calibre 32, de uso permitido, com numeração suprimida, ainda municiada com um cartucho intacto, sem autorização e em desacordo com determinação legal. A materialidade e a autoria restaram amplamente demonstradas no decorrer da instrução processual, conforme laudos e demais provas orais, produzidas em perfeita consonância, restando inevitável a condenação do apelante. Apelação nº

4 O policial civil Alexandre relatou que estava em patrulhamento de rotina quando se deparou com o recorrente e outro sujeito caminhando pela via pública, em atitude suspeita, razão pela qual resolveu abordá-los. Durante revista pessoal, a arma descrita na denúncia foi localizada sob as vestes do apelante que, questionado, afirmou portá-la, pois pretendia efetuar roubos nas imediações do shopping Ibirapuera. O depoente salientou que a arma tinha numeração suprimida e estava municiada. Em igual sentido seguiram as declarações do policial Francisco, os qual apenas acrescentou que a munição, localizada no interior da arma, estava intacta. O apelante, em seu interrogatório, confessou o porte da arma, a qual disse ter comprado para defender sua genitora das ameaças proferidas por seu padrasto. Por fim, relatou que, no dia dos fatos, foi abordado enquanto levava a arma para ser comercializada. O laudo pericial (fls. 74/75) é suficiente à materialidade delitiva, certificando que, malgrado a arma não seja apta à realização de disparos, a munição examinada é eficiente à deflagração. Diante do quadro, a confissão do apelante se coaduna às demais provas coligidas durante a instrução processual, sendo suficientes à manutenção do édito condenatório. Nesse passo, desprovido de razão o apelo quanto à aventada atipicidade, porquanto o porte ilegal de Apelação nº

5 munição, mesmo quando desacompanhada de arma de fogo, é conduta provida de periculosidade, não podendo, de forma alguma, ser desconsiderada. Nesse sentido vimos entendendo: Quer-se no Brasil, efetivar o controle estatal de armas de fogo em geral, contando, para tanto, com acessórios igualmente perigosos bem como levando-se em conta a munição sem a qual a arma de fogo é inútil. Surpreender alguém portando grande quantidade de munição, por exemplo, sem autorização legal, pode ser conduta mais grave que o singelo porte de um revólver calibre 38, devidamente registrado. Logo, não vemos infringência a nenhum princípio penal, mormente o da proporcionalidade, devendo o magistrado, por ocasião da individualização da pena, levando em conta o disposto no art. 59 do Código Penal, fixar a pena-base para mais ou para menos 1. Em igual posicionamento, oportuno colacionar recente julgado proferido pelo E. Superior Tribunal de Justiça, perfeitamente amoldável ao presente caso: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, Forense, 9ª Ed., vol. II, nota 39, art.14. Apelação nº

6 RECURSO PRÓPRIO. DESCABIMENTO. POSSE ILEGAL DE MUNIÇÃO DE USO RESTRITO. ART. 16 DA LEI /2003. ABSOLVIÇÃO. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. INADMISSIBILIDADE. CRIME DE PERIGO ABSTRATO. TIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE FLAGRANTE ILEGALIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. A jurisprudência desta Corte Superior é pacífica no sentido de que o crime descrito no art. 16 da Lei /2003 é de mera conduta e de perigo abstrato, cujo bem jurídico tutelado é a segurança pública e a paz social, sendo, portanto, irrelevante que a munição esteja desacompanhada da respectiva arma. Habeas corpus não conhecido.(hc /SP, 6ª Turma, rel. MARILZA MAYNARD SEXTA TURMA, , v.u. - grifo nosso). Com efeito, concluída a eficácia da munição, de uso não restrito, em razoável quantia, ainda que desacompanhadas de arma de fogo, na ocasião da apreensão, não há como se olvidar da exata subsunção à figura da posse ilegal de munição, conforme tipificado pelo Estatuto do Apelação nº

7 Desarmamento, restando, de rigor, a manutenção do édito condenatório. De tal sorte, suficientemente demonstradas autoria e materialidade delitivas, irreprochável a condenação do recorrente como incurso na conduta delitiva prevista no art. 14 da Lei nº /06, cuja reprimenda não comporta reparos. Na dosimetria da pena, consoante o art. 59 do Código Penal, ante a ausência de circunstâncias judiciais negativas aptas a majorar quantitativamente, em quaisquer das etapas do sistema trifásico, a juíza sentenciante manteve a reprimenda em seu patamar mínimo legal, perfazendo 2 anos de reclusão, além do pagamento de 10 dias-multa, tornando-a definitiva à mingua de demais causas modificadoras. Por fim, a quantidade de pena estabelecida, aliada às condições pessoais do apelante primário e desprovido de antecedentes, permitiu a imposição do regime mais brando, o qual seja o aberto, bem como a substituição da reprimenda por restritiva de direitos, suficientes à reprovação do delito, consoante devidamente fundamentado pela magistrada sentenciante. Ante o exposto, pelo meu voto, nego provimento ao apelo defensivo interposto, mantendo, in totum, a r. sentença atacada, por seus próprios e jurídicos fundamentos. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº

8 Apelação nº