PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Angatuba, em que é apelante BRUNO RODRIGUES PRESTES, é apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram parcial provimento ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Araçatuba Apelante: BRUNO RODRIGUES PRESTES Advogado: Fábio Dias VOTO Nº Apelação. Furto tentado. Concessão de sursis processual. Possibilidade. Apelante primário, sem antecedentes criminais, denunciado como incurso no delito tipificado pelo art. 155, 'caput', do Código Penal, cuja pena mínima é 1 ano. Conversão em diligência para que o parquet possa oferecer a suspensão ao apelante. Parcialmente provido. Trata-se de recurso de apelação interposto por BRUNO RODRIGUES PRESTES contra sentença de primeiro grau (fls. 61/64), prolatada em 14 de maio de 2014 pela MM. Juíza de Direito, Dra. Vanessa Velloso Silva Saad, da Vara Criminal de Angatuba, que condenou às penas de 6 meses de reclusão, em regime inicial aberto, e pagamento de 5 diasmulta, no mínimo legal, declarando-o como incurso no art. 155, caput, combinado com o art. 14, II, ambos do Código Penal. Irresignado, interpôs recurso de apelação objetivando, em resumo, absolvição por insuficiência de provas, bem como a mitigação da reprimenda. Em suas contrarrazões, o Ministério Apelação nº

3 Público bateu-se pelo acerto do decisum, reiterando manifestação anterior, consoante art. 2º, caput do Ato nº. 536/2008-PGJ-CGMP. A douta Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, endossou as contrarrazões ministeriais, opinando pelo improvimento ao recurso. É o relatório. Devidamente processado, o apelo defensivo não comporta provimento, merecendo reparo a r. decisão atacada. Segundo descreve a denúncia, em 28 de dezembro de 2014, o apelante ingressou na oficina mecânica, na Rua Tenente José Marcos de Albuquerque, nº 869, e tentou subtrair duas rodas e respectivos pneus, avaliadas em R$ 600,00, somente não logrando êxito graças à rápida intervenção de uma vizinha que acompanhou a ação. De plano, independentemente da análise de mérito, percebe-se concebível a possibilidade de oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo pelo Ministério Público. A Lei nº /1995, em seu art. 89, disciplina que, nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que Apelação nº

4 autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal ). Destarte, In concreto, o apelante foi denunciado como incurso no art. 155, caput, do Código Penal, cuja pena mínima não ultrapassa 1 ano. No mesmo passo, das peças carreadas, denota-se que o recorrente é primário e possuidor de bons antecedentes (visto que a folha de antecedentes carreada à pág. 38, além de não anotar condenações, nem processos em trâmite, sequer supre a ausência das certidões de objeto e pé), preenchendo, portanto, os requisitos necessários a benesse. Entretanto, por algum lapso, o membro do parquet deixou de oferecer a referida proposta e, ao seu turno, a magistrada a quo, ao receber a denúncia (fl.52), igualmente olvidou e tão logo designou a audiência para a oitiva das testemunhas, dando início à instrução processual. Com efeito, olvidou-se o oferecimento da proposta de suspensão condicional do processo e, ao final da instrução, culminou na condenação do recorrente. Nem se olvide que o denominado sursis processual, embora seja um benefício ao acusado, é também uma faculdade do parquet, cabendo ao Ministério Público, de forma exclusiva, a oferta da proposta de suspensão. Nesse sentido vimos entendendo: Proponente: é exclusivamente o órgão acusatório. Cabe ao Ministério Público, como regra, a Apelação nº

5 proposta de suspensão condicional do processo, desde que entenda preenchidos os requisitos legais. Se não o fizer, é incabível a sua substituição pelo magistrado e muito menos pelo próprio acusado 1. Dessa feita, cabendo ao promotor apreciar os requisitos e oferecer o sursis processual, de rigor a conversão em diligência, visando à abertura de vista ao membro do parquet, de primeira instância, para exame e, assim entendendo, proposição de suspensão condicional do processo em relação ao apelante. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao apelo defensivo convertendo em diligência para abertura de vista ao promotor de justiça, de primeira instância, visando à apreciação e, assim entendendo, oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo ao apelante. GUILHERME SOUZA NUCCI Relator 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, Forense, 8ª Ed., vol. II Apelação nº