PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Execução Penal nº , da Comarca de Bauru, em que é agravante NILVAIR APARECIDO FRUTUOSO DE LIMA, é agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 1 de março de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo em Execução nº , Comarca: Bauru Agravante: NILVAIR APARECIDO FRUTUOSO DE LIMA Advogada: Márcia Coarini VOTO Nº Agravo em Execução. Pedido de reforma da decisão que indeferiu a progressão ao regime aberto em razão da ausência de preenchimento de requisito objetivo. Recorrente condenado por delito hediondo anterior à Lei nº /2007. Progressão regulada pela fração de 1/6. Lapso temporal devidamente preenchido até a data do presente julgamento. Necessidade de avaliação do requisito subjetivo pelo magistrado 'a quo', visto inexistir nos autos elementos para tanto. Parcialmente provido. Trata-se de Agravo em Execução interposto por NILVAIR APARECIDO FRUTUOSO DE LIMA contra decisão datada de 23de março de 2015 (fl. 18), proferida pelo MM. Juiz de Direito, Dr. Enio Móz Godoy, da 2ª Vara das Execuções Criminais da Comarca de Bauru que indeferiu sua promoção ao regime aberto, em razão de carência do requisito objetivo, uma vez não resgatado o lapso temporal necessário à concessão do almejado benefício. Irresignado, o agravante sustenta a necessidade de reforma da decisão, uma vez preenchidos ambos os requisitos, em decorrência dos quais pleiteia a concessão de progressão. Em contrarrazões, o parquet bateu-se Agravo de Execução Penal nº

3 pelo acerto do decisum, sustentado, ainda, a interrupção de prazo para a progressão, em razão do cometimento de falta grave. A Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, endossou as contrarrazões ministeriais, manifestando-se pelo improvimento ao agravo. Devidamente apreciado, o agravo defensivo comporta parcial provimento, merecendo reparo a r. decisão atacada. Consoante às peças carreadas aos autos (fl. 10), o agravante foi condenado à pena de 14 anos, em vista do cometimento de homicídio qualificado, praticado em Nesse passo, oportuno consignar que, malgrado a Lei n o /2007 tenha expressamente permitido a progressão de regime aos crimes hediondos, elegeu como lapsos temporais mínimos de cumprimento de pena as frações de 2/5 e 3/5, montante deveras superior à fração de 1/6 prevista aos crimes comuns, representando, pois, encargo prejudicial face ao status quo. Dessa feita, impossível admitir a retroatividade da Lei n o /2007, porquanto, in casu, demonstra-se prejudicial ao condenado. Com efeito, em vista do boletim informativo (fl 7), depreende-se que o agravado cumpriu, sob os regimes fechado e semiaberto, razoável lapso temporal da pena à qual foi condenado, assim anotando: Agravo de Execução Penal nº

4 ? Total da Pena 14 anos? Início do Cumprimento ? Interrupção 6 meses e 4 dias? Deferimento do semiaberto? Previsão de Término Diante do quadro, o agravado permaneceu custodiado sob o regime fechado cerca de 6 anos e 8 meses e sob o regime semiaberto 1 ano e 10 meses, lapso representativo de pouco mais de 3/5 ( ) da pena total imposta, restando, à evidência, inquestionável o preenchimento do requisito objetivo para a progressão ao regime aberto cujo 1/6 da pena em regime intermediário restou resgatado em Quanto ao requisito de ordem subjetiva, entretanto, não é possível a apreciação por esta Relatoria, primeiramente pelo fato de inexistir apreciação deste requisito pelo magistrado a quo o que configuraria, em princípio, supressão de instância e, por conseguinte, tendo em vista o histórico prisional do agravante, anotando o cometimento de falta grave (evasão), em decorrência da qual o cumprimento da reprimenda restou interrompido por cerca de 6 meses. A progressão, assim como os demais benefícios penais, tem como fundamento a confiança no restabelecimento do condenado, demandando análise mais acurada, antes de ser agraciado com a pretendida benesse. Agravo de Execução Penal nº

5 Ademais, para tais casos, temos recomendado a prévia realização de exame criminológico, dotado de relatórios individuais, elaborados pelos profissionais das searas da psicologia, psiquiatria e assistência social, possibilitando ao magistrado melhor oportunidade de aproximarse da real condição do condenado, observando-o sob distintos prismas, para alicerçar sua livre convicção. Neste sentido vimos entendendo: [...] cabe ao juiz da execução penal determinar a realização do exame criminológico, quando entender necessário, o que deve fazer no caso de autores de crimes violentos contra a pessoa. Qualquer tentativa de engessar a atividade jurisdicional deve ser coibida. Se os pareceres e os exames eram padronizados em alguns casos, não significa que não mereçam aperfeiçoamento. Sua extinção em nada contribuirá para a riqueza do processo de individualização da pena ao longo da execução 1. Nesse diapasão, oportuno consignar ter a Lei n /2003, na nova redação conferida ao art. 112 da Lei de Execução Penal, elidido tão somente a exigência, mas não a possibilidade de realização de exame criminológico em si. De tal sorte, uma vez não apreciado o preenchimento do requisito subjetivo pelo agravante, de rigor a remessa dos autos ao competente juízo das execuções criminais, visando ao exercício de seu livre convencimento. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento ao agravo defensivo, interposto por 1 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo e Execução Penal, Forense, 11. nota 12, p.953 Agravo de Execução Penal nº

6 NILVAIR APARECIDO FRUTUOSO DE LIMA, para reconhecer o preenchimento do requisito objetivo à concessão da progressão ao regime aberto e determinando a remessa dos autos ao competente juízo das execuções criminais, visando à apreciação do requisito de ordem subjetiva. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Agravo de Execução Penal nº