V - APELACAO CRIMINAL

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1 Nº CNJ : RELATOR : DESEMBARGADOR FEDERAL ABEL GOMES APELANTE : RITA DE CASSIA RODRIGUES FERREIRA ADVOGADO : DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO APELADO : MINISTERIO PUBLICO FEDERAL ORIGEM : OITAVA VARA FEDERAL CRIMINAL DO RIO DE JANEIRO ( ) RELATÓRIO Trata-se de recurso de apelação (fls. 497 e 501/ 510) interposto por RITA DE CASSIA RODRIGUES FERREIRA, em face da sentença (fls. 484/ 493) proferida pela Juíza Federal da 8ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro/RJ, Dra. VALÉRIA CALDI MAGALHÃES, que a condenou, pela prática da conduta descrita no art. 297 c/c art. 304 do Código Penal, à pena de 2 (dois) anos de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa, no valor unitário mínimo. A pena foi substituída por duas restritivas de direito, quais sejam, a prestação de serviços a comunidade ou a entidades públicas. Segundo a denúncia (fls. 94/95), no dia 08/09/2001, a apelante fez uso de passaporte brasileiro falso, em nome de terceiro e com visto americano adulterado para ingressar nos EUA, sendo detida por autoridades norteamericanas e deportada para o Brasil. A denúncia foi recebida em 11/10/2004 (fl. 96) e a sentença foi publicada em 19/06/2012 (fl. 494). Neste ponto, há de ser observado que a ré foi citada por edital (fl. 199), não comparecendo ao Juízo nas datas designadas, fazendo por incidir a aplicação do art. 366 do CPP para suspender o processo em 16/11/2006, voltando ao seu curso normal quando da intimação em 14/07/2011 (fl. 409). Em suas razões recursais, a defesa sustentou que a conduta da apelante não apresentou lesividade ao bem jurídico tutelado a fé pública e 1

2 pleiteou o reconhecimento da inexigibilidade de conduta diversa, de tal sorte que a apelante buscava no exterior um melhor padrão de vida. Contrarrazões do MPF, às fls. 512/516. O parecer emitido (fls. 523/535) pelo Procurador Regional da República, Dr. JOÃO RICARDO DA SILVA FERRARI, opinando pelo não provimento do recurso. Observo, por fim, com fulcro no art. 251 do CPP, que a prescrição da pretensão punitiva pela pena em concreto ocorrerá em 18/06/2016. É o relatório. À douta Revisão. Rio de Janeiro, 12 de agosto de VOTO 1. Admissibilidade Conheço do recurso, porque estão presentes os seus pressupostos de admissibilidade. 2. Mérito A materialidade e a autoria são incontestes ante o Auto de Apreensão (fl. 06), em que verificado o passaporte da acusada sobre o qual foi constata a adulteração idônea, conforme Laudo de Exame Documentoscópico às fls. 37/38. As fls. 10/17 deixam bem claro que RITA DE CASSIA, de fato, fez uso do documento falso, apresentando-o às autoridades brasileiras para chegar ao destino almejado, pois consta que a acusada foi repatriada, em 10 de Setembro de 2001, após ser retida pelas autoridades de imigração dos Estados Unidos da América, portando passaporte brasileiro em nome de ROSEMERY AGUIAR PEIXOTO. Nesse sentido também é seu depoimento em interrogatório judicial (fl. 403, mídia audiovisual, entre os 2

3 minutos 01:30/ 02:34 e 04:10/ 04:17), onde afirma que sabia da falsidade dos documentos e admite o seu emprego ante às autoridades brasileiras. No mais, a materialidade e autoria sequer são atacadas na presente apelação. A alegação de atipicidade material, ante a ausência de lesividade do passaporte falsificado, não pode prosperar. O exame documentoscópico de fls. 37/38 concluiu que a adulteração do documento é de razoável qualidade, capaz de iludir o homem médio. Sem mencionar que o referido documento foi capaz de ludibriar as autoridades brasileiras. Há alguns anos atrás eu mesmo cheguei a acolher as assertivas trazidas por algumas pessoas que se viram acusadas por fatos semelhantes, no sentido de que o contexto social daquele momento as impelia a migrarem forçadamente para o exterior em busca de oportunidades de trabalho, como ocorreu principalmente na década de 90, quando a estabilidade econômica nacional ainda era claudicante. A partir dos primeiros anos do novo milênio, entretanto, e de forma crescente, o Brasil passou a ter maior estabilidade econômico-financeira, chegando recentemente mesmo a se transformar em destino de imigrantes que para cá vieram em busca de melhores condições de vida e oportunidade de trabalho. Ou seja, de forma contextual, não há como generalizar hoje a situação daqueles que procuram de qualquer forma emigrar ilegalmente para o estrangeiro, mediante utilização de documentos falsos. Há que se aferir caso a caso a situação. No caso concreto, nota-se que o contexto não indica uma intransponível dificuldade que justificasse ou desculpasse a ação da acusada porquanto, mesmo alegando não ultimado o pagamento, chegou a se propor pagar a quantia de US$ 8.000,00 (oito mil dólares) para obter o documento falso e o 3

4 bilhete de passagem aérea (fl. 403, mídia audiovisual, entre os minutos 02:40/03:50). Assim, não há na situação nenhuma excludente de ilicitude ou culpabilidade a ser reconhecida, motivo pelo qual mantenho a sentença a quo. Ante o exposto, nego provimento ao recurso defensivo. É como voto. EMENTA PENAL. DOCUMENTO PÚBLICO FALSO. PASSAPORTE. ART. 304 E ART. 297 DO CP. DELINQUÊNCIA OCASIONAL. INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. NÃO DEMONSTRAÇÃO. I Não há como generalizar a situação daqueles que procuram de qualquer forma emigrar ilegalmente para o estrangeiro, mediante utilização de documentos falsos. O Brasil passou a ter maior estabilidade econômicofinanceira, chegando recentemente mesmo a se transformar em destino de imigrantes que para cá vieram em busca de melhores condições de vida e oportunidade de trabalho. Há que se aferir caso a caso a situação. II No caso concreto, o contexto não indica uma intransponível dificuldade que justificasse ou desculpasse a ação da acusada porquanto, mesmo alegando não ultimado o pagamento, chegou a se propor pagar a quantia de US$ 8.000,00 (oito mil dólares) para obter o documento falso e o bilhete de passagem aérea. III O fato delituoso foi confessado, e não há na situação nenhuma excludente de ilicitude ou culpabilidade a ser reconhecida. III Recurso improvido. 4

5 ACÓRDÃO Vistos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima indicadas, acordam os membros da Primeira Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, por unanimidade, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2013 (data do julgamento). ABEL GOMES Desembargador Federal Relator 5