ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SEXTA CÂMARA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL: Apelante: MINISTÉRIO PÚBLICO Apelado: LEOPOLDO LINHARES NETTO RELATORA: DES. ROSITA MARIA DE OLIVEIRA NETTO ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL APELO MINISTERIAL BUSCANDO A REFORMA DA SENTENÇA ABSOLUTÓRIA - ART. 304 DO CP - AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS - RENOVAÇÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO - INDISPENSÁVEIS EXAMES, INCLUSIVE FÍSICO, COMO O OFTALMOLÓGICO - APRESENTAÇÃO AO SER SOLICITADO PELO AGENTE DE POLÍCIA RODOVIÁRIA, AUTORIDADE COMPETENTE, EM OPERAÇÃO ROTINEIRA DE FISCALIZAÇÃO, NO FERIADO DE CARNAVAL. ESPONTANEIDADE AO PORTAR DOCUMENTO QUE LHE ASSEGURE A CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR, INDISPENSÁVEL O SEU USO, E O PRONTO ATENDIMENTO, AO COMANDO PARA SUA EXIBIÇÃO. 1

2 EVIDENTE O DOLO COM QUE AGIU O APELADO, AINDA QUE DE FORMA EVENTUAL, EIS QUE ASSUMIU O RISCO DE RENOVAR A SUA CARTEIRA DE HABILITAÇÃO, ATRAVÉS DE DESPACHANTE SEM QUE COMPARECESSE AO DETRAN, E SEM SE SUBMETER AOS EXAMES EXIGIDOS PARA A RENOVAÇÃO. JUÍZO CONDENATÓRIO QUE SE IMPÕE - CONDIÇÕES JUDICIAIS FAVORÁVEIS DO DENUNCIADO - PRIMÁRIO E DE BONS ANTECEDENTES - PENA APLICADA NOS PATAMARES MÍNIMOS LEGAIS EM 02(DOIS) ANOS DE RECLUSÃO E 10(DEZ) DIAS- MULTA, A SER CUMPRIDO NO REGIME ABERTO. SUBSTITUÍDA A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS. POR UNANIMIDADE FOI PROVIDO O RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DA RELATORA. Vistos, relatados e discutidos, estes autos de Apelação Criminal nº: em que é Apelante: MINISTÉRIO PÚBLICO e Apelado: LEOPOLDO LINHARES NETTO. ACORDAM os desembargadores da 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. POR UNANIMIDADE FOI PROVIDO O RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DA RELATORA. 2

3 Cuidam os autos de apelo ministerial, em que busca o ora apelante, a reforma da respeitável sentença que, desacolhendo a pretensão inaugural acusatória, veio a absolver o ora apelado. Apresentada as suas razões, em que visa a condenação do ora apelado na pena prevista no art. 304 do CP. Às fls. 108, Contrarrazões defensivas. do apelo. Às fls. 144, Parecer Ministerial voltado ao provimento PASSO AO VOTO Cuidam os autos de apelo ministerial, através do qual é devolvida a matéria debatida em 1º grau, na ação penal que imputou ao ora apelado, a conduta descrita no art. 304 do CP, e que resultou em juízo absolutório. Objetiva a condenação nos termos da inaugural acusatória. Ao reexame, tem-se que, a materialidade está demonstrada no laudo de fls. 24/25, ao atestar a falsidade da CNH que era portada pelo ora apelante, e que resultou em exibição à autoridade fiscalizadora rodoviária, por solicitação desta última, em operação de rotina em função de feriado de carnaval. A autoria é certa, pois o denunciado a confirma e admite que utilizou os serviços de um despachante para renovação 3

4 do documento, serviço, pelo qual, foi cobrado R$ 500,00(quinhentos reais). na prova colhida. O tópico defensivo, quanto ao erro de tipo, não deflui, No dizer abalizado do nobre professor Mirabete (...)Erro do tipo distingue-se de erro de proibição. Enquanto o primeiro exclui o dolo, o segundo afasta a compreensão da antijuricidade. O erro de tipo se dá quando O homem não sabe o que faz, o erro de proibição quando sabe o que faz, mas acredita que não é contrário à ordem jurídica: O erro do tipo elimina a tipicidade dolosa; o erro de proibição pode eliminar a culpabilidade. (Mirabete, Julio Fabbrini; Manual de Direito penal Vol. I São Paulo, Editora Atlas, 18ª ed p.). O que está afastado da realidade, que desponta do declarado pelo ora apelante, que, dotado de autorização administrativa para conduzir veículo automotor, revelando inequívoca ciência das exigências legais, busca sua renovação via terceiro, sem se ater aos exames que lhe são próprios. Estabelece o artigo 147 do CTB: Art O candidato à habilitação deverá submeter-se a exames realizados pelo órgão executivo de trânsito, na seguinte ordem: I - de aptidão física e mental; II - (VETADO) III - escrito, sobre legislação de trânsito; 4

5 IV - de noções de primeiros socorros, conforme regulamentação do CONTRAN; V - de direção veicular, realizado na via pública, em veículo da categoria para a qual estiver habilitando-se. E a emissão de nova via da CNH, o que constitui uma renovação, pois com validade estendida, uma vez que a do documento antecedente estava expirada, não exclui a prévia avaliação, inclusive através de cursos de atualização, além do exame médico e biométrico, ainda que, e sobretudo, se em categoria diversa. Ocorre que, ao Homem médio é de conhecimento a indispensabilidade da permissão, para conduzir veículo motorizado, havendo órgão específico para esta finalidade, assim como a forma e meios legais. Soma-se a que o ora apelante, é portador de antecedente autorização. Inequívoco ao condutor habilitado o atendimento a requisitos certos, inclusive exames médicos, e avaliação na direção veicular, possibilitando a visada renovação. A circunstância, da exibição, ter decorrido de requisição da autoridade solicitante, não afasta o tipo penal, pois o porte já traduz em uso, pois a ninguém é conferido o poder a conduzir veículo motorizado sem a devida licença. Irrelevante se a apresentação foi espontânea ou por solicitação, em sendo documento de uso obrigatório ao condutor. 5

6 É o entendimento dos nossos Tribunais: PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO. PRETENSÃO DEFENSIVA DE ABSOLVIÇÃO EM RAZÃO DA ATIPICIDADE DA CONDUTA. IMPOSSIBILIDADE. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO MEDIANTE SOLICITAÇÃO POLICIAL. CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO. DOCUMENTO DE PORTE OBRIGATÓRIO. AUSÊNCIA DE DOLO. IMPOSSIBILIDADE DE OBTENÇÃO DE CARTEIRA DE HABILITAÇÃO SEM A REALIZAÇÃO DE EXAMES NO DETRAN. PRECARIEDADE DO CONJUNTO PROBATÓRIO. INOCORRÊNCIA. CONJUNTO PROBATÓRIO FIRME E SUFICIENTE PARA EMBASAR O DECRETO CONDENATÓRIO. LAUDO PERICIAL ATESTANDO A FALSIDADE MATERIAL DO DOCUMENTO E SUA CAPACIDADE PARA ILUDIR LEIGOS. DESCABIMENTO DE APLICAÇÃO DA PENA AQUÉM DO MÍNIMO LEGAL. SÚMULA 231 DO E. STJ. DESPROVIMENTO DO APELO. 1. O fato de ter sido o documento solicitado pelo policial militar não descaracteriza o delito, pois essa é a forma normal de utilização desses documentos, ou seja, prestam-se à identificação do sujeito nos atos de sua vida civil, sendo seu porte, no caso, obrigatório. Precedentes. 2. É irrelevante que o documento falso tenha sido espontaneamente apresentado pelo acusado ou se foi ele forçado a exibi-lo por ato de autoridade. 3. É pública e notória a impossibilidade de obtenção de carteira de habilitação sem a realização de exames no DETRAN, com provas escrita e prática, mormente da forma declarada pelo apelante, o que afasta a tese de atipicidade da conduta por ausência de dolo. 4. A própria prova dos autos denota que o apelante sabia ou, no mínimo, deveria saber que o documento era falso e, ainda assim, conduzia o veículo sem estar licenciado para tal, fazendo uso do documento falsificado. 5. A confissão do ora apelante é corroborada pelos depoimentos dos policiais militares que efetuaram a prisão em flagrante, não havendo que se falar em precariedade do conjunto probatório. 6

7 6. O reconhecimento da atenuante genérica da confissão não poderá repercutir na pena, nos termos da Súmula 231, do E. Superior Tribunal de Justiça, eis que o Magistrado sentenciante fixou a pena base do apelante no mínimo legal. 7. Desprovimento do recurso. (TJRJ 3ª Câmara Criminal Apelação Criminal: Relator: Des. José Muiños Piñeiro Filho - Data do Julgamento: 13/09/2011). Falsificação de Documento Público. Uso de Carteira de Habilitação Falsa. Materialidade e Autoria incontestes. Qualquer Pessoa de Conhecimento Médio Sabe que, para Obtenção ou Renovação de Carteira de Habilitação, Há Necessidade da Realização de Exames. Penas Fixadas no Mínimo Legal. Regime Aberto. Aplicação do Art. 44 do Código Penal : Substituição da Pena Privativa de Liberdade por Duas Penas Restritivas de Direitos. Desprovimento do Recurso. ( APELACAO CRIMINAL; DES. MARIA CHRISTINA GOES - Julgamento: 11/10/ QUINTA CÂMARA CRIMINAL) Portanto evidente o dolo com que agiu o apelado. Considerando as circunstâncias judiciais favoráveis do denunciado, a pena deve ser fixada nos patamares mínimos legais, qual seja 02(dois) anos de reclusão, e 10(dez) dias-multas, a ser cumprida a primeira, no regime prisional aberto. Substituída a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direitos, a cargo do Juiz da VEP. ministerial. Desta feita, voto no sentido de prover o recurso 7

8 POR UNANIMIDADE FOI PROVIDO O RECURSO, NOS TERMOS DO VOTO DA RELATORA. Julgado aos 27 de janeiro de DES. ROSITA MARIA DE OLIVEIRA NETTO Relatora 8