PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO Registro: Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Praia Grande, em que é apelante/apelado MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, é apelado/apelante EDUARDO FLORENCIO RIBEIRO JUNIOR. ACORDAM, em 16ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso, nos termos do v. acórdão. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Presidente), LEME GARCIA E OSNI PEREIRA. São Paulo, 23 de fevereiro de Guilherme de Souza Nucci RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Apelação nº Comarca: Praia Grande Apelantes: Eduardo Florêncio Ribeiro Junior e Ministério Público Advogado: Cesar Elvin Laso VOTO Nº Apelação. Roubo impróprio em concurso formal com roubo próprio tentado. Subtração de um veículo, seguida de violência, a fim de assegurar a detenção da coisa, e tentativa de subtração de uma corrente de ouro. Vítimas agredidas fisicamente. Autoria e materialidade comprovadas. Roubo impróprio que não restou consumado. Reforma. No mais, condenação devidamente escorada em sólidos fundamentos. Penas dosadas nos mínimos legais. Em razão do concurso formal, a pena de multa deve ser aplicada distinta e integralmente. Regime semiaberto mantido. Parcial provimento aos apelos. O MM. Juiz a quo, Dr. Alexandre Betini, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Praia Grande, em sentença datada de 28/01/2014 (fl. 147), julgou procedente a ação penal para condenar Eduardo Florêncio Ribeiro Junior às penas de 3 anos e 1 mês de reclusão e 7 dias-multa, em regime semiaberto, como incurso no artigo 157, 1º, e artigo 157, caput, c.c. o artigo Apelação nº

3 14, inciso II, na forma do artigo 70, todos do Código Penal. Insurge-se o órgão acusatório, em face da r. sentença, a fim de ser corrigida a aplicação da regra do concurso formal de crimes na terceira fase da dosimetria, cujo percentual de um sexto deve incidir sobre a pena do delito mais grave, qual seja, o crime de roubo impróprio consumado. Postula, em termos finais, a fixação de regime inicial fechado. Irresignada, a defesa, em suas razões recursais, pretende a desclassificação da conduta para o delito de furto tentado, tendo como regime o aberto. Contrarrazoado os recursos; a Procuradoria Geral de Justiça, em seu parecer, opinou pelo parcial provimento dos apelos. É o relatório. Segundo consta da exordial acusatória, na data de 28 de maio de 2013, por volta de 06h30, na Rua Cago Coutinho, em frente ao número 335, o denunciado subtraiu, para si, o veículo Ford/Fiesta, pertencente à vítima Silvia Maria Xavier Valadão Vicente Valente, tendo, logo depois de subtraída a coisa, empregado grave ameaça e violência contra ela e a vítima Luís Alberto Chaves Alves, a fim de assegurar a detenção do bem para si. Consta, ainda, nas mesmas circunstâncias de tempo e de local acima informados, o denunciado tentou subtrair, para si, mediante violência e grave ameaça exercida com simulação de porte de arma de fogo, uma corrente de ouro, pertencente a Luís Alberto Chaves Alves, Apelação nº

4 avaliada em R$ 3.000,00. Segundo o apurado no inquérito policial, o acusado dirigiu-se ao local dos fatos, deparando-se com as duas vítimas, as quais se encontravam em frente à residência delas, com os respectivos veículos estacionados, dentre os quais um Ford/Fiesta, pertencente à Silvia Maria, estando as chaves na ignição. O réu, aproveitando-se da ausência de vigilância sobre o veículo Fiesta, nele ingressou, acionando a partida e conferindo marcha ré, apossando-se do bem. Ocorre que, neste momento, o ofendido Luís Alberto dirigiu-se rapidamente até o carro e, através da janela do motorista, tentou segurar o volante do automóvel. Como reação, o réu, objetivando assegurar a detenção da res, jogou o veículo contra Luís Alberto, tentando prensá-lo contra um muro, porém sem êxito, tendo o ofendido conseguido desligar o automóvel e retirar a chave do contato. O acusado, então, desembarcou do veículo e, afirmando estar armado, fazendo menção de portar um armamento na cintura, disse que, caso a vítima não lhe entregasse as chaves do carro, iria matar o filho menor do casal, o qual encontrava-se no interior do outro automóvel (Santana). Ato contínuo, o réu passou a agredir fisicamente as duas vítimas, mediante socos e chutes, arrancando, ainda, uma corrente de ouro do pescoço do ofendido Luís Alberto, a qual, contudo, caiu ao solo. Por fim, diante da reação das vítimas, o Apelação nº

5 denunciado empreendeu fuga, sendo seguido por Luís Alberto, que conseguiu detê-lo com o auxílio de populares, até a chegada da polícia. A vítima Silva Maria, ouvida em sede judicial, confirmou os fatos expostos na inicial acusatória, reconhecendo o acusado como o autor dos crimes. Acrescentou que, no momento do delito, estava saindo de sua residência para trabalhar e levar o filho à escola, quando a depoente e o seu marido foram abordados. Declarou que o acusado foi bastante agressivo e violento, simulando, sempre, estar armado, tendo golpeado as duas vítimas com socos e chutes. A depoente disse ter sido agredida com muitos chutes, enquanto seu marido foi golpeado com vários socos na cabeça. O policial militar Reginaldo Cardoso Lopes, em juízo, afirmou não se recordar dos fatos, porém ratificou o que disse na delegacia. Em sede extrajudicial, declarou ter sido o acusado imobilizado por populares, tendo as duas vítimas o reconhecido como o autor dos fatos. Interrogado, o denunciado disse ter consumido drogas na data dos fatos e ingressou em um veículo, cujas chaves estavam na ignição, tentando sair com o mesmo. Ocorre que foi interpelado pela vítima, entrando ambos em luta corporal. O réu negou ter mencionado estar armado, bem como ter agredido as vítimas. Pretende a defesa do recorrente a desclassificação da conduta para o crime constante no artigo 155, do Código Penal, na forma tentada, o que, contudo, não foi Apelação nº

6 evidenciada pelas provas produzidas em sede inquisitorial e confirmadas em juízo. A violência e a grave ameaça despendidas pelo réu são inequívocas, encontrando-se os fatos claramente delineados no transcorrer da ação penal. Em suma, o denunciado ingressou no veículo na intenção de subtraí-lo, porém foi surpreendido pela vítima, a qual tentou impedir a ação criminosa, sendo agredida fisicamente, cuja violência empregada pelo réu visava à detenção da coisa, o que configura o roubo impróprio, nos termos do artigo 157, 1º, do Código Penal. Entretanto, não agiu com o costumeiro acerto o magistrado sentenciante ao considerar o roubo impróprio consumado, porquanto, apesar de configurada a violência, não ocorreu a posse invigilante da res furtiva, tendo o acusado, diante da reação das vítimas, tentado evadir-se sem a posse do veículo, sendo detido por populares. Daí, caracterizada está a tentativa. Em relação à tentativa de subtração da corrente de ouro, acertada a tipificação, não comportando reformas. Destarte, condena-se o acusado como incurso no artigo 157, 1º, c.c. o artigo 14, inciso II, e artigo 157, caput, c.c. o artigo 14, inciso II, na forma do artigo 70, todos do Código Penal. Reconhecido o concurso formal de crimes, através do sistema da exasperação, importa a dosagem Apelação nº

7 do crime com previsão de pena mais grave, aumentada de um sexto até metade, o qual, in casu, importa consignar indiferente, porquanto ambos os roubos caracterizaram-se na forma tentada e possuem abstratamente idênticas reprimendas. As bases foram fixadas nos mínimos legais, em atenção ao artigo 59, do Código Penal. Ausentes agravantes e atenuantes, na terceira fase, tratando-se de crime tentado e, considerando o iter criminis percorrido, a redução deve ser mantida à razão mínima (um terço), suficiente à repressão do delito, porquanto o réu avançou consideravelmente nos atos executórios, consoante acima demonstrado, resultando em 2 anos e 8 meses de reclusão e 6 dias-multa. Por fim, operado o concurso formal de delitos, majora-se a reprimenda à fração de um sexto, tornando definitiva a pena privativa de liberdade em 3 anos e 1 mês de reclusão, somando-se a pena de multa, o que resulta em 12 diasmulta. Malgrado a irresignação ministerial, diante do quantum de pena aplicado, na esteira do artigo 33, do diploma penal, inviável a imposição de regime inicial fechado, porquanto ausente fundamento sólido a sustentar a pretensão formulada, devendo ser mantido o semiaberto. Ante o exposto, pelo meu voto, dou parcial provimento aos apelos, para condenar EDUARDO FLORÊNCIO RIBEIRO JUNIOR como incurso no artigo 157, 1º, c.c. o artigo 14, inciso II, e artigo 157, caput, c.c. o artigo 14, Apelação nº

8 inciso II, na forma do artigo 70, todos do Código Penal, às penas de 3 anos e 1 mês de reclusão, em regime semiaberto, e 12 diasmulta, mantendo-se, no mais, o decisum a quo. GUILHERME DE SOUZA NUCCI Relator Apelação nº