I RELATÓRIO Trata-se de recurso ordinário interposto pela Ré, às fls , em face da respeitável sentença da MM. 50ª Vara do

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1 Acórdão 1a Turma PODER JUDICIÁRIO FEDERAL RECURSO ORDINÁRIO. DANO MORAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DESVIO DE FUNÇÃO. Considerando que a ré transferiu o autor da função de motociclista, para motorista de carro leve, não poderia permitir que este continuasse a trabalhar conduzindo a motocicleta da empresa, o que, por certo, o expôs a risco maior que o normal, também considerando o horário do acidente (entre 23:00h e 00:00h) e neste caso, incidiu em culpa, além de resultar na perda da chance do emprego pretendido na PMERJ, em virtude da lesão sofrida. Mantida indenização fixada em primeiro grau (R$5.000,00). Recurso não provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, em que são partes: EMPRESA DE TRANSPORTES APOTEOSE LTDA, como recorrente e RÔMULO DE OLIVEIRA LOPES, como recorrido. I RELATÓRIO Trata-se de recurso ordinário interposto pela Ré, às fls , em face da respeitável sentença da MM. 50ª Vara do

2 Trabalho do Rio de Janeiro, de lavra da Juíza ALESSANDRA JAPPONE ROCHA MAGALHÃES, que julgou procedente em parte o pedido (fls ). moral. (fls.225). A reclamada insurge-se face à condenação em dano Custas e Depósito Recursal recolhidos às fls Intimado, o autor não apresentou contrarrazões Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por não configurada hipótese de sua intervenção. É o relatório. VOTO II CONHECIMENTO Conheço do recurso por preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade. III FUNDAMENTAÇÃO DO DANO MORAL O autor relata que foi contratado, em 03/12/2007, para exercer a função de motorista de carro leve, mas foi desviado de função e, sem sua anuência, passou a prestar serviços utilizando motocicleta; que, em 12/02/2009, no exercício de suas atividades, sofreu acidente com a motocicleta, fraturando o fêmur, sendo submetido a cirurgia; que a ré emitiu a CAT e permaneceu de licença até 30/06/2010, sendo dispensado em 10/08/2010; que foi aprovado no concurso para PMERJ, mas, em virtude da lesão no

3 fêmur, foi considerado inapto para admissão como soldado. Assevera que o desvio de função foi a causa da doença adquirida, fazendo jus a indenização por danos morais. O Juízo de primeiro grau condenou a ré em indenizar ao autor em R$5.000,00, sob o fundamento de que a empresa confessa que o autor passou a exercer a função de motorista de carro leve em fev/2009 e o acidente ocorreu quando o autor conduzia motocicleta. Postula a ré a reforma da sentença, afirmando ser indevida a condenação por danos morais, pois o acidente foi causado por culpa exclusiva do autor; que havia apenas uma expectativa do recorrido ser aprovado no concurso, inexistindo prova de que seria aprovado nas demais fases. Sem razão. Em sua defesa, a ré contesta o relato do reclamante afirmando que este foi contratado para a função de motociclista, sendo promovido para motorista de carro leve em fev/2009 e que no dia do acidente estava laborando como motociclista porque ficou acordado que somente iniciaria na nova função em 15 de fevereiro. A ré não comprovou que efetuou tal acordo com o reclamante e, sendo assim, entende-se que no mês de fevereiro/2009 a função do autor era de motorista de carro leve, o que também se verifica dos documentos juntados aos autos (fls. 36, 86), inobstante estar conduzindo motocicleta. O registro efetuado na Delegacia de Polícia (fls. 26) noticia que o reclamante se acidentou, em 12/02/2009, entre 23:20 e 00:00h e que a motocicleta estava em nome da ré - Empresa de

4 Transportes Apoteose, que emitiu a CAT, na qual consta a lesão como sendo Fratura diafisária do fêmur direito (fls ). A Certidão emitida pela PMERJ Centro de Recrutamento e Seleção de Praças (fls. 44), não impugnada pela ré, informa que o reclamante foi classificado no concurso de admissão ao curso de formação de soldado, sendo submetido a Junta de Inspeção e Saúde nos dias 26, 28 e 29/09/2009, tendo sido considerado INAPTO no exame ortopédico por apresentar história de pós-operatório de fratura do fêmur direito em fevereiro/2009; que o candidato apresentou recurso administrativo e foi reavaliado por diferente junta médica, em 17/09/2009 e considerado INAPTO pelo mesmo motivo; que de acordo com o edital do concurso, a preexistência de cirurgia em plano articular, mesmo que considerado curado no momento do exame, é causa incapacitante para o Serviço Militar, sendo emitido parecer definitivo e irrevogável. É certo que todo cidadão está exposto diariamente ao risco de acidente de trânsito e, no caso daqueles que tem por profissão a direção de um veículo, o risco é ainda maior. Também, não se pode olvidar que, em caso de acidente, as lesões sofridas pelos motociclistas são diferenciadas, tendo em vista o grau de exposição, como ocorreu com o reclamante. Ora, se a ré transferiu o autor para a função de motorista de carro leve, não poderia permitir que este continuasse a trabalhar conduzindo a motocicleta da empresa, o que por certo, o expôs a risco maior que o normal, também considerando o horário do acidente (entre 23:00h e 00:00h) e neste caso, incidiu em culpa pelo acidente, além de resultar na perda da chance do emprego

5 pretendido na PMERJ, em virtude da lesão sofrida. Conforme artigo artigo 7º, inciso XXVIII, da CRFB, o empregador é responsável pelo pagamento de indenização decorrente de acidente de trabalho quando incorrer em dolo ou culpa. Assim, incensurável a sentença de primeiro grau que deferiu a indenização por dano moral, no valor de R$5.000,00, valor que entendo adequado. Nego provimento. IV DISPOSITIVO A C O R D A M os DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO. Rio de Janeiro, 3 de Outubro de Desembargador Federal do Trabalho Mário Sérgio M. Pinheiro Relator