PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 3ª Turma ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. PERÍCIA TÉCNICA. É desnecessária a prova pericial na hipótese em que há norma coletiva prevendo o direito ao recebimento do adicional de insalubridade aos empregados que laboram em hospitais e sanatórios, expondo-se, assim, a agentes que potencialmente podem lhes trazer riscos à saúde, higiene e segurança. Recurso a que se dá parcial provimento. Visto, relatado e discutido o recurso ordinário em que são partes JOSÉ CARLOS LIMA DA SILVA, recorrente, e FACILITY CENTRAL DE SERVIÇOS LTDA, recorrida. Trata-se de recurso ordinário interposto pelo reclamante da respeitável sentença da MM. 11ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, de lavra do eminente Juiz Thiago Rabelo da Costa, que julgou procedente em parte o pedido (fls. 393/396). Salienta o recorrente que faz jus ao recebimento do adicional de insalubridade (fls. 403/405). Contrarrazões da reclamada às fls. 408/410, sem preliminar. Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho, por não se configurar a hipótese de sua intervenção. É o relatório

2 V O T O CONHECIMENTO Conheço do recurso do reclamante por preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade. MÉRITO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE A r. sentença indeferiu o pedido, sob o fundamento de que cabia ao autor provar que exercia atividade em ambiente insalubre, ônus do qual não se desincumbiu; que os cartões de ponto trazem informações imprecisas quanto ao local de trabalho; que não se tem certeza do local e se o autor trabalhou em contado com agentes insalubres; que somente por meio da prova pericial poderia ser analisado se existia trabalho com agentes insalubres; que o autor dispensou a realização da perícia; que apesar de a convenção coletiva (cláusula 6ª) determinar o pagamento do adicional de insalubridade a quem laborar em hospitais, sanatórios e outros, para a caracterização do ambiente insalubre e perigoso se faz necessária a realização de prova pericial; que o contracheque de fl.14 não prova que o autor também laborava nas mesmas condições de trabalho daquele empregado (fls. 394/395). Aduz o recorrente que a convenção coletiva concede o adicional aos empregados que exercem a função de auxiliar de serviços gerais, função está exercida pelo reclamante; que não foi realizada perícia por dificuldade financeira e por entender que, diante da existência de convenção coletiva assegurando o adicional, esta era desnecessária e que os recibos de fls. 14/15 e os controles de frequência já comprovavam seu trabalho na DESIPE-SANATÓRIO PENAL, assim como o PCMSO e PPRA; pugna, assim, pela reforma da sentença para que seja deferido o adicional de insalubridade e suas integrações (fls. 404/405). Com parcial razão. A emenda substitutiva à inicial indicou que o autor exercia a função de auxiliar de serviços gerais dentro do Presídio Evaristo de Moraes, Hospital

3 Psiquiátrico Penal Roberto Medeiros, Sanatório Penal, localizados no complexo penitenciário Gericinó/Bangu/RJ, estando em contato com agentes insalubres, fazendo jus ao recebimento do adicional de insalubridade em grau máximo durante todo o pacto laboral, já que garantido pela convenção coletiva da categoria. A ré, em sua defesa, alegou que o autor jamais trabalhou em condições que ensejassem o pagamento do adicional, uma vez que a norma coletiva autoriza o pagamento àqueles que trabalham em hospitais e casas de saúde, o que não era o caso do reclamante, o qual prestava seus serviços no DESIPE - Complexo Penitenciário. As partes juntaram as normas coletivas da categoria, além de outros documentos, sendo certo que não foi produzida prova técnica. Com relação à necessidade de realização de perícia, é verdade que o 2º, do art. 195 da CLT afirma que arguida a insalubridade deverá ser designada a realização de perícia para definição do ambiente insalubre. No entanto, é desnecessária a realização da referida a prova na hipótese em que há norma coletiva prevendo o direito ao recebimento do adicional de insalubridade aos empregados que laboram em hospitais e sanatórios, sob exposição a agentes que potencialmente podem lhes trazer riscos à saúde, higiene e segurança. No caso, as convenções coletivas da categoria acostadas garantem o direito ao adicional para todos os empregados que trabalham em hospitais, casas de saúde e ambulatórios (20%) e em leprosários, hospitais para tratamento do cançer, sanatórios para tratamentos de tuberculose, AIDS, e dentro de lixeiras (cláusula décima sétima - fl. 156). Assim, em respeito ao art. 7º, XXVI, da CF, e em harmonia com as demais normas de proteção à saúde, higiene e segurança do trabalhador, a ausência de prova pericial não importa em violação do art. 195, 2º, da CLT. Tendo em vista o art. 818 da CLT e art. 333, inciso I do CPC, apesar de desnecessária a realização de perícia, cumpria ao reclamante comprovar a realização de suas tarefas em um dos ambientes acima enumerados para ter direito ao recebimento do adicional

4 Consta do depoimento do preposto (fl. 390): Que não conhece o reclamante; que sabe que o reclamante trabalhou na Penitenciária; que ele trabalhava nas áreas comuns; que na Penitenciária tem hospital mas não faz parte da área comum; que o reclamante era auxiliar de serviços gerais; que não sabe informar quem faz o recolhimento do lixo hospitalar; que informa que o sanatório penal integra a Penitenciária mas somente tem acesso os empregados especializados; que onde tem os presos não é de área comum, de livre acesso, o que difere da área especial; (...);que só tem um setor de sanatório. Do depoimento acima, constato que, de fato, existia um hospital e um sanatório dentro do complexo penitenciário em que trabalhava o autor. Com relação ao local exato de prestação do serviço, devem ser analisados os cartões de ponto, vez que, ao contrário do que concluiu o Juízo a quo, o fato de constar vários locais de trabalho nestes cartões não os tornam imprecisos, vez que comum a um contrato de trabalho que durou mais de cinco anos a mudança do local da prestação de serviço. Não há nada que seja capaz de invalidar os cartões de ponto quanto a comprovarem onde o autor prestou serviços à ré, vez que juntados por ela própria. Desse modo, tenho como verdadeiro os locais de trabalho indicados pelos cartões. Analisando-os, observo que os cartões de ponto de fls. 118/122 indicam que o autor trabalhou no Hospital Psiquiátrico Penal de 17/08/2007 a 31/01/2008, considerando apenas o período imprescrito (25/10/2007 a 07/09/2011). Portanto, em que pesem os fundamentos da r. sentença, não há necessidade de realização de perícia para a percepção do adicional referido, uma

5 vez que garantido por norma coletiva, tendo o autor comprovado que prestou seus serviços no Hospital Psiquiátrico Penal pertencente ao Complexo Penitenciário, pelo que deve ser reconhecido o direito à percepção do adicional de insalubridade. No entanto, quanto ao percentual a ser adotado, o autor não comprovou estar inserido na hipótese de pagamento de 40%, vez que não trabalhou em leprosários, hospitais para tratamento do cançer, sanatórios para tratamentos de tuberculose, AIDS, e dentro de lixeiras (cláusula décima sétima - fl. 156), sendo-lhe aplicado,assim, o percentual de 20% pelo trabalho em hospital. Dessa forma, impõe-se o deferimento do adicional de insalubridade, referente ao período de 17/08/2007 a 31/01/2008, no percentual de 20% sobre o salário mínimo e reflexos no FGTS, nas férias acrescidas de 1/3, no décimo terceiro salário. Não há que se falar em reflexos em repouso semanal remunerado, vez que o autor era mensalista. Dou parcial provimento. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do recurso e dou-lhe parcial provimento para deferir o pagamento do adicional de insalubridade, referente ao período de 17/08/2007 a 31/01/2008, no percentual de 20% sobre o salário mínimo e reflexos no FGTS, nas férias acrescidas de 1/3, no décimo terceiro salário. Diante do aumento da condenação, ajusto o seu valor para R$ 8.000,00 (oito mil reais) e custas de R$ 160,00 (cento e sessenta reais), nos termos das Instruções Normativas nº 3/93 e 09/96 do C. TST. A C O R D A M os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe parcial provimento para deferir o pagamento do adicional de insalubridade, referente ao período de 17/08/2007 a 31/01/2008, no percentual de 20% sobre o salário mínimo e reflexos no FGTS, nas férias acrescidas de 1/3, no décimo terceiro salário. Diante do aumento da condenação, ajustar o seu valor para R$ 8.000,00 (oito mil

6 reais) e custas de R$ 160,00 (cento e sessenta reais), nos termos das Instruções Normativas nº 3/93 e 09/96 do C. TST. Rio de Janeiro,9 de Dezembro de DESEMBARGADOR MARCOS PALACIO Relator eas /ver