PROCESSO: RO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 5ª T U R M A PODER JUDICIÁRIO FEDERAL IMPOSTO DE RENDA. DEDUÇÃO. É devida a dedução da cota fiscal incidente sobre os créditos deferidos, porque quem aufere a renda é o responsável pela parcela devida a título de imposto de renda, não havendo distinguir-se, para este fim, entre o crédito pago oportunamente e aquele devido por decisão judicial. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário, interposto contra a sentença proferida pela MM. 39ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro em que são partes: 1) JÚLIO SIMÕES LOGÍSTICA S.A. e 2)CARLOS EDUARDO BORGES DE MATOS, recorrentes, e OS MESMOS, recorridos. RELATÓRIO Inconformadas com a decis ão de fls. 238/248, que julgou procedente em parte o pedido, as partes recorrem ordinariamente. A reclamada, a fls. 249/256, insurge-se contra o deferimento do terço constitucional, multa do art. 467 da CLT, horas extraordinárias referentes ao intervalo intrajornada e suas repercussões. Depósito recursal a fl. 258 e custas a fl O reclamante, pelas razões de fls. 261/267, requer a reforma do julgado quanto ao indeferimento de horas extraordinárias, adicional noturno,

2 participação nos lucros, devolução de descontos realizados a título de avarias e dedução do imposto de renda e cota previdenciária. Contrarrazões da reclamada a fls. 290/296. Contrarrazões do reclamante a fls. 297/298. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO CONHECIMENTO Conheço dos recursos, porque preenchidos os pressupostos processuais de admissibilidade. MÉRITO DO RECURSO DA RECLAMADA DO TERÇO CONSTITUCIONAL/MULTA DO ART. 467 DA CLT Alega a reclamada que todas as verbas rescisórias foram quitadas, inclusive o terço constitucional. Por este motivo, entede ser indevida também a multa do art. 467 da CLT. Razão não lhe assiste. A reclamada se limita a alegar por alegar. Não impugna os termos da decisão que observou não ter sido pago o terço constitucional incidente sobre férias

3 vencidas e proporcionais. Basta que se analise o termo de rescisão de fl. 25. Adverte-se, desde já a reclamada, por seu ato temerário. Considerando-se que a reclamada impugna genericamente o pedido, não existe controvérsia capaz de afastar a multa do art. 467 da CLT. DO INTERVALO INTRAJORNADA Alega a reclamada que o autor trabalhava externamente e que o gozo do intervalo intrajornada ficava a seu critério, sem qualquer proibição por parte da empresa. Aduz que a testemunha não pode confirmar a inexistência desse intervalo, uma vez que não trabalhava com o reclamante. Razão não lhe assiste. A testemunha do reclamante, Valdeci, que exercia a mesma função e trabalhava no mesmo horário, confirmou a fl. 231 que havia determinação para não tirar o intervalo e que se tirasse intervalo teria que trocar de caminhão ou de função. Assim, ao contrário do aludido no recurso, fica claro que a ré impedia os motoristas de gozarem do intervalo garantido por lei e que visa à restauração de suas forças. Devidas, portanto, as respectivas horas extraordinárias. Considerando que a violação à lei era habitual, devida a sua repercussão nas verbas contratuais e rescisórias

4 DO RECURSO DO RECLAMANTE DAS HORAS EXTRAORDINÁRIAS/ADICIONAL NOTURNO Alega o reclamante que foi constatada nos autos a inidoneidade dos controles de frequência e que a prova testemunhal produzida confirmou o horário de trabalho alegado na inicial. Requer, ainda, o pagamento de horas extraordinárias por não respeitado o intervalo interjornada de 11 horas e o respectivo adicional noturno. O próprio reclamante admite em seu depoimento (fl. 233) que os controles de frequência eram corretamente marcados. Esclarece que quando inexistia marcação de horários, o próprio empregado fazia uma correção e levava no departamento pessoal. As testemunhas inquiridas confirmam a fls. 231/232 que eventuais erros na marcação dos horários eram corrigidos pelos empregados e que, após essa correção, as horas extraordinárias era corretamente quitadas. Assim, em face dos controles de frequência tidos como idôneos e recibos salariais juntados aos autos, que revelam o pagamento de horas extraordinárias, competia ao reclamante provar o incorreto pagamento dessa parcela e do adicional noturno (art. 818 da CLT c/c art. 333, I do CPC). Todavia, nenhuma prova produziu. interjornada de 11 horas. Outrossim, não demonstrou o autor o incorreto gozo do intervalo

5 DA PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS Alega o reclamante que a ré, na tentativa de fraudar a legislação trabalhista, pagava adiantamentos salariais sob a falsa rubrica de participação nos lucros. Assim, deixava a empresa de integrar os adiantamentos à remuneração para efeito de cálculo das demais parcelas. Aduz que, a reforçar a sua tese, está o fato de que a participação nos lucros era paga em desacordo com as disposições legais. Improcede o inconformismo. Não há provas de que a participação nos lucros pagas mensalmente se referia a adiantamentos salariais. A reclamada, em verdade, apenas atendeu ao disposto no acordo coletivo da categoria (fls. 226/232), que, em sua cláusula 3ª, parágrafo 2º, determina que a participação seja paga mensalmente, sob a rubrica de adiantamento. O pagamento adiantado da parcela constitui norma mais benéfica ao trabalhador. Ademais, deve ser respeitada a autonomia privada coletiva. Outrossim, ao contrário do alegado, a parcela foi paga conforme critérios estabelecidos na referida cláusula 3ª

6 DA DEVOLUÇÃO DE DESCONTOS Requer o reclamante a devolução dos descontos realizados em seu salário a título de adiantamento salarial e avarias. Aduz que esses descontos não foram por ele autorizados e que não houve culpa ou dolo de sua parte nas avarias que pudesse justificar os descontos realizados. Sem razão. Quanto aos descontos salariais por adiantamento, não há necessidade de autorização por parte do empregado, cabendo aplicar aqui os termos do art. 462 da CLT. No mais, considerando que a ré negou os descontos por avarias, competia ao reclamante provar a sua ocorrência. Desse ônus, todavia, não se desincumbiu, na forma do art. 818 da CLT e art. 333, I do CPC. As fichas financeiras de fls. 176/203 revelam apenas descontos por adiantamento salarial e adiantamento de participação nos lucros, conforme já analisado. Não há nos autos prova de que os adiantamentos, na verdade, se referiam a descontos por avarias. Observe-se que a testemunha do reclamante não se manifesta precisamente sobre os descontos realizados no seu salário e também não soube dizer como eram realizados estes descontos por avarias nos recibos salariais. Os documentos juntados com o recurso e que versam sobre essa matéria não devem ser considerados, uma vez que apresentados de forma inoportuna

7 DA COTA FISCAL E PREVIDENCIÁRIA Alega o reclamante que a ré deve ser responsabilizada integralmente pelo pagamento da cota previdenciária e fiscal. Sem razão. O autor deve responder com sua cota previdenciária devidamente atualizada, observada a legislação vigente na época própria da prestação de serviço, o salário de contribuição e limite mensal (teto) para o recolhimento previdenciário, sem prejuízo da contribuição que é devida pela ré, incidente sobre a totalidade do salário de contribuição, mas sem limite mensal, porque não prevista na legislação aplicável. É devida também a dedução da cota fiscal, porque quem aufere a renda é o responsável pela parcela devida a título de imposto de renda, não havendo distinguir-se, para este fim, entre o crédito pago oportunamente e aquele devido por decisão judicial. Ressalvado meu entendimento de que a apuração do referido tributo deverá ser feita mês a mês, me curvo ao entendimento majoritário da Egrégia 5ª Turma, determinando que seja efetivado o recolhimento do imposto de renda ao final, na forma do artigo 46 da Lei 8541/92 e artigo 2º do Provimento 01/96 do TST, bem como da Súmula n.º 368 do TST, observadas as isenções previstas na legislação tributária

8 CONCLUSÃO Nego provimento aos recursos. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 5ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, NEGAR provimento aos recursos, nos termos do voto da desembargadora relatora. Rio de Janeiro, 15 de Março de Jaa Desembargadora Federal do Trabalho Mirian Lippi Pacheco Relatora