PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 8ª T U R M A Cinto de segurança é EPI que deve proteger o empregado, proteção esta que deve ocorrer, inclusive, quando realiza movimentos inesperados, já que se utiliza cinto quando o equilíbrio é precário e, portanto, a movimentação pode ocorrer de forma inusitada. Se o cinto se rompe como ocorreu na hipótese em exame, a presunção é que o equipamento fosse deficiente. Eventual prova de culpa do empregado seria fato modificativo e, como tal, deveria deveria ser produzida pela empresa, nos termos do art. 333, II, do CPC. Trata-se de RECURSO ORDINÁRIO em que são partes: CSN CIMENTOS S/A, como Recorrente e AILTON CAETANO DA SILVA, como Recorrido. Inconformada com a sentença da 2ª Vara do Trabalho de Volta Redonda, proferida pelo Exmº. Juiz ROBSON GOMES RAMOS, às fls. 116/120, que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados, com embargos declaratórios rejeitados à fl. 124, recorre ordinariamente a Ré às fls. 129/134. Alega que a sentença é nula por falta de prestação jurisdicional; que merece reforma para exclusão da multa e da indenização fixadas por ocasião do julgamento dos embargos declaratórios e da condenação ao pagamento da indenização por danos morais e de plano de saúde. Depósito recursal à fl. 135 e custas às fls. 136/

2 Contrarrazões do Autor às fls. 140/141, sustentando a manutenção da sentença. DO CONHECIMENTO de admissibilidade. NO MÉRITO Da Nulidade da Sentença É o relatório. V O T O Conheço o recurso por preenchidos seus pressupostos Alega a Ré que a sentença deve ser anulada por negativa de prestação jurisdicional, na medida em que não esclareceu o período pelo qual deverá a empresa arcar com o plano de saúde em favor do Autor. Não vejo tal omissão, contudo. A sentença julgou procedente o pedido formulado no item b.3 do rol de pedidos que foi formulado nos seguintes termos: ao pagamento de um plano de saúde mensal ( ) até sua vitalidade. Portanto, o Juiz não delimitou o período de vigência do plano de saúde, porque não poder precisar a data em que o Autor se restabelecerá, o que evidentemente somente poderá ser apurado ao longo da execução da sentença, possivelmente por prova pericial. Desta forma, não há omissão a ser sanada na sentença, de modo que não se pode falar em negativa de prestação jurisdicional ou nulidade da sentença. Nego provimento. Da Multa e da Indenização Por Embargos Protelatórios A Ré se insurge contra a decisão de embargos declaratórios que a condenou a arcar com multa de R$500,00 pela interposição

3 de medida protelatória e de indenização de R$10.000,00 por litigância de má-fé, pelo mesmo motivo. Alega que os embargos não seriam protelatórios e que houve dupla punição pela mesma falta e, na hipótese de manutenção da condenação, que fosse reduzida a indenização. Razão parcial assiste à Ré. Não há dúvidas que os embargos foram protelatórios, pelas razões já expostas no tópico anterior, ao qual me reporto. Todavia, a sanção específica para embargos protelatórios é a prevista no art. Art. 538, parágrafo único do CPC, modo que não cabe a uma outra sanção por litigância de má-fé, pois o ato era o mesmo. Ademais, dou provimento parcial ao recurso para retirar da condenação a indenização por litigância de má-fé no valor de R$10.000,00. Da Indenização Por Danos Morais. Insurge-se a Ré contra a sentença que a condenou a arcar com indenização por danos morais no valor de R$10.000,00, decorrente do acidente de trabalho. Alega que seria necessária a produção de prova pericial para demonstrar que o Autor tenha efetuado a manobra de forma correta de modo a não provocar o rompimento do cinto de segurança. O acidente de trabalho é incontroverso e decorreu do rompimento do cinto de segurança, conforme a própria CAT emitida pela empresa à fl. 15. Ora, cinto de segurança, como o próprio nome indica é EPI que deve proteger o empregado, proteção esta que deve ocorrer, inclusive, na hipótese do empregado realizar movimentos inesperados, já que se utiliza cinto quando o equilíbrio é precário e, portanto, não se pode esperar uma posição uniforme. Se o cinto se rompe como ocorreu na hipótese em exame, a

4 presunção é que o equipamento fosse deficiente. Eventual prova de culpa do empregado seria fato modificativo e, como tal, deveria deveria ser comprovado pela Ré, nos termos do art. 333, II, do CPC. Como a Ré não produziu tal prova, prevalece a presunção de deficiência do EPI. O dano moral, por seu turno, é incontestável, pois o Autor sofreu em 1998 um acidente de natureza grave, com fraturas na tíbia direita e no calcâneo direito, em virtude das quais ficou imobilizado por dez semanas, destacando-se que três anos após ainda apresentava deficiência em deambular e no equilíbrio dinâmico. (fl. 16). Portanto, houve dor física, necessidade de imobilização por um período relativamente longo e, além disso, as sequelas permaneceram por pelo menos três anos após o acidente. Todas estas circunstâncias geram um sofrimento ao empregado que pode ser caracterizado como dano moral, estando correta a sentença que deferiu indenização por tal fundamento. O valor arbitrado pelo Juízo, de R$10.000,00 está adequado ao tipo de dano sofrido e talvez seja até modesto se considerarmos que ante o porte da Ré uma indenização de R$10.000,00 sequer chega a ter um efeito pedagógico. Do Plano de Saúde Portanto, nego provimento ao recurso. Insurge-se a Ré contra a sentença que julgou procedente o pedido de plano de saúde ao Autor sob o fundamento de que não foi comprovada a extensão do dano e nem se constatou por quanto tempo o Autor necessitará de tratamento. Razão assiste à Ré. Não há nos autos prova que o Autor continue doente. Ao contrário, ele não recebe benefício previdenciário desde maio de 2001 e o último laudo médico que noticia que estivesse em

5 tratamento também é de maio de Observe-se que a presente ação foi ajuizada em 2005, de modo que se ainda estivesse doente ou com necessidade de tratamento, o Autor teria algum documento da época que comprovasse tal alegação. Assim, dou provimento ao recurso para excluir da condenação a obrigação da empresa de arcar com plano de saúde em favor do Autor. Ante o exposto, conheço e dou provimento parcial ao recurso da Ré para excluir da condenação a indenização por litigância de má-fé no valor de R$10.000,00 e a condenação ao pagamento de plano de saúde para o Autor. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região,por unanimidade, conhecer do recurso; por unanimidade, rejeitar a preliminar de nulidade arguida e, no mérito, por unanimidade, dar provimento parcial ao recurso da Ré para excluir da condenação a indenização por litigância de má-fé no valor de R$10.000,00, e a condenação ao pagamento de plano de saúde para o Autor. Rio de Janeiro, 18 de Maio de JUÍZA GISELLE BONDIM LOPES RIBEIRO Relatora