PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 7ª Turma MULTA DO ART. 467 DA CLT. ABRANGÊNCIA DA RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. A responsabilidade subsidiária abrange todos os créditos trabalhistas, inclusive as multas. Inteligência da Súmula 331, VI, do C. TST, com a redação atualizada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que figuram, como recorrentes, ELSON TEIXEIRA DA SILVA e FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ, e, como recorridos, ZL AMBIENTAL LTDA., FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ e ELSON TEIXEIRA DA SILVA. Inconformados com a r. sentença de fls.63/69, proferida pela MM. Juíza Dra.Eliane Zahar, da 10ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente, em parte, o pedido formulado na inicial, recorrem o reclamante e a segunda reclamada (FIOCRUZ). Embargos declaratórios opostos pela segunda reclamada conhecidos e rejeitados, com imposição de multa por protelatórios, conforme decisão de fls. 78. O autor pretende a reforma do julgado no que diz respeito à multa do art. 467 da CLT, sustentando que esta deve ser abrangida pela responsabilidade subsidiária. A 2ª ré (FIOCRUZ), por sua vez, objetiva a revisão do julgado com relação à responsabilidade subsidiária, aos juros de 0,5% na forma da Lei 9494/97. Requer, ainda, a exclusão da multa por embargos declaratórios protelatórios. Contrarrazões da 2ª ré, às fls.84/85. Contrarrazões do reclamante, às fls. 99/105. Sem contrarrazões da 1ª ré. Às fls. 113/116, parecer da lavra do ilustre procurador Adriano de Alencar Saboya, manifestando-se pelo conhecimento e não provimento do recurso ordinário do autor e pelo provimento parcial do recurso ordinário da 2ª ré, tão somente para excluir a multa imposta a fl

2 É o relatório. V O T O PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS Os recursos foram subscritos por advogados regularmente constituídos nos autos (fls. 07 e procurador), tendo sido interpostos no prazo legal (fls. 62 e 83). Preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade, conheço dos recursos. Para melhor análise dos recursos, inverto a ordem de julgamento. DO RECURSO DA FIOCRUZ DA MULTA POR EMBARGOS DECLARATÓRIOS PROTELATÁORIOS Pretende a recorrente que seja excluída a multa que lhe foi aplicada em sede de embargos declaratórios, sustentando que se utilizou de seu amplo direito de defesa e do contraditório. Os embargos declaratórios tinham por objetivo o pronunciamento do juízo de origem a respeito dos juros de 0,5% ao mês, na forma da Lei 9494/97. Não obstante não ser aquele recurso meio adequado para se questionar o percentual de juros aplicáveis à Fazenda Pública, não vislumbro em tal atitude o intuito protelatório, até porque a sentença foi genérica nesse aspecto, fixando os juros na forma da lei, sem mencionar, especificamente, se eram os da Lei 8.177/91 ou a da Lei 9494/97. Sendo assim, deve a multa ser excluída. Dou provimento. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA A recorrente confirma a existência de contratação da prestação de serviços da primeira reclamada, apesar de negar a prestação do autor em suas dependências. Contudo, o contrato de fls. 52/60 e os termos de fls. 50/51, demonstram que o objetivo daquele pacto era a prestação de serviços na Farmanguinhos, conforme alegado pelo reclamante, o que demonstra que, na realidade, o autor somente poderia ter laborado nas dependências da FIOCRUZ, eis que a Farmanginhos pertence à recorrente. Além disso, entendo, tal como o Juízo de primeiro grau, que, na realidade, ao apresentar a contestação, a reclamada não negou a prestação de serviços do autor, apenas mencionou ser dele o ônus da prova de tal fato. Logo, se o

3 serviço prestado não foi negado, não haveria o que ser comprovado pelo trabalhador nesse aspecto. Assim, sendo incontroverso que o autor prestava serviços à segunda ré por intermédio da primeira, é possível concluir que havia terceirização de mão de obra e que o ente público era tomador desses serviços. Cumpre registrar que a súmula do C. TST de nº 331 não pode ser objeto de inconstitucionalidade, pois apenas serve de diretriz e pacificação da jurisprudência trabalhista, não vinculando o julgador, nem possuindo conteúdo normativo. Ademais, o E. STF, ao julgar, recentemente, a ADC 16/DF, que trata da responsabilidade subsidiária do ente público, não afastou a aplicação da aludida jurisprudência cristalizada do C. TST, apenas reconheceu a constitucionalidade do art. 71 da Lei 8666/93, mas deixou consignado que nada impediria que fosse responsabilizado de forma subsidiária se restasse comprovada a falha na fiscalização da terceirização. Justamente para se adaptar ao decidido pelo STF, na ADC 16/DF é que o C. TST, atualizando a Súmula 331, acrescentou o item V, verbis: Súmula 331 (...) V Os entes integrantes da administração pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n. 8666/93, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contrata. Assim, o reconhecimento da responsabilidade subsidiária não viola a Súmula vinculante 10 do E. STF. Vale registrar que não basta que a escolha da empresa intermediadora observe o procedimento licitatório, para afastar a responsabilidade do ente público. É imprescindível que, ao longo do contrato de prestação de serviços, a administração fiscalize o cumprimento, ante o que dispõe o art. 67 da Lei 8666/

4 Nesse passo, se as verbas rescisórias não foram quitadas no momento oportuno, se o salário do mês de fevereiro de 2009 somente foi pago mediante acordo judicial, conforme ata de fls. 42, acordo este que demonstra como vinha a empresa intermediadora descumprindo com as obrigações trabalhistas, todos esses fatores permitem concluir que a Administração Pública não agiu de forma prudente, deixando de fiscalizar o cumprimento daquelas obrigações. Aliás, a segunda reclamada não fez prova alguma de que fiscalizasse a primeira reclamada durante à vigência do contrato de prestação de serviços, no que diz respeito aos direitos trabalhistas dos empregados que lhe favoreceram com a força de trabalho. Vale esclarecer que a responsabilidade subsidiária alcança todas as parcelas decorrentes da condenação, inclusive verbas rescisórias, FGTS, multas e indenizações. Inteligência da Súmula 331, VI, do C. TST, com a redação atualizada. Por derradeiro, cabe ressaltar que a responsabilidade subsidiária exige o esgotamento de todas as tentativas de cobrança da dívida diretamente do devedor principal e é óbvio que a condenação de forma subsidiária exclui a solidária (art. 265 do Código Civil). Logo, o credor somente se voltará para a recorrente quando esgotados os bens da empregadora (devedora principal). Neste sentido, vigora a Súmula 12 deste Egrégio TRT. Nego provimento. JUROS Na hipótese de condenação de forma subsidiária não incide o disposto na Lei 9.494/97, art. 1º-F, entendimento este, aliás, que vigora neste Egrégio Tribunal por meio da Súmula nº 24, verbis: RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DE ENTE PÚBLICO. INAPLICABILIDADE DO QUE DISPÕE O ART. 1º-F DA LEI Nº 9.494/97. Não se aplica o disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494, de 10/09/1997, quando o ente público figurar no título executivo judicial na condição de devedor subsidiário. Nego provimento. DO RECURSO DO RECLAMANTE DA MULTA DO ART. 467 DA CLT A sentença aplicou a multa do art. 467 da CLT, porém a excluiu da responsabilidade subsidiária. Merece reparo a decisão

5 Conforme mencionado ao analisar o recurso da FIOCRUZ, a responsabilidade subsidiária abrange todos os créditos trabalhistas, inclusive as multas. Inteligência da Súmula 331, VI, do C. TST, com a redação atualizada. Desse modo, reforma-se a decisão de origem para que a responsabilidade subsidiária abranja a multa em comento. Dou provimento. Pelo exposto, decido conhecer dos recursos e, no mérito, dar parcial provimento ao da segunda reclamada, para excluir a multa por embargos declaratórios protelatórios, e dar provimento ao recurso do reclamante, para incluir na condenação subsidiária a multa do art. 467 da CLT, na forma da fundamentação supra. ACORDAM os Desembargadores da 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade conhecer dos recursos e, no mérito, dar parcial provimento ao da segunda reclamada, para excluir a multa por embargos declaratórios protelatórios, e dar provimento ao recurso do reclamante, para incluir na condenação subsidiária a multa do art. 467 da CLT, na forma da fundamentação. Rio de Janeiro, 1 de agosto de fp Juíza do Trabalho Convocada Patrícia Pellegrini Baptista da Silva Relatora