PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 7ª TURMA INCORREÇÃO DO NÚMERO DO PIS. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. Responde o empregador pela correção dos dados cadastrais de seus empregados junto ao INSS. Exegese do Decreto nº 3.048/99, arts. 18, inc. I e 1º, e 20, 1º. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO , em que são partes: ANTONIA GUEDES DA SILVA, como Recorrente, e CARDIOBARRA CLÍNICAS LTDA., como Recorrida. I - R E L A T Ó R I O Trata-se de recurso ordinário interposto pela reclamante contra a sentença de fls. 81/82, proferida pelo MM. Juiz Marco Antônio Belchior da Silveira, da 49ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou improcedente o pedido. A parte recorrente pretende a reforma do julgado, mediante os fundamentos articulados às fls. 84/87. Contrarrazões da reclamada, às fls. 91/94, defende a manutenção do julgado. Os autos não foram remetidos à d. Procuradoria do Trabalho, por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar nº 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Região nº 27/08-GAB, de 15/01/2008. É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O II.1 - CONHECIMENTO. Conheço

2 O recurso é tempestivo parte ciente da decisão em 24/10/2011, segunda-feira (fls. 83), e interposição em 03/11/2011, quartafeira (fls. 84). Não houve expediente forense nos dias 31 de outubro e 01 e 02 de novembro, conforme Atos nº 05 e 75/2011, deste Tribunal. Está subscrito por advogado regularmente constituído (procuração de fls. 06). O reclamante é beneficiário da gratuidade de justiça (fls. 82). II.2 - MÉRITO. A. INCORREÇÃO DO NÚMERO DO PIS. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. Alega a reclamante, em suma, que: a retificação do número do PIS junto à CEF foi realizada, mas o pedido é de retificação junto ao INSS e Dataprev; o erro no número do PIS decorre de ato omissivo da reclamada, que não procedeu a inclusão corretamente na RAIS, causandolhe prejuízos; a ré não pode valer-se de sua torpeza para eximir-se de pagar os pedidos contidos nas letras c e d, da inicial. Pretende a procedência in totum do pedido. O Juízo de origem julgou improcedente o pedido, sob o fundamento de que o erro no lançamento do número do PIS da reclamante no banco de dados do INSS é de responsabilidade da referida Autarquia Previdenciária. Assiste razão ao reclamante. A reclamante é segurada obrigatória da Previdência Social, sendo que o art. 17, da Lei nº 8.213/91, estabelece que o seu regulamento disciplinará a forma de inscrição do segurado da Previdência Social e seus dependentes. O Decreto nº 3.048/99, que regulamenta as Leis nº 8.212/91 e 8.213/91, estabelece que, verbis: Art. 18. Considera-se inscrição de segurado para os efeitos da previdência social o ato pelo qual o segurado é cadastrado no Regime Geral de Previdência Social,

3 mediante comprovação dos dados pessoais e de outros elementos necessários e úteis a sua caracterização, observado o disposto no art. 330 e seu parágrafo único, na seguinte forma: I - o empregado e trabalhador avulso - pelo preenchimento dos documentos que os habilitem ao exercício da atividade, formalizado pelo contrato de trabalho, no caso de empregado, observado o disposto no 2º do art. 20, e pelo cadastramento e registro no sindicato ou órgão gestor de mãode-obra, no caso de trabalhador avulso; (...) 1º A inscrição do segurado de que trata o inciso I será efetuada diretamente na empresa, sindicato ou órgão gestor de mãode-obra e a dos demais no Instituto Nacional do Seguro Social. (...) Art. 20. Filiação é o vínculo que se estabelece entre pessoas que contribuem para a previdência social e esta, do qual decorrem direitos e obrigações. 1º A filiação à previdência social decorre automaticamente do exercício de atividade remunerada para os segurados obrigatórios, observado o disposto no 2º, e da inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição para o segurado facultativo. (destaquei)

4 Como se vê, a legislação acima transcrita é expressa ao atribuir ao empregador a responsabilidade de proceder o cadastro junto ao INSS, de seus empregados, que, por essa condição, é considerado segurado obrigatório da Previdência Social. Portanto, é responsabilidade do empregador promover toda e qualquer retificação no cadastro de seus empregados, acaso existente no banco de dados da Autarquia Previdenciária. Por tais razões, responde a reclamada pela retificação dos dados da reclamante perante o INSS e Dataprev, o que deverá ser feito no prazo de 05 (cinco) dias. Para garantir a efetividade da presente decisão, estabeleço multa diária de R$ 50,00 (cinquenta reais), por dia de atraso (CPC, art. 461, 4º c/c CLT art. 769). O documento de fls. 21 prova que o INSS está aguardando o cumprimento de exigências administrativas, por parte da reclamante, para concluir o seu requerimento de auxílio-doença. Ora, cumprida as exigências e, caso deferido o benefício previdenciário, a reclamante fará jus às parcelas do auxílio-doença, retroativamente ao seu requerimento. Portanto, ainda que a delonga na apreciação do requerimento do auxílio-doença seja em razão de inconsistências cadastrais junto ao INSS, por erro da reclamada, não responde pelas parcelas vencidas e vincendas do referido benefício previdenciário (item c, do pedido, a fls. 05). Primeiro, não compete à Justiça do Trabalho, ainda que incidentalmente, apreciar requerimento de concessão de benefício previdenciário. Trata-se de atribuição exclusivamente administrativa à cargo do INSS. Segundo, caso a reclamante obtenha êxito no seu requerimento de auxílio-doença, o pagamento de importância correspondente ao auxílio-doença, por parte do empregador, configurará

5 um enriquecimento sem causa, porquanto, conforme esclarecido acima, o INSS realizará o pagamento retroativo do benefício. Em suma, não há como transferir ao empregador pela responsabilidade do pagamento do auxílio-doença. Tampouco a indenização substitutiva pela direito a indenização substitutiva, porquanto não provada a frustração do direito, mas um óbice criado pelo empregador que pode e deve ser resolvido. Devido, assim, a indenização a título de dano moral, porquanto os laudos médicos de fls. 16/18 provam que a reclamante tem diagnóstico de lombociatalgia, discopatia regenerativa, instabilidade regenerativa, necessitando de afastamento de suas atividades. Essas patologias motivaram a reclamante a requerer auxíliodoença previdenciário, o qual ainda não foi apreciado pelo INSS, em razão de equívoco em seu cadastro perante a referida Autarquia previdenciária, em razão da resistência da reclamada em omitir-se na retificação desses dados. A doença que acomete a reclamante foi atestada em 02/03/2011 (fls. 16). O requerimento perante o INSS foi formulado em 18/03/2011, sendo que em 03/06/2011 a reclamante teve ciência das exigências administrativas (fls. 21). A ação foi ajuizada em 27/07/2011 (fls. 02). E persiste a omissão da reclamada. A angústia que aflige a reclamante é facilmente presumível, pois está doente e aguarda uma resposta do INSS para o seu requerimento de auxílio-doença. Considerando a humilhação sofrida pela reclamante, a extensão do dano, o caráter pedagógico e inibitório da indenização por dano moral e a capacidade financeira da ré, fico o quantum indenizatório em R$ ,00 (dez mil reais), o que é compatível com a natureza e a extensão da lesão, bem como a capacidade econômica do ofensor. Na Justiça do Trabalho são indevidos honorários advocatícios

6 quando não preenchidos os requisitos previstos na Lei nº 5.584/70, art. 14, 1º e 2º, ou seja, miserabilidade do empregado e assistência pelo respectivo sindicato de sua categoria, consoante entendimento pacificado pelas Súmulas nº 219 e 329, ambas do c. TST. No presente caso, a parte autora encontra-se assistida pelo sindicato de classe (fls. 06), na forma da Lei nº 1.060/50, já lhe tendo sido deferido, inclusive, o benefício da gratuidade de justiça (fls. 82), razão pela qual é devido o pagamento da verba honorária. III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 7ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, dar parcial provimento ao recurso ordinário interposto pela reclamante, para julgar procedente em parte o pedido, condenando a reclamada a proceder a retificação do número do PIS perante o INSS e Dataprev, no prazo de 05 (cinco) dias, sob pena de multa diária de R$ 50,00 (cinquenta reais), por dia de atraso, bem como ao pagamento de indenização por dano moral, no importe de R$ ,00 (dez mil reais) e honorários advocatícios, a razão de 15% (quinze por cento) do valor da condenação. Custas, em reversão, pela reclamada, no importe de R$ 230,00, calculadas sobre o valor ora arbitrado à condenação, de R$ ,00. Rio de Janeiro, 25 de abril de Alexandre Teixeira de Freitas Bastos Cunha Relator dcz