PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 3ª Turma ADICIONAL DE INSALUBRIDADE. A análise do conjunto probatório evidenciou não estarem caracterizadas condições de trabalho insalubres, razão pela qual não há que se falar no pagamento do respectivo adicional. Recurso a que se nega provimento. Visto, relatado e discutido o recurso ordinário em que são partes SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDÚSTRIAS DE ALIMENTAÇÃO E AFINS DE NITERÓI, recorrente, e PADARIA E CONFEITARIA SEM NOME LTDA., recorrido. Trata-se de recurso ordinário interposto pelo autor da respeitável sentença da MM. 1ª Vara do Trabalho de São Gonçalo, de lavra da eminente Juíza Rita de Cassia Ligiero Armond, que julgou improcedente o pedido (fls. 81/82). Embargos de declaração opostos pelo autor às fls. 84/85, acolhidos às fls. 86/87, para corrigir erro material referente ao nome da reclamada. Custas recolhidas à fl. 92. Sem Contrarrazões, consoante certidão de fl. 95. Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho por não se configurar hipótese de sua intervenção. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Conheço do recurso, por preenchidos os pressupostos legais de

2 admissibilidade. MÉRITO ADICIONAL DE INSALUBRIDADE A r. sentença de 1º grau indeferiu o pedido de pagamento do adicional de insalubridade, sob o fundamento de que a prova pericial concluiu que os empregados da ré não trabalhavam em condições insalubres. O recorrente sustenta que o Juízo deixou de analisar a alegação de que os empregados padeiros, durante as oito horas de trabalho permanecem exposto a calor acima do limite do tolerável. Sem razão. De início, ressalto que a inicial apresentou como causa de pedir a exposição à alta temperatura dos empregados nas funções de padeiro, forneiro e ajudante de padeiro (fl. 02). Pois bem. A contestação negou que os empregados estivessem expostos a agentes insalubres (fl. 16/53). Assim, cabia ao Sindicato autor o ônus da prova de suas alegações, nos termos do artigo 818 da CLT e do inciso I do artigo 333 do CPC. Produzida prova pericial, o i. Expert apurou (fls.63/65): (...) A NR-15 da Portaria 3214/78 do Ministério do Trabalho, que trata de ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES, em seu Anexo 3: Limites de Tolerância para Exposição ao Calor, relaciona as atividades que envolvem agente física (calor), cuja insalubridade é caracterizada pela avaliação quantitativa. Desta relação destaca-se: Trabalhos e operações a exposição ao calor deve

3 ser avaliada através do Índice de Bulbo Úmido - Termômetro de Globo (IBUTG) definido pelas equações que se seguem : IBUTG = 0,7tbn + 0,3tg (ambientes sem carga solar) onde: tbn = temperatura de bulbo úmido natural tg = temperatura de globo O equipamento usado para a medição foi um medidor de stress térmico digital da marca Instrutherm, modelo TGD - 300, calibração com certificado número 07497/08 datado de Valores medidos no local: Tbn = 25,8º C e tg = 31,0º C ; resultando em IBUTG = 27,4º C Como a atividade é considerada leve e o padeiro fica no máximo 15 minutos exposto ao calor, o valor encontrado está abaixo do mínimo que é de 31,5 a 32,2º C (15 minutos de trabalho para 45 minutos de descanso) Atendidos os artigos do CPC quanto á natureza do trabalho pericial, concluímos que, para a evidência do risco ambiental de insalubridade, o pedido não tem fundamento técnico e legal, devendo as atividades da Reclamante (caixa, balconista, ajudante de padeiro e padeiro) não serem consideradas insalubre Em sua impugnação ao laudo, o Sindicato-autor, argumenta que: (...) o próprio perito afirma que o padeiro

4 permanece durante quinze minutos exposto ao calor e quarenta e cinco minutos não. Logo, o padeiro fica exposto ao calor quinze minutos a cada uma hora. No caso de oito horas de serviço, o empregado permanece exposto ao calor durante duas horas por dia, o que não parece ter sido levado em consideração pelo Dr. Perito (...) Também deixou o Dr. perito de descrever a sistemática de trabalho do padeiro, que é a seguinte: o empregado está na temperatura ambiente do salão e se dirige até o forno que está a 240º e o abre, recebendo todo o vapor sobre seu rosto e corpo e retira e coloca cerca de quinze bandejas de pães, pelo que permanece exposto ao calor, no mínimo, 15 minutos. Obviamente, ao receber toda essa carga de calor, repentinamente, de quarenta em quarenta minutos, é prejudicial à saúde do trabalhador, pelo que espera a procedência dos pedidos (...) Em resposta, o Perito do Juízo, esclareceu (fls.77): 1- O quadro nº 1 do anexo nº 3 da NR 15 para limites de tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente com períodos de descanso no próprio local de trabalho é dado por hora de trabalho e não por horas trabalhadas em sua jornada diária, como afirmou a Dra. Advogada. O valor medido não ficou entre 31,5º C e 32,2º C

5 para ter direito a insalubridade, sendo o valor calculado para o IBUTG igual a 27,4 C, valor inferior ao necessário. 2- A respeito da sistemática de trabalho, a ilustre Dra. Advogada descreveu corretamente a colocação das bandejas no interior do forno que está aquecido a uma temperatura média de 240º C, sendo que o tempo de quinze minutos é o tempo máximo e não o mínimo para colocar as cerca de quinze bandejas no interior do forno, dando uma média de um minuto para cada bandeja. Desta forma, e pelo acima exposto RATIFICA este Perito o Laudo Técnico anteriormente apresentado, cuja conclusão é que tecnicamente os empregados do estabelecimento não fazem jus ao recebimento de insalubridade (...) Assim, a análise do conjunto probatório evidenciou que nas atividades desempenhadas pelo padeiro e por seu ajudante não há exposição contínua ao calor, sendo certo que, mesmo a exposição intermitente não alcança o índice exigido para caracterização da insalubridade, razão pela qual não há que se falar no pagamento do respectivo adicional. Nego provimento. CONCLUSÃO Pelo exposto, conheço do recurso, e nego-lhe provimento

6 A C O R D A M os Desembargadores da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso, e negarlhe provimento. Rio de Janeiro, 22 de junho de DESEMBARGADOR MARCOS PALACIO Relator rac/ver