PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 ACÓRDÃO 9ª TURMA TRABALHO EMBARCADO OFFSHORE - A lei 5811/72, que se aplica aos empregados que prestam serviços em atividades de exploração, perfuração, produção e refinação de petróleo, bem como na industrialização do xisto, na indústria petroquímica e no transporte de petróleo e seus derivados por meio de dutos, disciplina, no art. 2º, 1º, que no trabalho embarcado, sob o regime de trabalho de 12h, o empregado não faz jus à percepção de horas extras além da oitava diária. No entanto, o Acordo Coletivo estabelece que no trabalho embarcado - Offshore, a jornada é de doze horas diárias, sendo considerada hora extra a trabalhada além da 12ª hora diária; Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de em que são partes ROQUE RODRIGUES ROSA,como recorrente e BJ SERVICES DO BRASIL LTDA., como recorrida. Inconformado com a r. sentença de 148/151 que julgou procedente em parte o pedido inicial, interpõe o reclamante recurso ordinário às fls. 152/164. O reclamante requer a reforma da r. sentença, que indeferiu as horas extras, por entender que a reclamada não se desincumbiu do ônus probatório, eis que confessou a existência de controle individual de horário do reclamante e não o juntou aos autos, apesar de ter sido intimada para apresentá-lo, a fim de provar que, quando cumpria a jornada Offshore (quatorze dias embarcado e quatorze dias de folga) laborava na base (em terra) no período em que deveria estar de folga e que também extrapolava a sua jornada quando embarcado. Contrarrazões da reclamada às fls. 168/178. Partes devidamente assistidas às fls. 7 e 42. Sem parecer do Ministério Público do Trabalho

2 É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Conheço do recurso, por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. MÉRITO TRABALHO OFFSHORE (NA BASE E EMBARCADO) Na inicial, o reclamante alega que trabalhava no regime OFFSHORE (quatorze dias embarcado e quatorze dias de folga). Aduz, ainda, que nos dias que deveria estar de folga, acabava trabalhando na base de 08:00 horas às 18:00 horas (dez horas diárias), com intervalo intrajornada de uma hora. A reclamada, por sua vez, resiste à pretensão na sua peça de defesa (fls. 66) e nas contrarrazões, alegando que o reclamante jamais laborou no regime de 14x14, isto é, ininterruptamente, quatorze dias embarcado por quatorze dias de folga, com jornada de doze horas, mas no regime de 1x1, conforme o acordo coletivo colacionado nos autos e a Lei 5811/72. No tocante ao labor em terra - base da empresa aduz que o reclamante trabalhava das 07h:30m às 17h:48m, com duas horas de intervalo para repouso e alimentação, nos termos do Acordo Coletivo e, que, quando a jornada de trabalho era extrapolada, o reclamante passava essa informação à reclamada, conforme folhas de ponto e relação de obras, documentos anexados aos autos, sendo devidamente quitadas, o que foi confirmado pelo reclamante, pois confessa que o seu labor em terra era objeto de regular e correta anotação em folha de ponto diária (fls. 135). Assim, a controvérsia cinge-se acerca do trabalho embarcado do reclamante se no regime de 14x14 ou regime de 1x1 e se laborava ou não nos dias de folga. O Acordo Coletivo, pactuado entre a Federação Única dos Petroleiros; incluindo o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense e a reclamada, regulamenta o trabalho nos poços de petróleo no mar, da seguinte maneira: Offshore - regime de 1x1, para cada um dia de trabalho embarcado (offshore), o empregado tem direito a um dia de folga, cuja jornada é de doze horas diárias,

3 sendo considerada hora extra a trabalhada além da 12ª hora diária; O juízo a quo indeferiu o pleito sob o fundamento de que o reclamante confessou (fls. 146) que somente fez seis embarques pela empresa, já que a regra era o embarque por períodos variáveis. As planilhas juntadas aos autos, cujas siglas O e em branco significam, trabalho embarcado e dia de folga, respectivamente, conforme orientação da reclamada, demonstram que realmente houve somente seis embarques (fato confessado pelo reclamante), no ano de 2005, nos meses de maio, julho, setembro e outubro; no ano de 2006, nos meses de setembro e novembro, perdurando cerca de três a dez dias cada período de embarque, perfazendo um total de quarenta e três dias embarcados e cinquenta e um dias de folga. Outrossim, corroboram a tese da reclamada de que os embarques ocorreram em 14/05/2005, 22/05/2005, 17/07/2005, 04/09/2005, 23/09/2006, 27/09/06, os relatórios de embarque juntados aos autos (fls. 129/130). assertiva. No mais, os depoimentos das testemunhas comuns (fls. 146) reforçam a A primeira testemunha depôs que (...) para cada dia embarcado gozam de um dia de folga; que já aconteceu do depoente ficar dez dias embarcado e vinte dias desembarcado por não haver serviços para o depoente fazer ( ). A segunda testemunha depôs que para cada dia embarcado deveria ser concedido um dia de folga, mas isso nem sempre acontece ( ) que nunca tirou, que não sabe quantas folgas a empresa está lhe devendo(...), mas que tem ciência de que outros colegas tiraram folgas além do período de embarque. Dessa forma, pelo conjunto fático-probatório, constata-se que o regime era de 1x1, conforme alegado pela recorrida e previsto no acordo coletivo, entendo que os documentos são válidos para demostrar que a reclamada compensou os dias de trabalho embarcado, concedendo a respectiva folga, na forma da cláusula 22ª do instrumento normativo (fls. 28), com respaldo no art. 7º, XXVI, da Constituição Federal, eis que demostram que o reclamante folgou além do número de dias que esteve embarcado, razão pela qual não procede o argumento expendido pelo autor. Nego provimento. HORAS EXTRAS

4 Razão lhe assiste. O reclamante confessa, às fls. 146, que a sua jornada de trabalho embarcado, declinada na inicial, era das 06:00 horas às 13:00 horas e das 14 às 22:00 horas, com uma hora de intervalo intrajornada, perfazendo um total de 15 horas diárias, de segunda à domingo, sem descanso semanal, ultrapassando assim, a jornada pactuada no instrumento normativo de doze horas diárias (Jornada de 12x12). A reclamada, por sua vez, sustenta, em sua defesa (fls. 66), que o reclamante, quando embarcado, não ultrapassou a jornada de doze horas, conforme previsão no acordo coletivo colacionado nos autos e a Lei 5811/72. A lei 5811/72, que se aplica aos empregados que prestam serviços em atividades de exploração, perfuração, produção e refinação de petróleo, bem como na industrialização do xisto, na indústria petroquímica e no transporte de petróleo e seus derivados por meio de dutos, disciplina, no art. 2º, 1º, que no trabalho embarcado, sob o regime de trabalho de 12h, o empregado não faz jus à percepção de horas extras além da oitava diária. No entanto, as cláusula 21ª e 22ª do Acordo Coletivo (fls. 28) estabelecem que no trabalho embarcado - Offshore, a jornada é de doze horas diárias, sendo considerada hora extra a trabalhada além da 12ª hora diária; As provas testemunhais, nesta situação, de fato, não se prestam para averiguar-se se o reclamante laborou ou não além de doze horas diárias, pois a primeira testemunha depôs que nunca trabalhou embarcado com o reclamante; a segunda; depôs que isso somente ocorreu uma vez, mas a jornada não ultrapassou as doze horas porque estavam em seis. Entretanto, conforme o recorrente, argui, que pelo fato de a reclamada ter confessado que possui controle individual para cada empregado e não propriamente folha de ponto diária coletiva ( ), tal documento é submetido à ciência mediante colheita de assinatura de cada empregado; que nessa folha de ponto mensal individual constam dias trabalhados, inclusive com menção se o labor foi embarcado ou em terra, bem como as cargas horárias cumpridas (fls. 135), foi intimada para juntá-lo, sob as penas do art. 359 do CPC, todavia, não cumpriu com a determinação, sendo-lhe decretada a preclusão temporal (fls. 142). Além disso, o recorrente relata que os documentos juntados pela reclamada às fls. 107/110 confirmam a extrapolação da sua jornada diária, quando embarcado. Com

5 razão, por exemplo, o documento de fls. 108 noticia que o reclamante, no dia 13/09/06, laborou das 11:00 horas às 00:00 horas, com pausa até 01h:24m do dia 14/09/06; recomeçando as atividades às 01h:25m, com término às 15:00, assim, divirjo do D. Juízo a quo neste aspecto, pois observa-se que a carga horária do reclamante, extrapolou às doze horas diárias. Neste contexto, não procede o argumento da reclamada de que se não há folgas a serem usufruídas, são indevidas as horas extras, porque o Acordo Coletivo não atrelou a jornada extraordinária à folga concedida, esta foi prevista para compensar cada dia de trabalho embarcado (regime 1x1), cuja jornada diária fica limitada até doze horas, na forma da Lei 5811/72. Dessa forma, a reclamada alegando fato extintivo do direito do autor, atraiu para si o ônus da prova (art. 818 da CLT c/c art. 333, II, CPC), do qual não se desincumbiu, razão pela qual deve prevalecer à jornada declinada na inicial, quanto ao trabalho embarcado, na média de quinze horas diárias, mas limitado ao período de seis embarques, que totalizou quarenta e três dias embarcados, conforme planilhas de fls. 93/103, a ser apurado na liquidação da sentença, com repercussão dos seus reflexos nas férias + 1/3; 13º salário, FGTS e Multa de 40%, sob todo o período laborado. Dou parcial provimento. REPOUSO SEMANAL REMUNERADO O reclamante declina na inicial serem devidos em média quatro RSR, durante sua folga de quatorze dias, após o embarque de quatorze dias. Ressalte-se, que nesse particular, tendo em vista as peculiaridades do trabalho, aplica-se ao reclamante à Lei 5811/72 e não a Lei 605/49 (de previsão geral), de acordo com o brocardo jurídico lex specialis derogat le generali, tendo em vista que para quem trabalha na condição especial de embarcado, não é possível o retorno à residência, nos domingos e feriados, dessa forma, o legislador ordinário, regulamentou no art. 7º que a concessão de repouso na forma do inciso II do art. 4º quita a obrigação patronal relativa ao repouso semanal remunerado de que trata a Lei nº 605/49, repouso de vinte e quatro horas consecutivas para cada turno trabalhado, ou seja, os dias de repouso são cobertos pelos dias em que o trabalhador permanece de folga, ou seja, desembarcado. Como restou provado, que o reclamante, não laborava no regime de 14x14, e que, quando trabalhou embarcado, no regime de 1x1, usufruiu das suas folgas, indevidos

6 são o RSR. Nego provimento. Isto posto, conheço do recurso e, no mérito, dou parcial provimento ao recurso para condenar a reclamada ao pagamento das horas extras, quanto ao trabalho embarcado, na média de quinze horas diárias, mas limitado ao período de seis embarques, que totalizou quarenta e três dias embarcados, conforme planilhas de fls. 93/103, a ser apurado na liquidação da sentença, com repercussão dos seus reflexos nas férias + 1/3; 13º salário, FGTS e Multa de 40%, sob todo o período laborado, na forma da fundamentação supra. A C O R D A M os Exmos. Srs. Desembargadores que compõem a 9ª Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, nos termos da fundamentação do voto do Exmo. Sr. Relator, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento para condenar a reclamada ao pagamento das horas extras, quanto ao trabalho embarcado, na média de quinze horas diárias, mas limitado ao período de seis embarques, que totalizou quarenta e três dias embarcados, conforme planilhas de fls. 93/103, a ser apurado na liquidação da sentença, com repercussão dos seus reflexos nas férias + 1/3; 13º salário, FGTS e Multa de 40%, sob todo o período laborado. Esteve presente o Dr. Rafael Tavares Thomé. Rio de Janeiro, 1 de Setembro de Desembargador Federal do Trabalho José da Fonseca Martins Junior Relator