PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

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1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO PROCESSO nº (RO) RECORRENTE: PROSEGUR BRASIL S/A - TRANSPORTADORA DE VALORES E SEGURANÇA RECORRIDO: MARCOS ANTONIO GONÇALVES DE ARAÚJO RELATOR: FLÁVIO ERNESTO RODRIGUES SILVA RECURSO ORDINÁRIO. MÓDULOS DE 12X36. DIVISOR. O empregado submetido a módulos de 12x36 trabalha 36 horas numa semana e 48 na seguinte, o que implica uma diferença de 12 horas a mais ou a menos, conforme o caso. Ao fim de duas semanas, o trabalhador terá cumprido 84 horas de trabalho, totalizando uma média semanal de 42 horas. Considerando que somente são extras as horas trabalhadas a partir da 44ª semanal, deve-se utilizar o divisor 220. Vistos, relatados e discutidos os autos do recurso ordinário em que são partes: PROSEGUR BRASIL S/A - TRANSPORTADORA DE VALORES E SEGURANÇA, como recorrente, e MARCOS ANTONIO GONÇALVES DE ARAUJO, como recorrido. RELATÓRIO Inconformada com a r. sentença de id. 45bc604, proferida pela MM. Juíza Miriam Valle Bittencourt da Silva, da 40ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou procedente, em parte, o pedido, recorre ordinariamente a reclamante (id. 66cafde). Em síntese, a recorrente alega que as horas extras sempre foram calculadas e pagas corretamente. Frisa que, na falta de estipulação em norma coletiva, prevalece o divisor 220. Pondera que a própria sentença reconhece a imprecisão da inicial quanto ao número de plantões, bem como o silêncio da testemunha quanto ao tema; assim, pondera que não poderia haver condenação ao pagamento das horas extras correspondentes (com adicional de 100%). Sucessivamente, argumenta que deve ser utilizada a média das horas extras, observando a Orientação Jurisprudencial nº 233 da SDI-1 do Colendo TST. Alega não serem devidos os reflexos sobre o dia de repouso semanal remunerado, pois o autor era mensalista. Requer que a liquidação observe os seguintes aspectos : o fechamento do ponto ocorre no dia 15 de cada mês; os cinco minutos que antecedem e sucedem a jornada devem ser desconsiderados, como recomenda a Orientação Jurisprudencial de nº 23 da SDI-1 do Colendo TST; deve ser observada a evolução salarial mensal; as horas extras pagas devem ser deduzidas; as parcelas que não integram o salário devem ser excluídas do cálculo; a correção e os juros de mora devem ocorrer nos termos da Lei nº 8177/91, art. 39; os adicionais legais, normativos e convencionais não são retroativos; deve-se evitar dúplice pagamento das férias fruídas; é necessário determinar as deduções referentes à Previdência Social e ao Imposto sobre a Renda; devem ser deduzidos

2 todos os valores pagos sob o mesmo título; impõe-se a observância dos dias efetivamente trabalhados e a utilização do divisor 220. Custas e depósito recursal comprovados (id. 6db3be2 e id. dce8427). Contrarrazões sem preliminares (id. f3b70b3). Desnecessária a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho tendo em vista que a matéria devolvida não se insere na relação de hipóteses específicas de intervenção do Parquet, contidas na relação anexa ao Ofício PRT/1ª Região Reg. nº 214/2013-GAB, de 11/03/2013. É o relatório. CONHECIMENTO Conheço por presentes os pressupostos de admissibilidade. MÉRITO Das Horas Extras DOU PARCIAL PROVIMENTO. A recorrente alega que as horas extras sempre foram calculadas e pagas corretamente. Frisa que, na falta de estipulação em norma coletiva, prevalece o divisor 220. Pondera que a própria sentença reconhece a imprecisão da inicial quanto ao número de plantões, bem como o silêncio da testemunha quanto ao tema; assim, pondera que não poderia haver condenação ao pagamento das horas extras correspondentes (com adicional de 100%). Na petição inicial, o autor impugnou os controles de frequência e alegou cumprir as seguintes jornadas: das 7h às 19h, em média, na escala de 12x36, sempre com 1 hora para refeição - sendo que, a partir de junho de 2013, passou a ser designado para a função de Vigilante de Escolta de oito a até 16 dias ao mês, trabalhando das 20h às 14h, aproximadamente, sempre com 15 minutos para refeição. Frisou que tais missões de escolta ocorriam após sua função de vigilante patrimonial, ou seja: dentro do período de folga de 36 horas. O depoimento da única testemunha foi nos seguintes termos (grifos acrescentados - id. 3de38c4): Compromissado e interrogado, disse que trabalhou com o autor de junho/julho de 2013 até 2014, em período que faziam escolta da loja Zara, na Barra da Tijuca e Rio Sul; que trabalhavam no mesmo carro; que trabalhavam em jornada noturna com início às 20h, mas sem hora para terminar; que em média até 10h, no mínimo; que esses plantões se davam duas vezes por semana; que o depoente só trabalhou com o autor na escolta da Zara; que sabe que o autor fazia escolta também para a Souza Cruz; que geralmente a escolta da Souza

3 Cruz era durante o dia das 4h30min até a hora que acabasse; que embora na escolta da Souza Cruz o depoente não trabalhasse no mesmo carro que o autor, o depoente tem ciência dos fatos porque trabalhava no mesmo horário e cliente; que praticamente não tinham intervalo alimentar na escolta porque dependiam do motorista da transportadora parar e este não parava porque tinha pressa de terminar o serviço; que em média tinham 15 minutos de intervalo alimentar, que não tinham rendição; que a frequência está corretamente consignada nas folhas de ponto, quanto aos horários embora corretamente assinalados não eram pagos, que não recebiam folha ao final do mês para conferência; que as escoltas para a Zara se davam com loja aberta e fechada; que as escoltas se davam nas lojas do Rio Sul, Barra Shopping, Fashion Mall e Shopping Metropolitano. O juízo a quo considerou que a testemunha depôs de forma convincente, e assim declarou idôneos os cartões de ponto juntados quanto à frequência e horários de entrada e saída - mas não quanto ao intervalo para repouso e alimentação no período em que o autor laborou na escolta armada (a partir de junho de 2013). Desse modo, condenou a ré ao pagamento de Nesse passo, defere-se ao autor o pagamento das horas extras laboradas após a 192ª mensal, com o acréscimo de 50%, considerada a jornada apontada nas folhas de ponto dos autos e os dias efetivamente trabalhados. prova testemunhal. Quanto a esse aspecto, a sentença merece confirmação, dada a O juízo de primeiro grau determinou também que, na falta dos controles de frequência, as horas extras deverão ser apuradas observando a jornada média das 20h/10h e doze plantões ao mês. Apesar de a sentença indicar que o depoimento testemunhal é silente quanto ao número de plantões, nota-se que a testemunha declarou que estes ocorriam cerca de duas vezes por semana. Considerando um mês de 4,5 semanas, temos um total de nove plantões mensais. É certo que a petição inicial não especifica a frequência com que ocorriam tais plantões, mas tal lacuna não prejudicou a defesa e foi suprida pela prova testemunhal. 12 para nove. Dessa maneira, impõe-se que o número de plantões seja reduzido de Da Liquidação DOU PARCIAL PROVIMENTO. A recorrente argumenta que deve ser utilizada a média das horas extras, observando a Orientação Jurisprudencial nº 233 da SDI-1 do Colendo TST. O juízo a quo determinou a apuração com base nos controles de ponto (ao que, certamente, a ré não pode se opor), deixando a média para o caso de meses sem a documentação correspondente. Nada há a deferir, no particular A reclamada alega não serem devidos os reflexos sobre o dia de repouso semanal remunerado, pois o autor era mensalista.

4 O salário mensal apenas remunera os dias de repouso semanal à proporção da jornada pactuada com o empregado. Havendo horas extras, impõe-se a repercussão das mesmas sobre tais dias. Tal entendimento foi cristalizado na Súmula nº135 do Colendo TST. A recorrente requer que a liquidação observe os seguintes aspectos: I. o fechamento do ponto ocorre no dia 15 de cada mês; II. os cinco minutos que antecedem e sucedem a jornada devem ser desconsiderados, como recomenda a Orientação Jurisprudencial de nº 23 da SDI-1 do Colendo TST; III. deve ser observada a evolução salarial mensal; IV. as horas extras pagas devem ser deduzidas; V. as parcelas que não integram o salário devem ser excluídas do cálculo; VI. a correção e os juros de mora devem ocorrer nos termos da Lei nº 8177/91, art. 39; os adicionais legais, normativos e convencionais não são retroativos; VII. deve-se evitar dúplice pagamento das férias fruídas; VIII. é necessário determinar as deduções referentes à Previdência Social e ao Imposto sobre a Renda; IX. devem ser deduzidos todos os valores pagos sob o mesmo título; X. impõe-se a observância dos dias efetivamente trabalhados; XI. deve-se utilizar o divisor 220. A sentença determina que, em liquidação, observe-se a data de fechamento do cartão de ponto. Portanto, já foi atendido o requerimento do item I. Os cinco minutos que antecedem e sucedem a jornada devem ser desconsiderados quando não há horas extras. Tal situação não corresponde à dos autos. Afastase, portanto, o argumento do item II. A sentença determina a observância da evolução salarial e dos dias efetivamente trabalhados. Assim, afastam-se os itens III e X. O julgado autoriza a dedução de verbas já quitadas sob mesmo título, de modo que já se encontra atendido o requerido nos itens IV e IX. A recorrente não especifica quais seriam as parcelas que não integram o salário e que, portanto, devem ficar excluídas do cálculo das horas extras. Trata-se de discussão a ser retomada na fase de liquidação. Afasta-se, por ora, o item V. O douto prolator da sentença dispôs que os juros seriam calculados à razão de 1% ao mês, e que a correção monetária seria efetuada na forma da lei. Assim, fica sem objeto o item VI. O item VII diz respeito pagamento dúplice de férias fruídas. A sentença não traz qualquer disposição nesse sentido. Qualquer inconformismo surgido em sede de liquidação poderá ser manifestado oportunamente.

5 O juízo determinou, de ofício, as deduções previdenciárias e fiscais, o que retira o objeto do item VIII. No item XI, a recorrente afirma que deve ser utilizado o divisor 220. No particular, razão lhe assiste, tendo em vista que os regimes de 12x36 implicam a compensação de jornadas. Com efeito, o empregado submetido a esse tipo de módulo trabalha 36 horas numa semana, e 48 na seguinte, o que implica uma diferença de 12 horas a mais ou a menos, conforme o caso. Ao fim de duas semanas, o trabalhador terá cumprido 84 horas de trabalho, totalizando uma média semanal de 42 horas. Considerando que somente são extras as horas trabalhadas a partir da 44ª semanal, deve-se utilizar o divisor 220. Veja-se, a propósito, entendimento do Colendo TST: (...)REGIME 12X36 - HORAS EXTRAS - DIVISOR. Na jornada 12hx36h, o empregado labora quarenta e oito horas em uma semana e trinta e seis na seguinte, o que evidencia a compensação de jornada. Assim, esta Corte firmou o entendimento no sentido de que somente é considerada hora extraordinária a que exceda ao limite das 44 semanais, atraindo a aplicação do divisor 220.(...) (TST - RR: , Relator: Renato de Lacerda Paiva, Data de Julgamento: 12/08/2015, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 21/08/2015) do divisor 220. Dessa forma, razão assiste à recorrente apenas quanto à utilização Do exposto, CONHEÇO do recurso e, no mérito, DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO para reduzir o número mensal de plantões para 09 (nove) e determinar que as horas extras sejam computadas a partir da 44ª semanal, utilizando o divisor 220. Reduzse o valor da condenação para R$20.000,00, ficando as custas, pela ré, em R$400,00. Tudo na forma da fundamentação supra. A C O R D A M os Desembargadores da Décima Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHECER do recurso e, no mérito, DAR-LHE PARCIAL PROVIMENTO para reduzir o número mensal de plantões para 09 (nove) e determinar que as horas extras sejam computadas a partir da 44ª semanal, utilizando o divisor 220. Reduz-se o valor da condenação para R$20.000,00, ficando as custas, pela ré, em R$400,00, nos termos do voto do Exmo. Des. Relator. Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2016 DESEMBARGADOR FLÁVIO ERNESTO RODRIGUES SILVA fgo/masd Relator