TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 12ª REGIÃO

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1 TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 12ª REGIÃO Acórdão-3ªT RO ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL. REPÓRTER CINEMATOGRÁFICO. JORNALISTA. DIPLOMA. Diante da recente decisão do STF no RE , entendo ser dispensável o curso superior em jornalismo para o exercício dessa profissão. Assim, exercendo o reclamante a função de repórter cinematográfico, deve ser enquadrado na categoria profissional de jornalista, ainda que não detenha o diploma universitário. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO, provenientes da 3ª Vara do Trabalho de Florianópolis, SC, sendo recorrente ALEXANDRE ALMEIDA PINHO e recorrida RBS TV DE FLORIANÓPOLIS S.A. Da decisão que rejeitou os pedidos, recorre o autor a este Tribunal. Reitera, em arrazoado, o enquadramento profissional na função de repórter cinematográfico e, de consequência, busca alterar as anotações da CTPS e o pagamento de diferenças salariais de acordo com os instrumentos coletivos, diferenças de horas extras, domingos e feriados. Por fim, alude que a decisão é nula por apreciar pedido inexistente /2009 RO Contrarrazões são apresentadas. É o relatório. V O T O Conheço do recurso e das contrarrazões, por superados os pressupostos de admissibilidade. M É R I T O 1. ENQUADRAMENTO PROFISSIONAL. REPÓRTER CINEMATOGRÁFICO Reitera o autor seu enquadramento profissional na função de repórter cinematográfico, ao argumento de que suas atividades eram de jornalista. Consequentemente, busca alterar as anotações na CTPS e o pagamento das diferenças salariais de acordo com os instrumentos coletivos da referida categoria profissional. Razão lhe assiste.

2 Em se tratando de fato constitutivo do direito vindicado, cabe a parte comprovar suas alegações. No caso em comento, o reclamante não trouxe aos autos o comprovante de curso superior de jornalismo ou comunicação social. Conforme destacado na sentença, o Decreto-Lei nº 972/69, que dispõe sobre o exercício da RO profissão de jornalista, alterado pelas Leis nºs 5.696/71 e 6.612/78, cujo Regulamento teve nova redação pelo Decreto nº /79, prevê que o exercício da profissão de jornalista requer prévio registro no órgão regional do Ministério do Trabalho e Emprego, mediante, dentre outros requisitos, a apresentação de diploma de curso superior de jornalismo, oficial ou reconhecido. Frente a este contexto, inolvidável que o diploma de jornalista é requisito intransponível para o reconhecimento da mencionada profissão. Entretanto, em , o Supremo Tribunal Federal declarou que é inconstitucional a obrigatoriedade do diploma em curso superior de jornalismo ou comunicação social para o exercício da profissão de jornalista no Brasil. O recurso foi interposto pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo e pelo Ministério Público Federal contra uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que determinava a necessidade do diploma. Segundo o voto do relator, Ministro Gilmar Mendes, a formação específica em curso deve ser dispensada para a garantia do exercício pleno das liberdades de expressão e informação, como é o caso dos jornalistas. Assim, diante da recente decisão do STF, reformulo o entendimento anteriormente adotado e passo a apreciar se a prova dos autos permite ou não enquadrar o reclamante na categoria profissional de jornalista. Da análise da CTPS, verifico que no RO campo denominado de registros das profissões regulamentadas, consta que o autor é jornalista profissional na função de operador cinematográfico (fl. 20). A testemunha convidada pelo reclamante comprova que ele exercia a função de repórter cinematográfico (fl. 217) o que é ratificado pelo depoimento da testemunha da ré (fl. 218).

3 Ante o exposto, dou provimento ao recurso para reconhecer o enquadramento do reclamante na categoria profissional de jornalista. 2. DIFERENÇAS SALARIAIS. INOBSERVÂNCIA DAS NORMAS COLETIVAS Argumenta o reclamante que salário pago por ocasião de sua admissão é inferior ao previsto nas normas coletivas. Assevera, ainda, que a demandada não pagava o piso salarial da categoria profissional e tampouco concedeu corretamente os reajustes estabelecidos para a categoria. Razão lhe assiste. Considerando que foi reconhecido o enquadramento do reclamante na profissão de jornalista, por consequência, lhe são aplicáveis as normas coletivas da referida categoria profissional. Dou provimento ao recurso para acrescer à condenação o pagamento de diferenças salariais entre o salário pago e aquele previsto na normas coletivas RO da categoria profissão de jornalista, com os reflexos postulados na exordial. 3. DIFERENÇAS DE HORAS EXTRAS CONTRATUAIS E PAGAS. DIVISOR APLICADO Sustenta o recorrente a existência de diferenças de horas extras, tendo por base o divisor aplicado na apuração das horas extras já pagas. Reafirma que na condição de jornalista lhe é aplicável o divisor 150 e não 180 como procedia a reclamada. Considerando que foi reconhecido o enquadramento do reclamante na profissão de jornalista, aplicável o divisor 150 da referida categoria profissão. Assim, subsistem diferenças de labor extraordinário, uma vez que as horas extras foram pagas considerando o divisor 180 quando deveria ser o 150. Dou provimento ao recurso para acrescer à condenação o pagamento de diferenças de horas extras, considerando a aplicação do divisor 150, com os reflexos postulados na exordial. 4. DOMINGOS E FERIADOS Afirma o autor que a reclamada não pagava em dobro os domingos e feriados trabalhados, como determina a Lei nº 605/49. Merece prosperar a insurgência.

4 RO De fato, o exemplo apontado pelo autor na exordial e no recurso, ratificado pelo recibo salarial do mês de novembro/05 (fl. 32), demonstra claramente que a ré pagava os domingos e feriados de forma simples. Os arts. 1º e 9º da Lei nº 605/49 preconiza que o empregador deve conceder repouso semanal de 24 horas consecutivas dentro da semana, sendo que, se não for possível a concessão do feriado, a remuneração deve ser paga em dobro (na ausência de compensação). Neste sentido, é o entendimento pacificado por meio da nº 146 do TST: TRABALHO EM DOMINGOS E FERIADOS NÃO COMPENSADOS. O trabalho prestado em domingos e feriados, não compensado, deve ser pago em dobro, sem prejuízo da remuneração relativa ao repouso remunerado. Com efeito, considerando que a empresa pagou os feriados trabalhados de forma simples, fica obrigada ao pagamento de mais uma vez de forma simples, caracterizando, assim, o pagamento em dobro como preconiza a lei. Ante o exposto, dou provimento ao recurso para deferir o pagamento dos domingos e feriados trabalhados, de forma simples, com os reflexos postulados na exordial. 4. RETIFICAÇÃO DA CTPS (PEDIDO INEXISTENTE) RO Alega o recorrente que na narrativa dos fatos na peça exordial declinou que foi admitido em fevereiro de 2005 e a reclamada procedeu a anotação de sua CTPS somente em agosto de Entretanto, por lapso, não foram formulados os pedidos decorrentes do registro tardio da CTPS. Contudo, mesmo inexistindo os pedidos específicos, o juízo a quo apreciou tais pleitos e os indeferiu, o que resulta em julgado nulo. Razão não lhe assiste. Segundo o disposto no 1º do art. 840 da CLT, sendo escrita a reclamação basta uma breve exposição dos fatos de que resulte o pedido. No caso em comento, ao final da fundamentação esposada na peça exordial o autor afirma que: Em face do exposto, tem direito a retificação da CTPS no que tange a data de admissão e integração do período ao tempo de serviço para todos os efeitos legais (férias, 13º salário e FGTS) fl.

5 04. Assim, considerando o termos delineados na fundamentação da peça exordial e dado o princípio da simplicidade que norteia o processo do trabalho, notadamente no que tange ao pedido, cujo rigor do processo civil deve ser abrandado na seara trabalhista, entendo que fora prudente a conduta do magistrado de origem em apreciar a matéria, até porque tinha todos os elementos nos autos para julgá-la. Por fim, causa estranheza a RO insurgência do autor neste ponto, posto que traz um fato a juízo, todavia, entende que a matéria não deva ser apreciada. Nego provimento. Pelo que, ACORDAM os Juízes da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, por unanimidade, CONHECER DO RECURSO. No mérito, por maioria, vencido, parcialmente, o Exmo. Juiz Gerson Paulo Taboada Conrado (Revisor), DAR-LHE PROVIMENTO PARCIAL para, reconhecendo o enquadramento do autor na categoria profissional de jornalista, na função de repórter cinematográfico, deferir-lhe o pagamento de diferenças salariais entre o salário efetivamente pago e aquele previsto nas normas coletivas da categoria profissão de jornalista, de diferenças de horas extras decorrentes da aplicação do divisor 150 e da remuneração dos domingos e feriados trabalhados, de forma simples, apurados com base nos registros constantes nos cartões-ponto, tudo com os reflexos postulados. Custas de R$ 30,00 (trinta reais) pela ré sobre o valor provisório da condenação arbitrado em R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). Intimem-se. Participaram do julgamento realizado na sessão do dia 14 de julho de 2009, sob a presidência do Exmo. Juiz Amarildo Carlos de Lima, os Exmos. Juízes Gerson Paulo Taboada Conrado (Revisor) e Roberto Basilone Leite RO (Relator). Presente a Exma. Dra. Cristiane Kraemer Ghelen Caravieri, Procuradora do Trabalho. Florianópolis, 27 de julho de ROBERTO BASILONE LEITE Relator