PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 10a Turma TEMPO DE ESPERA DE ÔNIBUS EM TRÂNSITO. CÔMPUTO NA JORNADA DE TRABALHO. HORAS EXTRAS. O tempo que o empregado permanece à disposição do empregador, trabalhando ou não, entra no cômputo da jornada de trabalho. Assim, as horas em que o empregado fica, por determinação da empresa, aguardando a chega do ônibus em trânsito serão computadas na jornada de trabalho e, se for o caso, pagas como horas extras. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO , em que são partes: VIAÇÃO ITAPEMIRIM S.A. e WELLINGTON CARDOSO DE AZEREDO, como Recorrentes e Recorridos. VOTO: I - R E L A T Ó R I O Trata-se de Recurso Ordinário interposto pela empresa às folhas 302/312 e pelo trabalhador às folhas 318/323, em face da r. decisão proferida às folhas 293/299, pelo Juiz do Trabalho Cláudio Aurélio Azevedo Freitas, da 2ª Vara do Trabalho de Campos dos Goytacazes, que julgou extinto sem resolução do mérito o pedido de pagamento de diferenças que forem encontradas de adicional noturno e horas extras pagas, confrontando os contracheques com as fichas de controle de jornada (folha 07 - letra f ) e pedido procedentes em parte os demais pedidos. Embargos de declaração opostos pelo trabalhador às

2 folhas 300/301, aos quais foi dado provimento, nos termos da decisão de folha 316. Contestação às folhas 27/45. Atas de audiência às folhas 274 e 292. A empresa alega, em síntese, que não houve prova do horário de trabalho apontado na petição inicial. Sustenta, ainda, que há norma coletiva estabelecendo que o período em que o trabalhador permanece descansando não entra no cômputo da jornada de trabalho. Por fim, argumenta que a liquidação da sentença deve ser feita por simples cálculos. Preparo às folhas 313/314. O trabalhador sustenta que o número de horas extras trabalhadas é superior ao fixado na sentença. Contrarrazões do trabalhador às folhas 325/331 e da empresa às folhas 334/343. Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar no. 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08-GAB., de É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1. CONHECIMENTO Sustenta a empresa que deve ser reformada a sentença que determinou que a liquidação fosse feita por arbitramento a suas expensas. Ao contrário do que sustenta a recorrente, não houve determinação de que a liquidação fosse feita por arbitramento e, muito menos, que deveria ser arcada pela empresa, como se constata da leitura de folha

3 A circunstância ocorrida, nos presentes autos, demonstra, a toda evidência, afronta ao Princípio da Dialeticidade, insculpido no artigo 514, inciso II, do CPC, de aplicação subsidiária por força do artigo 769 da CLT, caracterizando-se, assim, a hipótese de recurso desfundamentado. Sendo assim, não se pode conhecer do recurso quanto à questão relativa à forma de liquidação, conforme o entendimento consubstanciado na Súmula nº 422 do C. TST, in verbis: RECURSO. APELO QUE NÃO ATACA OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. NÃO CONHECIMENTO.ART. 514, II, do CPC. (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 90 da SBDI- 2) - Res. 137/2005, DJ 22, 23 e Não se conhece de recurso para o TST, pela ausência do requisito de admissibilidade inscrito no art. 514, II, do CPC, quando as razões do recorrente não impugnam os fundamentos da decisão recorrida, nos termos em que fora proposta. (ex-oj nº 90 da SBDI-2 - inserida em ) Não conheço do recurso da empresa quanto ao modo de liquidação por afronta ao princípio da dialeticidade. Conheço do recurso da empresa quanto às demais questões e do da empregada por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. 2. MÉRITO 2.1. DAS HORAS EXTRAS Tendo em vista que ambas as partes recorrem das questões relativas às horas extras, os apelos serão analisados em conjunto, quanto a este tópico. Alega a empresa que os depoimentos prestados pelas testemunhas indicadas pelo obreiro pecam pela insegurança, sendo imprestáveis como meio de prova. Acrescenta que, diante da fragilidade da prova produzida pelo empregado, não se pode ter como verdadeira o horário de trabalho indicado na petição inicial. Sustenta, também, que, por força de norma coletiva, não podem ser computados na jornada de trabalho os períodos em que o empregado não se encontrava ao volante

4 O trabalhador argumenta que o número de horas extras fixado na sentença é inferior ao de horas trabalhadas ou à disposição do empregador. Acrescenta que quando tinha que pegar um veículo em trânsito, poderia ter que ficar esperando até 3 (três) horas, em cada viagem de ida ou de volta, pela chegada do carro. Consta da sentença que Como reiteradamente tem sido decidido por este Juiz em idênticas situações, os controles trazidos pela ré aos autos efetivamente são precários, porque somente demonstram os horários dos motoristas em trânsito, i.e., o início dos trabalhos na direção do veículo, quando a direção autoral se refere às horas antecedentes a tal fato. A prova testemunhal produzida é dúbia, porque as testemunhas levadas pelo autor confirmam, em parte, o que é pretendido, enquanto que a da ré, ao contrário, nega a existência de tais horas extras. (...) Daí porque, reputo como correto que o autor cumpria mais de 1h30min por dia, durante os dias em que fazia uma viagem (de ida ou de volta), além daquelas registradas nos controles juntados aos autos... (folha 295). O Juízo a quo acrescentou que... é sabido que os motoristas que cumprem rotas interestaduais têm os seus horários elastecidos, como regra,, em razão dos inúmeros acontecimentos que costumeiramente ocorrem! Daí porque, arbitro no sentido de que o autor cumpria 03h extras nos dias em que fazia duas viagens... (folha 296). Não merece reforma a decisão a quo. Segundo o disposto no artigo 4º da CLT, considerase como tempo de serviço prestado o período em que o trabalhador permanece à disposição do empregador, trabalhando

5 ou não. Logo, qualquer tempo à disposição da empresa será computado na jornada de trabalho. Como bem ressaltado na sentença, não restou a menor dúvida quanto à existência de horas extras não anotadas nos controles de jornada. Todas as testemunhas foram unânimes quanto à exigência da empresa de que os motoristas se apresentassem antes do início da viagem, sendo que, as duas testemunhas indicadas pelo obreiro acrescentaram que só podiam anotar a jornada de trabalho quando o ônibus já estivesse em movimento (folhas 282 a 291). Ora, o período entre a chegada ao ponto e o início da viagem é considerado tempo à disposição do empregador e, portanto, deveria ter sido computado na jornada de trabalho. Quanto ao número de horas extras fixadas na sentença, verifica-se que tal número está em consonância com a prova oral. As testemunhas indicadas pelo obreiro, declararam que o tempo de espera, por viagem, dos ônibus que estavam em trânsito poderia ser de 1 (uma) hora, 2 (duas) horas ou 3 (três) horas, após o horário previsto (folhas 282 e 285). Já a testemunha indicada pela empresa afirmou que o tempo de espera era de 1 (uma) hora (folha 287). Como ressaltado na sentença, a prova testemunhal apresentou-se incerta, portanto, o Juízo a quo fixou um meio termo entre os depoimentos apresentados e determinou o pagamento de 1h30 como extras, quando havia apenas uma viagem (de ida ou de volta) e 3h quando o trabalhador fazia duas viagens. Além disso, deve-se ter em conta que o Juízo a quo já esteve diante de várias demandas como esta, como afirmado à folha 295. A experiência no julgamento das várias ações não pode ser descartada, devendo a opinião do Magistrado ser levada em consideração para sopesar os elementos de prova. Cumpre ainda esclarecer, que não foi violada a cláusula décima terceira dos acordos coletivos que acompanham a contestação (folhas 211, 226, 253 e 264). Não se pode confundir o período em que o empregado fica descansando nos

6 alojamentos ou no interior dos ônibus entre uma viagem e outra, com o período em que o trabalhador permanece de prontidão esperando a chegada do ônibus que está em trânsito para render, de imediato, o motorista que se encontra ao volante. Pelo exposto, nego provimento a ambos os recursos. III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 10ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, em não conhecer do recurso da empresa quanto à forma de liquidação por ausência de requisito de admissibilidade insculpido no artigo 514, II, do CPC, de aplicação subsidiária por força do artigo 769 da CLT, conhecer do recurso da empresa quanto às demais questões e do da trabalhadora e, no mérito, por unanimidade, em negar-lhes provimento, nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 12 de maio de Marcos Cavalcante Desembargador Relator MC/md