PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 6a Turma SEGURO-DESEMPREGO. NÃO RECEBIMENTO. CULPA DO EMPREGADOR. O empregador que envia informação equivocada ao Ministério do Trabalho, impedindo, assim, o trabalhador de receber o segurodesemprego, expõe o ex-empregado a uma situação vexatória e constrangedora, passível de ser indenizada. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário nº TRT-RO , em que são partes: NATÁLIA DE SOUZA RIBEIRO LOPES, como Recorrente, e FUNDAÇÃO BIO RIO, como Recorrido. VOTO: I - R E L A T Ó R I O Trata-se de Recurso Ordinário interposto pela trabalhadora às folhas 39/42 em face da r. decisão proferida às folhas 32/33 pela Juíza do Trabalho Kassandra Nataly d A. Carvalho e Lima, da 28ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que julgou o pedido improcedente. Embargos de declaração opostos pela trabalhadora às folhas 35/36, os quais foram julgados improcedentes, nos termos da decisão de folha 37. Contestação às folhas 26/28. Ata de audiência à folha 31. A recorrente alega, em síntese, que tem direito à indenização por dano moral

2 Sem preparo, tendo em vista a decisão proferida no Agravo de Instrumento às folhas 57/59. Sem contrarrazões. Os autos não foram remetidos à Douta Procuradoria do Trabalho por não ser hipótese de intervenção legal (Lei Complementar no. 75/1993) e/ou das situações arroladas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 27/08-GAB., de É o relatório. II - F U N D A M E N T A Ç Ã O 1. CONHECIMENTO Conheço do recurso por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. 2. MÉRITO DO DANO MORAL Afirma a recorrente que, embora estivesse desempregada, seu ex-empregador informou ao Ministério do Trabalho que encontrava-se trabalhando. Acrescenta que o equívoco cometido a impediu de receber a última parcela do seguro-desemprego, além de fazê-la por passar situação constrangedora no momento em que teve recusada a liberação do benefício. Consta da sentença que incontroverso o erro cometido pela ré, assim, como sua retificação, de sorte resta analisar se tal situação enseja, ou não, a pretensa indenização. A meu ver, o fato não enseja indenização por dano moral, já que na lição de Svatier, este 'é todo sofrimento humano que não é causado por uma perda pecuniária, ou ainda, é toda dor física ou psicológica injustamente provocada em uma pessoa humana'. Assim, tenho que não houve ato ilícito capaz de gerar a indenização postulada... (folhas 32/33)

3 Merece reforma a sentença. Dispõe o artigo 5º, inciso X, da Constituição federal que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (grifei) O dano moral é todo sofrimento humano que não resulta de uma perda pecuniária, mas de violação a direitos de personalidade. Representa, pois, uma afronta à dignidade do indivíduo, a qual engloba os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à privacidade e à liberdade. Nas palavras de Maurício Godinho Delgado "é toda dor física ou psicológica injustamente provocada em uma pessoa humana" (in, Curso de Direito do Trabalho, LTr, 4ª edição, página 613). A reparação não tem como objetivo restabelecer o statu quo ante, mas tão somente compensar, por meio de um valor em pecúnia a ser arbitrado pelo juiz, a ofensa à dignidade do indivíduo ou, ao menos, mitigar o seu sofrimento. No presente caso, como estabelecido na sentença, restou incontroverso o erro cometido pela empresa. Esta admitiu que informou erroneamente em seu CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), competência de fevereiro de 2011, o número do PIS da recorrente como se fosse de outra empregada. Assim, a demandante não só foi impedida de sacar a última parcela do seguro-desemprego, como também passou, sem dúvida, por situação constrangedora, pois, tentou obter o benefício concedido aos desempregados estando, segundo informação remetida pela recorrida, empregada. Por algum período, a recorrente passou por fraudadora do benefício. Tal situação equipara-se à hipótese da dispensa sem o pagamento das verbas resilitórias. A empregado foi surpreendida pelo ato da empresa que a impediu de receber a verba que lhe era devida, sofrendo, indubitavelmente, lesão à sua dignidade. Ao se ver privado de sua principal e, por vezes, única fonte de sustento, o trabalhador é acometido de aflições, agruras, que caracterizam, sem sombra de dúvidas, o dano extrapatrimonial

4 Ainda que a empresa tenha retificado o erro posteriormente, apenas em maio de 2011, tal fato não apagou o constrangimento vivenciado na boca do caixa. Quanto ao ato ilícito, em que pese o Juízo a quo ter entendido que tal ato não restou configurado, a empresa agiu, no mínimo, com negligência, ao trocar o número do PIS da recorrente, desempregada, com o de outra trabalhadora, que estava empregada, o que gerou o transtorno relatado pela recorrente. Constatado o ilícito, resta então fixar o valor da indenização. Não há nos autos qualquer comprovante de pagamento de salário. Entretanto, verifica-se que restou incontroverso que o contrato de trabalho durou 5 (cinco) anos. Ainda que o ato não tenha sido gravíssimo, a empresa demorou 3 (três) meses para retificá-lo. A empregadora trata-se de uma pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativo, considerada de Utilidade Pública, situada no Polo de Biotecnologia da Ilha do Fundão, instituída em fevereiro de A dotação inicial da Instituidora foi de Cz$ ,00 (cento e trinta e seis milhões, quinhentos e quarenta e nove e cento e oito cruzados), conforme escritura de alteração do estatuto às folha 16/24. Assim, considerando os parâmetros acima e, principalmente, o caráter pedagógico da medida, fixa-se a indenização em R$5.000,00 (cinco mil reais). Dou provimento. DETERMINAÇÕES FINAIS Compete ao empregador calcular, deduzir e recolher o imposto de renda devido por ocasião do efetivo pagamento será retido na fonte pela pessoa física ou jurídica no momento em que, por qualquer forma, esses rendimentos se tornarem disponíveis para o reclamante, na forma do Provimento 01/1996 da Corregedoria-Geral da Justiça do Trabalho e do artigo 46 da Lei nº 8.541/1992. A comprovação do valor retido pode ocorrer em quinze dias, conforme autoriza o artigo 28 da Lei nº

5 10833/2003. O referido tributo deverá ser calculado mês a mês, de acordo com as alíquotas vigentes nas épocas próprias, observando-se os limites de isenção. A correção monetária será computada a partir da data do acórdão que fixou o valor da condenação, independentemente da data do trânsito em julgado. Isso porque o arbitramento é feito de acordo com a dimensão do valor à luz dos dados no momento de sua fixação. Juros de forma simples e nos termos do artigo 883 da Consolidação das Leis do Trabalho, contados a partir do ajuizamento da ação e recalculados sempre sobre o principal, a cada nova atualização, evitando-se o anatocismo. Os juros fluirão até o efetivo pagamento total da condenação, não se aplicando o 4º do artigo 9º da Lei 6830/80, ante sua incompatibilidade com o 1º da Lei 8177/90, por ser esse específico para execução trabalhista. Não haverá incidência do imposto de renda sobre os juros, de acordo com o inciso I do parágrafo 1º do artigo 46 da Lei 8541/92. Os juros de mora também não integram o salário de contribuição, devendo ser observado o artigo 15 da Ordem de Serviço Conjunta do INSS/DAF/DSS N. 66 DE Do total da condenação deverá ser deduzido o valor que o exequente pagará a título de honorários advocatícios contratuais (art. 46, 1º, inciso II, da Lei nº 8541/92) para efeitos fiscais. Atendendo ao disposto no artigo 832, parágrafo 3º, da CLT, declaro a natureza indenizatória da verba deferida. Custas pelo empregador, no importe de R$100,00 (cem reais), calculadas sobre o valor de R$5.000,00 (cinco mil reais) arbitrado à condenação. III - D I S P O S I T I V O ACORDAM os Desembargadores que compõem a 6ª Turma

6 do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário e, no mérito, por maioria, dar-lhe provimento para condenar a empresa ao pagamento de indenização por dano moral fixada em R$5.000,00 (cinco mil reais), nos termos do voto do Exmo. Sr. Desembargador Relator, vencido o Desembargador José Antônio Piton. Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de MC/md Marcos Cavalcante Desembargador Relator