PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 1a Turma PREVIDÊNCIA PRIVADA. CONTRIBUIÇÃO VERTIDA PELO EMPREGADO. DEVOLUÇÃO INTEGRAL. É obrigatório o resgate integral dos aportes realizados pelos participantes aos planos de complementação dos Benefícios prestados pela previdência oficial, consoante estabelece o inciso III, do art. 14, da Lei Complementar nº 109/2001. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO em que são recorrentes DENISE COSTA DA FONSECA e URB PREV PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR e Recorridos DENISE COSTA DA FONSECA, ITAÚ UNIBANCO S/A e URB PREV PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR. I - RELATÓRIO Tratam-se de recursos ordinários interpostos pela Reclamante (fls. 339/343) e pela segunda reclamada (fls. 349/358) em face da sentença de fl. 330 complementada à fl. 346, que julgou procedentes em parte os pedidos constantes da inicial. A reclamante insurge-se contra a exclusão da primeira reclamada (Itaú Unibanco S/A), da não concessão da gratuidade e do indeferimento do indeferimento do pedido de

2 honorários advocatícios. A segunda reclamada não se conforma com o deferimento do pedido da autora, relativamente a devolução das contribuições vertidas para o Instituto João Moreira Salles, a título de contribuição de complementação de aposentadoria. Sustenta que não houve contribuição para plano de complementação de aposentadoria, uma vez que a autora confundiu a contribuição associativa a qual aportou ao longo dos anos para a referida instituição com contribuição de plano de complementação de aposentadoria, pugnando pela reforma do julgado para ver julgado improcedente o pedido da autora neste sentido. Contrarrazões da reclamante às fls. 364/367 e da segunda reclamada às fls. 370/373. A primeira reclamada não apresentou contrarrazões, não obstante regularmente intimada (fl 374). Custas encartada à fl. 360 e depósito recursal à fl É o relatório. VOTO CONHECIMENTO. Conheço dos recursos, por atendidos os pressupostos processuais de admissibilidade. II - FUNDAMENTAÇÃO - MÉRITO Recurso da reclamante. São três os aspectos a serem examinados. O primeiro diz respeito a exclusão da primeira

3 reclamada (Itaú Unibanco S/A) do polo passivo da demanda, por ter o Juiz entendido que não há causa de pedir em face da referida demandada Itaú Unibanco S/A. Sustenta a autora que consta do item 5 da inicial (fl. 4) expressa referência ao primeiro reclamado, na medida em que requereu a responsabilidade do Itaú Unibanco S/A, na qualidade de patrocinador-instituidor do IJMS, condenado a restituir ao reclamante a totalidade das contribuições por ela vertidas em benefício da segunda reclamada. Com razão a reclamante. No procedimento trabalhista exige-se a breve exposição dos fatos, sendo dispensável a fundamentação jurídica, uma vez que se aplica no processo do trabalho, no que se refere a causa de pedir, o brocado iura novit curia (o juiz conhece o direito), teoria construída a partir da dispensa da parte de constituir, obrigatoriamente, advogado (art. 791 da CLT). Assim basta a individualização do fato que tenha relevância jurídica, com a finalidade de possibilitar ao Juiz a aplicação do direito no caso concreto. Na hipótese, não se alegou genericamente e laconicamente, a razão pela qual a autora endereçou a demanda em face da primeira reclamada. O motivo, como explicitado, se deu por conta de constar ela como instituidora da segunda reclamada e, nessa qualidade, deve responder pela totalidade das contribuições recolhidas em favor da segunda reclamada, pois, repita-se, figurando a primeira ré como patrocinadora e/ou instituidora da segunda, fato este incontroverso, há responsabilidade solidária de

4 ambas, nos termos do 2º do art. 2º da CLT. A tese da recorrida, quanto a negação da possibilidade de pessoa jurídica sem fins lucrativos compor o grupo econômico, não se sustenta, tendo em vista o que dispõe o 1º do art. 2º da CLT, cujo preceito legal dispõe expressamente que equipara-se, também, ao empregador a instituição sem fins lucrativos. Dou provimento para reformar a sentença, mantendo a primeira reclamada no polo passivo da demanda e, por conseguinte, acolher o pedido da autora no sentido de responsabilizá-la solidariamente no pagamento da obrigação da segunda ré, no sentido de restituir todas as contribuições, devidamente corrigidas e acrecidas dos juros de mora, pagas pela autora. As outras duas questões debatidas no recurso, dizem respeito a gratuidade e ao honorários advocatícios. Nota-se que à fl. 8 há declaração firmada pela demandante, a qual guarda presunção de veracidade, no sentido de não dispor de recursos necessários para atender as despesas processuais, sem prejuízo do sustento próprio e da família. É o quanto basta, consoante expressa previsão legal contida no art. 790, 3º (parte final) da CLT, para o deferimento do benefício da gratuidade. razão a recorrente. Quanto a pedido de honorários advocatícios, com A autora se encontra assistida pelo sindicato de sua categoria profissional e giza do benefício da gratuidade de justiça, no que restam atendidos os requisitos legais estabelecidos na Lei nº

5 5.584/70. Por outro lado, a matéria encontra-se pacificada no âmbito do C. TST, cmo bem lembrou a recorrente ao mencionar a Orientação Jurisprudencial nº 304, da SDI-1 do C. TST. Dou provimento para deferir a gratuidade de justiça e condenar as reclamadas no pagamento de honorários advocatícios no percentual de 15% (quinze por cento) do valor da condenação. Do Recurso da Reclamada O argumento utilizado pela recorrente se fixa no ponto em que o descontos efetuados nos salários da autora se destinavam ao pagamento de mensalidades devidas ao Instituto João Moreira Salles, não confundindo com contribuições de complementação de aposentadoria. Contudo, nenhuma prova do fato constitutivo do direito alegado pela autora, fez a segunda reclamada, no sentido de comprovar que os aportes realizados pela reclamante era relativos a pagamento de meras mensalidades. Se assim o fosse, deveria a recorrente comprovar qual o benefício usufruído ou potencialmente usufruível pela autora por conta de tais pagamentos. Tal prova não veio aos autos, sendo verossímil supor que as contribuições, de fatos, se destinavam a custear a complementação da aposentadoria da autora, daí a presunção de veracidade da afirmação da autora neste sentido. É certo que a reclamante se afastou da instituição, enquanto participante ativos, em decorrência da cessação do seu contrato de trabalho mantido com a primeira reclamada. Alegou a recorrente que teve que adaptar seus

6 estatutos às regras impostas pela Lei Lei nº 6.435/77, que passou a regular as entidades de previdência privada, passando, então, em 1981 a Fundação João Moreira Salles se transformado no Instituto João Moreira Salles (fl.179). É certo ainda, que a autora passou a contribuir para a segunda ré a partir de 1984, como admitido pela recorrente à fl Por sua vez, está previsto no art. 50 do Regulamento dos Participantes e Beneficiários do Instituto João Moreira Salles (fls. 199/217), que as contribuições das PATROCINADORAS serão fixadas anualmente no Plano de Custeio, em valores necessários à consecução dos objetivos de suplementação dos benefícios previstos neste regulamento. Por outro lado, a Ata da Reunião do Conselho de Curadores que deliberou pela incorporação ao Instituto Moreira Salles do Instituto BP (fl. 222), registra que O incorporador é uma entidade fechada de previdência privada, patrocinado pelo Unibanco e tem como objetivo a a prestação de benefícios complementares aos da Previdência Social aos empregados e dirigentes do patrocinar (leia-se primeira reclamada Itáu Unibanco S/A) e respectivos beneficiários do Instituto BP. Decreto nº /78, Naquela ocasião, já autorizava o 2º do art. 31 do qual regulamentou a Lei nº 6.435/77, à restituição das contribuições pessoais vertidas ao fundo pelos participantes, exigindo, apenas, que tal disposição constasse do regulamento do plano. Atualmente a norma em vigor e que vigia também à época em que a autora se deligou do banco patrocinador, seu

7 empregador, dispõe ser obrigatório o resgate integral dos aportes realizados pelos participantes aos planos de complementação de benefícios aos prestados pela previdência oficial, consoante estabelece o inciso III, do art. 14, da Lei Complementar nº 109/2001. Por fim, o próprio estatuto vigente ao tempo em que a autora se desligou do emprego, garantiu a devolução ao participante do total das contribuições que ele até então houver feito para a INSTITUIÇÃO ou para os seus antecessores, salvo se o afastamento decorrer por motivo de aposentadoria (Parágrafo único do artigo 55 do Regulamento fls. 215/216). Portanto, correta a sentença, uma vez que a pretensão da demandante encontra terreno fértil, tanto no campo legal, quanto no regulamentar, para ser acolhido. Nego provimento. III - DISPOSITIVO ACORDAM os DESEMBARGADORES DA PRIMEIRA TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA PRIMEIRA REGIÃO, por unanimidade, conhecer dos recursos e, no mérito, DAR PROVIMENTO ao recurso da reclamante para manter no polo passivo a primeira reclamada (Itaú Unibanco S/A), condenando-a solidariamente no pagamento da obrigação da segunda ré, no sentido de restituir todas as contribuições, devidamente corrigidas e acrecidas dos juros de mora, pagas pela autora, deferir a gratuidade de justiça a demandante e deferir em favor do sindicato assistente o

8 pagamento de honorários advocatícios no percentual de 15% (quinze por cento) do valor da condenação e NEGAR PROVMENTO ao recurso da reclamada, nos termos do voto do Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 7 de Outubro de Desembargador do Trabalho Mário Sérgio M. Pinheiro Relator