PROCESSO nº (RO) RECORRENTE: CONDOMINIO DO SHOPPING CENTER RECORRIDO: WILSON ALVES DE ALCANTARA

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1 PODER JUDICIÁRIO JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO PROCESSO nº (RO) IGUATEMI RIO RECORRENTE: CONDOMINIO DO SHOPPING CENTER RECORRIDO: WILSON ALVES DE ALCANTARA RELATOR: JOSE GERALDO DA FONSECA EMENTA Horas extras. Ausência dos cartões de ponto. Conseqüências. A ausência injustificada dos cartões de ponto gera a presunção relativa de veracidade dos horários alegados na inicial, admitindo prova em contrário. Não existindo contraprova, prevalece a presunção gerada pela ausência dos documentos de controle de jornada. RELATÓRIO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes CONDOMÍNIO DO SHOPPING CENTER IGUATEMI RIO, como recorrente, e WILSON ALVES DE ALCÂNTARA, como recorrido. Trata-se de recurso ordinário interposto por CONDOMÍNIO DO SHOPPING CENTER IGUATEMI RIO contra a decisão da E. 76ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, assinada pela Dra. Neila Costa de Mendonça, que julgou procedentes em parte os pedidos deduzidos, id. 57ff2a4, complementada pela decisão de embargos de declaração, id. 89f9f11. O réu diz que (1) o autor confessou a idoneidade dos registros lançados nos cartões de ponto; (2) não há variação nas jornadas desempenhadas pelo empregado, razão pela qual deve ser considerado a confissão do autor nos meses em que não há controle nos autos; (3) as condições de trabalho do autor permaneceram inalteradas ao longo do contrato; (4) em caso de manutenção da condenação, devem ser deduzidos os valores pagos a idêntico título; (5) o adicional de periculosidade somente passou a ser devido com a publicação da Portaria n.º 1.885, em dezembro de 2013, incluindo a atividade do autor na NR 16. Custas e depósito recursal, ids. c9fbc76 e a5f2611.

2 Contrarrazões, id. 3138c78. É a síntese necessária. FUNDAMENTAÇÃO I C O N H E C I M E N T O Recurso vindo a tempo e modo. Conheço-o. MÉRITO Recurso do Réu 1º HORAS EXTRAS 1 O autor se disse admitido pelo réu, em 22/7/1996, para exercer a função de coordenador de segurança, sendo dispensado sem justa causa em 6/1/2014. Aduz ter laborado das segundas aos domingos, das 23h às 7h, realizando duas horas extras diárias sem a devida contraprestação. A ré contesta o pleito com a alegação de que todas as horas extras prestadas foram quitadas como demonstram os contracheques do autor. Postula a improcedência do pedido. Ouvido o autor, id. 1253f2d. O Juízo de origem julgou procedente em parte o pedido, condenando o réu ao pagamento de horas extras com base nas jornadas indicadas na inicial para os períodos em que não há cartões de frequência nos autos. O réu busca a reforma da sentença. 2 Sem razão. O autor, em depoimento pessoal, afirmou "que nos ultimos anos trabalhados o controle de ponto era por cartão de ponto, consignado pelo proprio empregado; que consignava corretamente a entrada e a saída; que tinha uma hora de intervalo para refeição e descanso".o réu apresentou parte dos cartões de ponto do período contratual,

3 ônus que lhe cabia na forma do 2º, do art. 74, da CLT, sendo certo que não houve qualquer alegação de que a sociedade empresária teria menos de 10 empregados. O autor confirmou a idoneidade dos registros lançados nos controles, razão pela qual deveria o réu ter trazido todos os cartões. Assim, tendo em vista que foram juntados os cartões de ponto de parte do período de vigência do contrato de trabalho, cabível a inversão do ônus da prova apenas quanto aos meses em que não há controles nos autos, sendo devida a condenação ao pagamento de horas extras, nos termos da Súmula nº 338, do TST. A omissão na juntada dos cartões gera a presunção de que, justamente naqueles meses, é verdadeira a jornada alegada pelo autor. Por fim, ressalto que o Juízo de origem deferiu a dedução dos valores pagos sob idêntico título na sentença. Apelo improvido. 2º ADICIONAL DE PERICULOSIDADE 3O autor informa que, ao trabalhar como encarregado de segurança, portava arma de fogo. Por esta razão, aduz ser devido o pagamento de adicional de periculosidade na forma da Lei /2012 e reflexos. O réu contesta o pleito, alegando ter pago corretamente o referido adicional. O Juízo a quo condenou o réu ao pagamento do adicional nos meses de dezembro de 2012 (proporcional) a fevereiro de 2013, além de reflexos, em razão da publicação da Lei /2012. O recorrente diz que o adicional de periculosidade somente passou a ser devido com a publicação da Portaria n.º 1.885, em dezembro de 2013, incluindo a atividade do autor na NR 16. Busca a improcedência do pleito. 4 O art. 193, da CLT, modificado pela Lei /2012, dispõe que: "São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a: (Redação dada pela Lei nº , de 2012) , de 2012) I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; (Incluído pela Lei nº II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial" (grifei).

4 5 Após leitura do caput, pode-se concluir pela necessidade de regulamentação das atividades perigosas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, o que afasta a aplicação imediata da norma a partir do advento da Lei /2012. Ademais, a Portaria 1.885/2013, editada pelo referido ministério, que aprovou o anexo 3 da NR-16, diz que: "O Ministro de Estado do Trabalho e Emprego, no uso das atribuições que lhe conferem o inciso II do parágrafo único do art. 87 da Constituição Federal e os arts. 155 e 200 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, Resolve: Art. 1º Aprovar o Anexo 3 - Atividades e operações perigosas com exposição a roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial - da Norma Regulamentadora nº 16 - Atividades e operações perigosas, com a redação constante no Anexo desta Portaria. Art. 2º Serão descontados ou compensados do adicional outros da mesma natureza eventualmente já concedidos ao vigilante por meio de acordo coletivo, nos termos do 3º do art. 193 da CLT. Art. 3º Os efeitos pecuniários decorrentes do trabalho em condições de periculosidade serão devidos a contar da data da publicação desta Portaria, nos termos do art. 196 da CLT" (grifei). 6 A Portaria deixa claro que o pagamento do adicional de periculosidade decorrido de "atividades e operações perigosas com exposição a roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial", como no caso dos autos, somente será devido a partir da sua publicação, ocorrida em 03/12/2013. Neste sentido, considerando que o réu passou a quitar o referido adicional a partir de março de 2013, não há que se falar em procedência do pedido. Dou provimento ao apelo para julgar improcedente o pedido de pagamento de adicional de periculosidade e reflexos. 3º VALOR DA CAUSA

5 7 O valor da causa deve corresponder ao valor do bem jurídico buscado na lide. Não existem causas inestimáveis. Não tem serventia processual o ditado, encontradiço nas iniciais, de que se fixa este ou aquele valor "para efeitos fiscais", "fins de alçada", ou expressão que o valha. O juiz pode, de ofício, fixar valor que lhe pareça mais consentâneo com o bem jurídico perseguido na lide. Como pode servir de parâmetro para a fixação de competência, do rito do processo(ordinário ou sumaríssimo) de conhecimento, à disciplina dos recursos, às sanções processuais, às multas e aos honorários de advogado, é matéria de ordem pública e não deve ficar sujeita ao talante das partes, ainda quando nisso estejam de acordo. Consideradas essas premissas, mantenho o valor da causa fixado em sentença. Conclusão do recurso Do que veio exposto, dou parcial provimento ao recurso ordinário interposto porcondomínio DO SHOPPING CENTER IGUATEMI RIO para julgar improcedente o pedido de pagamento de adicional de periculosidade e reflexos. Acórdão A C O R D A M os Juízes da Segunda Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso e, no mérito, dar-lhe parcial provimento para julgar improcedente o pedido de pagamento de adicional de periculosidade e reflexos. Fez uso da palavra, pelo Condomínio do Shopping Center Iguatemi Rio, o Dr. Rodolpho Cezar Aquilino Bacchi, OAB/RJ:161695D. JOSE GERALDO DA FONSECA Relator FR