OPERAÇÃO FISCAL EM SUPERMERCADOS 27/06/2017 Entre nós que militamos no mundo empresarial não é mais fato desconhecido a obrigatoriedade, bem como os prazos e condições para a entrega no ambiente SPED da Escrituração Fiscal Digital (EFD). Tal obrigação assessória representa verdadeira revolução no relacionamento Fisco X Contribuinte e, em que pese os percalços, investimentos e transtornos oriundos de sua implementação, queremos crer que a médio prazo trará às empresas ao menos o benefício de inibir a sonegação estimulando a competição sadia em igualdade de condições. É corriqueiro, no entanto, que supermercados mantenham funcionando padarias no interior de seus estabelecimentos. Para abastecer e fornecer insumos a estas padarias estes estabelecimentos compram farinha, açúcar, fermento, etc. Ocorre que a farinha, o açúcar e o fermento que se transformam em pão são os mesmos que concomitantemente abastecem as gôndolas e são vendidos ao consumidor. Com a exposição ao ambiente SPED o estoque inicial, mais entradas, menos saídas de farinha não coincidirá com o estoque final do produto. Isso porque parte desta farinha saiu como pães, bolos, tortas, etc. Estes pães, bolos e tortas por sua vez sairão sem que haja uma compra ou entrada que lhes dê procedência. Situação análoga ocorre em decorrência da compra de um traseiro bovino que acaba saindo parte como cortes menores, parte como refeições, ou parte como embutidos. Cereais e hortifrutigranjeiros, por sua vez, podem sair in natura ou como refeições prontas. Existe, enfim, uma série de situações onde parte da mercadoria comprada para revenda transforma-se dentro do estabelecimento em outras mercadorias vindo a ser vendidas posteriormente sob outra forma ou natureza. Para solucionar tal situação em que o estabelecimento fica sujeito a questionamento do fisco, apresentamos a seguir o passo a passo dessas operações que passam por algum tipo de transformação. Conforme o artigo 222, 6º do RICMS/MG, alterado pelo Decreto 47.123/2016, não se considera mais industrialização a produção ou o preparo de produtos alimentares na residência do preparador ou em estabelecimentos comerciais, tais como hipermercado, supermercado, restaurante, bar, sorveteria, confeitaria e padaria, desde que, cumulativamente: Os produtos se destinem a venda direta a consumidor; Não tenha havido recolhimento do imposto sobre Produtos industrializados (IPI) sobre os produtos. Sendo assim, independente se a finalidade da mercadoria for para revenda ou para fins de produção, a entrada sempre vai ser no CFOP 1102 (Compra para Comercialização).
Todo produto que vai ser produzido no Supermercado deve ter uma ficha técnica detalhando o que foi utilizado para sua produção. Vamos utilizar o exemplo a seguir: Não existe um modelo específico para criação de uma Ficha Técnica (FT). A FT gerencial identifica todos os custos de matéria-prima inerente àquela preparação. Nela encontramos: Na parte superior: Nome da preparação e sua referência. Em seu corpo temos: Nome do produto ou insumo, Quantidade Líquida (quantidade usada na receita), Unidades (quilos e litros), Valor Unitário (valor de compra de cada produto), Rendimento (peso líquido / peso bruto), Quant. Bruta (quant. líquida / rendimento) e Valor Total (quant. bruta x valor unitário). E no rodapé: Valor total da preparação (somatório dos valores de cada item), porção (valor total da preparação / rendimento da porção) e valores de venda (possíveis preços de venda). O uso da FT técnica traz várias vantagens para o supermercado, apesar de trabalhosa, mas se torna um documento necessário para qualquer gestor financeiro. Segundo Fonseca (2011), garantir a qualidade dos produtos produzidos através desse instrumento proporciona algumas vantagens, como: Registrar quantidades de matéria-prima utilizadas nas preparações; Padronizar quantidades de matéria-prima nas preparações; Identificar os custos da produção; Registrar os processos da produção; Manter um histórico das preparações do restaurante (importante em caso de Fiscalização Fiscal;
Permitir a comparação das informações de consumo; Facilitar as projeções de compras e especificações de mercadorias; Controlar os volumes de matéria-prima requisitados; Comprar as informações de consumo com as informações de vendas. Para que seja realizada a atividade de planejar, programar e controlar a produção são relevantes que se revisem o planejamento da demanda, as políticas de inventário, as restrições de recursos e capacidades, para que o planejamento e programação possam ser realizados, levando em consideração, inclusive, mix de produtos, necessidades de seqüenciamento, visando a que não ocorram desperdícios ou falhas no sistema logístico. Em relação ao Estoque, temos o seguinte esquema com as Etapas de Movimentação:
Cumprindo a sua função essencial, já há alguns anos, o Fisco trabalha fortemente para eliminar fraudes fiscais e, agora, volta a sua atenção também ao varejo alimentar. O objetivo é ter rastreabilidade dos alimentos e garantir que o que foi apontado na entrada da matéria-prima seja equivalente ao produto final. Para ficar mais claro, no açougue, por exemplo, o supermercado compra uma peça de carne do frigorífico, que é desmembrada em outras partes para a venda. O que o Fisco quer saber é quanto pesava a peça inicial e qual foi a modificação deste produto: quantos quilos de ossos, de contrafilé, de alcatra etc. Dessa forma, há um controle rigoroso sobre o processo de transformação da matéria-prima em produto final de venda. Para conseguir esse registro de forma precisa e ficar livre de autuações, o supermercadista terá que fazer o exercício de olhar para dentro de casa e repensar o seu modelo de gestão. É impensável fazer os registros do Livro de Produção de forma manual, pela exposição a risco de erros. O ideal é contar com o apoio de sistemas especializados e de fácil uso para o controle e emissão das notas fiscais dos produtos, com o apontamento do que foi comprado e de quanto foi vendido. Na padaria dos supermercados não é diferente. Não se pode lançar a entrada de 1kg de farinha e a saída de 10kg de bolo com a mesma matéria-prima. Tudo deve ser proporcional e o Fisco manterá os olhos abertos para tais inconsistências. Somente com um processo organizado e uma nova mentalidade sobre os seus negócios será possível ao segmento supermercadista se adaptar a essa nova realidade, por isso, é importante o controle e registro que foi produzido separado do que foi comercializado. Das pequenas às grandes empresas, a regra vale para todas e, para não representar mais um dos desafios de se atuar no setor supermercadista, deve ser tratada com a atenção que demanda. Por Hinaê Bueno da Silva Departamento Fiscal Referencial Teórico GONÇALVES, Ricardo Paz. Escrituração Fiscal Digital (EFD) e os estoques dos estabelecimentos supermercadista, 2012. Disponível em:< http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/escrituracao-fiscal-digital-efd-e-osestoques-dos-estabelecimentos-supermercadistas/63070/>. Acesso em: 06 de jun de 2017 VEIGA, André. Entenda o que é Bloco K e como ele afeta os Supermercados, 2016. Disponível em: http://www.portalnovarejo.com.br/2016/07/17/entenda-o-que-ebloco-k-e-como-ele-afeta-os-supermercados/. Acesso em: 26 de jun de 2017