INTRODUÇÃO À EXTENSOMETRIA ELÉCTRICA DE RESISTÊNCIA

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Transcrição:

DEPRTMENTO DE ENGENHRI MEÂNI Área ientífica de Mecânica dos Meios Sólidos INTRODUÇÃO À EXTENSOMETRI ELÉTRI DE RESISTÊNI níbal Valido J. Duarte Silva -Outubro 997-

ÍNDIE Pág. - Introdução - Princípios da extensometria eléctrica de resistência 3 3 - Factor do extensómetro. Sensibilidade transversal do extensómetro 6 4 - Princípios fundamentais de medida 0 5 - nálise de medições 3 5. - Introdução 3 5. - Resolução de uma roseta a 45 o (Rectangular) 6 Bibliografia 9 Pág.

- Introdução análise de tensões consiste, fundamentalmente, na determinação do estado de tensão num (ou vários) ponto(s) duma estrutura, tendo em conta um conjunto de condições que inclui a forma ou geometria da estrutura, a ligação desta ao meio exterior e o tipo de solicitações a que está submetida. Se o estado de tensão num ponto é determinado recorrendo a grandezas medidas experimentalmente, então o processo é designado como um método de análise experimental de tensões. s técnicas de análise experimental de tensões podem ser agrupadas da seguinte forma: NÁLISE EXPERIMENTL DE TENSÕES Métodos ontínuos Métodos Descontínuos Quantitativos - Fotoelasticidade - Métodos de Moiré - Interferometria laser - áustica Qualitativo - Vernizes frágeis, etc Extensometria - Extensómetros eléctricos de resistência - Extensómetros Ópticos - Extensómetros Mecânicos - Extensómetros de cordas vibrantes, etc Fig.. - Técnicas de análise experimental de tensões De uma maneira geral, a análise experimental de tensões não envolve a medição directa dessa grandeza. O que se faz normalmente é medir uma outra quantidade que de algum modo pode ser relacionada com o estado de tensão no ponto considerado. Uma das grandezas mais frequentemente medidas na análise experimental de tensões é a extensão, a partir da qual se passa depois para as tensões, recorrendo à teoria da Pág.

elasticidade. De acordo com a Fig.. verifica-se que existem vários tipos de extensómetros, no entanto, nestes apontamentos será considerada apenas a extensometria eléctrica de resistência. - Princípios da extensometria eléctrica de resistência O princípio de funcionamento dos extensómetros eléctricos de resistência, baseia-se numa característica fundamental dos condutores eléctricos, descoberta em 856 por Lord Kelvin, segundo a qual a resistência eléctrica varia em função da deformação a que o condutor está sujeito. Na sua forma mais simples, um extensómetro eléctrico de resistência é constituído por um fio muito fino (grelha) colado sobre uma folha também fina designada por suporte do extensómetro, e dispostos da forma indicada esquematicamente na Fig.., isto é, a maior parte do comprimento do fio é distribuído segundo uma direcção fixa, designada por x na figura. Os terminais permitem a soldadura dos cabos de ligação ao instrumento de leitura. suporte x grelha terminais Fig.. - Representação esquemática de um extensómetro Quando se pretende conhecer a variação de comprimento duma estrutura segundo uma dada direcção, cola-se um extensómetro na estrutura com os fios paralelos a essa direcção. Qualquer deformação a que a estrutura fique sujeita será transmitida aos fios através da camada de cola e do material de suporte do extensómetro. variação de resistência eléctrica do fio está relacionada com a sua deformação longitudinal. Pág. 3

Uma vez que o fio de que o extensómetro é feito está principalmente disposto segundo uma dada direcção x, pode-se admitir, em primeira apreciação, que o fio fica sujeito às mesmas deformações que a superfície a que está colado. Se considerarmos um fio fino sujeito a uma tracção, dentro do domínio elástico, ele sofre um alongamento dl, devido ao efeito da carga ao mesmo tempo que a sua secção transversal diminui. Se ε = dl L for a extensão axial, então a extensão do diâmetro (extensão transversal) será dado por υε, onde υ é o coeficiente de Poisson. resistência R de um fio condutor uniforme é dada por: L R= ρ (.) onde ρ é a resistividade, L é o comprimento e a área da secção transversal. onsiderando o diferencial da Eq. (.) dr = L d ρ + dl ρ d ρ L e dividindo por R, obtém-se dr R dρ dl = + ρ L d (.) Se d 0 for o diâmetro inicial do condutor, o seu diâmetro depois de aplicada a tracção é dl dl d f = d0 d0 υ = d0 L υ L (.3) Sejam, respectivamente 0 e f, a área inicial e a área depois de aplicada a tracção, da secção transversal do condutor Pág. 4

0 πd πd 0 f π dl = f = = d0 υ (.4) 4 4 4 L ssim: d = f πd 4 dl = υ (.5) 4 πd L 0 0 0 donde d dl dl dl = υ + υ υ (.6) L L L Substituindo a Eq. (.6) na Eq. (.) vem dr R dρ dl = + ( + υ) (.7) ρ L Esta equação pode ser escrita da forma dr = R S dl (.8) L em que dr S R dρ / ρ = = + + υ (.9) dl dl/ L L é a sensibilidade da liga metálica utilizada no fio condutor. Na Tabela. apresenta-se uma lista de materiais normalmente utilizados nos extensómetros, bem como os respectivos valores de S. Pág. 5

Tabela.- Materiais utilizados em extensómetros Material omposição, % S dvance ou onstantan Nichrome V Karma rmour D 45 Ni, 55 u 8 Ni, 0 r 74 Ni, 0 r, 3 l, 3 Fe 70 Fe, 0 r, 0 l...0.0 3 - Factor do extensómetro. Sensibilidade transversal do extensómetro omo foi visto anteriormente, a sensibilidade dum fio condutor de secção uniforme é: S = dr / R ε (3.) Para que o tamanho do extensómetro não seja excessivo, o condutor que o constitui forma uma grelha (ver Fig..). Devido à existência de arcos de ligação entre filamentos sucessivos (ver. Fig. 3.), o extensómetro é sensível não só a extensões axiais ( ε a ), mas também a extensões transversais ( ε t ). ssim, a resposta de um extensómetro, a um estado biaxial de extensão pode ser dada por dr = R S a ε a + S t ε t + S sγ at (3.) em que ε a Extensão segundo a direcção axial de extensómetro ε t Extensão segundo a direcção transversal de extensómetros γ aty Distorção S Sensibilidade do extensómetro à extensão axial Pág. 6

S t Sensibilidade do extensómetro à extensão transversal S s Sensibilidade do extensómetro à distorção ε t ε a ε a ε t Fig. 3. - Extensões axiais e extensões transversais Em geral, o valor de S s é pequeno e pode ser desprezado. resposta do extensómetro pode então ser dada por dr = ( ) R S a ε a + K t ε t (3.3) em que K t St = é o factor de sensibilidade transversal do extensómetro. S a É definido pelos fabricantes de extensómetros uma constante de calibração, denominada factor do extensómetro, S g, que relaciona a variação de resistência com a extensão axial: dr = R S g ε a (3.4) Os extensómetros são calibrados utilizando uma viga de calibração. viga é flectida obtendo-se um valor da extensão ε a, que é conhecido. Mede-se então a variação de resistência dr, sendo o factor do extensómetro obtido da Eq. (3.4). Na situação que acabamos de descrever, o estado de extensão é biaxial, sendo ε = υε (3.5) t a Pág. 7

em que υ é o coeficiente de Poisson do material da viga. Substituindo a Eq. (3.5) na Eq. (3.3), vem dr = ( ) ( ) R S a ε a υ K t ε a = S a ε a υ K t (3.6) omparando as Eqs. (3.4) e (3.6), verifica-se que: ( ) S = S υ K (3..7) g a t Na Tabela 3. indicam-se alguns valores de S g, Sa, St ek t, para diferentes extensómetros. ssim, a extensão medida no extensómetro será a extensão real, apenas quando K t = 0 ou o estado de tensão for uniaxial. Em todos os outros casos, existe um erro na medida obtida pelo extensómetro. Para quantificar este erro, considere-se um estado de extensão biaxial com ε a e ε t. Tabela 3. - Valores de S g, Sa, St e K t, para diferentes tipos de extensómetros Tipo de extensómetro S g S a S t K t (%) E-06-05K-0.3.4 0.0385.8 E-06-030TU-0.0.03 0.044. WK-06-06DY-350.96.96-0.0098-0.5 WK-06-5R-350.99.98-0.097 -.5 W-06-50BG-0.0.0-0.0063-0.3 WK-06-500BL-000.06.03-0.0893-4.4 Substituindo a Eq. (3.7) na Eq. (3.3), vem dr R S g S g ε a = ( ε a + Kt ε t ) = + K υ K υ K t t t ε t ε a (3.8) Pág. 8

resolvendo para ε a, temos dr R ε a = S + g ( υ Kt ) K ( ε ε ) t t a (3.9) O valor da extensão aparente, ε a extensómetro é, que se obtém considerando apenas o factor do = ε a dr R S g (3.0) omparando as Eqs. (3.9) e (3.0), verifica-se que υ K ε a = ε a + K t ( ε ε ) t t a (3.) Erro em %, η ε 60 50 40 30 0 0 0-0 -0-30 -40-50 ε t ε a ε t ε a = 5 4 3 0 - - -3-4 -5-60 -0-8 -6-4 - 0 4 6 8 0 Factor de sensibilidade transversal, K t em % Fig. 3. - Erro em função de K t, tendo como parâmetro a razão ε t ε a Pág. 9

ssim, o erro em % que se comete quando se despreza a sensibilidade transversal do extensómetro é η ε = ε a ε a *00 (3.) ε a Substituindo a Eq. (3.) na Eq. (3.), vem η ε = K ( ε / ε + υ) t t a υ K t 00 (3.3) Na Fig. 3. está representada graficamente a Eq. (3.3). Esta figura permite avaliar, se para um dado caso se deve ter em conta ou não o erro η ε. Quando K t e ε t ε a têm valores elevados, o erro cometido pode ser significativo. Existem no entanto métodos para corrigir este erro devido ao efeito transversal do extensómetro. 4 - Princípios fundamentais de medida O extensómetro propriamente dito poderá ser encarado como uma simples resistência passiva, alimentada por uma fonte de alimentação adequada. s variações de resistência causadas por deformações mecânicas do extensómetro são medidas num circuito do tipo potenciometrico ou ponte de Wheatstone, que produz um determinado sinal de saída em termos de diferença de potencial. Esse sinal é amplificado, lido e/ou registado, depois de convenientemente manipulado por forma a representar directamente as grandezas que se pretendem ler. ponte de Wheastone é um circuito muito utilizado para medir a variação de resistência sofrida por um extensómetro quando é submetido a determinada deformação. onsideremos o circuito da ponte de Wheatstone representada na Fig. 4.. diferença do potencial na resistência R é Pág. 0

R VB = R + R V (4.) da mesma forma, a diferença do potencial na resistência R 4 é V D = R4 R + R V 3 4 (4.) B R R E R 4 R 3 D V + - Fig. 4. - Ponte de Wheatstone diferença de potencial E da ponte, equivalente a V BD é dada por E = VBD = VB VD (4.3) Substituindo as Eqs. (4.) e (4.) na Eq. (4.3), e simplificando vem R R R R E = * 3 4 R R R R V ( + ) ( + ) 3 4 (4.4) diferença de potencial E é zero, e a ponte diz-se em equilíbrio, quando Pág.

R R = R R (4.5) 3 4 onsidere-se uma ponte de Wheatstone inicialmente em equilíbrio, R R = R R e 3 4 consequentemente E = 0. Demonstra-se que a variação de E, devida à variação R, R, R e R 4, de cada uma das resistências é dada por 3 E = V R R ( R + R ) R R R3 R + R R R R 3 4 4 ( ) η (4.6) ou, fazendo r R R = E = V r ( + r) R R R3 R + R R R R 3 4 4 ( ) η (4.7) Em que η representa um termo não linear, cuja influência é desprezável quando se medem extensões menores que 5%, que é o que acontece no caso dos metais no regime elástico ( ε 0%. ). Dum modo geral ao medirem-se deformações, R é um extensómetro activo colado sobre a estrutura que se deforma, R é um extensómetro idêntico ao anterior colado sobre uma peça do mesmo material da estrutura, mas que não se deforma. Este extensómetro designa-se por extensómetro compensador e tem por objectivo eliminar os efeitos de origem térmica, para que somente as deformações de origem mecânica sejam detectadas. R 3 e R 4 são resistências eléctricas puras (ver Fig. 4.). Pág.

B Extensómetro activo Extensómetro compensador E R 4 R 3 D V + - Fig. 4. - Ponte de Wheatstone com extensómetro compensador Os valores mais utilizados para a resistência dum extensómetro são 0 e 350 ohms. razão de se utilizar 0 ohms como a resistência mais usual, reside no facto de resistências menos elevadas darem sinais muito fracos para poderem ser medidos com precisão, e de resistências mais elevadas serem difícieis de isolar, além de serem muito mais frágeis uma vez que têm que ser feitas com fios bastante mais finos. Devido à elevada precisão a requerer nas medidas em extensometria eléctrica de resistência, os extensómetros são fabricados com uma tolerância muito apertada. ssim, os extensómetros de 0 ohms dum modo geral indicam para valor da resistência real do extensómetro 0 ± 0. ohms. o valor de 0 ohms dá-se o nome de resistência nominal do extensómetro. 5 - nálise de medições 5. - Introdução Os extensómetros eléctricos de resistência são normalmente utilizados na superfície livre duma peça, para se determinar o estado de tensão num determinado ponto dessa superfície. Pág. 3

Geralmente é necessário medir três extensões no ponto para definir completamente tanto o estado de extensão como o estado de tensão. Em alguns casos pode ser utilizado apenas um extensómetro para determinar o estado de tensão num ponto. Por exemplo, no caso de tracção uniaxial dum provete, em que σ xx 0 e σ yy = τ = 0, um extensómetro colado segundo a direcção da tracção (direcção x) dá o xy valor da extensão principal, ( ) ε. s restantes extensões principais são ε = ε = υε. 3 s respectivas tensões principais são σ = E ε e σ = σ =, em que E e υ são 3 0 respectivamente o módulo de elasticidade e o coeficiente de Poisson do material. onsidere-se agora o caso em que se conhecem as direcções principais (Ex: reservatórios cilindricos sob pressão). Se se colocarem dois extensómetros, cada um segundo cada uma das direcções principais, obtêm-se directamente as extensões principais. s tensões principais podem ser calculadas através das relações E σ = υ ε υ ε + ( ) E σ = υ ε υ ε + ( ) (5.) onde se considerou um estado plano de tensão. O valor das tensões em qualquer outro plano ( x y z ) seguintes equações: ', ', ', pode ser obtido utilizando as ( ) ( ) ( ) σ x' x' = σ cos x', x + σ cos x', y + σ 3 cos x', z ( ) ( ) ( ) σ y' y' = σ cos y', x + σ cos y', y + σ 3 cos y', z ( ) ( ) ( ) σ z' z' = σ cos z', x + σ cos z', y + σ 3 cos z', z ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) τ x' y' = σ cos x', x cos y', x + σ cos x', y cos y', y + σ 3 cos x', z cos y', z ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) τ y' z' = σ cos y', x cos z', x + σ cos y', y cos z', y + σ 3 cos y', z cos z', z ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) τ z' x' = σ cos z', x cos x', x + σ cos z', y cos x', y + σ 3 cos z', z cos x', z (5.) Pág. 4

em que x, y e z representam aqui as direcções principais. cabamos de ver dois casos em que se utilizam respectivamente um e dois extensómetros. contece no entanto, na maior parte das situações, que nada se conhece acerca do campo de tensões e das direcções principais. Nestes casos, torna-se necessário efectuar três medições segundo três direcções diferentes, recorrendo-se à utilização de rosetas. Na Fig. 5. estão representados alguns tipos de rosetas. a) b) c) d) Fig. 5. - a) roseta de extensómetros a 90 o, b) roseta de 3 extensómetros a 60 o (delta), c) roseta de extensómetros a 60 o, d) roseta de 3 extensómetros a 45 o (rectangular ) onsideremos três extensómetros alinhados segundo as direcções, B e conforme representado na Fig. 5.3. y B θ θ B θ x Fig. 5.3 - Três extensómetros colocados de forma arbitrária relativamente aos eixos x e y relação entre as extensões segundo, B e e as extensões segundo x e y, é Pág. 5

xx yy xy ε = ε cos θ + ε sen θ + γ senθ cosθ B xx B yy B xy B B ε = ε cos θ + ε sen θ + γ senθ cosθ (5.3) xx yy xy ε = ε cos θ + ε sen θ + γ senθ cosθ s componentes cartesianas da extensão ε xx, ε yy e γ xy podem ser determinadas resolvendo o sistema de três equações a 3 incógnitas das Eqs. (5.3). s extensões principais e as direcções principais são dadas por ε xx + ε yy ε xx ε yy γ ε, ε = ± + xy γ xy tg φ = ε ε xx yy (5.4) em que φ é o ângulo entre a direcção principal e o eixo x. s tensões principais são obtidas através das Eqs. (5.). s direcções, B e podem ser quaisquer no entanto, nas rosetas que se encontram disponíveis comercialmentes, estes ângulos tomam apenas alguns valores (ver Fig. 5.). 5. - Resolução de uma roseta a 45 (Rectangular) omo foi referido anteriormente nestas rosetas os extensómetros formam entre si ângulos de 45, tal como se indica na Fig. 5.4. Pág. 6

y B θ θ B x Fig. 5.4 - Posição dos extensómetros numa roseta a 45 o Das Eqs. (5.3) tem-se ( ) ε = ε ε = ε + ε + γ ε = ε xx B xx yy xy yy donde (5.5) γ = ε ε ε xy B Uma vez determinados os valores de ε xx, ε yy e γ xy, as extensões principais e o ângulo principal φ podem ser obtidos através das Eqs. (5.4), obtendo-se ε = ε + ε + ε ε + ε B ε ε ( ) ( ) ( ) ε = ε + ε ε ε + ε B ε ε ( ) ( ) ( ) (5.6a) ε B ε ε tgφ = ε ε (5.6b) Da Eq. (5.6b) obtêm-se dois valores diferentes para o ângulo φ. Sejam, respectivamente φ o ângulo entre o eixo x e a direcção principal e φ o ângulo entre o eixo x e a direcção principal. Demonstra-se que os eixos principais podem ser identificados aplicando as seguintes regras: Pág. 7

ο 0 < φ < 90 quando ε B > ( ε + ε ) ο 90 < φ < 0 quando ε B < ( ε + ε ) φ = 0 quando ε > ε e ε = ε ο φ = ± 90 quando ε < ε e ε = ε (5.7) Finalmente, determinam-se as tensões principais, utilizando os valores obtidos nas Eqs. (5.a) nas Eqs. (5.), obtendo-se ε + ε σ = E + σ ( υ) ( + υ) ε + ε = E ( υ) ( + υ) ( ε ε ) + ( ε ε ε ) B ( ε ε ) + ( ε ε ε ) B (5.8) s componentes cartesianas das extensões, as extensões principais e as respectivas direcções principais, podem também ser obtidas graficamente, como está representado na Fig. 5.5. Para a construção do círculo de Mohr, procede-se da seguinte forma: a) Traçar os eixos (ε - abcissas, γ - ordenadas) b) Marcar os valores de ε, ε B e ε sobre o eixo das abcissas e traçar rectas verticais passando por esses pontos γ xy c) alcular γ xy utilizando a Eq. (5.5) e marcar os pontos ( ε, ) γ xy ( ε, ) d) O diâmetro do círculo é determinado traçando a recta que une os pontos e, cuja intersecção com o eixo das abcissas define ainda o centro do círculo (ponto 0) e) Traçar o círculo de centro em 0 que passa por e, e cuja intersecção com a recta vertical que passa por ε B define o ponto B f) Os valores das extensões principais ε e ε são dados pelas intersecções do círculo com o eixo das abcissas e Pág. 8

g) O ângulo principal φ é definido pelo ângulo 0ε, e é negativo se o ponto estiver acima do eixo ε. O ângulo principal φ é definido pelo ângulo 0ε, e é positivo se o ponto estiver acima do eixo ε h) projecção do ponto D no eixo das ordenadas, dá o valor de γ max Uma vez conhecidas as extensões principais, as tensões principais podem ser obtidas através das Eqs. (5.). γ ε ε = ε xx ε B B D γ xy R 0 φ φ γ xy γ max ε ε ε = ε yy ε ε ( + ) ( ε ε ) ( ε ε ε ) R = + B Fig. 5.5 - Solução gráfica das extensões principais e direcções principais para uma roseta a 45 o BIBLIOGRFI. Luís Trabucho, Introdução à Extensometria Eléctrica de Resistência e Guia dos Trabalhos Experimentais da Disciplina de Mecânica dos Materiais I do º no do Pág. 9

urso de Engenharia Mecânica do Instituto Superior Técnico durante o Semestre de Março a Julho de 985. Enciclopédia Vishay de análise experimental de tensões 3. Handbook on Experimental Mechanics, Society For Experimental Mechanics, Inc. 4. James W. D. & William F., Experimental Stress nalysis, McGraw-Hill 5. J. F. Silva Gomes, nálise Experimental de Tensões: de Novo um Tema ctual Pág. 0

GUI DOS TRBLHOS LBORTORIIS

Guia dos Trabalhos Laboratoriais TRBLHO Nº - Introdução O trabalho experimental a seguir considerado refere-se a uma estrutura constituida por uma viga de secção rectangular encastrada numa extremidade e livre na outra, conforme indicado na Fig., e é composto por duas partes: ª - álculo do módulo de elasticidade (E) do material ª - álculo do esforço transverso (V) e do momento flector (M), na viga em determinadas condições de carregamento y 3 h x x L b z Fig. O conhecimento da distribuição do esforço transverso e do momento flector numa estrutura sujeita à flexão é de grande importância, sobretudo no que diz respeito ao cálculo da distribuição de tensões na estrutura. onsideremos a estrutura anterior solicitada por uma carga vertical na secção, representada na Fig.. Pág.

Guia dos Trabalhos Laboratoriais y P B x L P R B H B M B L P V N M x Fig. Das equações de equilíbrio estático e da teoria elementar da flexão de vigas obtém-se RB = P () H B = 0 () M B = PL (3) V V M dm = (4) dx N = 0 (5) = P (6) = Px (7) Pág.

Guia dos Trabalhos Laboratoriais Para qualquer ponto de coordenadas ( x, h, z ) o estado de tensão é uniaxial, com a tensão dada por σ xx M( x) h 6 P x = = I bh (8) Z sendo as outras componentes das tensões nulas. Tendo em conta a lei de Hooke tem-se ε xx 6 P x 6 M( x) = = E bh E b h (9) Das Eqs. (4) e (9), obtém-se, para vigas de secção rectangular E bh V = 6 d ε xx d x (0) onsidere-se que se colocam n extensómetros ao longo da viga e centrados em pontos de coordenadas ( xi, h, 0 ), i=,,..., n, (ver Fig. ). Para os pontos entre os extensómetros i e j a Eq. (0) pode ser dada por V ij ( ) ( ) E b h ε xx E b h ε ε = = 6 x 6 x x xx j xx i j i () - Procedimento i) notar as características dos extensómetros ii) Medir as grandezas b, h, x i, i=,,..., n Pág. 3

Guia dos Trabalhos Laboratoriais iii) om a viga descarregada (excepção feita ao peso próprio e ao sistema de carregamento) ajustar o factor de extensómetro na ponte de Wheatstone iv) Ligar a ponte de Wheatstone e com a ajuda do potenciómetro de equilíbrio da ponte levar a agulha do mostrador a zero para cada extensómetro v) plicar sucessivamente várias cargas P i no ponto, anotando para cada peso o valor da extensão obtida em cada extensómetro vi) Retirar sucessivamente as várias cargas P i, anotando para cada caso o valor da extensão obtida em cada extensómetro vii) Fazer as correcções devido ao efeito transversal se necessário Determinação do módulo de elasticidade (E) do material viii) Para um dos extensómetros, e para cada valor da carga P considerado em v) e em vi) calcular o valor da tensão respectiva de acordo com a Eq. (8) ix) Marcar os pontos ( σ ε) xx, num diagrama σ-ε x) Traçar a recta σ ε utilizando o método dos mínimos quadrados xi) Medir o ângulo θ formado pela recta e pelo eixo das abcissas xii) alcular E = tanθ álculo do esforço transverso (V) e do momento flector (M) xiii) alcular o valor aproximado do esforço transverso entre os extensómetros i e j, i=,,..., n e j=i+,..., n, utilizando a Eq. () xiv) omparar os valores obtidos em xiii) com os valores dados pela Eq. (6) xv) alcular o valor do momento flector para os pontos de coordenadas ( x h i,, 0 ), i=,,..., n, utilizando a Eq. (9) xvi) omparar os valores obtidos em xv) com os dados pela Eq. (7) Pág. 4

Guia dos Trabalhos Laboratoriais TRBLHO Nº - Introdução O trabalho experimental a seguir considerado refere-se a um pórtico, cujos montantes e travessa são vigas de secção rectangular conforme indicado na Fig.. s condições de apoio do pórtico podem ser quaisquer (livre, apoio simples e encastramento). O trabalho consiste em determinar o valor da tensão normal nos pontos onde estão colocados os extensómetros, e compará-los com os valores teóricos. L F x P E x P D G h L x B b Fig. Pág. 5

Guia dos Trabalhos Laboratoriais - Procedimento i) notar as características dos extensómetros ii) Medir as grandezas que necessárias à resolução do problema (L, L, ) iii) om a estrutura descarregada (excepção feita ao peso próprio e ao sistema de carregamento) ajustar o factor de extensómetro na ponte de Wheatstone iv) Ligar a ponte de Wheatstone e com a ajuda do potenciómetro de equilíbrio da ponte levar a agulha do mostrador a zero para cada extensómetro v) plicar a carga P no ponto D, anotando o valor da extensão obtida em cada extensómetro vi) Fazer as correcções devido ao efeito transversal se necessário vii) Para um dos extensómetros, calcular o valor da tensão respectiva recorrendo à lei de Hooke viii) omparar os valores obtidos em vii) com os valores obtidos resolvendo a pórtico teoricamente ix) omentar os resultados Pág. 6

MEÂNI DOS MTERIIS II Extensometria Eléctrica de Resistência Folha de registos Trabalho Laboratorial Nº Grupo Nº Data - / /. Hora - : H Extensómetro Extensómetro Extensómetro 3 M = M = M 3 = M 4 = M 5 = M 6 = M 7 = Kg Kg Kg Kg Kg Kg Kg Outros Dados: x = 80mm x = 60mm x = 40mm b = 40mm h = 0mm 3 Trabalho Laboratorial Nº M = Kg Extensómetro Extensómetro Outros Dados: x =??? mm x =??? mm b = 5mm h = 6mm