OS RISCOS ERGONÔMICOS DO POSTO DE PRODUÇÃO DE ESQUADRIAS E CORTES DE VIDROS TEMPERADOS.

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1 OS RISCOS ERGONÔMICOS DO POSTO DE PRODUÇÃO DE ESQUADRIAS E CORTES DE VIDROS TEMPERADOS. Thayla Kawany Pinheiro da Silva 1 ; Drª Ana Regina de Aguiar Dutra 2 (orientadora) RESUMO: As empresas de esquadrias e vidros apresentam grande diversidade de processos e produtos, ocasionando uma maior variabilidade nas condições de trabalho e, consequentemente, afetando a produtividade da empresa e a saúde e segurança do trabalhador. Por este motivo, este trabalho tem como objetivo identificar os riscos ergonômicos presentes nos postos de trabalho de uma indústria do setor vidreiro. A metodologia empregada foi a Análise Ergonômica do Trabalho, contando com visitas in locu para a coleta de dados. Ao finalizar o estudo, foi possível compreender a necessidade de melhorias no ambiente de trabalho, incluindo mudanças nas bancadas e disponibilização de cursos e palestras de conscientização acerca da saúde e segurança no trabalho, em função do ruído, dos riscos frequentes de cortes e da presença de elevação de cargas e posturas inadequadas, provocando os afastamentos por dores lombares. INTRODUÇÃO: A ergonomia tem como objetivo modificar os sistemas de trabalho, para melhorar e adequar as atividades nele existentes às características, habilidades e limitações dos colaboradores em vista do seu desempenho eficiente, confortável e seguro. A importância da ergonomia está na contribuição para a promoção da segurança e bemestar das pessoas e, consequentemente, a eficácia dos sistemas nas quais elas se encontram envolvidas. Compreende preocupações com as condições gerais de trabalho, tais como, a iluminação, os ruídos e a temperatura, que geralmente são conhecidas como agentes causadores de males na área de saúde física e mental. De acordo com a Abravidro (2013), o setor vidreiro é formado pelas indústrias que beneficiam e preparam o vidro plano, que pode ser temperado, curvado, laminado, serigrafado, entre outros. Depois de beneficiado, o produto é fornecido às vidraçarias, indústrias de móveis e construtoras. Vale ressaltar que a cadeia de transformação de vidro plano é muito significativa em termos de número de empresas e emprego. Envolve cerca de 300 empresas e emprega em torno de 30 mil profissionais, além de mais de 40 mil vidraçarias espalhadas por todo território nacional. A demanda de vidro no país vem crescendo nos últimos anos, por esse motivo, os fabricantes estão investindo no aperfeiçoamento das linhas de produção. A Abividro calcula que o país tenha 45 mil vidraceiros, e que cerca de 300 distribuidores comprem vidro direto dos fabricantes. Entretanto, 50% do mercado ainda está concentrado nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. A produção de vidros do país passou de 905 mil toneladas de 2003 para mil toneladas em 2011, o que demonstra o crescimento constante do setor. Os riscos ergonômicos ligados ao setor vidreiro, ou seja, aos postos de trabalho das indústrias que compõem este setor, dizem respeito aos cortes, à elevação e transporte de cargas, o que leva aos afastamentos por dores lombares e, ainda, tem-se a presença de ruídos em muitas dos postos de trabalho. Este modo de produção depende do processo, dos equipamentos utilizados, das ferramentas e do maquinário, da matéria- 1-Acadêmica de Engenharia de Produção; kawany11@hotmail.com 2- Doutora em Engenharia de Produção; ana.dutra@unisul.br

2 prima a ser trabalhada e de fatores organizacionais. Por se tratar de um produto suscetível à quebra, facilmente cortante e com um peso relevante, o vidro deve ser cuidadosamente produzido, transformado e distribuído. Silveira et al (2012) estudaram um setor da indústria de beneficiamento de vidros, situada no Estado do Rio de Janeiro, onde foram avaliados os riscos ergonômicos das atividades e dos fatores ambientais, do trabalho real, e apresentaram sugestões de melhoria, a fim de proporcionar maior qualidade de vida ao colaborador e uma relação custo-benefício vantajosa para a empresa. Discutiu-se, para isso, a associação entre as perdas de materiais e por absenteísmo dos colaboradores do setor e os riscos ergonômicos observados. Segundo ainda os autores, as perdas de produção causadas por absenteísmo, por problemas lombares, podem ser minimizadas por meio de práticas ergonômicas simples. Para finalizar a introdução, apresenta-se a problemática do projeto, a qual se concentra nos risco ergonômicos do setor vidreiro, com destaque para os postos de cortes dentro de uma indústria de vidro situada no Município de Palhoça/SC, tendo como objetivo principal identificar os riscos ergonômicos provenientes das condições inadequadas de trabalho, sob a ótica da abordagem ergonômica, presentes nos postos de trabalho de corte de vidros que potencializam acidentes e incidentes. Palavras-Chave: Ergonomia, Indústria de Esquadrias e Vidros, Analise Ergonômica do Trabalho. MÉTODO: Para o alcance do objetivo geral foi empregada a metodologia da ergonomia, com suas 5 etapas, como referência básica, contudo enriquecida com alguns métodos e técnicas provenientes das áreas da engenharia e da saúde. Nas primeiras três etapas da metodologia foi possível compreender de forma preliminar os problemas do processo produtivo, analisar as condições de trabalho e as mobilizações físicas dos trabalhadores. As visitas aos diferentes setores foram realizadas para identificar fatores de riscos ocupacionais, conhecer a estrutura física do local, seus principais processos e ter contato com os trabalhadores para entender a política e o funcionamento da organização. A partir das primeiras informações coletadas, definiram-se os setores mais críticos do ponto de vista de riscos ocupacionais: Ferragem, Vidraçaria e Persiana. Na sequência, partiu-se para as entrevistas com os trabalhadores dos três setores, usando a Escala de avaliação de desconforto corporal e Escala de avaliação contínua, objetivando identificar, respectivamente, os desconfortos de dores e as inadequações ergonômicas das condições de trabalho (técnicas, ambientais e organizacionais). As avaliações posturais dos trabalhadores foram reforçadas com uso de dois métodos: RULA (Rapid Upper Limb Assessment) e OWAS (Ovako Working Posture Analysing System), que objetivam analisar a sobrecarga concentrada nos membros superiores e inferiores (CORLETT E MANENICA, 1980; MÁSCULO E VIDAL, 2011). Por fim, foi construído um diagnóstico das principais patologias ergonômicas existentes na situação de trabalho analisada, e que devem merecer uma transformação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES: Neste primeiro parágrafo, busca-se caracterizar o processo produtivo da indústria estudada, o qual é composto pelos seguintes setores: Corte de perfis, Solda, Usinagem, Ferragem, Acabamentos finais, Vidraçaria e Persiana, contendo 8 bancadas, que apresentam altura entre 80cm e 90cm, e máquinas e ferramentas necessárias para a realização das tarefas. O galpão tem sua estrutura em aço galvanizado, cobertura de telha também de aço galvanizado, piso rústico, ventilação natural e iluminação natural e artificial por meio de lâmpadas fluorescentes. Os setores contam com 11 trabalhadores no total, sendo 4 auxiliares de produção e 7 operadores de produção, os mesmos fazem uma jornada de trabalho de 44 horas semanais, trabalhando de segunda-feira à sextafeira das 7h00min as 17h00min com período de 1h15min de intervalo. A produção é feita por demanda, possuindo uma média diária entre 20 e 22 esquadrias e 100 esquadrias/mês. As informações extraídas a partir das aplicações das escalas de desconforto corporal e de avaliação contínua subsidiaram a identificação dos setores que mais trazem desconfortos corporais aos trabalhadores, setores de soldagem, vidraçaria, ferragem e persiana, em função das condições de trabalho. Os desconfortos apresentados dizem respeito: às áreas dos olhos, causados pela intensidade luminosa da solda e pela falta de uso de equipamentos de proteção individual (EPI s); aos braços, proveniente do peso do vidro a ser elevado e transportado e da tarefa repetitiva; às costas, pela postura inadequada adotada aos desenvolver algumas tarefas e pela altura insuficiente das bancadas. Os trabalhadores ainda apontam que os principais problemas quanto às condições de trabalho são: alturas de bancadas inadequadas, ausência de assentos, ritmo acelerado de trabalho e temperatura elevada. Ao analisar as mobilizações dos trabalhadores para alcançarem as metas de trabalho, foi possível perceber intensa inclinação e rotação da cabeça; rotação, flexão e extensão do tronco; flexão, extensão, rotação e supinação dos braços e punhos e flexão e extensão das pernas. A avaliação das posturas dos trabalhadores foi reforçada com uso de dois métodos: RULA e OWAS que objetivam analisar a sobrecarga concentrada nos membros superiores e inferiores. Os resultados obtidos com as aplicações das escalas e dos métodos mostraram que os trabalhadores dos setores de trabalho (Ferragem, Vidraçaria e Persiana) apontaram queixas de dores, em função de algumas posturas incorretas, como as de flexão e rotação de tronco, apontando para a necessidade de investigação e ações corretivas. A postura frequentemente é determinada pela tarefa e pelo posto de trabalho, seja sentado ou em pé, e quando inadequada e prolongada produz tensões mecânicas nos músculos, ligamentos e articulações que resultam em dores no pescoço, costas, ombros e punhos (DUL E WEERDMEESTER, 2004). O quadro 1 apresenta uma relação dos principais riscos encontrados, suas possíveis consequências e sugestões de melhorias.

4 Quadro 1: Formulação dos Riscos Ergonômicos Riscos Constrangimen tos O que Pode Ocasionar? Disfunções do Sistema Sugestões Flexão do tronco Posturas incorretas e desconfortáveis Provoca dores no pescoço e nas costas, podendo causar uma lombalgia. produtividade Troca das bancadas atuais por bancadas com altura adequada ao trabalhador Levantame nto incorreto de peso Posturas incorretas e desconfortáveis Lesões musculoesqueléti cas, e doenças localizadas no aparelho circulatório. produtividade e afastamento de trabalhadores Oferecer um treinamento para o levantamento correto de cargas, bem como a melhoria das condições de trabalho. Não utilização de protetor auricular Dores de cabeça, estresse e fadiga Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR), falta de concentração. Afastamento de trabalhadores Conscientização dos trabalhadores quanto ao uso do EPI Temperatur as elevadas durante o verão Desconforto, taquicardia e cansaço. Insolação, Cãibras, Catarata, conjuntivites e Dermatites. produtividade e afastamento de trabalhadores Implantação de manta térmica e sistema de ventilação Ritmos Excessivos Tensão Ansiedade, cansaço e diminuição da atenção. produtividade Adoção de micro pausas. Fonte: Autores, 2017 As imagens abaixo apresentam algumas das posturas assumidas pelos trabalhadores durante suas tarefas, as quais podem ocasionar dores nas pernas, pés, ombros, braços e na região lombar ou cervical, em função das condições de trabalho.

5 Figura 1: Posturas dos trabalhadores Fonte: Autores, 2017 Em alguns casos, a repetição de movimentos pode gerar até mesmo bursites, escolioses e hérnias de disco. Isso acontece devido ao aumento da tensão muscular, provocada pela falta de cuidado com a postura. As dores lombares, segundo a Revista CIPA, são a maior causa de absenteísmo (falta no trabalho) dos brasileiros. Os dados da Previdência Social apontam que somente no primeiro trimestre de 2016 foram mais de 24 mil afastamentos, em média, 269 trabalhadores afastados por dia por causa de problemas na coluna. Um afastamento a cada cinco minutos. Junior et al (2010) apontam em seu artigo que os fatores causais mais diretamente relacionados com as lombalgias ocupacionais são os mecânicos, os posturais, os traumáticos e os psicossociais. Salientam ainda que o trabalho sentado por longas horas, o trabalho pesado, o levantamento de peso, a falta de exercícios físicos e os problemas psicológicos representam alguns dos principais fatores que contribuem para a cronicidade da dor lombar. CONCLUSÕES: Analisando o processo produtivo da indústria escolhida, constatou-se a necessidade de modificações e ajustes das condições de trabalho para que se possa melhorar a qualidade nos setores da indústria escolhida. Para isso, a indústria pode desenvolver determinadas ações já citadas no quadro 1. Alerta-se para que nenhuma postura ou gesto deva ser mantido por um longo tempo, já que são posições extremamente fatigantes, podendo ocasionar, em longo prazo, lesões nos músculos e nas articulações. Portanto, recomenda-se para todas as atividades avaliadas, que as posturas estáticas devam ser alternadas com posturas dinâmicas, por meio de rodízios periódicos de atividades. Como forma de reduzir o risco de fadiga muscular, indica-se, também, para todas as atividades avaliadas a realização de pausas curtas distribuídas ao longo da jornada de trabalho. As pausas podem ser orientadas à realização de alongamentos individuais dos braços, tronco e das pernas, com o objetivo de aumentar a mobilidade desses segmentos corporais, diminuindo a tensão nos tendões e músculos e refletindo na realização das tarefas com maior qualidade e segurança.

6 Sugere-se também que seja elaborado, com base na avaliação ergonômica do trabalho, um manual de procedimentos para os postos de trabalho dos auxiliares de produção, contemplando recomendações posturais para a sua realização, bem como orientações para alongamentos e para a utilização de EPI s. Para a adequação das bancadas, a Norma Regulamentadora 17 afirma que para trabalho manual sentado ou em pé, as bancadas, mesas, escrivaninhas e os painéis devem proporcionar ao trabalhador condições de boa postura, visualização e operação e devem ter altura e características da superfície de trabalho compatíveis com o tipo de atividade e com a distância requerida dos olhos ao campo de trabalho. Enfim, a metodologia ergonômica foi capaz de apontar subsídios para que a indústria estudada possa diminuir significativamente o número de afastamentos por acidentes e doenças do trabalho, como também de manter os trabalhadores motivados por se sentirem valorizados e seguros na execução de suas tarefas. Ao inserir práticas de segurança nas atividades rotineiras, a indústria pode contar com trabalhadores mais produtivos e saudáveis. REFERÊNCIAS: ABIVIDRO. Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro. Disponível em: < Acesso em: 15 de Abril CORLETT, E. N.; MANENICA, I. The effects and measurement of working postures. Applied Ergonomics, v. 11, n. 1, p. 7-16, DUL, J; WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. São Paulo: Edgard Blecher, IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2º ed. São Paulo Blucher, 2005 JUNIOR; M. H.; GOLDENFUM, M. A.; SIENA, C. Lombalgia ocupacional. Rev Assoc Med Bras, V. 56, N.5, pp , Disponível em:< Acesso em: 03 jan MÁSCULO, F. S.; VIDAL, M. C. Ergonomia: trabalho adequado e eficiente. Rio de Janeiro: Elsevier / ABEPRO, NR 17 - Norma Regulamentadora 17. Disponível em < Acesso em 11 Agosto REVISTA CIPA. Dor nas costas é a principal causa de afastamento do trabalho. 16/07/2016. Disponível em:< Acesso em: 03 jan SILVEIRA, M.S et al. Apreciação ergonômica do trabalho em uma indústria de vidros temperados: vantagens para empresa e colaboradores. In: ENEGEP, 12, Bento Gonçalves/RS, Anais eletrônicos... Disponível em:< Acesso em: 20 de mar

7 FOMENTO O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Tecnológica e Inovação (PIBITI), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), para o estudante e horas de pesquisa ao professor pela UNISUL.