Estabelecer os critérios para transfusão de hemocomponentes, otimizar o uso e aumentar a segurança transfusional.
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- Tiago Castel-Branco de Andrade
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1 Página: 1/7 1. INTRODUÇÃO A transfusão de concentrado de hemácias ou outro produto sanguíneo é comum nas unidades de terapia intensiva (UTI). Estima-se que mais de 40% dos pacientes recebam uma ou mais transfusões de concentrado de hemácias enquanto estão na UTI, na maioria das vezes no contexto de anemia estável. O uso adequado de produtos sanguíneos exige que os benefícios e riscos potenciais sejam cuidadosamente pesados. 2. OBJETIVO Estabelecer os critérios para transfusão de hemocomponentes, otimizar o uso e aumentar a segurança transfusional. 3. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Pacientes clínicos e cirúrgicos internados no da Disciplina de Anestesiologia Dor e Terapia Intensiva. 4. CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO Pacientes em cuidados paliativos exclusivos. 5. DIRETRIZES PARA TRANSFUSÃO DE HEMOCOMPONENTES - Concentrado de Hemácias. A conduta na anemia sintomática deve ser individualizada e baseada na condição clínica do paciente. Entretanto, podemos recomendar um limiar de transfusão de 7g/dl, em princípio, para todos os pacientes na UTI. Um nível de hemoglobina (Hb) entre 7-9 g/dl é adequado na maioria das condições, a menos que as comorbidades específicas ou fatores relacionados à doença aguda modifiquem a tomada de decisões clínicas. Algumas dessas condições são as seguintes: Trauma cranioencefálico e evidência de isquemia cerebral, Hb > 9 g/dl. Hemorragia subaracnóidea, 8-10 g/dl. Acidente vascular cerebral isquêmico, Hb > 9 g/dl. Síndrome coronariana aguda, Hb > 8 g/dl. A eritropoietina não deve ser usada para tratar a anemia em pacientes graves. A compatibilidade ou tipo idêntico entre doador e receptor, em relação a transfusão de hemácias pode ser definida pelos critérios citados na tabela1.
2 Página: 2/7 Tabela 1. Compatibilidade entre doador e receptor, em relação a transfusão de hemácias - Concentrado de plaquetas. A transfusão de plaquetas é indicada não só para o tratamento, como também para a prevenção da hemorragia em pacientes com trombocitopenia grave. Usar terapeuticamente no paciente que está sangrando se a contagem de plaquetas for < / ml. Transfundir profilaticamente quando a contagem for < / ml na ausência de hemorragia aparente e < / ml se o paciente tiver um risco significativo de sangramento. Procedimentos cirúrgicos - até /mL: procedimentos de biópsia óssea, punção lombar, broncoscopia (sem biópsia); até /mL: anestesia peridural, biópsia transbrônquica, hepática e endoscópica gástrica, laparotomia, paracentese e toracocentese, punção de veias profundas (cateter de Schiley) ou extração dentária; a /mL: cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea; > /mL: cirurgias neurológicas e oftalmológicas. Uma vez definida, a transfusão deve ser de preferência, ABO idêntico ou, pelo menos, compatíveis.
3 Página: 3/7 Tabela 2- Compatibilidade entre doador e receptor, em relação a transfusão de plaquetas - Plasma fresco congelado. A escolha do plasma a ser transfundido deve obedecer às regras da compatibilidade ABO, considerando-se os anticorpos presentes no plasma e os antígenos eritrocitários do paciente. Não deve ser usado para corrigir anormalidades de coagulação na ausência de sangramento ou procedimentos invasivos planejados. Indicações: deficiência congênita/adquirida de F XIII, fibrinogênio, D. von Willebrand não responsivo a DDVAP em situações de indisponibilidade de crioprecipitado; coagulopatia de consumo grave com sangramento ativo (TP ou TTPA > 1,5 vezes); transfusão maciça (TP ou TTPA > 1,5 vezes); hemorragia em pacientes com hepatopatia; correção de hemorragia por uso de anticoagulantes cumarínicos; plasmaferese terapêutica com indicação de substituição de volemia com plasma (ex.: plasmaférese em pacientes portadores de púrpura trombocitopênica trombótica). - Crioprecipitado. É fonte concentrada de algumas proteínas plasmáticas insolúveis a temperatura de 1 C a 6 C, tem validade de 12 meses. A sua indicação está restrita a situações de não disponibilidade de concentrados industriais. São elas: repor fibrinogênio em pacientes com hemorragia e deficiência isolada congênita ou adquirida de fibrinogênio; repor fibrinogênio em pacientes com coagulação intravascular disseminada (CIVD) e deficiência grave de fibrinogênio; repor fator XIII em pacientes com sangramento por este fator, sem disponibilidade de fator XIII industrial; repor fator de Von Willebrand em pacientes não responsivos ao DDVAP, sem disponibilidade de concentrado de fator de Von Willebrand ou fator VIII rico em multímeros de Von Willebrand. 6. CUIDADOS DE CONSERVAÇÃO - Concentrado de Hemácias: só pode permanecer em temperatura ambiente por, no máximo, 30 minutos. Após este tempo, recomenda-se devolver imediatamente ao serviço de hemoterapia para ser recolocado em temperatura adequada de armazenamento. Após instalação, deve ser infundida em até 4 horas, com equipo descartável livre de pirógenos e filtro
4 Página: 4/7 que retenha coágulos e agregados ou filtro leucoredutor, que deve ser trocado a cada bolsa. Descartar a bolsa após este período. - Plasma Fresco: deve estar totalmente descongelado, infundido em até 4 horas com equipo descartável livre de pirógenos e filtro que retenha coágulos e agregados, que deve ser trocado a cada bolsa. - Crio precipitado: deve estar totalmente descongelado, infundido rapidamente (equipo aberto) com equipo descartável livre de pirógenos e filtro que retenha coágulos e agregados, que não necessita ser trocado a cada bolsa. - Concentrado de Plaquetas: permanece em agitação suave e constante até a transfusão imediata em infusão rápida com equipo descartável livre de pirógenos e filtro que retenha coágulos e agregados, que não necessita ser trocado a cada bolsa. Não é permitido estocar hemocomponentes na unidade, devido a condições inadequadas de armazenamento. Devem ser infundidos imediatamente. 7. REAÇÕES ADVERSAS DA TRANSFUSÃO Todas as transfusões de hemocomponentes são passíveis de riscos, em caso de suspeita, devem ser tomadas as condutas: a. Interromper imediatamente a transfusão; b. Colher hemocultura e nova amostra do paciente 2mL em tubo com EDTA e 8mL em tubo seco; c. Encaminhar as amostras e as bolsas ao serviço de hemoterapia, junto com a ficha específica de reação adversa transfusional, devidamente preenchida; d. Prestar os cuidados imediatos sob orientação médica, conforme sugestões na tabela III. Tabela 3. Reações adversas da transfusão
5 Página: 5/7 8. INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES Amostras As amostras usadas para provas pré-transfusionais tem validade de 48-72h. Após este período serão desprezadas, conforme protocolo do serviço de hemoterapia. Devem ser coletados: 2 a 5 ml de sangue em tubo com anticoagulante EDTA (tampa roxa). Realiza-se a tipagem sanguínea ABO e Rh; 5 a 10 ml de sangue em tubo seco com gel separador (tampa vermelha). Realiza-se a pesquisa de anticorpos irregulares (PAI), tipagem reversa ABO e a prova cruzada. Doses Concentrado de hemácias: 1unidade eleva a Hb em cerca de 1g/dL ou o hematócrito em cerca de 3% (adulto de 60kg). Concentrado de plasma: transfundir cerca de 10 a 15 ml / kg de peso.
6 Página: 6/7 Concentrado de plaquetas: transfundir cerca de 1unidade / 10 Kg de peso. Crioprecipitado: 1 a 1,5 bolsas para cada 10Kg de peso do paciente. Velocidade de infusão A taxa de infusão desejada varia de acordo com a condição cardiopulmonar do paciente. Para infusão mais rápida, o calibre da agulha utilizada deve ser adequado e a compressão externa da bolsa nunca deve ultrapassar 300 Torr de pressão. Não há uma definição precisa do tempo máximo, mas recomenda-se que o hemocomponente não permaneça mais do que 4h em condições de temperatura ambiente, depois de aberto o sistema. O tempo de infusão de 1-2h é suficiente para a maioria das transfusões. As plaquetas são infundidas em até máximo de 30minutos, não excedendo a velocidade de infusão de 20-30mL/Kg/hora. Transfusão em paciente em estado febril. A febre não é fator de impedimento à infusão de hemocomponentes. Esta restrição se deve ao fato da maioria das reações transfusionais se manifestarem com aumento de temperatura corpórea e dificultar a sua interpretação. Assim, em situações de urgência, com os devidos cuidados, é possível realizar as transfusões. A elevação de temperatura em 1ºC durante a transfusão, ou nas primeiras horas pós transfusão, deve ser interpretadas como possível evento adverso transfusional. - Outras informações estão disponíveis nas Diretrizes Assistenciais - Manual de Transfusão do Hospital São Paulo. 9. INDICADORES DE QUALIDADE Número de eventos adversos associados a transfusão / número total de transfusões 10. RESPONSABILIDADES Medico intensivista: indicação da transfusão, observando motivo, quantidade e tipo de hemocomponente; preencher a solicitação de forma completa; prescrição médica; atentar para presença de complicações. Enfermagem: coleta das amostras para provas pré transfusionais; verificar prescrição médica; conferir a identificação do paciente e da bolsa a ser transfundida; avaliar o aspecto físico do hemocomponente e seu rótulo na bolsa; arquivar o rótulo ou ficha de identificação da bolsa transfundida no prontuário do paciente; registrar nas anotações de enfermagem.
7 Página: 7/7 11. COMITÊ DE ESPECIALISTAS Antonio Bafi Eduardo Pacheco Flavia R Machado Flavio Freitas 12. BIBLIOGRAFIA 1. MANUAL DE TRANSFUSÃO DO HOSPITAL SÃO PAULO. Padronização para Utilização de Sangue e Hemocomponentes. Comitê Transfusional Multidisciplinar do HSP 2. Retter A, Wyncoll D, Pearse R, et al. Guidelines on the management of anaemia and red cell transfusion in adult critically ill patients. Br J Haematol Feb;160(4):
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