Patrícia Ferreira, EV Banco de Sangue Veterinário

Transcrição

1 Patrícia Ferreira, EV Banco de Sangue Veterinário 16/06/2012

2 O sangue é um fluido corporal composto por uma fracção sólida (celular), em suspensão num líquido (plasma) Sangue Sólido Eritrócitos, Leucócitos, Plaquetas Líquido Plasma (Proteínas circulantes, nutrientes) Volume: 90 ml/kg (cão) e 60 ml/kg (gato) 2

3 Hematócrito 3

4 Eritrócitos = Hemácias = Glóbulos vermelhos Função principal trocas gasosas, possuem um pigmento com afinidade para gases (Hemoglobina) que tem cor avermelhada 37-55% (cão) e 24-45% (gato) do volume de sangue 4

5 Têm uma vida média de dias (cão) e dias (gato), após os quais são destruídos no baço e fígado por não poderem exercer mais a sua função Uma do número de GVs circulantes - anemia 5

6 Leucócitos = Glóbulos brancos Função principal defesa do organismo, intervêm na imunidade celular (fagocitose) e humoral (imunoglobulinas) Existem diversas células com diferentes estruturas 65% 25% 3% 5% 0,5% 6

7 Plaquetas = Trombócitos Função principal formação do coágulo primário e ajuda na activação da cascata de coagulação São fragmentos de células maiores, da medula óssea 7

8 As células sanguíneas circulantes são produzidas na medula óssea dos animais adultos (e em parte no fígado dos animais jovens) Sofrem um processo complexo de maturação. Por vezes vêm-se células imaturas em circulação, das várias linhagens existentes 8

9 Medula óssea dos ossos longos 9

10 Aumento de GVs Diminuição de GVs Eritrocitose/policitémia Anemia Aumento de Leucócitos Diminuição de Leucócitos Leucocitose Leucopénia Aumento de plaquetas Diminuição de plaquetas Trombocitose Trombocitopénia 10

11 Composto essencialmente por água (+ de 90%) e proteínas (aprox 7%). Transporte de metabolitos celulares e nutrientes de e para todo o organismo A sua cor normal é amarelada e deve ser translúcido. Variações na cor podem indicar a presença de patologias importantes Plasma contém factores de coagulação essenciais para a hemostase (diferente de soro) e imunoglobulinas 11

12 Corresponde a cerca de 55% do volume sanguíneo Animais obesos ou idosos possuem uma fracção plasmática menor 12

13 Assim como no Ser Humano, existem grupos sanguíneos tanto no cão, como no gato Os tipos de sangue são determinados por antigénios na superfície dos GVs As reacções de incompatibilidade são graves e como tal surge a necessidade de tipificar e organizar os dadores consoante o seu tipo 13

14 Existem 6 tipos de DEA (dog erithrocyte antigen), sendo que o mais importante é o 1.1 o mais antigénico (ou reactivo) de todos Actualmente os dadores são divididos em dadores ou 1.1 -, descartando-se os restantes marcadores antigénicos A tipificação pode ser feita em laboratórios de referencia ou com testes rápidos 14

15 Embora não seja aconselhável, é possível fazer uma primeira transfusão sem tipificação, com riscos reduzidos para o paciente, por ainda não estar sensibilizado para o tipo sanguíneo contrário Isto não é válido para cadelas que já foram mães 15

16 Os grupos sanguíneos dos gatos são baseados no sistema A-B (análogo da med humana) As combinações genéticas permitem a presença de antigénios A, B ou AB (muito raros) O tipo sanguíneo mais comum em Portugal é o A, sendo o B mais prevalente em gatos British Shorthair 16

17 Os gatos têm anticorpos próprios contra o tipo de sangue contrário e como tal nenhum gato deve ser transfundido sem tipificação prévia, mesmo em caso de emergência Sinais de reacção transfusional incluem: Depressão, bradicardia, apneia, salivação, urinar, defecar Reacção anafilática severa com risco de MORTE 17

18 O cross-matching é realizado para detectar sensibilização prévia do receptor O cross-matching major testa a reacção entre o plasma do receptor e as células do dador. O minor é muitas vezes descartado por não trazer muitas informações Cels normais Cels aglutinadas 18

19 19

20 1. Realizar um exame físico geral, incluindo o registo do peso 2. Colocar o dador em decúbito esternal ou lateral sobre a mesa de trabalho 3. Um auxiliar é encarregue da contenção do animal 4. Recolher sangue da veia cefálica para as análises sanguíneas necessárias (hemograma ou análises anuais) 5. Realizar um hemograma (contagem automática) 20

21 6. Tricotomia de uma área de 25 cm 2 (5-5 cm) sobre a veia jugular 7. Alternar a veia jugular entre dádivas 8. Limpeza e desinfecção com solução de clorexidina seguida de álcool, em três passagens alternadas 9. Puncionar a veia com um movimento único 21

22 10. Após atingir o volume pretendido, colocar uma compressa com água oxigenada no local da colheita e remover a agulha do animal 11. Realizar compressão sobre a área puncionada durante 5 minutos 12. Preparação da unidade colhida 22

23 Sangue inteiro Separado até 8h após a recolha Concentrado de eritrócitos Armazenado no frigorífico Plasma fresco congelado Congelado até 8h após a recolha de sangue 23

24 Indicações: Reposição de células sanguíneas capazes de transportar o oxigénio mantendo a viabilidade dos tecidos Tratamento de anemias Ht < % em cães e < % em gatos Tratamento de leucemias linfóides Hemorragias activas graves Coagulação intravascular disseminada (CID) Trombocitopénia, trombocitopatia 24

25 Contém: Eritrócitos Leucócitos Plaquetas (viáveis apenas até 24 horas após a colheita) Factores de coagulação (os factores termolábeis apenas são viáveis até 24 horas após a colheita) 25

26 Indicações: Reposição de células sanguíneas capazes de transportar o oxigénio e, assim, manter a viabilidade dos tecidos Anemias hemolíticas hemoparasitas, tóxicos, fármacos Anemias por hemorragia sem perda de grande quantidade de sangue Anemias não regenerativas 26

27 Indicações (cont.): Cirurgias correcção prévia da anemia ou quando se prevê grande perda de sangue intra-cirúrgica Patologias da medula óssea Durante ou após ressuscitações, permitindo aumentar a capacidade de oxigenação 27

28 Vantagem sobre o sangue inteiro: Evita a sobrecarga de volume em pacientes que não necessitam de proteínas ou factores de coagulação Evita os riscos de reacções imunológicas contra as proteínas plasmáticas Ao administrarmos apenas eritrócitos, mantemos os stocks de plasma que poderão ser necessários para outros pacientes 28

29 Contém: Eritrócitos Leucócitos Plaquetas não viáveis Pequeno volume de plasma 29

30 Indicações: Défices de proteínas plasmáticas Factores de coagulação Sépsis Pancreatite Peritonite Trauma severo Neoplasia Cirurgia agressiva Hipoalbuminémias 30

31 Indicações (cont.): Parvovirose Panleucopénia Intoxicação por rodenticidas Profilaxia em cirurgia de pacientes com deficiências adquiridas ou hereditárias dos factores de coagulação Pacientes sob anestesia com risco de hipotensão ou diminuição da capacidade de ligação dos fármacos às proteínas Hipoglobulinémia neonatal por défice de colostro 31

32 Contém: Proteínas sanguíneas (albumina e globulinas) Todos os factores de coagulação, icluindo os termolábeis (V e VIII) Poderá conter uma pequena quantidade de fragmentos de eritrócitos 32

33 As necessidades de volume devem ser calculadas com base no Htc do receptor e do dador. O objectivo (habitualmente) é subir o Htc do receptor em 10% Volume (ml) = 85 (cão) ou 60 (gato) x peso x [(Htc receptor desejado Htc existente) / Htc dador] Aproximadamente: 10 a 22 ml/kg Taxa o,25 ml/h nos primeiros 20min ml/h depois 33

34 Um cão foi apresentado à clínica, de urgência, após ter sofrido um atropelamento (RTA), cerca de 30 minutos antes No exame físico de emergência é possível perceber que perdeu muito sangue por múltiplas lacerações, sendo que uma delas ainda está activa Após a estabilização inicial é feito um painel de análises sanguíneas onde se verifica que o Htc está a 25%, estando o animal com hipotensão e com dificuldades ventilatórias É decidido que se vai fazer uma transfusão de CEs. Calcule o volume necessário e a taxa de administração sabendo que o paciente pesa 28 kg e que o Htc do dador é de 58% 34