A mercadoria. Estudo da primeira seção do primeiro capítulo de O Capital
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- Rui Martinho Bandeira
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1 A mercadoria Estudo da primeira seção do primeiro capítulo de O Capital 1
2 Para iniciar Para continuar é preciso fazer um resumo da seção 1: Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor. Vamos, agora, fazer uma reconstrução do raciocínio que vai do valor de troca ao valor. 2
3 Seja o jogo Mercado Maluco Nesse jogo caseiro são usadas peças no formato de polígonos. Essas peças tem valor de uso: elas servem para construir determinadas figuras. Elas podem ser trocadas entre os participantes do jogo. E tem, por isso, valor de troca. 3
4 Peças, que peças? Essas peças são, portanto, mercadorias que tem valor de uso e valor de troca. No jogo há, pois, um mercado. Nesse mercado, os jogadores trocam as suas peças como mercadorias. 4
5 Mercado do Jogo Maluco Para expressar o valor de troca das peças é preciso definir um padrão de medida. Como? Assim: 5
6 Valor de troca? Qual o valor de troca da mercadoria triângulo? Resposta: 4,5 de mercadoria quadrado unitário. Note-se que cm 2 é o nome convencional da mercadoria "quadrado unitário". Por isso se diz que o valor de troca do triângulo é 4,5 cm 2. 6
7 Uma igualdade misteriosa! O que essa igualdade expressa? Ela diz que o VALOR do "triângulo" é igual a 4,5 vezes o VALOR do "quadrado unitário". Note-se, entretanto, que só o VALOR do "triângulo" é expresso. Pois, o valor de troca 4,5 cm 2 é a forma de manifestação do VALOR do "triângulo". 7
8 Valor? Qual é aqui a substância do valor? No mercado de polígonos, é a área. Aqui, pois, VALOR é um quantum de área. Note-se que a área é uma propriedade sensível dos polígonos, mas que o valor de fala Marx é uma propriedade suprassensível das mercadorias do mundo econômico. 8
9 Mercado econômico Consideremos, agora, o mercado do modo de produção capitalista. Aí se trocam mercadorias. Para explicar o valor de troca das mercadorias, chegou-se ao valor. O valor de troca passou, então, a figurar como a forma de manifestação do valor. O que é o valor? 9
10 Natureza do valor Como foi visto, aí a substância do VALOR é o trabalho abstrato; e VALOR é um quantum de trabalho abstrato. Ora, vimos, também, que o valor não é algo que se manifesta a si mesmo. Ele aparece em público por meio do valor de troca, o qual vem a ser a sua forma de manifestação. 10
11 Lógica e trabalho abstrato Para entender o que é trabalho abstrato é necessário compreender a diferenças lógicas entre gênero e redução. O gênero conserva as qualidade comuns às espécies. A redução pressupõe uma qualidade, mas chega a uma quantidade. 11
12 Materialismo e trabalho abstrato É necessário entender também que Marx não é um materialista ingênuo que separa o mundo das ideias do mundo das coisas físicas. Em Ad Feuerbach, diz: A falha capital de todo materialismo até agora (incluso o de Feuerbach) é captar o objeto, a efetividade, a sensibilidade apenas sob a forma de objeto ou de intuição, e não como atividade humana sensível, práxis. 12
13 Cont. Daí, em oposição ao materialismo, o lado ativo ser desenvolvido, de um modo abstrato, pelo idealismo, que naturalmente despreza a atividade efetiva e sensível como tal. O mundo em que vive o homem não é o mundo natural como tal, mas o mundo humanizado, significativo, posto pela práxis social e histórica. 13
14 Três possibilidades: Trata-se de uma ABSTRAÇÃO SUBJETIVA, que ocorre só na cabeça dos produtores mercantis ou só na cabeça de cientistas sociais? Trata-se de uma ABSTRAÇÃO OBJETIVA, que reflete algo inerente aos trabalhos enquanto tais? Ou se trata de uma ABSTRAÇÃO REAL, algo que ocorre na prática social 14
15 Trabalho abstrato seria uma... Abstração subjetiva: dos trabalhos concretos vaise ao trabalho em geral, ao gênero dos trabalhos concretos. Abstração objetiva: todos os trabalhos concretos envolvem um gasto de força humana. O gasto de energia, portanto, é uma propriedade genérica dos trabalhos concretos. 15
16 Seria uma abstração real Vimos: o trabalho abstrato, para Marx, fundamenta uma medida. Por isso, como toda medida, tem de ser constituída por um processo de redução. Segundo ele, essa redução não é feita conscientemente pelos agentes econômicos. Ela é feita supostamente pelo processo social, às costas desses agentes. Eles o fazem, mas não o sabem. 16
17 Lendo Marx Ao desaparecer [para nós que analisamos a questão] o caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos neles representados (...). Logo, o trabalho concreto não explica o valor. Ele explica o valor de uso. Ora, se o valor é explicado pelo trabalho, mas não pelo trabalho concreto, é preciso pensar no trabalho abstrato 17
18 Lendo Marx (...) desaparecem também, portanto, as diferentes formas concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano abstrato. O que é? 18
19 Lendo Marx [Após o desaparecimento,] não restou deles a não ser a mesma objetividade fantasmagórica, uma simples gelatina [fantasmática] de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho humano, sem consideração pela forma como foi dispendida. Portanto, um valor de uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está objetivado ou [socialmente] materializado trabalho humano abstrato. 19
20 Lendo Marx Com medir então a grandeza de seu valor? Por meio do quantum nele contido da substância constituidora do valor, o trabalho. A própria quantidade de trabalho é medida pelo seu tempo de duração, e o tempo de trabalho possui, por sua vez, sua unidade de medida nas determinadas frações do tempo, como hora, dia etc. 20
21 Uma medida? Por que a medida pode ser feita? Porque há uma singularidade comum a todos os trabalhos: gasto de força humana. Segundo Marx, o processo social reduz os gastos concretos de força humana de trabalho em trabalho abstrato, quantitativamente mensurável. 21
22 Tempo de trabalho socialmente necessário Essa abstração, ademais, não se refere exatamente à média do tempo de trabalho concreto gasto. Refere-se, diferentemente, a um tempo de trabalho médio que Marx chama de "tempo de trabalho socialmente necessário". 22
23 O que é isso? Diz Marx: Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer, nas condições dadas de produção socialmente normais, e com o grau social médio de habilidade e intensidade de trabalho. 23
24 Como muda o valor? A grandeza de valor de uma mercadoria permaneceria portanto constante, caso permanecesse também constante o tempo de trabalho necessário para sua produção. Este muda, porém, com cada mudança na força produtiva do trabalho. Página
25 Quantidade de valor Assim, quando muda esse tempo de trabalho, muda também o valor da mercadoria. Muda também o valor de troca? Diz Marx: A grandeza de valor de uma mercadoria muda na razão direta do quantum, e na razão inversa da força produtiva do trabalho que nela se realiza. 25
26 Relação entre valor de uso e valor Diz Marx (pagina 49): Uma coisa pode ser valor de uso, sem ser valor. Exemplo? "Uma coisa pode ser útil e produto do trabalho, sem ser mercadoria". Exemplo? "Nenhuma coisa pode ser valor, sem ser objeto de uso. Sendo inútil, do mesmo modo é inútil o trabalho nela contido 26
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