Afasia e Comunicação Alternativa - Revisão da Literatura. Universidades do Estado do Rio de Janeiro. Resumo
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1 Afasia e Comunicação Alternativa - Revisão da Literatura Aphasia and AAC Literature Review Universidades do Estado do Rio de Janeiro Fernanda Gonçalves de Oliveira Leila Regina d Oliveira de Paula Nunes Endereço para correspondência: Fernanda Oliveira Rua Cardoso de Mello 446 Oswaldo Cruz Rio de Janeiro RJ Telefone: E mail: oliveira.fg@bol.com.br Resumo Diversos profissionais buscam estratégias de comunicação que substituam, complementem ou permitam o restabelecimento da comunicação oral nos casos de afasia. Compreendemos os recursos de Comunicação Alternativa como possibilidades de melhor interação para o indivíduo privado da completude de suas habilidades comunicativas. É exatamente essa ponte que se procura analisar. Entende-se por afasia o nome dado ao sinal de que existe um transtorno comunicativo decorrente de um quadro de lesão neurológica. Objetiva-se a exposição dos mais recentes estudos sobre o uso dos recursos da comunicação alternativa em casos de afasia a partir da revisão bibliográfica, realizada após seleção e análise do material encontrado. Tal revisão permite a reafirmação de que tais estudos acerca do uso dos recursos de comunicação alternativa nos casos de afasia em adultos apontam para bons resultados, levando em consideração a diversidade de recursos utilizados nesses estudos e o caráter das pesquisas de resultados favoráveis à comunicação. Palavras-chave: Comunicação Alternativa Afasia Linguagem Reabilitação Introdução Este texto se propõe a exposição dos mais recentes estudos sobre o uso dos recursos da comunicação alternativa e ampliada (CAA) em casos de afasia a partir da revisão bibliográfica, realizada após seleção e análise do material encontrado. 1
2 Desenvolvimento Guerra, Medeiros, Lima, Costa e Azevedo (2005) tiveram por objetivo a pesquisa dos efeitos da utilização da CAA na intervenção fonoaudiológica de três sujeitos afásicos. O trabalho consistiu em priorizar a linguagem oral, mantendo-se aberto para outras formas de comunicação. Participaram dessa pesquisa três sujeitos do sexo masculino, com idade entre 35 e 60 anos. O primeiro participante apresentava estereotipias, perda parcial das habilidades de articulação das palavras, alteração na compreensão, leitura e escrita. Fazia uso do olhar, gestos, mímica facial e das estereotipias. Foi utilizado sistema alternativo pictográfico para a comunicação (Picture Communication Symbols) contendo elementos muito representativos, coloridos, colocados de seis em seis figuras em cartela. Utilizaram-se onze cartelas, agrupadas em um chaveiro. Este participante apresentou evoluções significativas. O segundo participante apresentava discurso era fluente e na sua maioria constituído por parafasias. Tinha consciência de seu déficit. Foram empregadas atividades como identificar figuras ou descrever uma situação ou acontecimento. O quadro lingüístico evoluiu mostrando bons resultados. O terceiro participante apresentou perda das habilidades de articulação. Comunicava-se através de gestos simbólicos. Tentou-se o trabalho com sistema BLISS e com o PCS, no entanto, houve dificuldade de adaptação aos recursos de modo que o recurso de comunicação que eles mesmos haviam desenvolvido através das pistas indicadas a partir dos gestos foi priorizado pelos profissionais para potencializar o nível de interação em diferentes contextos para que então fosse possível investir na comunicação oral que auxiliaria o interlocutor não familiarizado com seu recurso comunicativo. 2
3 O estudo é muito interessante, no entanto, os autores não apresentaram dados mais objetivos que permitam a conclusão acerca de como cada um desses indivíduos evoluiu mais especificamente. Conhecer em que aspectos mais especificamente houve progressos seria de grande valia para a compreensão mais global do estudo. Lamônica e Caldana (2005) apresentam um estudo de caso envolvendo pessoa com afasia, do sexo masculino, com 45 anos na ocasião da lesão (outubro de 1998), com baixa escolaridade. Apresentava afasia não fluente com uso de estereotipias. Tentava fazer uso de gestos representativos, utilizando-se do hemicorpo esquerdo e expressões faciais. Havia falta de iniciativa verbal. A compreensão de conteúdo lingüístico de vida prática não estava afetada. O trabalho foi iniciado através de recursos e comunicação com a participação da família na seleção dos itens e na utilização dos recursos. A caderneta contendo os pictogramas era retirada do bolso com a mão esquerda e folheada até a figura desejada. Ao final de um semestre de acompanhamento foram acrescentadas as letras do alfabeto. Concomitantemente ao uso dos recursos de CAA, foram realizados encontros de terapia tradicional com objetivo de inibir das estereotipas atrvés do trabalho de motricidade e praxias. Ao final de um ano de acompanhamento, foi possível verificar grande progresso das atividades comunicativas. No início de 2000 o paciente já era capaz de inibir as estereotipias e comunicar-se por palavras isoladas. Começou a fazer uso das letras do alfabeto já existentes na caderneta. Mais recentemente (2003) já conseguia comunicar-se por meio de agramatismo telegráfico (formação de frases simples utilizando substantivos e verbos no infinitivo). A presença de episódios de parafasia e anomia era freqüente. Atualmente já possui iniciativa verbal e tenta fazer uso da fala sem deixar de lado a caderneta como recurso comunicativo. Conclui-se que os procedimentos de CAA puderam ser eficientes como estratégias do processo de reabilitação da comunicação oral deste indivíduo afásico. 3
4 Vale ressaltar que os recursos de CAA favoreceram a fala enquanto recursos adicionais às possibilidades lingüísticas do paciente. A participação da família na utilização dos recursos foi de fundamental importância permitindo a utilização dos mesmos nos mais diferentes contextos. King e Hux (1995) realizaram um estudo sobre o uso de um programa de voz digitalizada (computador Macintosh SE com os programas OutLoud TM versão 2.0 e Talk Voice TM ) na facilitação da independência para a linguagem escrita de um senhor com afasia de 50 anos, Ph.D. em filosofia. Antes do início das intervenções foi realizada uma avaliação utilizando os recursos já citados. O sujeito apresentou 8% de erros na expressão escrita (substituições, adições, erros ortográficos e omissões ). O paciente foi submetido a sessões de duas horas durante oito semanas. Nas quatro primeiras semanas o participante relatava histórias oralmente sobre temas de suas escolha e o examinador digitava simultaneamente, tal qual o participante verbalizasse. O pesquisado então se beneficiava do output de voz do recurso e utilizava o editor de texto para alterar o registro de sua própria fala. Na segunda fase da pesquisa o participante independentemente gerava e digitava suas histórias, editava seus escritos utilizando os recursos dos programas. Ao final das intervenções uma nova avaliação demonstrou apenas 1% de erros evidenciando uma melhora significativa em relação às possibilidades lingüísticas do paciente. Quanto às categorias dos erros: antes da intervenção houve 2,5% de substituições, 4% de omissões, 0% de adições e 1.5% de erros ortográficos. Após a intervenção houve 1% de substituições e ausência das demais categorias. Este estudo afirma que o recurso que oferece possibilidade de voz digitalizada e edição de textos é benéfico para um paciente com afasia. Vale a pena ressaltar o grau de escolaridade do participante que, de certo, também foi determinante para o sucesso do caso. 4
5 Koul e Harding (1998) desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de avaliar a habilidade de indivíduos com afasia severa ou global para identificar e produzir símbolos gráficos usando um programa de voz digitalizada. Participaram da pesquisa cinco indivíduos com afasia global (sendo quatro do sexo masculino e um do sexo feminino), todos com lesão por acidente vascular cerebral no hemisfério esquerdo e hemiplegia à direita. Nenhum deles havia sido exposto a quaisquer recursos de CAA. Os sujeitos tinham entre 57 e 75 anos. O critério mínimo para participar do estudo incluiu habilidade para selecionar os símbolos usando varredura ou mouse e boa acuidade visual. O material desta investigação incluiu laptop, TS Software, Picture Communication Symbols e um DECTalk sintetizador (modelo DTCO1-AA). Inicialmente os sujeitos foram familiarizados com os mecanismos do computador para então serem submetidos à exposição dos estímulos desde a identificação de substantivos, verbos e adjetivos até o treinamento para produção de frases sujeitoverbo e por último sujeito-verbo-objeto. Antes da à intervenção, os dados apontavam para uma média de acertos de 0 a 40% no reconhecimento de símbolos referentes aos verbos e substantivos. Ao final do estudo os sujeitos apresentavam média de 60 a 100% de êxito na utilização dos símbolos para fins de comunicação. Os símbolos referentes aos substantivos são mais facilmente identificáveis de modo geral e atribui-se essa maior facilidade a iconicidade destes símbolos que acabou por facilitar o aprendizado da sua utilização. Considerações Finais A literatura acerca do uso da CAA nos casos de afasia não é vasta, no entanto, mostra que a CAA pode ser usada através de vários recursos com sucesso. Considero que alguns estudos poderiam apresentar dados mais convincentes em relação às conclusões. É de fato de suma importância que se invista nessa área como área de 5
6 investigação para a produção de conhecimento que esclareça cada vez mais acerca do uso dos recursos de CAA nos casos de afasia. Referências Bibliográficas Garret,K.L; Beukelman, D.R. & Morrow, D.L.(1989). A Comprehensive Augmentative Communication System for an Adult with Broca s Aphasia. AAC Augmentative and Alternative Communication,5 (1), Hux, K., Beukelman, D. R., & Garrett, K. L. (1994). Augmentative and alternative communication for persons with aphasia. Em R.Chapey (Ed.) Language Intervention Startegies in Adult Aphasia (3a. ed., pp ). Baltimore, MD: Williams and Wilkins. King, J.M. & Hux, K.(1995). Intervention using talking word processing software: an aphasia case study. AAC Augmentative and AlternativeCommunication. 11 (3), Koul, R. K. & Harding, R.(1998). Identification and production of graphic symbols by individuals with aphasia: efficacy of a software application. AAC Augmentative and Alternative Communication. 14 (1), Lasker, J., Hux, K., Garret, K. L., Moncrief,E. M. & Eischeid,T.J. (1997). Variations on the written choice communication strategy for inviduals with severe aphasia. AAC Augmentative and Alternative Communication. 13 (2), Lamonica, D. A. C., Caldana,M.L. Uso de comunicação alternativa para reabilitação de afásico: relato de caso. Trabalho apresentado no I Congresso Internacional de Linguagem e Comunicação da Pessoa com Deficiência. I Congresso Brasileiro de Comunicação Alternativa ISAAC Brasil. Rio de Janeiro, Guerra, D.Z., Medeiros,J.S., Lima, L.G., Cota, M.L. Azevedo, N.P.S.G. A comunicação suplementar e alternativa: um recurso terapêutico com sujeitos afásicos. Trabalho apresentado no I congresso internacional de linguagem e comunicação da pessoa com deficiência. I congresso brasileiro de comunicação alternativa ISAAC Brasil. Rio de Janeiro,
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