Marcos Bagno, Luiz Percival Leme Britto Neiva Maria Jung, Esméria de Lourdes Saveli Maria Marta Furlanetto. Práticas de letramento
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- Amélia Borges Sanches
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1 Marcos Bagno, Luiz Percival Leme Britto Neiva Maria Jung, Esméria de Lourdes Saveli Maria Marta Furlanetto Práticas de letramento NO ENSINO leitura, escrita e discurso Organização: DJANE ANTONUCCI CORREA PASCOALINA BAILON DE OLIVEIRA SALEH
2 EDITOR: Marcos Marcionilo CAPA E PROJETO GRÁFICO: Andréia Custódio CONSELHO EDITORIAL: Ana Stahl Zilles [Unisinos] Carlos Alberto Faraco [UFPR] Egon de Oliveira Rangel [PUCSP] Gilvan Müller de Oliveira [UFSC, Ipol] Henrique Monteagudo [Univ. de Santiago de Compostela] Kanavillil Rajagopalan [Unicamp] Marcos Bagno [UnB] Maria Marta Pereira Scherre [UFRJ, UnB] Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP] Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB] CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ L557 Práticas de letramento no ensino: leitura, escrita e discurso : / Marcos Bagno... [et al.] ; organização Djane Antonucci Correia. - São Paulo : Parábola Editorial ; Ponta Grossa, PR : UEPG, (Na ponta da língua ; 19) Inclui bibliografia ISBN Língua portuguesa - Estudo e ensino. 2. Leitura - Estudo e ensino. 3. Escrita - Estudo e ensino. I. Bagno, Marcos, II. Correia, Djane Antonucci. III. Universidade Estadual de Ponta Grossa. IV. Série CDD: CDU Direitos reservados à PARÁBOLA EDITORIAL Rua Clemente Pereira, Ipiranga São Paulo, SP Fone: [11] Fax: [11] home page: parabola@parabolaeditorial.com.br Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão por escrito da Parábola Editorial Ltda. ISBN Parábola: ISBN UEPG: desta edição: Parábola Editorial, São Paulo, outubro de 2007
3 SUMÁRIO INSTITUIÇÃO ESCOLAR, MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA Djane Antonucci Correa e Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh... 9 NORMA PRESCRITIVA & ESCRITA LITERÁRIA, ou por que Clarice Lispector não poderia escrever no Estadão Marcos Bagno Introdução: o grande escritor e a tradição gramatical normativa Clarice Lispector & a norma prescritiva A neogramatiquice contemporânea: a exacerbação do normativismo Conclusão Referências bibliográficas O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NUMA PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR Luiz Percival Leme Britto Referências bibliográficas LETRAMENTO: UMA CONCEPÇÃO DE LEITURA E ESCRITA COMO PRÁTICA SOCIAL Neiva Maria Jung Introdução... 79
4 8 PRÁTICAS DE LETRAMENTO NO ENSINO 1. Alfabetização versus letramento: qual o significado de cada concepção para a prática de sala de aula Uma análise de eventos de letramento na escola Algumas considerações finais Referências bibliográficas Anexos POR UMA PEDAGOGIA DA LEITURA: REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DO LEITOR Esméria de Lourdes Saveli Referências bibliográficas PRÁTICAS DISCURSIVAS: DESAFIO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA Maria Marta Furlanetto Introdução Análise do discurso e práticas discursivas A escola e as práticas discursivas Considerações finais Referências bibliográficas
5 PREFÁCIO 9 INSTITUIÇÃO ESCOLAR, MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA Djane Antonucci Correa Pascoalina Bailon de Oliveira Saleh (UEPG) Esta coletânea reúne textos de estudiosos de diferentes áreas, preocupados com o ensino formal da leitura e da escrita. Ela faz parte de um projeto iniciado em 2003, cuja elaboração foi motivada pela inquietação de um grupo de alunos do curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa que queriam conhecer mais sobre lingüística. Desde então, um grupo de professores dessa instituição tem se dedicado a realizar anualmente o CIEL Ciclo de Eventos em Lingüística 1. Desde a sua primeira edição, o principal compromisso do Ciclo tem sido com o ensino. Nesse sentido, uma das formas encontradas para alargar a sua 1. A partir deste ano, o evento manterá a sigla CIEL, mas passará a ser denominado Ciclo de Estudos em Linguagem. Além disso, suas edições serão bianuais.
6 10 DJANE A. CORREA E PASCOALINA B. O. SALEH contribuição foi disponibilizar na forma de livros, após seleção de uma comissão científica, os textos apresentados no evento em forma de conferências, participação em mesas e minicursos. Este livro, Práticas de letramento no ensino leitura, escrita e discurso, compõe a segunda etapa de nosso projeto. A definição da linha a ser seguida neste texto de apresentação coincidiu com a ampla divulgação na imprensa da decisão do MEC de rever o processo de alfabetização. Tal atitude, se, por um lado, dá fôlego à disputa entre os defensores do método fônico e aqueles que adotam uma visão construtivista, por outro, evidencia um problema que não se restringe ao processo de introdução da criança no mundo das letras. Estamos, na verdade, vivenciando uma crise no ensino de língua materna (que certamente se estende ao ensino como um todo), que poderíamos bem definir como uma crise de método. É isto que podemos concluir se relacionamos os textos que compõem este livro entre si e o conjunto deles com o debate agora oficialmente aberto pelo ministro Fernando Haddad. A palavra método tem sua origem no grego méthodos e diz respeito a caminho para chegar a um objetivo. Num sentido mais geral, refere-se a modo de agir, maneira de proceder, meio; em sentido mais específico, refere-se a planejamento de uma série de operações que se devem efetivar, prevendo inclusive erros evitáveis, para se chegar a determinado fim. No ensi-
7 INSTITUIÇÃO ESCOLAR, MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 11 no, o método tem se enquadrado na acepção mais restrita, mas não podemos perder de vista que, se, por um lado, ele é desejável e necessário, por outro, não pode ser um inibidor de conflitos e deve propiciar a reflexão, a autocrítica e o cotejamento com a vivência pessoal, caminho para a aquisição de conhecimento e a revisão da prática profissional. Assim, quando falamos de crise de método de ensino de língua, queremos pensá-la em dois vértices interrelacionados. O primeiro é o de que os métodos que vêm sendo propostos não têm apresentado soluções satisfatórias. Essa constatação, que pode parecer evidente, merece algum comentário para que fique mais clara a sua relação com o que, a partir de Britto, neste volume, estamos propondo como o segundo vértice do problema. ESMÉRIA DE LOURDES SAVELI, no texto Por uma pedagogia da leitura: reflexões sobre a formação do leitor, aponta, entre outros fatores, para a dificuldade de transposição da produção acadêmica para as práticas cotidianas do professor e a inexistência na escola de um projeto político-pedagógico que tenha a LEITU- RA como um dos eixos norteadores de uma prática pedagógica interdisciplinar como responsáveis pelo fracasso da leitura na escola. O resultado desse entrave redunda, segundo ela, no espaço privilegiado que a soletração, em detrimento da leitura, ocupa na escola. A autora, contrariamente à visão de decodificação, adota o ponto de vista construtivista, segundo o
8 12 DJANE A. CORREA E PASCOALINA B. O. SALEH qual a construção do sentido exige relações estabelecidas entre o texto, o objeto que lhe serve de suporte e a prática que dele se apodera. Assim, a aprendizagem da leitura não sé dá pela insistência nos mecanismos de decifração. Diversamente, constrói-se no confronto e na partilha de conhecimentos a partir dos quais a criança inventa um saber ler, que só pode ser inventado a partir das diversas maneiras de saber ler vigentes em seu meio. Correlativamente, nessa situação que se renova constantemente, o professor busca desenvolver o seu saber ajudar a aprender. Essa visão de aprendizagem se dá no interior de uma abordagem que vê a alfabetização como um processo de construção sociocultural de conhecimento e não de acúmulo de informação. O avanço que a concepção construtivista teria promovido é ressaltado por Telma Weisz (autora dos Parâmetros e assessora dos Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil, entre outros serviços prestados à educação) em artigo intitulado A revolução de Emília Ferreiro (Revista Viver Mente&Cérebro Coleção memória da pedagogia, n. 5: Emília Ferreiro: a construção do conhecimento, 2005). Ela afirma que os achados de Ferreiro acabaram afetando todo o ensino de língua, permitindo à lingüística encontrar espaço na escola e a produção de experiências pedagógicas suficientes para, a partir delas, desenvolver uma didática da língua que traz para dentro da escola os textos do mundo e que se preocupa em aproximar as práticas
9 INSTITUIÇÃO ESCOLAR, MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 13 de ensino da língua das práticas de leitura e escrita reais (Weisz, 2005:11). Se tomarmos como pertinente o que diz Saveli sobre a visão de leitura que persiste em boa parte das escolas e a própria decisão do MEC de revisar o processo de alfabetização (nem precisaríamos levar em conta os dados da nossa vivência profissional, freqüentemente confirmados pela literatura especializada e pela imprensa) somos levados a concluir que a proposta oficialmente vigente não tem surtido os efeitos desejados. Acreditamos, entretanto, que a exacerbação da querela entre defensores do método fônico e defensores de uma didática construtivista (letramento) tal como tem sido apresentada pela imprensa, acaba apenas por camuflar o aspecto mais básico (no sentido de base) da questão, que é o que estamos chamando de segundo vértice da crise. Este segundo vértice põe em questão a primazia do método no centro da contínua discussão acerca do que fazer na e da disciplina de língua portuguesa, para usar a expressão de LUIZ PERCIVAL LEME BRITTO, neste volume. Notemos que, embora a reflexão do autor não se refira especificamente à chamada alfabetização, esta também se encontra aí contemplada, uma vez que Britto defende que qualquer solução que se queira específica para o ensino de língua portuguesa não se fará com soluções isoladas ou disciplinares, por melhor que sejam as análises e propostas, mas apenas concatenada com um profundo rearranjo no sistema escolar e na educação disciplinar.
10 14 DJANE A. CORREA E PASCOALINA B. O. SALEH O autor não está defendendo o fim das disciplinas ou da organização do ensino em eixos disciplinares; apenas ressalva que o núcleo de orientação deve ser o processo geral e o debate intenso entre os profissionais que atuam na escola. Ou seja, é preciso fazer avançar a reflexão sobre a instituição escolar para, a partir daí, pensar eixos organizadores para uma educação transdisciplinar. Esse é o percurso que Britto empreende no texto O ensino da leitura e da escrita numa perspectiva transdisciplinar, sua contribuição para este livro. Nessa discussão, o fato de a crise atual ser também uma crise da lingüística traz à baila o já estabelecido e importante debate sobre a relevância social da lingüística (cf. A relevância social da lingüística linguagem, teoria e ensino), apesar do ainda vigente processo de expansão desse campo de estudos aqui no Brasil e dos inúmeros conceitos nele desenvolvidos ou ressignificados (gramática, variação lingüística, gênero, discurso, texto, só para citar alguns). Pensamos que, se, como propõe Britto, a possibilidade de uma solução para o ensino de língua materna depende, em primeira mão, de se repensar a instituição escolar, estudos desenvolvidos em diversos ramos da lingüística podem contribuir, e muito, para uma discussão conseqüente sobre o problema. Nessa perspectiva, podemos nos voltar para os demais textos que compõem este volume. Iniciemos pelo de NEIVA JUNG, Letramento: uma concepção de leitura e
11 INSTITUIÇÃO ESCOLAR, MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 15 escrita como prática social, cujas reflexões, que encontram apoio na sociolingüística interacional e na análise da conversação, enfatizam, como o próprio título indica, a leitura e a escrita como prática social. Nessa perspectiva, o conceito de texto escrito, de língua e de formas de interagir com o texto são culturalmente adquiridos na comunidade e negociados nos eventos de sala de aula. A autora defende ainda que a interação com o texto escrito, longe de configurar um processo unilinear de exploração de sentidos, é uma ação social e, portanto, nela são negociadas questões sociais mais amplas, como identidades sociais. A autora, entre outras contribuições, apresenta elementos para se pensar o espaço dos sujeitos nas relações sociais, especialmente na sala de aula. Esta é também uma das contribuições de MARIA MARTA FURLANETTO no texto Práticas discursivas: desafios no ensino de língua portuguesa, cuja reflexão, no entanto, é produzida no interior da análise do discurso de linha francesa. Assim, quando discute a escola e as práticas discursivas, Furlanetto afirma que há uma dimensão ideológica em todas as práticas, que orienta o comportamento no sentido da homogeneização, por isso verifica-se comumente uma forte sujeição àquilo que se estabeleceu e enraizou na sociedade: os sujeitos se submetem a algo, a alguém, a instituições, dadas as relações de poder que permeiam a sociedade. Esse estado de coisas explicaria a lentidão e o conflito envolvidos nos processos de transformação
12 16 DJANE A. CORREA E PASCOALINA B. O. SALEH do ensino em geral, mesmo quando a mudança é profundamente desejada. Um exemplo citado pela autora, que pode ajudar a entender esses processos, é a coexistência, nas escolas, da expressão produção de textos e do termo redação : Já é aceita e divulgada, nas escolas, a expressão produção de textos, que substitui redação e deveria substituir também os pressupostos da atividade tradicional de redigir. No entanto, o termo não apenas convive com o primeiro, como permanece o ritual que leva à redação, às vezes mais enfaticamente, outras vezes entrelaçado aos processos e metodologias recomendados pelas atuais propostas curriculares. Ou seja, produção de textos pode acabar funcionando como mais um rótulo novo para um produto antigo. Como afirma a autora, os analistas de discurso têm especial interesse pelas relações institucionais, já que é necessário compreender o funcionamento de uma instituição para justificar e fazer algum esforço para transformá-la. Dessa forma, uma discussão sobre a instituição escolar pode muito bem se beneficiar da contribuição de Furlanetto e de outros analistas do discurso que se interessam pelas práticas discursivas escolares (e conseqüentemente pelos textos que se produzem na e sobre a escola). Também nesse prisma podemos olhar para o texto de BAGNO, Norma prescritiva e escrita literária ou por que Clarice Lispector não poderia escrever no Estadão, elaborado a partir de uma perspectiva socio-
13 INSTITUIÇÃO ESCOLAR, MÉTODO E ENSINO DE LEITURA E ESCRITA 17 lingüística. Com efeito, a reflexão que aí se realiza, para além de situar claramente a diferença entre o que a tradição gramatical e as neogramatiquices prescrevem, o uso que o grande escritor faz da linguagem e o que existe efetivamente na língua falada e escrita pelos brasileiros comuns em suas interações sociais, permite pensar qual o papel ou posição da escola frente à tradição, à criação e ao efetivamente vigente não só em relação à língua, mas em suas diferentes manifestações, nos diversos setores da vida e da sociedade. Ao puxar esse fio, enfatizamos que as discussões travadas no interior da lingüística, mesmo aquelas que são resultado de pesquisa básica, podem oferecer mais que uma reflexão sobre o processo de leitura (e escrita) em si; elas fornecem elementos para repensar não só a questão metodológica do ensino de língua materna, como também a prioritária discussão sobre a instituição escolar, como defende Britto. Neste caso, permanece o desafio de se estabelecer e manter uma interlocução que abrigue os profissionais da escola e os estudiosos de diversas áreas. Esperamos que este livro possa contribuir para esse objetivo. Gostaríamos de agradecer aos autores que tão prontamente atenderam ao nosso convite para participar do CIEL e submeterem seus textos à apreciação da comissão editorial. Agradecemos também à Fundação Araucária pelo apoio financeiro ao projeto e aos colegas da UEPG, Aline Koteski Emílio, Elódia
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