O direito à participação juvenil
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- Jessica Franca Farinha
- 7 Há anos
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1 O direito à participação juvenil Quem nunca ouviu dizer que os jovens são o futuro do país? Quase todo mundo, não é verdade? Porém a afirmativa merece uma reflexão: se os jovens são o futuro do país, qual é o seu papel sociopolítico no presente? O que podemos considerar em relação a esta afirmativa? Parece-me que ela projeta para o jovem uma responsabilidade para o futuro e o trata como um parasita na sua realidade juvenil. Entender o jovem como futuro é, sobretudo, dar visibilidade à sua realidade no presente momento no qual ele constrói as bases para o tão falado futuro que, diferentemente do que muitos acreditam, não o aguarda pronto, mas será resultado de um trabalho de construção; construção esta na qual tanto o jovem quanto a sociedade devem participar ativamente. Por isso, é importante ter a participação de crianças, adolescentes e jovens em todos os espaços da cidade, inclusive naqueles onde ocorrem as tomadas de decisão. Nesse sentido, podemos definir o protagonismo juvenil como atuação cidadã dos jovens na luta por suas posições, crenças e valores. Trata-se de um tipo de intervenção no contexto social para responder a problemas reais onde o jovem é sempre o ator principal (Costa, 2000). Portanto, o protagonismo juvenil está diretamente ligado à participação de crianças, adolescentes e jovens na vida/mundo social. Trata-se de um processo educativo que viabiliza o exercício da cidadania entre as crianças, adolescentes e jovens. Na perspectiva do protagonismo, a participação social deste segmento se dá de forma democrática e, por esta via, eles são reconhecidos como sujeitos de direito. Mas tomemos cuidado com esse processo educativo, pois é preciso lembrar uma das reflexões de Paulo Freire em que ele alerta para o fato de que ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo em que vivem (1996: 68).
2 Trabalhar com jovens na perspectiva da educação e participação social exige um conhecimento prévio deste segmento; é preciso saber quem é este jovem, de onde vem e o que gosta ou não de fazer, quais são os laços que ele estabelece na família, na escola, na comunidade e no trabalho (independentemente de ele estar inserido ou não neste mercado). Educar para o protagonismo é enfatizar a capacidade dos jovens de sonhar, sentir e de saber se expressar com maior liberdade e criatividade. Entretanto, essa é uma tarefa árdua para educadores populares e sociais que atuam na área dos direitos e da cidadania. Isto porque é um desafio que propõe aos educadores pensar suas práticas diárias e, indo mais além, despedir-se da visão estereotipada da cultura do jovem, entendendo-os como seres singulares que trabalham a educação de forma horizontal e coletiva, e não hierárquica, como tradicionalmente se faz. Vale, ainda, ressaltar que protagonismo não é empreendedorismo. O empreendedorismo está ligado ao trabalho, emprego e renda, e embora saibamos que o trabalho é um direito inerente aos seres humanos, defendemos a ideia de que o protagonismo está ligado diretamente aos direitos e à cidadania fugindo, assim, à lógica do mundo capitalista que tende a converter tudo em mercadoria/ valor de troca. A promoção do protagonismo e garantia de espaço para a atuação protagônica de crianças, adolescentes e jovens na vida social não é uma discussão recente, mas vem ganhando cada vez mais espaço. Deste modo, é importante que a sociedade em geral e os educadores de modo mais específico fiquem alertas para este fenômeno no Brasil, pois esse é um movimento que veio para ficar. Não se trata de modismo, mas da adoção de uma postura aberta e reconhecedora do potencial que as novas gerações possuem de contribuir na discussão, definição e deliberação acerca de questões que lhes dizem respeito direta e/ou indiretamente. O educador que não perceber isso, além de sair perdendo, será atropelado pelo curso da história. Portanto, é mais que urgente uma mudança, tanto nas práticas de educação quanto na concepção de uma nova mentalidade acerca da cultura infanto-juvenil do século XXI.
3 Uma das preocupações pertinentes ao educador na tarefa de fomento à atuação protagônica é observar se a sua presença inibe ou incentiva a participação do jovem. Quando inibir, é importante ao educador se perguntar as possíveis razões para tanto e observar que laços as crianças, jovens e/ou adolescentes do grupo estabelecem consigo, a fim de avaliar as possibilidades e desenvolver mecanismos a partir dos quais consiga, de fato, ser reconhecido como um mediador do processo por todos os participantes, elemento fundamental para que sua atuação fomente o protagonismo de modo efetivo. Preparar o jovem para uma Participação Protagônica significa formá-lo chamando sua atenção para a necessidade de definir, com clareza, as bases de sua ação por meio do exercício de responder a algumas questões: qual a situação problema? o que pretendemos fazer? quando começará e terminará a ação? onde acontecerá (local e área)? quem ficará responsável pelo quê? como as atividades serão organizadas? quanto de recursos físicos, materiais, financeiros e humanos serão utilizados para execução da atividade em foco? (Costa, 2000). A formação para o planejamento de ações a serem protagonizadas pelos jovens é um dos elementos necessários para que se atinja o objetivo da promoção de sua participação ativa na vida social. Nesse sentido, as perguntas elaboradas pelo autor Antonio Carlos Gomes da Costa, que apresentamos acima, constituem uma das possibilidades de organização da ação protagônica infanto-juvenil e não uma regra, pois é preciso pensar principalmente os recursos financeiros e físicos para que a ação possa sair da esfera do planejamento, passado ao campo da execução. É possível que as ações protagônicas sejam executadas sem a presença do educador, e quando isso acontece é fundamental planejar todos os recursos e passos a serem dados pelos agentes para que a ação não seja comprometida e nem ocorra a sua desmobilização. Ou seja, no processo de promoção do protagonismo, é necessário pensar a sustentabilidade do público infanto-juvenil, pois muitas vezes as crianças, adolescentes e jovens deixam de priorizar fazeres importantes em suas vidas para se entregarem à participação. Assim, é
4 fundamental que sua ação protagônica seja objetiva e efetiva, sem gerar frustrações tanto nos agentes que irão executá-las, quanto nos educadores que irão mediar o processo. Quando o educador acompanha essas mobilizações em torno do protagonismo, é importante que se posicione diante da situação problema e, sempre que necessário, motive os agentes para avaliarem as ações. Seu papel também é importante no sentido de dar visibilidade às ações executadas. Para isto, existem várias estratégias possíveis, dentre as quais sugerimos a construção da linha do tempo.4 Trata-se de um mecanismo que possibilita a visualização ampla da ação como um todo, quando a mesma se apresenta confusa: o percurso da ação é desenhado em uma linha horizontal e ali se coloca todo o planejamento que antecede a ação. Deste modo, torna-se possível a todos os participantes visualizar o que está sendo feito, bem com as opções/decisões tomadas, o que lhes permitirá compreender as ações em cuja execução eles estão participando/contribuindo ativamente. Para o exercício da participação social é preciso que o jovem se reconheça como sujeito de direitos, principalmente do direito à expressão e opinião. Ele também precisa compreender a importância dos princípios básicos da cidadania para, a partir daí, perceber seu potencial de transformação social; tais princípios são referentes ao conhecimento em direitos humanos. Vale ressaltar, nesse contexto, a necessidade de os envolvidos desenvolverem o senso de responsabilidade pessoal e compromisso social no que se refere ao destino coletivo. Assim, reforçamos a visão de Costa (2000), para quem o exercício da cidadania vem antes da participação social, ou seja, é necessário um trabalho de esclarecimento e (re)conhecimento dos direitos e dos deveres a eles correspondentes para que o jovem possa exercer sua participação, percebendo a importância de suas intervenções na elaboração e/ ou implementação de políticas públicas. Por fim, é importante lembrar que o protagonismo é um conceito em construção e não uma forma engessada de estímulo à participação de crianças, adolescentes e jovens na vida
5 social. Contrariamente, trata-se de uma postura que, como tal, deve ser construída coletivamente, considerando-se as especificidades do público envolvido, do contexto no qual as ações serão executadas, bem como a natureza da ação propriamente dita. Referência Bibliográfica Marques WEU. O direito à participação juvenil. In: Cunha EP, Silva EM, Giovanetti MAGC. Enfrentamento à violência sexual infanto-juvenil: expansão do PAIR em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG; p
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