INCLUSÃO LINGUÍSTICA: LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA NO AEE
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1 INCLUSÃO LINGUÍSTICA: LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA NO AEE Rosimeire Aparecida Moreira Peraro Ferreira Campus Municipal de Atendimento à Pessoa com Deficiência/SME/PMU Práticas Pedagógicas Inclusivas Palavras-chave: Educação Especial, Projeto didático, Leitura, Oralidade, Escrita 1. Introdução Este trabalho tem como objetivo apresentar um projeto didático realizado com um aluno da Educação de Jovens e Adultos no AEE Atendimento Educacional Especializado, de uma instituição regular de ensino, da cidade de Uberlândia MG. O aluno que teve paralisia cerebral tem deficiência física, é cadeirante, com comprometimento motor severo dos membros superiores e inferiores, dificuldade de articulação da fala e baixa visão. De acordo com as pesquisas a criança com deficiência motora apresenta a coordenação manual e a locomoção impedidas, não vivenciam o brincar de escrever que é tão importante. As situações cotidianas de interação com a leitura e a escrita também precisam ser garantidas às crianças cadeirantes ou que apresentam distúrbios de coordenação manual. Nesse contexto, o aluno em questão produz narrativas e outros gêneros na oralidade com um repertório linguístico diversificado. Não escreve e, devido ao comprometimento motor severo, provavelmente não fará uso da tecnologia da escrita convencional. Suas produções são registradas pela professora que faz o papel de escriba. O projeto didático construído com o aluno teve por finalidade o desenvolvimento de práticas discursivas orais e escritas estimuladas a partir da leitura de uma obra de literatura infantil com vistas à inclusão linguística do sujeito nas práticas escolares de ensino aprendizagem da língua portuguesa. O relato que aqui se apresenta busca mostrar que, embora as práticas de alfabetização e letramento de alunos com deficiências possa não ocorrer no tempo idealizado da sala de aula regular, podem ser legitimadas por meio de processos
2 pedagógicos que permitam ao aluno a tomada da palavra, o protagonismo do sujeito que diz ainda que mediado por outra pessoa ou por recursos de comunicação alternativa. 2. Desenvolvimento Neste breve relato intentamos apresentar um projeto didático em que a partir do livro de literatura infantil, intitulado Rosaura de Bicicleta, de Daniel Barbot traduzido por Ana Maria Machado propôs-se um trabalho que visava oportunizar ao aluno os direitos de aprendizagem da Língua Portuguesa tais como ler e compreender textos lidos por outras pessoas, antecipar sentidos e conhecimentos prévios, localizar informações explícitas, realizar inferências, estabelecer relações lógicas, interpretar frases e expressões, relacionar textos verbais e não verbais construindo sentidos para os textos lidos pelo professor e/ ou com autonomia, planejar a escrita considerando o contexto de produção com a ajuda de um escriba, produzir texto com a ajuda de escriba, conhecer e produzir diferentes suportes textuais no caso o livro infantil, reconhecer gêneros textuais e seus contextos de produção entre outros. Assim como os direitos de aprendizagem Matemática como identificar números nos diferentes contextos em que se encontram em suas diferentes funções de indicador de quantidade, posição, medidas e grandezas, comparar comprimento e grandezas da mesma natureza, selecionar e utilizar instrumentos de medida apropriados à grandeza a ser medida, ler e interpretar informações, formular questões sobre aspectos familiares que gerem pesquisas e observações para coletar dados quantitativos e qualitativos, interpretar e elaborar listas buscando dessa forma, consolidar um trabalho interdisciplinar que levasse o aluno a construir conhecimentos em torno da leitura, da oralidade, da escrita e de conceitos matemáticos fundamentais para a alfabetização e letramento. O livro Rosaura de bicicleta conta a história de Dona Amélia, uma mulher que tem em casa muitos animais entre eles uma galinha chamada Rosaura. O aniversário de Rosaura se aproxima e ela pede de presente a Dona Amélia uma bicicleta. Como Dona Amélia vai resolver esse problema? Dona Amélia não encontra a bicicleta para galinhas para comprar e faz a encomenda a um forasteiro que chega à cidade. Nessa empreitada o forasteiro precisa lançar mão de medidas e cálculos para construir o presente de Rosaura. No dia da festa de aniversário, Dona Amélia dá o presente a Rosaura que,
3 como agradecimento, passa a ir de bicicleta todas as manhãs comprar pão e leite na venda. O trabalho foi desenvolvido por meio do método de observação e registro. Após a leitura do texto para o aluno e com o aluno fizemos as seguintes perguntas: que problema Dona Amélia tem a resolver? Que solução Dona Amélia encontrou para o problema? A partir das respostas do aluno seguimos com atividades de compreensão do texto para extrairmos as ideias que pudessem remeter a conceitos matemáticos como: quantos bichos Dona Amélia tem em casa? Para responder a essa pergunta seria necessário somar um cachorro, um gato, um papagaio, dois canários, uma tartaruga e uma galinha totalizando sete animais, informação que não está explícita no texto. O texto apresentava além de números cardinais, a possibilidade de trabalhar também o numeral ordinal que aparece na passagem - Mas isso é impossível! Onde já se viu uma galinha montada numa bicicleta? Isso mesmo disse Rosaura. Vou ser a primeira. Chamamos a atenção do aluno para o numeral perguntando: qual time é o primeiro colocado do campeonato brasileiro? Em se tratando de uma prática discursiva oral era necessário estabelecer conexões com temas pelos quais o aluno estava constituído. O livro apresentava ainda a possibilidade de abordar a questão da medida. Como no recorte Bicicleta para galinha é coisa muito séria. Tem que ser feita sob medida. Preciso saber a altura e a largura das asas. Dessa feita, nas aulas seguintes iniciamos um processo de medição como as medidas da altura do aluno e de seus colegas de sala, da circunferência da roda da cadeira, do comprimento e largura da bandeja da cadeira entre outras, de caráter significativo para a aprendizagem do aluno. Em relação às atividades linguísticas, ancoradas na perspectiva dos gêneros textuais, propusemos a elaboração de uma lista de convidados para o aniversário da Rosaura, uma lista de comidas e bebidas para servir na festa, a receita do bolo, o convite para a festa e um bilhete de agradecimento de Rosaura à Dona Amélia além de uma biografia do aluno inspirada no texto sobre o autor do livro. A escolha dos gêneros textuais produzidos foi planejada tendo como referência os direitos de aprendizagem que enfatizam a importância de se planejar a escrita e produzir texto considerando o contexto de produção com a ajuda de escriba.
4 Os resultados do projeto didático puderam ser compartilhados por meio de produções do aluno registradas pela professora. Dentre os textos produzidos em diferentes gêneros destacamos a sua biografia que, em última instância, materializou na escrita a voz deste aluno ávido, não só pelo acesso à escola mas, sobretudo, pelo direito de aprender o que nos remete a um princípio básico da inclusão, o sentimento de pertencer, de participar ativamente das relações que se estabelecem nesses espaços. Para exemplificar citamos a biografia. O texto foi planejado e produzido com o objetivo de levar o aluno à produção na terceira pessoa do discurso (ele). O texto foi reescrito na primeira pessoa (eu) deslocando-se para uma autobiografia. I. S. G., nasceu em abril de 1998, em Santo Antônio do Amparo, Minas Gerais. Ainda pequeno mudou para Lavras e aos 6 anos para Uberlândia. I. frequentou lugares como AACD, APAE, Escolas Especiais e hoje é aluno do Campus Municipal de Atendimento à Pessoa com Deficiência. I. sofreu muito quando era pequeno mas nem por isso deixou de ser um garoto feliz e alegre. Ele se sente um privilegiado porque anda numa cadeira de rodas e nisso I. aprendeu que ser cadeirante é o máximo. Ele usa óculos e tem 3 cachorros que o ama muito. 3. Conclusões Ao finalizar esse relato cabe ressaltar que, entendemos que a leitura literária não deve ser vista como pretexto para atividades pedagógicas. A leitura literária é em si mesma, uma prática que permite ao sujeito construir aprendizagens em torno daquilo que leu ou ouviu embora, essa prática pedagógica tem mostrado que o trabalho interdisciplinar no qual o texto literário, a língua e conceitos de outras áreas do conhecimento como a matemática, a história, a geografia e as ciências podem ser articulados com vistas à produção de sentidos para as aprendizagens escolares. A mediação da leitura e da escrita com ajuda de escriba para alunos com impedimentos motores tem-se mostrado em nossa prática uma alternativa eficiente para o ensino e aprendizagem da língua portuguesa nos anos iniciais e na Educação de Jovens e Adultos. Cabe lembrar que a língua é apresentada por meio de textos em diferentes gêneros de diferentes áreas do conhecimento.
5 Desse modo, projetos didáticos envolvendo as práticas de escuta, oralidade, leitura e escrita, autônomas ou não, oportunizam aos alunos com e sem deficiência(s) a consolidação de aprendizagens fundamentais para a alfabetização e letramento indispensáveis para o exercício da cidadania. Referências BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Pacto nacional pela alfabetização na idade certa. Caderno de Educação Especial: a alfabetização de crianças com deficiência: uma proposta inclusiva. Brasília: MEC, SEB, CAVALCANTE, Tícia C. F. A pessoa com deficiência motora frente ao processo de alfabetização. Caderno de Educação Especial: a alfabetização de crianças com deficiência: uma proposta inclusiva. Brasília: MEC, SEB, 2012.
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