* Da COPPE (Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia) - UFRJ. Um estudo ergômico das tarefas profissionais do dentista. 1.

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1 Um estudo ergômico das tarefas profissionais do dentista FÁTIMA JANINE GAlO MARIA GERTRUDES BERNARDES * 1. Objetivo; 2. Profissão do dentista; 3. Postura e movimentação; 4. Possibilidades de racionalização do trabalho; 5. Conclusão; 6. Resumo. 1. Objetivo Este estudo faz levantamento e análise das tarefas profissionais do dentista, abrangendo: estud'os de movimentos e tempos; posturas usadas no trabalho. As informações co1etadas poderão ser utilizadas para racionalizar o trabalho do dentista, aumentando o rendimento e o conforto, com redução de fadiga e doenças profissionais. Além disso, fornecerão subsídios para projetos de equipes mais adequados às condições de trabalho ao dentista. 2. Profissão do dentista A classe liberal de maior índice de mortalidade, dentro dos grupos profissionais, é a dos dentistas. Geralmente sofrem de problemas como: dores nas costas, na * Da COPPE (Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia) - UFRJ Arq. bras. Psic. apl., Rio de Janeiro, 27(1): , jan./mar.1975

2 cabeça, fadiga nos olhos, braços e pés. Estão sujeitos a distúrbios circulatórios, pressão alta, varizes, artrite no pescoço e nas mãos. Muitos dentistas apresentam escoliose, bursite nos ombros e cotovelos e inflamações nos tendões e juntas. Como todos esses problemas são praticamente comuns à maioria dos dentistas, torna-se evidente que os hábitos e ambiente devem ser totalmente reavaliados. 3. Postura e movimentação Observando-se o atendimento dentário, pode-se verificar que, em geral, a área de maior concentração de movimentos e tempo é aquela que inclui: boca, ferramentas (seringas, brocas, instrumental) e a bancada. A maior parte dos dentistas assume a seguinte postura: cabeça baixa, as duas mãos na boca do paciente, muitas vezes um ou dois cotovelos acima do nível do ombro, o tórax se projetando em direção ao paciente.. O alinhamento que permite ao sistema muscular funcionar de maneira eficiente quando na posição de pé, é aquele no qual os segmentos do corpo estão superpostos uns sobre os outros na coluna vertebral, de maneira que o peso fique localizado no centj;o da base do suporte. Quando alguém está de pé, coi? a maior parte do peso no pé direito, com a perna esquerda inativa, a pélvis se abaixa do lado esquerdo, e o ~órax volta-se para o lado direito para manter o equilíbrio. Essa posição é prejudicial, porque a base do suporte é estreita e muito peso recai sobre o pé direito. A linha que conduz o peso não passa diretamente sobre as vértebras do corpo, e a ação de equilíbrio normal do grupo de músculos opostos não se mantém. Essa posição "cotovelo alto", tão comum nas atividades com a cabeça baixa, além de necessitar de músculos para os pequenos e complicados movimentos, ainda requer outros músculos para levantar o braço e ferramenta. O principal grande músculo nesse movimento é o deltóide, que é particularmente suscetível a danos, causando dores e destroncamento dos ombros. A flexão da palma da mão, frequentemente realizada pelo dentista, é uma posição antifuncional. A constituição da mão é de tal forma que, quando não está curvada atrás do pulso, os dedos relaxam e se curvam numa posição natural de agarrar. Quando a mão está curvada sobre a parte da frente da palma (flexão da palma) seus dedos precisam se esticar, e o ato de agarrar se torna débil, o esforço provoca o estiramento do músculo e conseqüente cãibra. O dentista só consegue manter essa postura destorcida por um período prolongado, rejeitando os sinais de cansaço e stress do subconsciente, em conseqüência de sua intensa concentração no trabalho que executa; isso acarreta uma sobrecarga dos músculos e juntas. 188 A.B.P.A. 1/75

3 Figura 1 o dentista está de cabeça baixa, na posição de 11 h, com a espinha cervical inclinada num ângulo de 900. Um estudo ergonômico das tarefas profissionais do dentista 189

4 Figura 2 Nos quatro exemplos de postura os dentistas estão à direita do paciente, de cabeça baixa e suas espinhas cervicais inclinadas em ângulos que variam de 450 a 900. O tamanho da base, a posição dos pés e a distribuição do peso também variam. A c B estão na posição de 11 h, C c D estão a trás de seus pacientes. No equipamento convencional, para que o dentista realize um trabalho preciso, ele permanece em pé, inclinando-se sobre o paciente, para conseguir uma visão direta da boca. Essa visão direta dos dentes é preferida, pois, quando se usa broca de alta rotação, a água da seringa embaça totalmente o espelho. Mesmo quando o equipamento é mais moderno, por vício ou falta de orientação, o dentista, apesar de sentado, continua a assumir posições erradas, para se aproximar da boca. A fadiga física do dentista não é, geralmente, devida ao excesso de exercício físico, mas sim devida a uma complexidade de fatores. Um deles é justamente a postura errada que requer a contração demorada de certos músculos para sustentar o corpo. Isso acontece quando o corpo se coloca nas posições estranhas assumidas pelo dentista, para que possa enxergar dentro da boca e na área específica que está trabalhando. 190 A.B.P.A. 1/75

5 Figura 3 o dentista está sentado, numa posição de cabeça baixa, ombros curvados, espinha cervical excessivamente inclinado, joelhos e dedos do pé para fora. O mocho está muito alto, e o encosto não é usado. O único ponto certo na figura é que o cotovelo esquerdo está baixo. Uma estatística de seguro de vida revelou que, em qualquer atividade, a posição sentada prolonga em 17% a vida do operador. Estudos industriais mostraram que um trabalhador sentado usa 27% menos energia do que um trabalhador em pé. Isso significa que um dia de trabalho de oito horas sentado, consome tanta energia quanto um dia de seis horas de trabalho em pé. Entre os dentistas, muitos sentem seus problemas circulatórios agravados, como veias varicosas nas pernas. A circulação é beneficiada quando o dentista trabalha sentado. Em trabalho estático prolongado, em pé, a pressão diastólica é muito maior do que quando sentado corretamente. Esse é um índice bastante importante para a função circulatória. Não basta estar sentado, é preciso estar numa posição correta. A posição sentada mais comum entre os dentistas é a de pernas abertas, sentado na ex tremi- Um estudo ergonômico das tarefas profissionais do dentista 191

6 dade do mocho, joelhos separados, pés com o calcanhar no chão e os dedos para cima. A tendência é manter essa posição durante todo o trabalho, a não ser quando vem à frente do paciente e põe os joelhos juntos. Essa posição é maléfica, porque os músculos adutores das coxas estão estirados, o que provoca uma concavidade ao longo da parte interna das coxas e há simultaneamente um enrijecimento dos músculos da parte baixa das costas, provocando uma curvatura de sua parte interna, o que produz lordose. O abdômen relaxa, a pélvis pode pender em tal extensão que as tuberosidades esquiáticas não suportem mais o peso do tronco, que então é sustentado pelo espaço do abdômen distendido e outros tecidos delicados. Além disso os ossos e juntas das extremidades inferiores estão fora de alinhamento, não têm recursos para suportar o peso, conseqüentemente forçando as juntas do quadril e aumentando o cansaço da parte baixa das coxas. Um dos fatores determinantes de uma boa postura sentada é o mocho, o qual deve suportar todo o peso do dentista de tal forma que, mesmo levantando o pé do chão, ele mantenha seu equilíbrio no mocho. Para isso é necessário sentar suficientemente baixo, as coxas devem estar paralelas ao chão, a parte de baixo das pernas perpendiculares ao chão, os pés chapados no chão. Em suma o mocho deve: a) suportar o máximo possível a área das tuberosidades esquiáticas e coxas; b) ser delineado para dar suporte máximo aos lados e parte de trás do assento; c) ser delineado de forma a eliminar as pressões embaixo das pernas na sua parte frontal; d) ser macio o bastante, oferecendo conforto por períodos prolongados; e) suportar a parte de baixo das costas, e o abdômen; f) ser completamente móvel (não ligado à cadeira), de deslize fácil; g) fornecer suporte para o cotovelo direito em algumas posições de operação; h) ser ajustável na altura, em incrementos pequenos (1/2"), fornecendo ao operador uma altura exatamente correta. O tempo que o dentista deverá passar sentado ou em pé, pode ser um assunto individual e fisiológico, não deve ser uma recomendação universal. É desejável mudar de posição freqüentemente, para evitar a lentidão da circulação, rigidez e tensão dos músculos. Thorndike definiu que para proteger a mente, o corpo precisa de pausas para descanso, sono e freqüentes mudanças de posição e movimento. Estudos de tempo, movimento e esforço revelaram a necessidade de movimentos simplificados e reduzidos, para se obter um trabalho rápido, eficiente e confortável. É preciso compreender que não se recomenda reduzir a atividade física, através do dia, o que seria prejudicial ao dentista, pois ele necessita de exercício físico. O que se deve fazer é minimizar os movimentos que envolvam todo o corpo, desde o dedo até o tronco, pois obrigam o dentista a adotar uma posição bastante incorreta. Esses movimentos podem parecer insignificantes se considerados separadamente, mas, multiplicados muitas vezes ao dia, contribuem para aumentar a fadiga, reduzir a eficiência e diminuir a produtividade. 192 A.B.P.A. 1/75

7 4. Possibilidades de racionalização de traballio Alguns fatores podem contribuir para a simplificação dos movimentos: bandejas pré-preparadas, com instrumental necessário a cada tipo de operação. Layout eficiente, que permita ao dentista mudar de posição sem prejudicar sua postura, colocando os componentes do consultório ao seu alcance. Deve-se dar especial atenção ao tráfego dentro do consultório, permitindo ao dentista e ao pessoal auxiliar, se for o caso, uma movimentação livre, sem o perigo de choques com os componentes. O dentista deve poder estender simplesmente o braço, sem curvar o tronco, sendo o instrumental posto ao seu alcance pelo pessoal auxiliar treinado; o operador deve estar sentado, não havendo necessidade de virar-se constantemente do seu campo de trabalho. Entretanto devem ser evitados os arranjos que tornem imprescindível a presença da assistente em tempo integral. 5. Conclusão No Brasil, segundo recente pesquisa realizada por uma das maiores empresas de equipamento dentário, cerca de 75% dos dentistas não tem assistente, e 55% não pretende ter. Isso significa que a racionalização do trabalho fica mais ou menos restrita a arranjos eficientes, e equipamentos cientificamente projetados para a realidade brasileira atual. 6. Resumo Nosso estudo concentra-se principalmente na análise das tarefas profissionais do dentista. Além disso, são examinados outros fatores como desenho e arranjo da equipe, que influem no desempenho. As informações coletadas poderão ser utilizadas para racionalizar o trabalho do dentista e projetar equipes mais adequadas. LIVRARIAS DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS Guanabara Praia de Botafogo, C. P ZC-05 - Te!.: R. 110 Av. Graça Aranha lojas H e C - Tels.: e São Paulo Av. Nove de Julho Te!.: C. P Brasílía S.Q Bloco A - Loja 31 - Te!.: As edições da Fundação Getulio Vargas são ainda encontradas nas principais livrarias do País. Os pedidos de Reembolso Postal devem ser dirigidos à Editora da Fundação Getulio Vargas, Praia de Botafogo, C. Postal ZC-05 - Rio de Janeiro _. RJ. Um estudo ergonômico das tarefas profissionais do dentista 193