A CRIANÇA, A LITERATURA E A CRIATIVIDADE: TRABALHANDO COM HISTÓRIAS E CONTOS DE FADAS NO ENSINO FUNDAMENTAL

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1 9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 1 ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções) ( ) COMUNICAÇÃO ( ) CULTURA ( ) DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA ( x ) EDUCAÇÃO ( ) MEIO AMBIENTE ( ) SAÚDE ( ) TRABALHO ( ) TECNOLOGIA A CRIANÇA, A LITERATURA E A CRIATIVIDADE: TRABALHANDO COM HISTÓRIAS E CONTOS DE FADAS NO ENSINO FUNDAMENTAL Déborah Scheidt 1 RESUMO Neste trabalho relatamos o desenvolvimento de oficinas de contação de histórias e contos de fadas ministradas no ano de 2010 para professores de 4º ano do ensino fundamental das escolas municipais da cidade de Ipiranga,. As oficinas fizeram parte do projeto Artimanhas da palavra no texto: poesia, prosa e teatro, do Programa Universidade sem Fronteiras. O objetivo geral do projeto Artimanhas foi incentivar a inclusão de textos literários nos conteúdos programáticos do ensino fundamental para aquela faixa etária, como incremento para a produção de textos, focando na criatividade e no desenvolvimento de propostas diferenciadas de escrita. A contação de histórias e os contos de fadas proporcionaram uma oportunidade de se pensar o caráter distintivamente inventivo do texto em prosa. O objetivo principal das oficinas era encorajar a sensibilização do aluno para o texto literário em prosa, o gosto pela leitura de textos literários e uma produção textual mais significativa. Na primeira oficina os professores participantes tiveram uma introdução à arte de contar histórias e estudaram textos teóricos sobre o tema, além de analisar obras da literatura infantojuvenil, refletindo sobre suas adequação para contação de histórias e produção textual. Na segunda oficina discutiu-se mais especificamente o uso de contos de fadas e de suas releituras contemporâneas no ensino fundamental. Os professores participantes elaboraram projetos envolvendo contação de histórias e contos de fadas, colocaram tais projetos em prática em suas salas de aula e relataram os resultados obtidos. Além disso, vários dos projetos foram também apresentados publicamente durante o Festival Artimanhas, que ocorreu no dia 28 de novembro de 2010, promovendo a integração dos participantes do projeto com a comunidade local. PALAVRAS CHAVE contação de histórias; contos de fadas; ensino. 1 Doutoranda em Estudos Literários pela UFPR, Professora Assistente do Departamento de Línguas Estrangeiras Modernas da UEPG, deborahscheidt@yahoo.com.br.

2 9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 2 Introdução O projeto Artimanhas da Palavra no Texto: poesia, prosa e teatro foi desenlvovido por uma equipe do Curso de Letras da UEPG na cidade de Ipiranga nos anos de , como parte do Programa Universidade Sem Fronteiras e do subprograma Apoio às Licenciaturas. O objetivo principal era traqbalhar diretamente com os professores do 4º ano do ensino fundamental das escolas urbanas e rurais do município de Ipiranga, PR e encorajar a inclusão de textos literários nos programas de ensino fundamental, mais escpecificamente, de alunos do 4º ano, com vistas, principalmente, a incrementar a produção textual de tais alunos, focando na criatividade e no desenvolvimento de propostas diferenciadas de escrita. Para esse fim foram desenvolvidas várias oficinas, cujo público-alvo eram os professores de 4º ano, voltadas aos gêneros poesia, prosa e teatro. Quanto às oficinas relacionadas à prosa, que ficaram a cargo da autora desta comunicação, selecionaram-se os temas contação de histórias e contos de fadas. A contação de histórias proporciona uma oportunidade de se pensar o caráter distintivamente inventivo do texto em prosa, enquanto que o sentido da leitura e uso pedagógico dos contos de fadas nas escolas vem sendo debatido desde o século XIX, sendo que hoje a relevância desse tipo de manifestação cultural é amplamente reconhecida e discutida nos meios acadêmicos. Neste trabalho relatamos o desenvolvimento e os resultados dessas oficinas. Objetivos das oficinas de contação de história e contos de fadas Objetivo geral: Promover uma reflexão entre os professores participantes sobre a contação de histórias, para que esta sirva como uma maneira de sensibilizar o aluno do ensino fundamental para o texto literário em prosa e para os contos de fada, promovendo o gosto pela leitura de textos literários e de contos de fadas, e proporcionando oportunidades para uma produção textual mais significativa. Objetivos específicos: Pesquisar técnicas de contação de histórias nas diversas fases da apresentação de uma história: introdução, desenvolvimento, e consolidação (esta última principalmente por meio da produção textual). Refletir sobre o papel dos contos de fadas e de suas reescritas contemporâneas no trabalho pedagógico. Analisar obras de literatura infantil e contos de fadas quanto à sua adequação, em termos de forma e conteúdo, para a contação de histórias e para produção textual. Planejar e produzir materiais didáticos relacionados às histórias e contos selecionados. Preparar os alunos para participarem como contadores de histórias no festival de encerramento, desenvolvendo sua percepção literária, criatividade e expressão oral e escrita. Apresentar atividades relacionadas à contação de histórias à comunidade por ocasião do festival de encerramento. Apresentar no festival de encerramento os textos escritos produzidos pelos alunos e outras produções artístico-culturais decorrentes do contato com as histórias e contos e do trabalho dos professores envolvidos no projeto. Metodologia As oficinas foram estruturadas de forma semelhante: uma introdução à arte de contar histórias e aos contos de fadas, seguida de leitura e compartilhamento de textos teóricos sobre os temas (vide as referências sobre textos teóricos abaixo). Discutiu-se a origem da arte de contar histórias, sua finalidade, os diversos modos de registrá-las através dos tempos e a relação da ficção e da realidade (Gotlib, 1998). Na oficina sobre contos de fadas apresentou-se uma definição para contos de fada e o ingresso dessa modalidade de literatura popular, após certa resistência, no âmbito da educação escolar (Bottigheimer, 2004). Abordaram-se teorias de cunho psicológico sobre contos

3 9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 3 de fadas (Bettleheim, 1978; Chauí, 1984) e as análises culturais que floresceram nos anos 70, encorajando uma série de releituras paródicas desses textos (Shippey, 2003). A comparação entre as versões originais e as contemporâneas, proporcionam importantes pontos de partida para discussões e para o trabalho textual na sala de aula. Após a análise dessas obras e reflexão sobre sua adequação para o trabalho pedagógico (vide as referências sobre textos literários abaixo), os professores reuniam-se em grupos e elaboravam pré-projetos envolvendo os temas estudados, que iam sendo burilados no decorrer do semestre, sob orientação, dos professores da equipe Artimanhas. As instruções para elaboração dos projetos foram as seguintes: 1. Escolha uma história/obra, dentre as apresentadas na oficina ou outras à sua escolha (nesse caso discuta a sua escolha com a equipe do Projeto Artimanhas). É possível que mais de um professor escolha a mesma obra, desde que o trabalho seja realizado em conjunto. 2. Planeje as atividades que serão desenvolvidas por você e seus alunos nas fases de introdução, desenvolvimento e consolidação. 3. A natureza das atividades das duas primeiras fases fica à escolha do professor. A última fase (consolidação) deverá ser em forma de produção textual por parte dos alunos. Os textos resultantes serão exibidos no festival de encerramento. 4. Decida o que será apresentado por seus alunos, em termos de contação de histórias, no festival de encerramento. 5. Pratique e ensaie com os alunos. Se houver necessidade de recursos extras que não estejam disponíveis, discuta com a equipe do Projeto Artimanhas. 6. Os alunos devem estar prontos para apresentar seus trabalhos em novembro. Também foram discutidas algumas ideias de atividades possíveis de serem incluídas nos projetos, tais como: Explorar o mundo da fantasia propriamente dito. Tudo é possível numa história, desde que haja verossimilhança interna. Explorar a interdisciplinaridade. As histórias podem proporcionar caminhos de entrada para outras áreas do conhecimento (arte, geografia, música, matemática, história, biologia, etc.) Explorar a multiculturalidade, em histórias de outras regiões do Brasil e outros países. Explorar o contexto da produção, pesquisar informações sobre o autor/a autora e o que o /a levou a escrever a obra... Explorar situações práticas do mundo infantil: medos, alegrias, problemas, soluções, questões éticas, inclusão social... Explorar arquétipos: pesquisa e discussão sobre elementos e temas que se repetem no decorrer do tempo e em várias culturas. Ex.: a situação da criança órfã, a dama em perigo a ser salva pelo príncipe, a menina pobre que na verdade é uma princesa, o amor impossível, etc. Explorar variações inventivas do texto. Os alunos reescrevem a obra, produzem livros, escrevem versões com informações falsas para serem detectadas pelos colegas, colocamse como personagens no enredo, trazem a história para outra época, escrevem versões com lacunas para serem preenchidas pelos colegas, transformam o gênero da história, ex: de verso para prosa, transformar a história em carta, diálogo ou artigo de jornal, mudar o narrador / ponto de vista para um personagem secundário, entrevistar o protagonista, etc. Analisar e escrever sobre as partes do enredo: apresentação da situação, complicação do enredo, clímax, resolução da trama, etc. Analisar uma crítica literária sobre uma outra história do conhecimento dos alunos e propor que eles escrevam suas próprias críticas, seguindo alguns passos: nome da obra, autor, ilustrador, ano de publicação, editora, resumo da história, personagem principal, personagens secundários, pontos positivos e negativos, opinião pessoal. Explorar questões linguísticas. ***Cuidado! Contar histórias não pode ser um mero pretexto para ensinar gramática, vocabulário e outras questões formais. Quando trabalhar com esses aspectos, tome cuidado para não perder de vista a magia do texto. Brincadeiras diversas: telefone sem fio, jogue a bola e continue a história, passe a ilustração e continue a história, ouvir a história e desenhar os personagens e situações, fazer mímica de certas cenas, caça ao tesouro para descobrir detalhes da história ainda não narrados... Os projetos eram então colocados em prática nas salas de aula. Nos próximos encontros os resultados obtidos eram relatados e compartilhados com o grupo. Além disso, vários dos projetos artístico-culturais e dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos foram também apresentados

4 9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 4 publicamente durante o Festival Artimanhas, que ocorreu no dia 28 de novembro de 2010, promovendo a integração dos participantes do projeto com a comunidade local. Resultados O resultado mais significativo foi que, de maneira geral, os professores participantes reportaram um aumento do interesse pelos livros de literatura infanto-juvenil das bibliotecas das escolas e também do acervo das salas de aula, após terem aplicado algumas das técnicas discutidas nas oficinas. Uma das professoras participantes descreveu, por exemplo, a seguinte atividade: cada aluno escolhia um livro de literatura para levar para casa. Na próxima semana, ele/ela narrava a história, pausando, porém, a narração momentos antes do desfecho. Isso fazia com que os colegas quisessem também emprestar o livro para conhecer o final da história. Assim, o volume de livros emprestados da biblioteca da sala aumentou significativamente. Outra professora reportou um maior interesse dos alunos pelo gênero trágico, após ter discutido o tema acompanhando a leitura do conto O gigante egoísta, de Oscar Wilde. Vários professores declararam ter encontrado na literatura, uma porta de entrada para a discussão de temas que geralmente são considerados difíceis de se introduzir na sala de aula, tais como a morte, o preconceito e a violência. Quanto à produção textual, os professores trouxeram vários exemplos de produção textual de seus alunos: textos de gêneros diversos, confecção de livros, reescrita de histórias clássicas, ambientação contemporânea para os clássicos, etc. Tais trabalhos ficaram expostos em painéis durante o Festival Artimanhas, em novembro de Com respeito à produção artístico-cultural, foram vários e bastante criativos os trabalhos realizados tanto por professores quanto por alunos. Uma dupla de professoras confeccionou um tapete contador de histórias, que serviu como pano de fundo para uma apresentação do conto O Flautista de Hamlin durante o Festival. Alguns causos locais foram recuperados em entrevistas dos alunos com pessoas da comunidade e apresentados no Festival. Também houve a adaptação teatral de histórias, tais como a Cigarra e a Formiga e a reescrita coletiva e representação do conto Chapeuzinho vermelho com uma preocupação sócioambiental. Conclusões O percurso e os resultados obtidos pelo projeto Artimanhas da Palavra no texto: poesia, prosa e teatro demonstram que este atuou em consonância com os objetivos do programa Universidade sem fronteiras no subprograma Apoio às Licenciaturas, na medida em que promoveu a interação e o aprofundamento das relações entre a educação básica e o ensino superior público no Paraná, além de proporcionar apoio aos professores envolvidos nas questões de ensinoaprendizagem nas disciplinas que envolvem uso da língua portuguesa e a produção de textos. Ao incluir profissionais recém-graduados e graduandos das áreas de licenciatura em Letras, professores das escolas municipais de Ipiranga, a secretaria municipal de educação de Ipiranga, professores do Curso de Letras da UEPG e, por fim, membros da comunidade de Ipiranga, quando do festival de encerramento, o projeto foi bem-sucedido também em sua importante função social de, por meio da extensão universitária, aproximar a universidade pública das comunidades que por muito tempo ficaram apartadas do meio acadêmico, provocando impacto e mudança tanto na instituição de ensino superior, quanto nas regiões urbana e rural de Ipiranga. Referências Textos teóricos: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. Editora Scipione. BETTLEHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Tr. Arlene Caetano. Rio de Janeiro: Paz e Terra, BOTTIGHEIMER, Ruth B. Fairy tales and folk tales. In: HUNT, Peter (ed.). International companion encyclopedia of children's literature. Vol. 1. London: Routledge, CHAUÍ, Marilena. Repressão sexual: essa nossa (des)conhecida. São Paulo: Brasiliense, COELHO, Betty. Contar Histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, DENTITH, Simon. Parody. London: Routtledge, GOTLIB, Nádia B. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 1998.

5 9. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido 5 GOVERNO DO Paraná. Universidade sem fronteiras. Subprogramas. Disponível online: Acesso em 06/05/2011. HELBIG, Alethea K. & PERKINS, Agnes R. Dictionary of American Children's Fiction, : Books of Recognized Merit. Westport, USA: Greenwood Press, HUTCHEON, Linda. A Theory of Parody. New York: Methuem, MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, MORSON, Gary Soul & EMERSON, Caryl. Mikhail Bakhtin: Creation of a Prosaics. Stanford, CA: Stanford University Press, SANT ANNA, Afonso Romano de. Paródia, paráfrase & cia. São Paulo: Ática, SHIPPEY, Tom. Rewriting the core: Transformations of the fairy tale in contemporary writing. In: DAVIDSON, Hilda E. and CHAUDHRI, Anna (eds.). A Companion to the Fairy Tale. Rochester, New York: D.S. Brewer Literatura infanto-juvenil: ALMEIDA, Fernanda L. A fada que tinha idéias. São Paulo: Ática, Contos populares para crianças da América Latina. Tradução: Neide Maria Gonzales. São Paulo: Ática, FALCÃO, Adriana. Mania de explicação. São Paulo: Moderna, FURNARI, Eva. Rumboldo. São Paulo: Moderna, GARNER, James Finn. Contos de fadas politicamente corretos. Trad. Cláudio Paiva, Rio de Janeiro: Ediouro, MACHADO, Ana M. História meio ao contrário. São Paulo: Ática, MCHADO, Ana M. O menino Pedro e o seu boi voador. São Paulo: Ática, MARTINS, Cláudio. O jardim. Belo Horizonte: Dimensão, ORTHOF, Sylvia. Os bichos que tive: memórias zoológicas. Rio de Janeiro: Salamandra, PENTEADO, Maria Heloísa. Lúcia já-vou-indo. São Paulo: Ática, PROKOFIEV, Sergei. Pedro e o Lobo. São Paulo: Conrad editora do Brasil, ROSADO, Puig. A topeira e os sagüis. Tradução: Neide Nogueira. São Paulo: Scipione, ROSADO, Puig. Lobos contra lobos. Tradução: Neide Nogueira. São Paulo: Scipione, ROSADO, Puig. O Camelo e os dromedários. Tradução: Neide Nogueira. São Paulo: Scipione, ROSADO, Puig. O gato e o rato. Tradução: Neide Nogueira. São Paulo: Scipione, ROSADO, Puig. O Porcão e o porquinho. Tradução: Neide Nogueira. São Paulo: Scipione, SCIESZKA, Jon. A verdadeira história dos três porquinhos. Tr. Pedro Maia. São Paulo: Companhia das Letrinhas, TORERO, José Roberto & PIMENTA, Marcus Aurelius. Chapeuzinhos coloridos. Rio de Janeiro: Objetiva, ZIRALDO. As aventuras do bonequinho do banheiro. São Paulo: Melhoramentos, ZIRALDO. O Joelho Juvenal. São Paulo: Melhoramentos, WILDE, Oscar. O Gigante Egoísta. In: O Príncipe Feliz e outros contos. São Paulo, Ediouro, s/d. WOOD, Audrey. A casa sonolenta. São Paulo: Ática, 2003.