Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

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1 Certificado digitalmente por: MARIO NINI AZZOLINI APELAÇÃO CÍVEL Nº NOS AUTOS Nº , DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL DE CURITIBA APELANTES: OONA SALES CAVALCANTI e ALEXANDRE MAURÍCIO DE SOUZA RELATOR: DESEMBARGADOR MARIO NINI AZZOLINI APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. ACRÉSCIMO DO SOBRENOME DO CÔNJUGE APÓS A CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO. POSSIBILIDADE. ARTIGO 1565, 1.º, DO CÓDIGO CIVIL. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTE TRIBUNAL. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação cível nº , da Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial de Curitiba, em que são apelantes OONA SALES CAVALCANTI e ALEXANDRE MAURÍCIO DE SOUZA. 1. Trata-se de apelação interposta contra a sentença prolatada nesta ação de retificação de registro civil nº que julgou improcedente o pedido. Pela sucumbência, os Apelantes foram condenados ao pagamento das custas processuais (seq. 35.1). Sustentam que deve ser deferida a inclusão do sobrenome Souza, de seu cônjuge, ao da apelante Oona Sales Cavalcanti, porque essa providência é autorizada pelo 1.º do artigo do Código Civil e pelo Superior Tribunal de Justiça; que essa inclusão não afetará quaisquer direitos de terceiros porque inexistem pendências em seu nome, como atestam as certidões negativas de todos os cartórios distribuidores estaduais e federal e a negativa de débitos da Associação Comercial do Paraná e que o artigo 109 da Lei Federal nº 6.015/73 não estabelece qualquer limitação temporal para acrescer o sobrenome do cônjuge após o casamento (seq. 41.1). A Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se pelo 1

2 desprovimento do recurso (fls. 11/14). É o relatório. 2. Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso de apelação. Cinge a controvérsia sobre a possibilidade de acrescer o sobrenome do cônjuge, no caso, após trinta anos da celebração do casamento. Oona Sales Cavalcanti casou-se com Alexandre Maurício de Souza no dia 02 de agosto de 1984, ocasião em que optou por não adicionar o sobrenome do marido ao seu, mas em 2015 ajuizou esta ação para a inclusão no seu nome. O juízo a quo indeferiu o pedido considerando que a inclusão posterior à ocasião do matrimônio abala a segurança jurídica, pois a regra é a sua imutabilidade, somente excepcionada diante de fundados motivos, o que, no seu entender, não era o caso. solução ao caso. Ocorre que essa, com o devido respeito, não é a melhor Não se nega que o princípio da imutabilidade do prenome tem por objetivo garantir a segurança jurídica e a estabilidade dos atos da vida civil, porém o nome civil é direito de personalidade. Maria Berenice Dias, a propósito, reforça que Os direitos da personalidade constituem direitos inatos, cabendo ao Estado apenas reconhecê-los, dotando-os de proteção própria. São indisponíveis, inalienáveis, vitalícios, intransmissíveis, extrapatrimoniais, irrenunciáveis, imprescritíveis e oponíveis erga omnes. O nome é um dos direitos mais essenciais da personalidade e goza de todas essas prerrogativas. Reconhecido como bem jurídico que tutela a intimidade e permite a individualização da pessoa, merece proteção do ordenamento jurídico de forma ampla. Assim, o nome dispõe de um valor que se insere no conceito de dignidade da pessoa humana (in Manual de direito das famílias. 4ª ed., São Paulo: Revista dos 2

3 Tribunais, 2007, p.120). O parágrafo primeiro do artigo dispõe que Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. E o Superior Tribunal de Justiça, ao analisar caso análogo ao presente, assentou que a opção dada pela legislação, de incluir o sobrenome do cônjuge prevista no dispositivo transcrito, não é limitada à data do casamento. RECURSO ESPECIAL. CIVIL. REGISTRO PÚBLICO. DIREITO DE FAMÍLIA. CASAMENTO. ALTERAÇÃO DO NOME. ATRIBUTO DA PERSONALIDADE. ACRÉSCIMO DE SOBRENOME DE UM DOS CÔNJUGES POSTERIORMENTE À DATA DE CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO E DA LAVRATURA DO RESPECTIVO REGISTRO CIVIL. VIA JUDICIAL. POSSIBILIDADE. RECURSO DESPROVIDO. 1. O art , 1º, do Código Civil de 2002 autoriza a inclusão do sobrenome de um dos nubentes no nome do outro, o que se dá mediante solicitação durante o processo de habilitação, e, após a celebração do casamento, com a lavratura do respectivo registro. Nessa hipótese, a alteração do nome de um ou de ambos os noivos é realizada pelo oficial de registro civil de pessoas naturais, sem a necessidade de intervenção judicial. 2. Dada a multiplicidade de circunstâncias da vida humana, a opção conferida pela legislação de inclusão do sobrenome do outro cônjuge não pode ser limitada, de forma peremptória, à data da celebração do casamento. Podem surgir situações em que a mudança se faça conveniente ou necessária em período posterior, enquanto perdura o vínculo conjugal. Nesses casos, já não poderá a alteração de nome ser procedida diretamente pelo oficial de registro de pessoas naturais, que atua sempre limitado aos termos das autorizações legais, devendo ser motivada e requerida perante o Judiciário, com o ajuizamento da ação de retificação de registro civil prevista nos arts. 57 e 109 da Lei 6.015/73. Trata-se de procedimento judicial de 3

4 jurisdição voluntária, com participação obrigatória do Ministério Público. 3. Recurso especial a que se nega provimento (STJ, 4ª Turma, REsp /SC, Rel. Min. Raul Araújo, j. em ). Tribunal: E seguindo esse entendimento, os seguintes julgados dente DIREITO PROCESSUAL CIVIL E REGISTROS PÚBLICOS. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARA ACRESCER AO SOBRENOME DA AUTORA O PATRONÍMICO DO MARIDO. AUSÊNCIA DE PRECLUSÃO TEMPORAL PARA O DESIDERATO. JUSTIFICATIVA IDÔNEA. IDENTIFICAÇÃO PERSONALÍSSIMA DA ENTIDADE FAMILIAR. INTERPRETAÇÃO CONJUNTA DA REGRA DOS ARTS. 109, DA LEI DE REGISTROS PÚBLICOS (LEI Nº 6.015/1973) E ART. 1056, DO CÓDIGO CIVIL. 1. Não obstante seja de estilo a adoção do patronímico do cônjuge por ocasião da celebração do casamento, a lei não impede taxativamente que não possa ocorrer em momento posterior, justamente porque não há limitação às hipóteses de modificação do nome, cujo pedido será levado sob justificativa à apreciação judicial. 2. Em sendo manifesto o interesse na adoção do patronímico do marido, inclusive como forma de identificação da família no meio social, não há porque privarem-se as pessoas desse direito personalíssimo. Recurso de Apelação Cível do Ministério Público conhecido e não provido (TJPR, 12ª CCv., AP , Rel.ª Des.ª Ivanise Maria Tratz Martins, j. em ). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. (1) LEGITIMIDADE DA ATUAÇÃO DO MEMBRO DO PARQUET, PORQUE INSTITUIÇÃO DESTINADA A PROMOVER A DEFESA DOS INTERESSES INDIVIDUAIS INDISPONÍVEIS. 4

5 EXEGESE DO ARTIGO 127 DA CONSTITUIÇÃO. (2) PRETENSÃO DE ACRÉSCIMO DO PATRONÍMICO DO CÔNJUGE VARÃO. (2.1) POSSIBILIDADE. (2.11) INEXISTÊNCIA DE LIMITAÇÃO TEMPORAL PARA A ADIÇÃO. FINALIDADE REGISTRAL QUE É A DE SER EXPRESSÃO DA VERDADE. (2.1.2) NOME ENQUANTO EXPRESSÃO DO DIREITO DA PERSONALIDADE, ÍNSITO À DIGNIDADE HUMANA RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO (TJPR, 11ª CCv., AC , Rel. Renato Lopes de Paiva, j. em ). Por fim, essa inclusão não prejudicará direito de terceiros porque, como se vê das certidões juntadas à seq. 30.2, inexistem pendências no nome da Apelante, como atestam as certidões negativas dos cartórios distribuidores estaduais e federal e a negativa de débitos da Associação Comercial do Paraná. O voto, pois, é para dar provimento ao recurso para autorizar a inclusão do sobrenome Souza ao nome da Apelante. É o voto. 3. Diante do exposto, ACORDAM os senhores julgadores da do, à unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Participaram da sessão de julgamento e acompanharam o voto do Relator a Excelentíssima Senhora Desembargadora LENICE BODSTEIN (Presidente) e o Excelentíssimo Senhor Juiz Substituto em 2º Grau GIL FRANCISCO DE PAULA XAVIER FERNANDES GUERRA. Curitiba, 12 de abril de MARIO NINI AZZOLINI Relator 5