TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

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1 Certificado digitalmente por: IVANISE MARIA TRATZ MARTINS TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ APELAÇÃO CÍVEL Nº DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E ANEXOS DA COMARCA DE RIO BRANCO DO SUL APELANTE : ADIVAL BUENO DE CASTRO APELADO : JUIZ DE DIREITO DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E ANEXOS DA COMARCA DE RIO BRANCO DO SUL RELATORA : DES.ª IVANISE MARIA TRATZ MARTINS RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA. APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA QUE JULGOU IMPROCEDENTE O PEDIDO DO AUTOR. AUTOR/RECORRENTE PRETENDE A MODIFICAÇÃO DO PRENOME, O QUE DIFERE DA RETIFICAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ART. 109 DA LEI N.º 6.015/73 LEI DOS REGISTROS PÚBLICOS. PRENOME, QUE VIA DE REGRA, É DEFINITIVO SENDO ALTERADO SOMENTE EM SITUAÇÕES EXCEPECIONAIS (ART. 58 DA LEI N.º 6.015/73). REGRA GERAL DE IMUTABILIDADE DO PRENOME. EXCEPCIONALIDADE LEGAL PARA ALTERAÇÃO DO PRENOME NÃO VERIFICADA NO CASO CONCRETO. APELO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº da Vara de registros públicos e Anexos da Comarca de Rio Branco do Sul, em que é Apelante Adival Bueno de Castro e Apelado Juiz de Direito da Vara de Registros Públicos e Anexos da Comarca de Rio Branco do Sul. Página 1 de 8

2 Apelação Cível nº fl. 2 I RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta por Adival Bueno de Castro em face do Juiz de Direito da Vara de Registros Públicos e Anexos da Comarca de Rio Branco do Sul, impugnando sentença prolatada ao mov em Retificação de Registro Civil de Nascimento e Casamento nº , que julgou improcedente o pedido formulado na inicial. Irresignado, o Requerente interpôs o presente recurso (mov. 32.1) no qual pugnou pela reforma da sentença para determinar ao Oficial de Registro Civil competente que retifique a incorreção apontada na Certidão de Nascimento e Casamento do Apelante, passando a constar Adival. É o relatório. II FUNDAMENTAÇÃO Inicialmente, cumpre asseverar que tendo a sentença sido disponibilizada em 10/05/2016 (mov. 29.1) e com ciência dos seus termos pelo procurador da parte em 24/05/2016 (mov. 31), posteriormente, portanto, ao início da vigência do novo Código de Processo Civil (Lei nº /2016), aplicam-se as regras de admissibilidade recursais insertas no CPC Página 2 de 8

3 Apelação Cível nº fl. 3 Presentes os pressupostos de admissibilidade da espécie, conheço do recurso, entretanto, no mérito, não comporta provimento. Trata-se de Apelação Cível interposta por Adival Bueno de Castro em face do Juiz de Direito da Vara de Registros Públicos e Anexos da Comarca de Rio Branco do Sul, impugnando sentença prolatada ao mov em Retificação de Registro Civil de Nascimento e Casamento nº , que julgou improcedente o pedido formulado na inicial de retificação do seu assento civil de casamento e nascimento, bem como do assento civil de nascimento de sua filha Anne Elise Geffer de Castro, argumentando que teve o seu nome registrado erroneamente, vez que o correto seria Adival Bueno de Castro e não Adivar Bueno de Castro. O Recorrente, por meio deste recurso (mov. 32.1), pugnou pela reforma da sentença para determinar ao Oficial de Registro Civil competente que retifique a incorreção apontada na Certidão de Nascimento e Casamento do Apelante, bem como na certidão de Nascimento de sua filha Anne Elise Geffer de Castro, passando a constar Adival. Sem razão o Apelante. É a inteligência da norma do art. 109 da Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/1.973): Art Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o Página 3 de 8

4 Apelação Cível nº fl. 4 órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório. Em que pesem as alegações do Apelante envolvendo a retificação de prenome, o caso claramente envolve alteração de prenome. Explico. Compulsando os autos, na certidão de nascimento do Apelante, registrada em 1965, consta seu prenome ADIVAR (mov. 1.4). tal certidão não difere do certificado de dispensa de incorporação militar de 1983 (mov. 1.4) e na certidão de casamento de 1993 (mov. 1.3). Na CTPS emitida em 1996, constou, de forma manuscrita, o prenome do autor como sendo ADIVAL. E, desde 2000, a carteira de identidade, o título de eleitor, o CPF e a carteira de motorista (mov. 1.4) foram emitidos com o nome que constou na CTPS. Importante frisar que na carteira de identidade emitida no ano 2000 (mov. 1.4) o Apelante assinou Adivar, e não Adival. Desta feita, o erro de grafia não ocorreu na certidão de nascimento, mas na CTPS e nos demais documentos emitidos com base nela. Como se sabe, a consequência da formalidade, publicidade, segurança jurídica, e verdade real, é que a matéria de Registros Públicos não permite interpretação extensiva, que decorre do art. 1º da Lei 6.015/1973: Página 4 de 8

5 Apelação Cível nº fl. 5 Art. 1º Os serviços concernentes aos Registros Públicos, estabelecidos pela legislação civil para autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta Lei. Não se verifica, em que pese o arrazoado do Apelante, exceção para o provimento pretendido, em mitigação à regra da imutabilidade registral. Assim, a regra geral é que o prenome é definitivo, conforme o art. 58 da Lei 6.015/73, só podendo ser alterado em situações excepcionais, de exposição a situações vexatórias, o que não restou comprovado no caso concreto. Sobre a regra da imutabilidade do prenome ensinam os doutrinadores Cloves HUBER e Leonardo BRANDELLI, respectivamente: (...) O artigo 58 da referida Lei impõe a imutabilidade do prenome, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. O parágrafo único, também autoriza a substituição do prenome em razão de fundada coação ou ameaça, por determinação, em sentença e ouvido o Ministério Público. (...) O nome está ligado à ordem pública e com seu registro ingressa no muno jurídico, razão por que o prenome não pode ser retificado se não preencher os requisitos exigidos por lei e não obtiver autorização judicial. (...) 1 (...) A imutabilidade do nome, não obstante as exceções que comporta, encontra razões de suma importância para existir, as quais não poderão ser relegadas a um plano -- 1 HUBER, Cloves. Registro civil de pessoas naturais. Leme: BH Editora e Distribuidora, p. 65. Página 5 de 8

6 Apelação Cível nº fl. 6 menor, sob pena de causa consequências seríssimas e total insegurança nas relações jurídicas. Destina-se a permitir a permanente identificação da pessoa e salvaguardar os interesses de todos aqueles que com a mesma hajam mantido qualquer tipo de relacionamento na esfera social, no âmbito negocial, no plano das relações jurídicas civis e criminais. Um nome que pudesse mudar ao sabor da livre vontade do seu titular desnaturaria a própria razão de ser desse instituto, uma vez que nem permitiria a sua junção à personalidade da pessoa, por poder ser efêmero, nem serviria para identificá-la perante a coletividade. O princípio da imutabilidade do nome está em parte positivado em nosso ordenamento jurídico, no art. 58 da Lei n /73, onde se encontra insculpido o ditame de que o prenome será definitivo. (...) 2 Tudo indica que o Apelante se encontra insatisfeito com a grafia que consta na certidão de nascimento, o que não é circunstância suficiente à alteração do registro de nascimento. Isto porque o prenome, em regra, é inalterável, sendo permitida a modificação quando constatado erro de grafia. No mesmo sentido entende a jurisprudência deste E. Tribunal (com destaques): APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - ERRO DE GRAFIA - AUSÊNCIA DE PROVA - PRENOME INALTERÁVEL.1. "O registro civil goza de presunção de veracidade, somente podendo ser retificado mediante a existência de prova robusta, inequívoca e idônea do equívoco cometido pelo agente cartorário." (TJPR - 11ª C. Cível - AC Rel.: Luiz Antônio Barry - Unânime - J ).2. Recurso conhecido e não provido. (TJPR - 11ª C.Cível - AC Araucária - Rel.: Ruy Muggiati - Unânime - - J ) APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL - REGISTRO IMPERFEITO - RECONHECIMENTO DA MATERNIDADE EM AUDIÊNCIA - COMPETÊNCIA DA VARA REGISTROS PÚBLICOS - EXTINÇÃO DO PROCESO SEM 2 BRANDELLI, Leonardo. Nome civil da pessoa natural. São Paulo: Saraiva, p Página 6 de 8

7 Apelação Cível nº fl. 7 JULGAMENTO DO MÉRITO - IMPOSSIBILIDADE - APELAÇÃO IMPROVIDA-RETIFICAÇÃO DO PRENOME MUDANÇA DE "Y" PARA "I" - IMPOSSIBILIDADE - INEXISTÊNCIA DE ERRO DE GRAFIA - RECURSO ADESIVO IMPROVIDO. 1) Pode haver a inclusão do nome da mãe na Certidão de Nascimento assim como, a alteração do nome da menor com o acréscimo do sobrenome daquela quando incontroversa a maternidade. 2) Via de regra, o prenome é inalterável, só sendo modificável quando constatado erro de grafia e não preleção de certa grafia de letra em detrimento de outra. (TJPR - 12ª C.Cível - AC Curitiba - Rel.: Rafael Augusto Cassetari - Unânime - - J ) No mais, inexistente nos autos qualquer prova (documental e/ou testemunhal) concreta que confirme a ocorrência das alegadas situações vexatórias e humilhantes decorrentes do uso do nome Adivar. Diante do exposto, voto pelo conhecimento e não provimento do apelo. III - VOTO Por fim, voto pelo conhecimento e não provimento do recurso de apelação. III DISPOSITIVO ACORDAM os integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e, no mérito, negar provimento ao recurso, nos termos do voto e sua fundamentação. Página 7 de 8

8 Apelação Cível nº fl. 8 O julgamento foi presidido por esta Relatora, e dele participaram os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Luis Espíndola e Mario Luiz Ramidoff. Curitiba, 17 de maio de DES.ª IVANISE MARIA TRATZ MARTINS RELATORA Página 8 de 8