TRIBUNAL DE JUSTIÇA ESTADO DO PARANÁ

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1 Certificado digitalmente por: LUCIANO CARRASCO FALAVINHA SOUZA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Cível nº do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial. Apelante: R.S. Engenharia e Empreendimentos Imobiliários S.A. Apelado: Cartório de Registro de Imóveis da 1ª Circunscrição de Curitiba. Relator: Luciano Carrasco Falavinha Souza, em substituição ao Desembargador Mário Helton Jorge. Apelação Cível. Dúvida registral. Requerimento de cancelamento da hipoteca. Oficial que deixou de proceder o registro. Necessidade de colacionar outros documentos. Sentença de procedência. Recurso da construtora. Legitimidade da MGI S/A para atestar a inexistência de impedimento judicial para a liberação da hipoteca que garantia o contrato de financiamento. Cabimento. Documentos que comprovam a delegação de competência para a administração dos créditos do Estado de Minas Gerais àquela pessoa jurídica. Lei Estadual Mineira nº /2010 que autoriza a cessão dos créditos. Certidão da Junta Comercial do Estado de Minas Gerais. Suprimento. Apelante que colacionou a referida certidão após a suscitação da dúvida. Correspondência entre os diretores da MGI com aqueles que assinaram o do termo de confissão, renegociação e quitação de dívida. Recurso provido. Vistos, relatados e discutidos estes autos de apelação cível nº , em que é apelante o R.S. Engenharia e Empreendimentos Imobiliários S.A e apelado Cartório de Registro de Imóveis da 1ª Circunscrição de Curitiba. 1. Trata-se de recurso de apelação cível interposto por R.S. Engenharia e Empreendimentos Imobiliários S.A., em face a ação proferida pelo juízo da Vara de Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial Página 1 de 6

2 do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Curitiba que nos autos de suscitação de dúvida sob nº , julgou procedente a dúvida suscitada, devendo o Oficial do 1º Serviço de Registro de Imóveis deste Foro Central abster-se de realizar o cancelamento da hipoteca objeto da R-4 da Matrícula nº daquela Serventia, até que sejam atendidas as exigências registrais. Em suas razões recursais, o apelante defendeu a legitimidade da MGI Minas Gerais Participações S/A para administrar e negociar os créditos do Estado de Minas Gerais. Discorreu acerca da relação creditória entre o BEMGE/ESTADO DE MINAS GERAIS/BDMG/MGI, ponderando que a Resolução nº 4329/2011 delegou a competência à MGI para representar o Poder Executivo do Estado de Minas Gerais no que se refere à administração e negociação dos ativos oriundos do contrato de permuta de ativos firmado em 30 de novembro de 1998 entre o ente estatal e o BDMG Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A. Por fim, ponderou que no tocante a apresentação da certidão da Junta Comercial de Minas Gerais, não há de se falar em suporte fático probatório apresentado ao Oficial diverso do acostado aos autos, visto que tal documento juntado com a impugnação (mov. 6.3) tem a mesma validade e o teor (expressa legitimidade dos representantes da MGI) dos demais já apresentados anteriormente ao apelado. O recurso foi recebido em ambos os efeitos (edoc. 37.1). A Procuradoria Geral de Justiça deixou de se manifestar, em decorrência da ausência de interesse no feito (fls /TJPR). Página 2 de 6 2

3 2. Fundamentação Não desconheço que a dúvida é o pedido de natureza administrativa, formulado pelo oficial, a requerimento do apresentante do título imobiliário, para que o juiz competente decida sobre a legitimidade de exigência feita, como condição de registro pretendido 1. Não desconheço, também, que o oficial do registro de imóveis da 1ª circunscrição de Curitiba deixou de registrar o título apresentado sob o argumento de que (i) seria necessário anexar certidão com vigência na data de , a ser expedida pela Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, onde esteja consignado que Fernando Antônio dos Anjos Viana era diretor de relações com investidores e Leandro Ramon Campos Gusmão era vicepresidente da MGI Minas Gerais Participações S.A; (ii) por constar na AV-46 da Matrícula nº do Registro Geral desta Serventia que o contrato firmado entre o Estado de Minas Gerais S.A e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A. (BDMG), foi um contrato de cessão de créditos de compra e venda de títulos firmado em 24/06/98 e não um contrato de ativos firmado em 31/11/98 como ficou constando da documentação em anexo. Sei, porém, que há plausibilidade no que se alega nas razões recursais: não há que se falar em ilegitimidade da MGI Minas Gerais Participações S/A no procedimento de análise para liberação da hipoteca constante no R-4, Av-9 e Av-10 do imóvel sob matrícula nº e em falta de atendimento da juntada da certidão da Junta Comercial. 1 CENEVIVA, Walter. Lei dos Registros Públicos Comentada. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.427. Página 3 de 6 3

4 Com efeito, toda a documentação acostada no procedimento administrativo é assente ao apontar para a legitimidade da MGI na negociação dos créditos do Estado de Minas Gerais oriundos das instituições financeiras a ele pertencentes. O crédito referente à hipoteca, que originalmente pertencia ao Banco do Estado de Minas Gerais, foi cedido ao Estado através do termo de cessão de créditos e compra e venda de títulos. Tal crédito, por sua vez, passou a ser administrado pelo BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A), a partir de convênio firmado entre o ente estatal e a instituição financeira em agosto de Em 2011, o Estado delegou a competência à MGI Minas Gerais Participações S/A, a partir da Resolução nº 4329 de 01 de julho de 2011, para que esta sociedade passe a administrar os ativos oriundos do contrato de permuta firmado entre o Estado de Minas Gerais e o BDMG, sendo clara a legitimidade da MGI para atestar a liberação da hipoteca do contrato de financiamento n Ademais, é necessário ressaltar a redação da Lei Estadual mineira nº /2010, a qual autoriza o Poder Executivo a ceder, à título oneroso, à empresa Minas Gerais Participações S/A: Art. 1 Fica o Poder Executivo autorizado a ceder, a título oneroso, à empresa Minas Gerais Participações S.A. - MGI ou a fundo de investimento em direitos creditórios constituído de acordo com as normas da Comissão de Valores Mobiliários os seguintes títulos e direitos de crédito: III - carteiras de ativos e créditos adquiridos pelo Estado em decorrência da extinção da Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais - Página 4 de 6 4

5 Minascaixa e da alienação das ações representativas do controle acionário do Banco de Crédito Real de Minas Gerais S.A. - Credireal e do Banco do Estado de Minas Gerais S.A. - Bemge. Como se não fosse bastante a cópias dos contratos de cessão de créditos e de contratos de convênio, a legitimidade também fica evidenciada quando da análise do termo de confissão, renegociação e quitação de dívida, no qual o ente estatal está representado por aquela pessoa jurídica. Não obstante, o ofício encaminhado pela MGI ao Registro de Imóveis atestando a inexistência de impedimento judicial para a liberação da hipoteca que garantia o contrato de financiamento também a qualifica como representante do Estado de Minas Gerais, pelo que a dúvida quanto a legitimidade não prospera. No que se refere à exigência de anexar certidão com vigência na data de , a ser expedida pela Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, onde esteja consignado que Fernando Antônio dos Anjos Viana era diretor de relações com investidores e Leandro Ramon Campos Gusmão era vice-presidente da MGI Minas Gerais Participações S.A, é necessário ponderar que tal fato foi suprido com a juntada deste documento no edoc Naquela oportunidade, o ora recorrente colacionou certidão específica espedida pela Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, o qual discorre acerca dos membros da diretoria da MGI, de 2012 a Deste modo é possível verificar que o termo de confissão, renegociação e quitação da dívida foi pactuado pelo devedor R.S. Engenharia e Empreendimentos Imobiliários e os legítimos representantes da MGI S/A, Leandro Ramon Página 5 de 6 5

6 Campos Gusmão e Fernando Antônio dos Anjos Viana, diretor vicepresidente e diretor de relações com investidores, respectivamente. Apresentada a certidão requerida pelo registrador, falece de razoabilidade o julgamento de procedência da dúvida para anterior análise do registrador, tal como consignou o juízo a quo. É formalismo exagerado que somente tende a delongar o registro do documento requerido pela parte, cuja tentativa iniciou-se há três anos. Forte nestes argumentos, voto no sentido de conhecer e dar provimento ao recurso para julgar improcedente a dúvida suscitada, com a inversão do ônus sucumbencial. É como voto. 3. Acordam os Excelentíssimos Senhores Desembargadores e Juízes integrantes da 12ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e dar provimento ao recurso para julgar improcedente a suscitação de dúvida, nos termos do voto do Relator. O julgamento foi presidido pelo Desembargador Marques Cury, sem voto, dele participando o Desembargador Luís Espíndola e a Juíza Substituta em Segundo Grau Suzana Massako Hirama Loreto de Oliveira, além do relator. Curitiba, 19 de abril de Luciano Carrasco Falavinha Souza Relator Página 6 de 6 6