Tribunal de Justiça do Estado do Paraná

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1 Certificado digitalmente por: SIGURD ROBERTO BENGTSSON APELAÇÃO CÍVEL Nº , DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA 1ª VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL. RELATOR : DES. SIGURD ROBERTO BENGTSSON APELANTE : F. P. (REPRESENTADO). APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. INCLUSÃO DO PATRONÍMIO MATERNO EM CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO FILHO. CASAMENTO QUE SE DEU EM DATA POSTERIOR AO ASSENTO DE NASCIMENTO. POSSIBILIDADE DA AVERBAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART. 3º, 1º, DA LEI Nº 8.560/ NECESSIDADE DE QUE O REGISTRO CIVIL REPRESENTE A ATUAL REALIDADE VIVENCIADA PELAS PARTES. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , do Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de Londrina 1ª Vara de Família e Sucessões, Registros Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial, em que é apelante F. P. (representado). Página 1 de 9

2 I RELATÓRIO. Trata-se de recurso de apelação cível, oriundo da Ação de Retificação de Registro Civil sob nº , cuja decisão (mov. 13.1) julgou improcedente o pedido inicial e condenou o autor ao pagamento das custas processuais. Inconformado, insurge-se F. P. devidamente representado (mov. 14.1), argumentando, em suma, que: i) a manutenção do registro reflete uma inverdade, já que sua genitora não utiliza mais o nome do primeiro casamento; ii) inexiste prejuízo para que a retificação do nome ocorra, já que evitaria uma série de transtornos e tal mudança visa preservar a identidade do laço materno. Manifestação da Douta Procuradoria de Justiça pelo conhecimento e provimento do apelo, para retificação do nome da genitora do menor em seu assento de nascimento. É o relatório. II - VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO. A situação da parte apelante é a seguinte: i) F. P. nasceu em 15/03/2006, sendo registrado em 17/03/2006 (mov. 1.6); ii) Na época do nascimento, sua genitora era casada com L. P. desde 27/08/2005, de modo que o nome Página 2 de 9 2

3 que constou no assento de nascimento foi o do primeiro casamento (G. C. P.); iii) Em 30/06/2010, os genitores do ora apelante optaram pelo divórcio (mov. 1.7), de maneira que a genitora passou a utilizar seu nome de solteira (G. C. de S. S.); iv) Em 09/07/2015, a genitora se casou com R. C. de C., passando a utilizar o nome G. C. de S. C. (mov. 1.8); v) A certidão de nascimento de F. P. foi lavrada na constância do 1º casamento de sua genitora, constando o nome com o patronímico do 1º casamento, razão pela qual pretende alteração para que conste o patronímico do casamento atual. A sentença indeferiu a retificação do registro de nascimento do ora apelante por entender que não foi comprovado que a medida atenderia os interesses do menor. O recurso merece provimento. Explica-se. A atual jurisprudência e doutrina a respeito do tema entendem que os registros civis devem guardar relação com a atual situação concreta vivenciada pela parte, abandonando o entendimento de que o registro deve transmitir a verdade real à época do seu assentamento. Página 3 de 9 3

4 Ensina MARIA BERENICE DIAS: Nascido o filho e registrado no nome da mãe, vindo esta a casar, modo expresso é assegurado o direito de averbar a alteração no registro de nascimento do filho (L 8.560/92, 3º. parágrafo único). Ou seja, se, ao casar, a mãe adota o nome do marido, está autorizada a solicitar a retificação do registro de nascimento do filho. A intenção da lei é clara: evitar que o registro revele que o filho nasceu antes do casamento de seus pais, valorando, ao que parece, a família constituída pelo matrimônio. 1 E não poderia ser diferente, considerando que os registros públicos devem retratar a atual realidade vivenciada pela parte, permitindo-se alteração sempre que for necessário. Nesse sentido: APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. INCLUSÃO DO PATRONÍMICO MATERNO EM CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO FILHO. CASAMENTO QUE SE DEU EM DATA POSTERIOR AO ASSENTO DE NASCIMENTO. POSSIBILIDADE DA AVERBAÇÃO. INTELIGÊNCIA DO ART.3º, 1º, DA LEI Nº 8.560/ NECESSIDADE DE QUE O REGISTRO CIVIL REPRESENTE A ATUAL REALIDADE VIVENCIADA PELAS PARTES. TESE DO APELANTE (MINISTÉRIO PÚBLICO) DE QUE O REGISTRO DEVE GUARDAR RELAÇÃO COM A ÉPOCA DO ASSENTAMENTO 1 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 9. ed. rev.. atual e ampl. de acordo com : Lei /2010 (regime obrigatório de bens) : Lei /2011 (direito de visita dos avós). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p Página 4 de 9 4

5 NÃO DEVE PREVALECER. PRECEDENTES DO STJ. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DE APELAÇÃO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. (TJPR - 11ª C.Cível - AC Curitiba - Rel.: Sigurd Roberto Bengtsson - Unânime - - J ) REGISTRO CIVIL. RETIFICAÇÃO. FILHA QUE PRETENDE CORRIGIR O NOME DA SUA MÃE NA SUA CERTIDÃO DE NASCIMENTO, POIS SUA GENITORA SEPAROU-SE JUDICIALMENTE DO MARIDO, E RETIROU O APELIDO DE FAMÍLIA DELE. POSSIBILIDADE. 1. Não ofende aos princípios da contemporaneidade e da verdade real a alteração pretendida. 2. Trata-se de adequação do registro civil de nascimento da autora, onde o nome de sua genitora não reflete a situação civil real e atual dela que, ao tempo do seu nascimento, estava casada com seu genitor, vindo a separar-se judicialmente. 3. Não pode o apego ao formalismo entravar a marcha da vida, jungido a regramentos que reclamam maior flexibilidade, já que as relações afetivas, que outrora implicavam vínculo perene, já não guardam a mesma estabilidade. 4. A exposição do encadeamento registral da sua mãe que teve alterado o seu nome, em face da separação judicial, implica desnecessário arranhão à sua privacidade. Recurso provido. (TJRS - Apelação Cível Nº , Sétima Câmara Cível, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 26/11/2014). Página 5 de 9 5

6 A medida pretendida pelo apelante inclusive é autorizada pela Lei nº 8.560/1.992, que em seu art. 3º, parágrafo único: É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em decorrência do casamento, no termo de nascimento do filho. Nas palavras de Luiz Guilherme Loureiro: Havendo alteração do nome da mãe em virtude de casamento, pode ser incluído o patronímico no assento de nascimento do filho. O pedido para inclusão do patronímico pode ser apresentado diretamente na serventia, mediante a apresentação da certidão de casamento ou cópia autenticada. 2 Assim não há razão para que o direito do ora apelante seja obstado, pois como bem ponderado pela Procuradoria de Justiça, a verdade atualizada deve ser refletida nos registros públicos: O pedido inicial é legal (art. 3º, parágrafo único da L. 8560/92), razoável, sendo sinônimo de realidade e atualidade, ou seja, adequação do registro do filho (no assentamento relativo ao assentamento materno) ao nome adotado pela genitora, face seu recente casamento. Irrelevante, na fluidez das relações humanas, a mãe ter utilizado três grafias diferentes. Página 6 de 9 6

7 Como bem pontuou o Agente Ministerial local, ao concordar com o pedido, a pretensão exordial está em consonância com os princípios da continuidade e fidelidade dos registros públicos. Inequívoco que o atual registro da criança está defasado, ultrapassado, ali contendo o nome antigo da mãe. Óbvio que a segurança jurídica está no espelhar da verdade atualizada, não em registros oriundos de um casamento dissolvido. A nova família e consequentes laços afetivos é uma realidade que não pode ser limitada pela Justiça, sede que deve primar sempre pela natureza construtiva, liberal, positiva, no âmbito daquela entidade, consolidando a união, inclusive em relação à unificação de nomes e registros dos atuais componentes e eventuais futuros irmãos de F. Difícil convencer que a medida, em tese, não atenderia ao interesse do menino (fundamentação da sentença). Qual seria a lógica de uma argumentação no sentido de um filho concluir ser benéfico ter em seu registro o nome da mãe desatualizado, já não existente, diverso de eventuais irmãos? É o entendimento do STJ: 2 LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática. 5. ed. rev., atual e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014, p. 170/171. Página 7 de 9 7

8 RECURSO ESPECIAL. DIREITO DE FAMÍLIA. RETIFICAÇÃO. SOBRENOME. REGISTRO DE NASCIMENTO DOS FILHOS. CASAMENTO POSTERIOR. POSSIBILIDADE. 1. É possível retificar o patronímico materno no registro de nascimento de filho em decorrência do casamento conforme exegese do art. 3º, parágrafo único, da Lei nº 8.560/ O acréscimo ao patronímico materno do sobrenome paterno facilitará a identificação da criança registrada no âmbito social e familiar, realizando os princípios da autonomia de vontade e da verdade real. 3. Em razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos atos jurídicos até então praticados, o nome de solteira não deve ser suprimido dos assentamentos, procedendo-se, tão somente, a averbação da mudança requerida após as núpcias. 4. Recurso especial provido. (REsp /MG, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/02/2016, DJe 23/02/2016) DIREITO CIVIL. RETIFICAÇÃO DE PATRONÍMICO. NOME DE SOLTEIRA DA GENITORA. POSSIBILIDADE. 1. O princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica, razão pela qual deve espelhar a realidade presente, informando as alterações relevantes ocorridas desde a sua lavratura. 2. O ordenamento jurídico prevê expressamente a possibilidade de averbação, no termo de nascimento do filho, da alteração do patronímico materno em decorrência do casamento, o que enseja a aplicação da mesma norma à hipótese inversa - princípio da simetria -, ou seja, quando a Página 8 de 9 8

9 genitora, em decorrência de divórcio ou separação, deixa de utilizar o nome de casada (Lei 8.560/1992, art. 3º, parágrafo único). Precedentes. 3. Recurso especial provido." (REsp nº /MG (2008/ ), 4ª Turma do STJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão. j , unânime, DJe ) (Destaquei) Conclusão: Dessa maneira, entendo que a sentença deve ser reformada, para que os pedidos iniciais sejam acolhidos e haja a retificação do assento de nascimento conforme o pretendido. Diante do exposto, voto pelo conhecimento e provimento do recurso de apelação cível, para reformar a sentença e julgar procedente o pedido inicial, para determinar a retificação do registro de nascimento de F. P. no que diz respeito ao nome de sua genitora, passando a constar a grafia atual, qual seja, G. C. de S. C. III. DISPOSITIVO. Acordam os Desembargadores da 11ª Câmara Cível do, por unanimidade de votos, em conhecer e dar provimento ao recurso de apelação cível, nos exatos termos do voto do Relator. Participaram da sessão e acompanharam o voto do Relator os Desembargadores Mario Nini Azzolini e Ruy Muggiati. Curitiba, 26 de abril de SIGURD ROBERTO BENGTSSON Desembargador Página 9 de 9 9