PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 Certificado digitalmente por: RUY MUGGIATI APELAÇÃO CÍVEL Nº , DE FOZ DO IGUAÇU - 1ª VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES, REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO EXTRAJUDICIAL APELANTE: MÁRIO SÉRGIO KECHE GALICIOLLI APELADO: OFICIAL DO 2º CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU RELATOR: DES. RUY MUGGIATI REGISTRO DE IMÓVEIS. APELAÇÃO CÍVEL. SUSCITAÇÃO DE DÚVIDA JULGADA PROCEDENTE. IMÓVEL ORIGINAL COM ACRÉSCIMO DE ÁREA NA MATRÍCULA ORIUNDA DE EXCESSO DE TERRAS, ESTE RECONHECIDO ATRAVÉS DE AÇÃO DE USUCAPIÃO. PEDIDO DE RETIFICAÇÃO DE ÁREA DOS LOTES CONFRONTANTES IMPOSSIBILIDADE AJUIZAMENTO DE AÇÃO DEMARCATÓRIA, ANTE À NECESSIDADE DE CONSTITUIÇÃO DOS LIMITES DOS IMÓVEIS, QUESTÃO ESTA NÃO TRATADA NOS AUTOS DA AÇÃO DE USUCAPIÃO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº , de Foz do Iguaçu - 1ª Vara de Família e Sucessões, Registros Página 1 de 9

2 Apelação Cível nº fls. 2 Públicos e Corregedoria do Foro Extrajudicial, em que é Apelante MÁRIO SÉRGIO KECHE GALICIOLLI e Apelado OFICIAL DO 2º CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU. I Trata-se de recurso de apelação cível interposto da r. sentença de mov que, nos autos da suscitação de dúvida, sob nº , promovida pelo Oficial do 2º Cartório de Registro de Imóveis de Foz do Iguaçu, julgou procedente a dúvida suscitada. Inconformado, aduz o requerente do pedido administrativo, em suma, que: a) formulou pedido de deduções de área nas matrículas dos imóveis que possuem áreas usucapidas, conforme ação de usucapião 409/81; b) após o trânsito em julgado da demanda, a área usucapida foi acrescida ao imóvel dos autores da demanda, mas sem a dedução das matrículas dos imóveis que sofreram a usucapião; c) ocorre que o Sr. Oficial do Cartório de Registro de Imóveis ainda não realizou as devidas diminuições nas matrículas usucapidas, alegando que a área usucapida é um excesso de área, mas não resta dúvida que esse excesso de área pertence a alguma pessoa que possuía o domínio pela mesma (Requeridos na Ação de Usucapião); d) deveria haver o acréscimo da área usucapida para os autores do usucapião (fato ocorrido no ano de 2006, conforme matrícula ), bem como a diminuição das áreas usucapidas das matrículas originárias, sem a necessidade de qualquer comando por parte do v. Acόrdão, atitude esta que até o presente momento não fora realizada pelo Cartório de Registro de Página 2 de 9

3 Apelação Cível nº fls. 3 Imóveis; e) o parecer do Ministério Público foi favorável à pretensão de retificação das áreas das matrículas dos imóveis que tiveram parte usucapida; f) o termo excesso de terras foi utilizado para se referir à área usucapida, e não de uma área sem proprietários, o que não é o caso, pois foram diversos os requeridos na ação de usucapião; g) o domínio dos autores da ação de usucapião ainda não foi regularizado, tendo em vista que não fora retirado do domínio dos requeridos a área usucapida, conforme decisão colegiada transitada em julgado; h) ocorreu a duplicidade de matrículas, conforme noticiado pelo ora apelante, adquirente da área usucapida, de modo que almeja a retificação correspondente nas matrículas dos imóveis que tiveram parte de sua área usucapida, tendo cumprido todos os requisitos impostos pela Lei de Registros Públicos, com apresentação de memorial descritivo para cada matrícula, com ART (anotação de responsabilidade técnica) individualizada; i) a atual redação dos artigos 212 e 213 da LRP, demonstra o interesse do apelante em requerer as retificações, visto que as matrículas não expressam a verdade, pois as partes usucapidas ainda constam na matrícula dos imóveis dos proprietários originários; j) o artigo 212 da Lei 6.015/73, com redação alterada pela Lei /04, não elenca por quais motivos a retificação será realizada, mas impõe que o Oficial de Registro de Imóveis deverá retificar qualquer matrícula que for omissa, imprecisa ou não exprimir a verdade, procedendo as retificações de ofício ou a requerimento do interessado; k) a alegação de que a área usucapida é uma sobra de terras não é plausível, tendo em vista que o processo de usucapião correu em desfavor de diversos réus, que manejaram ações demarcatórias, Página 3 de 9

4 Apelação Cível nº fls. 4 reivindicatórias, bem como inúmeros recursos, sem êxito; l) as denegações das retificações pretendidas por parte do Oficial de Registro de Imóveis, bem como a denegação em sentença na dúvida registral, não possui fundamentação jurídica que possa manter as irregularidades geradas com o acréscimo da área usucapida na matrícula dos autores do usucapião sem as obrigatórias reduções na matrículas usucapidas; m) em todos os momentos o parquet se manifestou favorável à sua pretensão (mov. 68.1). II VOTO Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, seu conhecimento se impõe. O ora apelante, Sr. Mário Sérgio Keche Galiciolli, adquiriu em , um lote de terras sob matrícula nº , com área de ,83m², conforme registro geral constante ao mov Tal área pertencia ao Sr. Derly Saldanha Gomes e sua esposa Eneida Amaral Gomes, cuja propriedade foi adquirida por meio de usucapião (sob autos nº 409/1991), conforme cópia da inicial juntada ao mov. 6.8, da sentença ao mov. 6.11/6.12 (que julgou improcedente o pleito) e da decisão colegiada proferida em apelação cível sob nº ao mov (que reformou a sentença para julgar procedente o pedido de usucapião). Página 4 de 9

5 Apelação Cível nº fls. 5 No âmbito da demanda de usucapião, o que se verifica é que os autores já eram proprietários de uma área de m², adquirida mediante contrato de compra e venda, mas ao tomarem as medidas da área efetivamente ocupada, averiguaram que a área correspondia, na verdade, a ,83m², tratando-se de excesso de terras. Tanto é assim, que dos fundamentos do voto proferido em sede de apelação sob nº , consta o seguinte (mov. 6.12): A localização do excesso, na área continente, é totalmente despicienda, pois resta integrado ao domínio do terreno maior, este pertencente e possuído pelos autores pelo tempo já destacado, sendo desnecessário que fosse ele localizado e identificado dentro da área que já era de propriedade dos autores. Como já se pronunciou esse E. Tribunal de Justiça: "USUCAPIÃO - EXCESSO DE ÁREA - DESNECESSIDADE DE LOCALIZAÇÃO, DESDE QUE CITADOS TODOS OS CONFRONTANTES DA ÁREA CONTINENTE. Não há, no usucapião, necessidade de localização do excesso usucapiendo, bastando, no particular, a citação de todos os confrontantes da área continente." (AC nº 634/81, Rel. Des. Nunes do Nascimento, in Paraná Judiciário nº 1, pág. 109). Ora, repita-se, a usucapião é o meio processual adequado para que os autores venham a regularizar o excesso de terreno encontrado, posto que a área na sua totalidade foi devidamente identificada, todos os confinantes vieram a ser citados e não ofereceram resistência. Desta forma, o reconhecimento do domínio sobre a totalidade da área usucapienda é medida que se impõe, pois os autores-apelantes já ocupavam a área e o excesso há mais de sessenta e cinco anos. (...) Como já se disse, os autores-apelantes, demonstraram a posse sobre o Página 5 de 9

6 Apelação Cível nº fls. 6 excesso da área discutida, por mais de sessenta e cinco anos, e a via adequada para a obtenção da propriedade é o da usucapião, para que possam regularizar a divergência e estabelecer o domínio e acertar à área no título de propriedade. Logo, a sentença, merece ser reformada, com a procedência do pedido inicial da ação de usucapião para declarar o domínio dos Autores, no imóvel antes descrito, servindo esta, após o seu trânsito em julgado, como título hábil perante o Registro Imobiliário. Após expedição de mandado de registro à Serventia, esta informou, em , que o imóvel objeto da demanda, sob transcrição nº , da 1ª Circunscrição Imobiliária, teve várias alterações geográficas, tendo sido caracterizado e matriculado sob nº , com nova área de ,02m², do Registro Geral, também daquela Circunscrição Imobiliária. Estas alterações dizem respeito à diversas subdivisões, não estando caracterizada a área objeto do usucapião, tanto quanto sua atual origem, e por o remanescente da área de origem pertencer em favor de terceiros (mov. 6.13). Em resposta à esta consulta, o douto Magistrado a quo da ação de usucapião assim determinou (mov. 6.14): O cumprimento do registro já foi ordenado pelo mandado expedido, sendo desnecessária nova ordem judicial. A questão levantada pelo Sr. Oficial do Registro deverá ser dirimida em procedimento por ele suscitado junto à Corregedoria do Foro Extrajudicial da Comarca, porquanto se trata de questão administrativa quanto ao registro, não existindo conflito de competência entre este Juízo e o Juízo da Corregedoria do Foro Extrajudicial. Oficie-se o Sr. Oficial enviando a cópia deste despacho. Em face disso, o Registro de Imóveis criou a matrícula nº Página 6 de 9

7 Apelação Cível nº fls. 7 (mov. 6.15) no qual consta, basicamente, as informações acerca dos lotes originários pertencentes aos autores da ação de usucapião, bem como as averbações e registros pertinentes à área de ,83m², a qual foi caracterizada pelo Decreto nº , da Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu, em (mov. 6.16), e matriculada sob nº , conforme averbação 03 da matrícula nº (mov. 6.15). Nada obstante, em razão da aquisição deste imóvel pelo ora apelante, este postulou administrativamente a retificação das matrículas dos imóveis confrontantes, sob o argumento de que é necessário excluir das matrículas confrontantes a área que lhe pertence. Assim, indicou na esfera administrativa o pedido de retificação dos lotes registrados sob as seguintes matrículas: a) 413 (lote 14); b) (lote 15-F); c) (lote 199); d) (lote 15-I); e) (lotes 16-A, 18-A); f) (lotes 16-A, 18-A); g) (lotes 16-A, 18-A); e, h) (lote 571), sobrevindo a presente suscitação de dúvida. Considerando o contexto dos autos, em que pesem as alegações do recorrente, a r. sentença merece ser mantida. A razão disso é que a área usucapida sempre foi considerada um excesso, que ao menos aparentemente não alterava ou reduzia as áreas confinantes, tanto que o v. acόrdão nada mencionou acerca da retificação das matrículas confinantes, tendo dispensado até mesmo a necessidade de Página 7 de 9

8 Apelação Cível nº fls. 8 localização do excesso, conforme se infere do trecho anteriormente transcrito. Portanto, não se faz possível alterar as matrículas novas dos imóveis confrontantes sem ampla discussão, em mero procedimento administrativo, devendo a parte se valer da via processual adequada (ação demarcatória), na qual serão discutidos os direitos das partes de modo a se estabelecerem as divisas e limites correspondentes, nos termos do artigo 574, do Código de Processo Civil de Diante do exposto, voto pelo conhecimento e desprovimento do recurso, mantendo-se a r. sentença que julgou procedente a dúvida suscitada. III DECISÃO ACORDAM os Magistrados da 11ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade, em conhecer e negar provimento ao recurso. Presidiu o julgamento o Desembargador RUY MUGGIATI (com voto), dele participando o Senhor Desembargador FÁBIO DALLA VECCHIA e a Juíza Convocada LUCIANE R. C. LUDOVÍCO. Página 8 de 9

9 Apelação Cível nº fls. 9 Curitiba, 15 de março de RUY MUGGIATI Relator 1 Art Na petição inicial, instruída com os títulos da propriedade, designar-se-á o imóvel pela situação e pela denominação, descrever-se-ão os limites por constituir, aviventar ou renovar e nomear-se-ão todos os confinantes da linha demarcanda. Página 9 de 9