ACÓRDÃO. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO FEITOSA (Presidente) e FERREIRA RODRIGUES.

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1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Marília, em que é apelante FAZENDA DO ESTADO DE SÃO, é apelado SOCIEDADE AGROPECUÁRIA DE MARÍLIA. ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO FEITOSA (Presidente) e FERREIRA RODRIGUES. São Paulo, 24 de abril de Ana Liarte RELATORA Assinatura Eletrônica

2 2 4ª CÂMARA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO Apelação nº Físico Comarca de origem: Marília Vara da Fazenda Pública Apelante: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO Apelado: SOCIEDADE AGROPECUÁRIA DE MARÍLIA - SAM Voto nº APELAÇÃO. REGISTROS PÚBLICOS. PESSOA JURÍDICA. ASSOCIAÇÃO. ATA DE ASSEMBLEIA. ELEIÇÃO DE DIRETORIA. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE. Os atos registrais submetem-se ao princípio da continuidade. O registro de atas de eleição de nova Diretoria de Associação deve estar em conformidade com os atos anteriores. No caso, a Associação está há tempos sem Diretoria constituída, por anulação judicial da última eleição. Documentos referentes ao período sem Diretoria não podem ser apresentados ao Oficial de Registro, porque inexistentes. Exigência desproporcional. Necessidade de registro da ata de eleição de nova Diretoria para permitir a continuação da existência da Associação. Apelação desprovida. Trata-se de Ação Ordinária proposta por SOCIEDADE AGROPECUÁRIA DE MARÍLIA SAM, em face da FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO. Afirma a Autora que pretendeu registrar, no 1º Cartório de Registro Civil, a Ata de Assembleia Geral Extraordinária que culminou com a eleição de uma nova Diretoria para a sociedade. Porém alega que o registro foi rejeitado pelo Oficial, sob o argumento de que, em razão do princípio da continuidade, é preciso que a autora apresente os documentos relativos às

3 3 eleições anteriores. Sustenta que tais documentos não existem, vez que a sociedade autora ficou sem uma Diretoria formalizada, desde a anulação judicial da eleição de 17/09/2008. Aduz que a Diretoria deposta judicialmente desapareceu com todos os livros e documentos anteriores, de forma que os associados fundadores se reuniram, em 2013, e elegeram a Diretoria constante da Ata que ora se pretende o registro. Requer que seja determinado tal registro, para suprir as exigências administrativas, de modo a transformar a Diretoria provisória, em permanente (fls. 2 a 14). O pedido de tutela antecipada foi deferido para nomear provisoriamente a Diretoria eleita pela Assembleia Geral Extraordinária de 26/10/2013 e determinar a sua averbação na serventia extrajudicial respectiva, nos termos do art. 49, do Código Civil. (fls. 55 e 56). Após, a FAZENDA PÚBLICA ofereceu contestação (fls. 69 a 75), a que se seguiu réplica (fls. 94 a 97). A r. sentença julgou procedente o pedido, a fim de determinar o registro da ata de eleições da SAM, referida na inicial, transformando-se a Diretoria provisória da sociedade autora em Diretoria permanente, com a ressalva de que não serão admitidas novas interrupções dos registros públicos da SAM. (fls. 104 a 106). Inconformada, a FAZENDA PÚBLICA apela, sustentando a reforma da decisão. Alega que a recusa do Oficial em registrar a Ata da Eleição da Diretoria é perfeitamente legal, dada a anulação judicial da eleição da Diretoria em setembro de 2008 (fls. 110 a 116). Embora intimado (fls. 117 e

4 4 118), o Apelado não ofereceu contrarrazões (fls. 120). Após, a MINISTÉRIO PÚBLICO ofereceu parecer, opinando pelo desprovimento do recurso (fls. 122 a 125). Igualmente, a PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA manifestou-se no mesmo sentido (fls. 136 a 138). É o relatório. A Apelação deve ser recebida, porquanto tempestivamente interposta e sem necessidade de preparo, porém não merece provimento. Inicialmente, destaca-se que, em regra, deve-se obediência ao princípio da continuidade, a fim de que se estabeleçam os necessários liames jurídicos entre os atos. Deste modo, não se ignora que, a princípio, o registro da ata de 26/10/2013, elegendo nova Diretoria, exigiria a apresentação de documentos referentes a gestões imediatamente anteriores da Associação. Ao mais, a impossibilidade do registro fundou-se, como informa o Oficial de Registro, em vício no tocante à convocação de assembleia para a eleição de nova Diretoria, dado que não fora realizada pelo Presidente da Diretoria, mas sim por seus sócios diretamente. Ademais, também haveria obstáculo ao registro, porquanto não se demonstrou que os associados encontravam-se em situação regular quanto às contribuições associativas (fls. 45 e 46). Entretanto, no caso em concreto, tais óbices não podem impedir o registro da ata que elegeu nova Diretoria. Com efeito, verifica-se que a Associação não possui Diretoria

5 5 regularmente constituída desde 23/12/2009, quando da anulação da ata de eleição de 17/09/2008. Portanto, não se mostra razoável exigir-se da Associação a comprovação de atos que emanem de sua Diretoria durante o referido período. Inexistente a Diretoria da Associação naquele lapso, por óbvio também inexistem seus atos. Logo, não é adequado condicionar o registro da ata que elegeu a nova Diretoria à apresentação de documentos que nunca foram produzidos. Assim, não havendo a eleição de Diretoria entre a anulação do ato anterior em 23/12/2009 e a escolha do novo corpo diretivo em 26/10/2013, a exigência realizada pelo Oficial de Registro é obrigação que não pode ser cumprida pela Associação. Igualmente, descabe impor à Associação que comprove a regularidade financeira dos sócios, uma vez que este ato também depende da existência de uma Diretoria constituída, apta a certificar tal situação. Da mesma forma, a convocação de Assembleia Extraordinária diretamente pelos sócios não é impedimento razoável ao registro do Ata. Ainda que o art. 30 do Estatuto da Apelada preveja que cabe ao Presidente da Diretoria a convocação da Assembleia Extraordinária, inexistindo qualquer membro da Diretoria com competência para o ato, outra alternativa não há do que a convocação pelos próprios sócios. Deste modo, embora não se ignore o princípio da continuidade administrativa, faz-se necessário para permitir a existência da Associação que se registre a Ata que elegeu sua nova Diretoria, porquanto a ausência

6 6 por longo tempo de Diretoria anteriormente constituída impede que se apresentem os documentos exigidos pelo Oficial de Registro. de São Paulo: Nesse sentido, cite-se o seguinte julgado do E. Tribunal de Justiça MANDADO DE SEGURANÇA. REGISTRO DE ATA DE ASSEMBLÉIA. CONTINUIDADE ADMINISTRATIVA OCORRÊNCIA. I - Presidente de Associação que questiona ato de Oficial que negou registro de ata de assembléia em razão de ausência de continuidade administrativa. II - Eleição de 2004 declarada nula por meio de decisão judicial que transitou em julgado somente em Período que a autoridade impetrada considera como sem administradores eleitos, impedindo assim que o registro das atas de eleições posteriores. III - A rigor realmente não poderia haver os registros, de vez que nulo ab initio o processo eleitoral; Porém, devemos nos lembrar que a decisão definitiva somente saiu em 2007, ou seja, a Diretoria somente passou a ser considerada definitivamente ilegal no ano em questão. Impossibilidade de se desconsiderar o período em questão, notadamente para fins de possibilitar o registro das atas de assembléias posteriores. Medida que, se não deferida, condenará a Associação a viver na ilegalidade ou, pior, levará extinção em razão da impossibilidade de regularizar sua situação registral. Sentença reformada. Recurso provido. (TJSP, Apelação nº , Relator Desembargador NOGUEIRA DIEFENTHÄLER, Comarca de Guarulhos, 5ª Câmara de Direito Público, julgamento em 21/11/2011). Diante do exposto, NEGA-SE PROVIMENTO à Apelação. ANA LIARTE Relatora