Tribunal de Justiça do Estado do Paraná Décima Primeira Câmara Cível

Transcrição

1 Certificado digitalmente por: LUCIANE DO ROCIO CUSTODIO LUDOVICO Tribunal de Justiça do Estado do Paraná APELAÇÃO CÍVEL , DA VARA DE REGISTROS PÚBLICOS E CORREGEDORIA DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA. APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ. APELADOS: B. S. B. E OUTRO. RELATOR: JUÍZA DE DIREITO SUBSTITUTA EM SEGUNDO GRAU LUCIANE R. C. LUDOVICO (EM SUBSTITUIÇÃO AO DES. RUY MUGGIATI). APELAÇÃO AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL. SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RETIFICAÇÃO DE CERTIDÃO DE NASCIMENTO DOS FILHOS PARA ALTERAR O NOME DA GENITORA, MODIFICADO EM DECORRÊNCIA DE NOVO CASAMENTO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIOS DA VERDADE REAL E DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E DESPROVIDO. Vistos e examinados, estes autos de Apelação Cível nº da VARA DE REGISTROS PÚBLICOS DE CURITIBA em que é Apelante MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ e Apelados B. S. B. E OUTRO. I. RELATÓRIO. Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face da sentença proferida nos autos de Ação de Retificação de Registro Civil nº , pelo qual o Juízo a quo julgou procedente o pedido inicial. Em suas razões, o Apelante alega, em síntese: a) que o artigo 109, da Lei 6015/73, dispõe que quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil deve requerê-lo em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas; b) que à época dos registros de nascimento das crianças o nome adotado pela genitora era o de solteira, não havendo, desta forma, erro gráfico a ensejar a retificação; c) que a alteração do nome da genitora no assento de nascimento dos filhos por conta do casamento ou divórcio não pode prevalecer em face do caráter definitivo que os registros civis devem ter; d) que a finalidade da retificação de registro civil é assegurar a correspondência entre a realidade e o registro, a fim de Página 1 de 6

2 preservar a certeza do assento público. O recurso foi recebido no duplo efeito (mov. 17.1). Os Apelados apresentaram contrarrazões (mov. 25.2). A Douta Procuradoria Geral de Justiça emitiu parecer pelo conhecimento e desprovimento do recurso (fls. 10/15-TJ). II. VOTO. É, em síntese, o relatório. Em respeito ao enunciado administrativo nº 2, do Superior Tribunal de Justiça, o presente recurso deve ser julgado nos moldes do CPC/ JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE. Estão presentes os pressupostos processuais intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo ou extintivo) e extrínsecos (tempestividade e regularidade formal), como condição irrefutável ao conhecimento do recurso. 2. MÉRITO. Trata-se de recurso de Apelação Cível interposto em Requerimento de Alteração de Patronímico Materno promovida por B. S. B. E OUTRO. A controvérsia, no caso, gira em torno da possibilidade de a genitora dos Apelados averbar a margem do assento de nascimento dos menores o nome que adotou após o seu casamento. Entendeu o MM. Juiz sentenciante pela procedência do pedido inicial, determinando a averbação da sentença a margem dos assentos de nascimento dos Autores. E, em que pese a fundamentação esposada pelo Douto Apelante, a sentença não merece reforma. Explica-se. É certo que a ação de retificação, de modo a atender ao princípio da verdade real (norteador do registro público), tem por finalidade restabelecer a veracidade do conteúdo dos assentos alusivos ao estado civil da pessoa natural. Por meio de tal via, promove-se a congruência 1 Enunciado administrativo número 2 - Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista, com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Página 2 de 6 2

3 das informações contidas no registro de nascimento da pessoa natural com os fatos efetivamente ocorridos, desfazendo-se omissões, erro de fato ou de direito, eventualmente consignados pelo Oficial". 2 De acordo com o artigo 109 da Lei 6.015/73 - Lei dos Registros Públicos -, qualquer interessado pode propor ação de retificação de registro civil, desde que de forma fundamentada e com documentos hábeis a demonstrar a verossimilhança das alegações: Art Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório. In casu, os Autores postulam a retificação dos seus assentos de nascimento para que conste o nome de sua genitora como Vânia Eliana Sanches Bauer, tendo em vista que ela se casou e adquiriu o sobrenome de seu marido. Compulsando os autos, observa-se que quando do nascimento dos Autores o nome da genitora era grafado como Vânia Eliana Sanches Rodrigues. 2 Recurso Especial nº /RS (2009/ ), 4ª Turma do STJ, Rel. Luis Felipe Salomão. j , maioria, DJe Página 3 de 6 3

4 Em , a genitora dos Autores contraiu matrimônio com William Tadeu Bauer pai dos Autores -, passando a adotar o seu sobrenome. Assim, denota-se que à época dos registros de nascimento dos Autores o nome adotado pela genitora era o de solteira. Pois bem. É certo que a alteração do nome da genitora nos registros de nascimento dos seus filhos tem por objetivo espelhar o momento e que eles vivem, facilitando tanto o reconhecimento familiar quanto o social, pois a apresentação de documentos com informações diferentes pode dificultar a prática dos atos da vida civil, além de gerar transtornos e aborrecimentos consideráveis. A Lei 8.560/92, em seu artigo 3º 3, único, prevê a possibilidade de alteração do nome dos genitores quando verificado o casamento. Além disso, há que se considerar que a situação envolve menores de idade e, portanto, deve-se aplicar o princípio do melhor interesse da criança, não havendo, assim, como negar-lhes o direito de ter alterado o registro de nascimento para que ele retrate da forma mais fiel possível a sua realidade. 3 Art. 3º É vedado legitimar e reconhecer filho na ata do casamento. Parágrafo único: É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em decorrência do casamento, no termo de nascimento do filho. Página 4 de 6 4

5 Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, em caso inverso da situação aqui apresentada quando a genitora acaba por se divorciar: DIREITO CIVIL REGISTRO PÚBLICO. RETIFICAÇÃO DO NOME DA GENITORA POR MODIFICAÇÃO DECORRENTE DE DIVÓRCIO. LEGITIMIDADE CONCORRENTE. DA GENITORA. AVERBAÇÃO À MARGEM DO ASSENTO DE REGISTRO DE NASCIMENTO DE SEUS FILHOS MENORES. POSSIBILIDADE. ATENDIMENTO AOS PRINCIPIOS DA VERDADE REAL E DA CONTEMPORANEIDADE. RECURSO ESPECIAL QUE SE NEGA PROVIMENTO. O Principio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica. Por isso que necessita espelhar a verdade existente e atual e não apenas aquela que passou. Nos termos de precedente deste STJ É admissível a alteração no registro de nascimento do filho para a averbação do nome de sua mãe que, após a separação judicial, voltou a usar o nome de solteira, para tanto, devem ser preenchidos dois requisitos: (I) justo motivo; (II) inexistência de prejuízos para terceiros (REsp DF, 3ª Turma, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 18/12/2008) Nesse sentido: RETIFICAÇÃO DE REGISTRO CIVIL DE MENOR EM VIRTUDE DO CASAMENTO POSTERIOR DOS GENITORES - ALTERAÇÃO DE NOME DA MÃE PASSANDO A CONSTAR NOME DE CASADA -PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA POSSIBILIDADE - INTERESSE DO MENOR - APLICAÇÃO DA LEI 8.560/92 - O pleito requerido não é proibido e atende aos interesses da família, da criança e ao mandamento constitucional que determina a facilitação pelo Estado da conversão das uniões estáveis em casamento. Sentença que merece reforma para que seja averbado na certidão de nascimento do filho o nome que a genitora assumiu no casamento. Provimento ao recurso. (TJ- RJ. Processo: APL RIO DE JANEIRO SAO GONCALO 5 VARA DE FAMILIA. Orgão Julgador: DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL. Publicação: 07/10/2010. Julgamento: 6 de Outubro de Relator: EDSON AGUIAR DE VASCONCELOS). APELAÇAO CÍVEL. AÇÃO DE RETIFICAÇAO DE REGISTRO DE CIVIL. RETIFICAÇÃO NOS REGISTROS CIVIS DO NOME DA GENITORA POR MODIFICAÇÃO DECORRENTE DE CASAMENTO. POSSIBILIDADE. LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. APELO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA À UNANIMIDADE. 1. Admite-se a alteração no registro de nascimento do filho para a averbação do nome de sua mãe que, em decorrência do casamento, adotou o patronímico do marido. 2. In casu, verifica-se que foram preenchidos os requisitos de justo motivo e de inexistência de prejuízos para terceiros, não havendo óbice para averbação do nome de casada da mãe no registro de nascimento das filhas. Precedentes do STJ. 3. RECURSO CONHECIDO e PROVIDO à unanimidade, nos termos do voto do Desembargador Relator. (TJ PA. Processo: APL PA. Orgão Julgador: 3ª CÂMARA CÍVEL ISOLADA. Publicação: 18/12/2013. Julgamento: 12 de Dezembro de Relator: ROBERTO GONCALVES DE MOURA). APELAÇÃO CÍVEL. RETIFICAÇÃO DE CERTIDÃO DE NASCIMENTO DOS FILHOS PARA ALTERAR O NOME DA GENITORA, MODIFICADO EM DECORRÊNCIA DE NOVO CASAMENTO. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA VERDADE REAL. AMPARO LEGAL. O registro civil espelhar a verdade real, em consonância com a dinâmica da vida. Possível, pois, a alteração do registro civil dos filhos para averbar a modificação do nome da genitora em decorrência de casamento. APELO PROVIDO. (TJ RS. Apelação Cível Nº , Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 12/04/2013). Diante do exposto, o voto é pelo conhecimento e desprovimento do recurso de Apelação, nos termos da fundamentação. Página 5 de 6 5

6 III. DECISÃO. ACORDAM os Magistrados integrantes da do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Relatora. A Sessão foi Presidida pela Excelentíssima Senhora Desembargadora Lenice Bodstein (com voto), e também acompanhou o voto da Relatora o Excelentíssimo Senhor Desembargador Dalla Vecchia. Curitiba, 29 de março de Juíza Subst. 2º G. LUCIANE R.C.LUDOVICO Relatora Página 6 de 6 6