AVALIAÇÃO ECODOPPLERCARDIOGRÁFICA EM CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL Vinícius Bentivóglio Costa Silva 1 ; Marlos Gonçalves Sousa 2

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1 AVALIAÇÃO ECODOPPLERCARDIOGRÁFICA EM CÃES COM LEISHMANIOSE VISCERAL Vinícius Bentivóglio Costa Silva 1 ; Marlos Gonçalves Sousa 2 1 Aluno do Curso de Medicina Veterinária, Campus de Araguaína.; vnicius@uft.edu.br PIBIC/CNPq 2 Professor Adjunto III, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Campus de Araguaína.; marlos@uft.edu.br RESUMO O presente estudo vislumbrou caracterizar apropriadamente o real comprometimento miocárdico que acompanha a leishmaniose visceral em seus vários estágios de desenvolvimento, valendo-se da técnica ecocardiográfica convencional e por tissue doppler imaging. Foram estudados cães capturados pelo Centro de Controle de Zoonoses de Araguaína, com diagnóstico sorológico positivo para leishmaniose visceral, alocados em três grupos experimentais, de acordo com suas manifestações clínicas. Os resultados não evidenciaram diferença estatística significativa entre os grupos experimentais relativamente às variáveis ecocardiográficas obtidas em modo B, M e doppler. Entretanto, a análise individualizada das variáveis diastólicas, particularmente os parâmetros derivados do tissue doppler imaging, permitiram identificar disfunção diastólica do tipo II (pseudonormalização) em quatro animais. Considerando que a leishmaniose visceral é uma zoonose de cunho multissistêmico, é compreensível que o coração também seja acometido. Palavras-chave: leishmaniose; ecocardiografia; doppler; diastologia; miocardite INTRODUÇÃO Embora menos descritas na literatura, as lesões no sistema cardiovascular também fazem parte do espectro de alterações em cães com leishmaniose visceral. Já foi relatada miocardite em cães e seres humanos infectados com tal parasito, caracterizada histologicamente por edema, infiltração inflamatória, necrose focal e proliferação de miócitos de Anitschkow (TORRENT et al., 2005; LÓPEZ-PEÑA et al., 2009; ALVES et al., 2010). Em um estudo preliminar conduzido no Hospital Veterinário da UFT, foram

2 identificados complexos atriais prematuros em 4,8% dos cães positivos no diagnóstico parasitológico da leishmaniose visceral (SOUSA et al., 2013). Assim sendo, este estudo vislumbrou caracterizar apropriadamente o real comprometimento miocárdico que acompanha a leishmaniose visceral em seus vários estágios de desenvolvimento, valendo-se da técnica ecocardiográfica convencional e por tissue doppler imaging. MATERIAL E MÉTODOS Foram selecionados cães capturados pelo Centro de Controle de Zoonoses de Araguaína, com diagnóstico sorológico positivo para leishmaniose visceral firmado pela identificação de títulos superiores a 1:40 nas reações de imunofluorescência indireta e ELISA. Os animais foram alocados em três grupos distintos, definidos segundo a observação de sinais clínicos atribuídos à enfermidade em questão, incluindo emaciação, linfadenomegalia, lesões cutâneas ulcerativas e/ou esfoliativas, alterações oculares, atrofia muscular e onicogrifose. Assim, animais sorologicamente positivos sem quaisquer dos sinais referidos foram incluídos no Grupo I (assintomáticos), cães com até dois desses sinais integraram o grupo II (oligossintomáticos), enquanto cães apresentando três ou mais sinais compuseram o Grupo III (polissintomáticos), totalizando 4, 6 e 8 animais, respectivamente. A avaliação ecodopplercardiográfica foi realizada em equipamento digital, dotado de transdutor multifrequencial de 4-8 MHz, e incluiu a mensuração, em sístole e diástole, do diâmetro interno do ventrículo esquerdo (VEs e VEd), espessura do septo interventricular (SIVs e SIVd) e espessura da parede livre do ventrículo esquerdo (PLVEs e PLVEd). Também foram medidas a separação septal do ponto E (SSPE), o diâmetro aórtico (AO), o diâmetro atrial esquerdo (AE), o tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV) e as velocidades máximas dos fluxos pulmônico (VmaxPulm), aórtico (VmaxAO), mitral (VmaxEm e VmaxAm) e tricúspide (VmaxEt e VmaxAt), bem como as velocidades miocárdicas longitudinais máximas no início da diástole ventricular (E sep e E lat), na sístole atrial (A sep e A lat) e na sístole ventricular (S sep e S lat) nas bordas lateral e septal do anel mitral. Diversos índices foram subsequentemente calculados, incluindo fração de encurtamento (FEC%), fração de ejeção (FEJ%), encurtamento fracional do septo interventricular (SIV%) e da parede livre do ventrículo

3 esquerdo (PLVE%) e relação AE/AO. Os dados foram tabulados, sendo calculadas as médias e desvios padrão das variáveis. A análise estatística envolveu a comparação das variáveis estudadas entre os três grupos, sendo empregada análise de variância, seguida do pós-teste de Tukey- Kramer. Para todas as análises considerou-se P<0,05 como estatisticamente significativo. A análise estatística foi inteiramente realizada com o programa Graphpad Prism versão 3.00 para Windows, desenvolvido pela Graphpad Software, San Diego, Califórnia (2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação às variáveis ecocardiográficas em modo B e M, não houve diferença estatística significativa (P>0,05) entre os grupos experimentais GI, GII e GIII (Tabelas 1 e 2). Entretanto, é notória a tendência de decréscimo dos valores ao se avaliar as variáveis fração de encurtamento (FEC%) e fração de ejeção (FEJ%) em tais grupos. No que diz respeito às variáveis ecocardiográficas em modo doppler, não houve diferença estatística significativa (P>0,05) entre os grupos experimentais GI, GII e GIII (Tabelas 3 e 4). No presente estudo a mensuração da velocidade transvalvar mostrou-se dentro da normalidade em todos os grupos experimentais (Tabela 3). No entanto, houve incremento nos valores da variável VmaxAt conforme se intensificou a gravidade da enfermidade estudada nos grupos experimentais GI, GII e GIII, respectivamente (Tabela 3).

4 A partir da análise individualizada das variáveis diastólicas, particularmente os parâmetros derivados do tissue doppler imaging (Tabela 4), identificou-se disfunção diastólica do tipo II (pseudonormalização) em dois animais do grupo GII (oligossintomáticos), bem como em dois cães integrantes do grupo GIII (polissintomáticos), evidenciada pelo padrão invertido da relação entre as ondas E /A, ressaltando a importância da realização dessa nova modalidade ecocardiográfica nos exames de rotina veterinários, visto que os parâmetros que retratam função diastólica no exame ecocardiográfico convencional não se mostram alterados na fase de pseudonormalização (BOON, 2011).

5 Embora tenham sido encontradas alterações mínimas, há indícios da atuação do parasito sobre o tecido cardíaco. Entretanto, o pequeno número de animais incluídos no grupo oligossintomáticos, destoando dos demais grupos, é um provável entrave no que diz respeito à análise estatística comparativa. Mesmo assim, é de suma importância a constatação de disfunção diastólica em quatro cães da presente pesquisa, alocados nos grupos de animais oligossintomáticos e polissintomáticos. Considerando que a leishmaniose visceral é uma zoonose de cunho multissistêmico, é compreensível que o coração também seja acometido. LITERATURA CITADA ALVES, G.B.B. et al. Cardiac and pulmonary alterations in symptomatic and asymptomatic dogs infected naturally with Leishmania (Leishmania) chagasi. Braz J Med Biol Res, v.43, p , BOON, J.A. Manual of veterinary echocardiography. 2.ed., Wiley-Blackwell, 2011, 632p. LÓPEZ-PEÑA, M. et al. Visceral leishmaniasis with cardiac involvement in a dog: a case report. Acta Vet Scand, v.51, p.20-22, SOUSA, M.G. et al. Assessment of the electrocardiogram in dogs with visceral leishmaniasis. Pesq Vet Bras, v.33, p , TORRENT, E. et al. Myocarditis and generalised vasculitis associated with leishmaniosis in a dog. J Small Anim Pract, v.46, p , AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil.