11 a 14 de dezembro de 2012 Campus de Palmas

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1 CORRELAÇÃO DAS LESÕES ENCONTRADAS EM VÍSCERAS, LINFONODOS E SNC DE CÃES COM LEISHMANIA SP. EM ARAGUAÍNA- TO Cinthian Cássia Mendonça 1 ; Adriano Tony Ramos 2 1 Aluno do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; cinthianmendonca@gmail.com PIBIC/CNPq 2 Orientador(a) do Curso de Medicina Veterinária; Campus de Araguaína; adrianotony@uft.edu.br RESUMO A leishmaniose é uma doença crônica sistêmica, causada por protozoários do gênero Leishmania, parasita células de defesa do organismo, provocando lesões em vários sistemas. É endêmica em diversos países, sendo o Tocantins um estado brasileiro com alto índice endêmico dessa enfermidade. Tem um papel importante na saúde pública, pois se trata de uma zoonose, sendo o veterinário peça chave no controle e prevenção da doença. É transmitido por insetos da subfamília Phlebotominae, que inocula o protozoário através da picada. A leishmana promove imunossupressão, dessa forma, dependendo do estado imunológico, o animal poderá manifestar os sinais após meses, anos, ou passarem por toda vida sem apresentar sinais, o que não permite que se torne um reservatório para o protozoário. Se caracteriza por uma doença debilitante crônica, com lesões cutâneas, hepatomegalia, linfadenopatia generalizada e anemia. Ainda não há certeza sobre a prevalência de lesões no sistema nervoso central causa pelo parasita, embora exista estudo mostrando alterações morfológicas resultadas de processo inflamatório. O presente estudo tem como objetivo correlacionar lesões entre vísceras, linfonodos e SNC, bem como detectar a possível presença do parasita nesses órgãos. Palavras-chave: Leishmania; SNC; doença; zoonose. INTRODUÇÃO A leishmaniose é uma doença crônica sistêmica, causada por protozoário do gênero Leishmania, sendo transmitida por insetos da subfamília Phlebotominae, onde o mosquito inocula através da picada a forma promastigota na circulação sanguínea do hospedeiro. A doença é endêmica em diversos países da América Latina ( LAISON, 1988), sendo que o estado do Tocantins possui um alto índice endêmico dessa enfermidade.

2 O protozoário é um parasita intracelular obrigatório dos mamíferos, parasitando as células de defesa do animal, e na ausência de uma resposta imune efetiva, o parasita se multiplica e os sinais são manifestados e podem causar até a morte do animal (SILVA, 2007). A doença gera um quadro progressivo, apresentando os sintomas após 2 a 4 meses, sendo caracterizada por uma doença debilitante crônica (caquexia) com lesões cutâneas (hiperqueratose, dermatite esfoliativa seca, ulcerações e alopecia), linfadenomegalia generalizada, hepatoesplenomegalia e anemia (CIARAMELLA et al., 1997; TRYPHONAS et al., 1977). Existem diversos meios de diagnóstico da Leishmaniose, porém, nenhum deles ainda apresenta 100% de sensibilidade. Há o diagnóstico clínico, entretanto, possui muitas dificuldades de detecção da doença, uma vez que o indivíduo pode manifestar diversos sintomas específicos ou inespecíficos da Leishmaniose (SILVA, 2007). Isso sugere a necessidade de novos estudos para facilitar os métodos diagnósticos. O presente estudo tem como objetivo correlacionar as lesões causadas pela Leishmania entre os linfonodos, vísceras e SNC, bem como detectar a presença do parasita no SNC e linfonodos de cães de Araguaína-TO. MATERIAL E MÉTODOS Amostras: As amostras foram coletadas de 23 cães, eutanasiados no Centro de Controle de Zoonoses do município de Araguaína TO. Após, fez-se a necropsia para coleta dos linfonodos, encéfalo, fragmentos de rim, baço, fígado, coração, pulmão e pele de todos os animais. Avaliação dos sinais: Durante a necropsia, alguns sinais macroscópicos serão avaliados, como onicogrifose, linfadenomegalia, hepatomegalia, esplenomegalia, lesões de pele e conjuntivite para posterior classificação dos animais em assintomáticos e sintomáticos. Processamento histopatológico: Posteriormente à coleta das amostras, o material foi fixado em formol a 10%, para então serem processados e as lâminas confeccionadas no Laboratório de Patologia Animal da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia (EMVZ) da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Os fragmentos dos órgãos, bem como o encéfalo, foram cortados transversalmente em fatias de aproximadamente 1 cm. Amostras foram clivadas em fragmentos de aproximadamente 2 mm e processadas de maneira rotineira para preparação histológica, onde foram desidratados, diafanizados, incluídos em parafina para posteriormente serem cortados a 3µm e corados por hematoxilina-eosina. Será utilizada estatística descritiva para a apresentação dos principais achados patológicos. Foram medidos largura e comprimento dos linfonodos com auxílio de paquímetro, sendo após calculada a área utilizando fórmula de cálculo de área de elipse (Area=π.(larg/2).(comp/2)).

3 Análise dos dados histopatológicos: As lâminas com os fragmentos dos órgãos serão analisadas em microscópio para possível detecção do protozoário e lesões nesses locais, sendo que as lesões microscópicas serão classificadas de acordo com a intensidade: ausente (-), leve (+), moderada ( ++) e acentuada (+++). Análise estatística: Os dados foram avaliados baseados nos teste de Tukey, para análise de variância entre a quantidade de parasita nos linfonodos, e correlação de Spearman, para avaliar se houve correlação entre os dados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação aos sinais macroscópicos, dos 23 animais necropsiados, 18 foram sintomáticos, apresentando pelo menos um sinal compatível com os observados. Sendo 9 polissintomáticos, ou seja, com no mínimo 3 sinais, 9 foram oligossintomáticos, ou seja, apresentando no mínimo 1 e no máximo 3 sinais, e 5 animais foram assintomáticos, não apresentando nenhum sinal. Destes sinais observamos onicogrifose (12), linfadenomegalia (8), hepatomegalia (11), esplenomegalia (11), lesões de pele facial (3), conjuntivite (3), sendo que 5 animais foram assintomáticos. Das amostras dos 23 animais, as principais alterações encontradas foram relacionadas à inflamação, assim como as encontradas por MENDONÇA (2011). Sendo que no baço, a principal alteração encontrada foi infiltrado de macrófagos, em 17 animais (XAVIER, 2006). Presença de protozoário (2), macrófagos com hemossiderina (4), perda da estrutura folicular (3). No pulmão, foi encontrado edema pulmonar (6), congestão (11) e bronquite linfoplasmocitária e histiocítica em (4) (LUVIZOTTO, 2006). O fígado, um dos órgãos que mais apresentam lesões causadas pela leishmaniose, observou-se hepatite linfoplasmocitaria e histiocítica (17), congestão (20) e degeneração hidrópica (4). Não houve correlação (0,1612; p=0,46) entre o número de parasitas nos linfonodos com as lesões nas vísceras, mostrando que não existe relação entre a quantidade e grau de lesões que possam ter sido causadas pela Leishmania spp. Portanto, cães assintomáticos continuam sendo fonte de infecção para o vetor, tendo papel importante na transmissão da doença, (MOLINA et al.,1994). Comparando também o número de parasitas nos linfonodos e lesões no SNC não houve correlação entre os dados obtidos, sendo que a correlação foi baixa e negativa (-0,1705; p=0,43). Também não houve correlação entre o número de parasitas nos linfonodos com o tamanho dos mesmos, se comparados os linfonodos regionais submandibulares, pré-escapular e poplíteo Em relação à comparação entre lesões encontradas nas vísceras com as lesões encontradas no SNC, não houve correlação entre os dados (0,0788; p=0,7207), o que demonstra que um animal que tenha maior número de lesões nas vísceras não significa que terá lesão no SNC, sendo o contrário

4 também verdadeiro. O sistema nervoso central apresentou baixa quantidade de lesões, podendo sugerir que a leishmaniose possivelmente não afeta de forma significativa esse sistema, já demonstrado em trabalhos anteriores sobre lesões nesse órgão (IKEDA ET AL. 2007). Na comparação entre os sinais macroscópicos e o grau histológico de lesões nas vísceras não houve correlação entre os dados (0,2890; p=0,1810), bem como não houve correlação entre os sinais macroscópicos e a quantidade de parasita encontrada nos linfonodos dessas 23 amostras (0,1187; p=0,5893), sendo assim, a resposta de cada animal pode ser diferente frente à infecção, podendo também variar de acordo com a região e o clima, (CALABRESE et al., 2010),e a raça,(sideris, 1996), dessa maneira, o diagnóstico negativo da leishmaniose não deve ser baseado apenas na ausência de sintomatologia, pois não se trata de um dado confirmativo para o diagnóstico. Notou-se que o baço, rins e fígado são os órgãos mais afetados por lesões inflamatórias. Em relação aos linfonodos, os linfonodos craniais apresentaram maior carga parasitária em relação ao poplíteo, indicando que esses linfonodos seriam os mais indicados para realização do exame parasitológico. O sistema nervoso central parece ser preservado em animais infectados pela leishmaniose visceral, provavelmente pela presença de metaloproteinases que participam da barreira hematoencefálica (MACHADO et al., 2010) Um dado importante comparado foi a presença de sinais macroscópicos com o grau de lesão nas vísceras, sendo que foi possível detectar que animais com grau elevado de lesões nas vísceras não apresentaram sinais macroscópicos, bem como, animais que apresentaram sinais macroscópicos significativos, tiveram grau menor de lesão nas vísceras, dessa maneira, podemos concluir que o diagnóstico da doença não pode ser baseado em sinais macroscópicos que o animal venha a apresentar, pois não será um dado confirmativo de doença. LITERATURA CITADA CALABRESE, K.S., CORTADA, V.M.C.L., DORVAL, M.E.C., LIMA, M.A.A.S., OSHIRO, E.T., C.S.F. SOUZA, M. SILVA-ALMEIDA, L.O.P. CARVALHO, GONÇALVES, S.C., ABREU-SILVA, C.A.L. Experimental Parasitology 124, , CIARAMELLA, P., OLIVA, G., LUNA, R., GRADONI, L., AMBROSIO, R., CORTESE, L., SCALONE, A., PERSECHINO, A., A retrospective clinical study of canine leishmaniasis in 150 dogs naturally infected by Leishmania infantum. The Veterinary Record. 22, 539,1997. IKEDA, F.A., LAURENTI, M.D., CORBETT, C.E., FEITOSA, M.M., MACHADO, G.F., PERRY, S.H.V. Histological and immunohistochemical study ofthe central nervous system of dogs naturally

5 infected by Leishmania (Leishmania) chagasi. Brazilian Journal of Veterinary Res. Animal Science. 44, 5 11, LAISON, P. Ecological interactions in the transmission of the leishmaniasis. Journal of Immunological Methods. 321, 389, LUVIZOTTO, M.C.R. Alterações patológicas em animais naturalmente infectados. In: 1O FORUM SOBRE LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA. Anais do Forum de Leishmaniose Visceral canina. Jaboticabal. p.15-22, MACHADO, F.G.; MELO, D.G.; MORAES, C.O.; SOUZA, S.M.; MARCONDES,M.; PERRI, H.V.S.; VASCONCELOS, R.O. Differential alterations in the activity of matrix metalloproteinases within the nervous tissue of dogs in distinct manifestations of visceral leishmaniasis. Veterinary Immunology and Immunopathology 136 (2010) , MENDONÇA, C.C.; RAMOS, A.T. Implicações das lesões encontradas em linfonodos e SNC em cães com leishmania em Araguaína-TO. In: VII Seminário de Iniciação Científica da UFT. Palmas- TO, MOLINA, R., AMELA, C., NIETO, J., SAN-ANDRÉS, M., GONZALEZ, F., CASTILLO, J.A., LUCIENTES, J.,ALVAR, J. Infectivity of dogs naturally infected with Leishmania infantum to colonized Phlebotomus perniciosus. American Journal Tropical Medical Hygiene 88, , SILVA, F.S. Patologia e patogênese da leishmaniose visceral canina. Revista Tropica Ciências Agrárias e Biológicas V.1, n. 1, p. 20, SIDERIS, V.; KARAGOUNI, E.; PAPADOPOULOU, G.; GARIFALLOU, A.; DOTSIKA, E. Canine Visceral Leishmaniasis in the great athens área, Greece. Parasite, v. 3, p , TRYPHONAS, L., ZAWIDZKA, Z., BERNARD, M.A., JANZEN, E.A. Visceral leishmaniasis in a dog: clinical, hematological and pathological observations. Can. J. Comp. Med. 41, 1, XAVIER, S.C.; CHARELLI, I.M.; LIMA, W.G.; GONCALVES, R.; TAFURI, W.L. Canine visceral leishmaniasis: a remarkable histopathological picture of one asymptomatic animalreported from Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, n.6, p , dezembro AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil.