SISTEMA AQUÍFERO: ELVAS-CAMPO MAIOR (A11)
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- Victoria Coradelli Barreiro
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2 SISTEMA AQUÍFERO: ELVAS-CAMPO MAIOR (A11) Figura A11.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 117
3 Identificação Unidade Hidrogeológica: Maciço Antigo Bacia Hidrográfica: Guadiana Distrito: Portalegre Concelhos: Campo Maior e Elvas Enquadramento Cartográfico Folhas 386, 387, 400, 401, 414 e 428 da Carta Topográfica na escala 1: do IGeoE Folhas 33-C, 33-D e 37-A do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1: do IPCC Folhas 33-C, 33-D e 37-A da Carta Geológica de Portugal na escala 1: do IGM ARRONCHES 33C 386 CAMPO MAIOR D ELVAS A ESPANHA 428 Figura A11.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia Os depósitos de idade terciária que constituem o suporte do sistema aquífero, fazem parte do bordo ocidental da bacia de Badajoz. As formações, predominantemente detríticas, assentam em discordância sobre terrenos pertencentes ao Complexo cristalofílico de Arronches, representado nesta região por gnaisses migmatíticos de Campo Maior; formações do Câmbrico (arcoses, calcários e dolomitos); Precâmbrico (xistos e quartzitos negros) e ainda sobre os granitos hercínicos. Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 118
4 Existem extensas áreas constituídas por depósitos de terraços e ainda algumas aluviões de idade quaternária, que cobrem, nalgumas zonas, as formações oligocénicas. As maiores extensões destas formações encontram-se a nordeste (vale do rio Xévora) e sul (vale do rio Caia) de Campo Maior e ainda a ESE de Elvas (vales do rio Guadiana e Caia). Relativamente à idade das formações terciárias, existe uma certa reserva por parte dos autores que as estudaram. Assim, enquanto, na Folha 37-A ELVAS da Carta Geológica de Portugal Continental, à escala 1/50 000, Gonçalves et al., (1970) atribui às formações idade paleogénica, nas Folhas 33-C CAMPO MAIOR e 33-D RIO XÉVORA, os mesmos autores atribuíram idade paleogénica-neogénica inferior (?). Os depósitos quaternários são constituídos por argilas arenosas, com burgau e seixo, de cor amarelada e acastanhada e, de acordo com a pouca informação disponível, não ultrapassam os 16 m de espessura, na zona da Comenda (a este de Elvas, junto ao posto fronteiriço do Caia). Na área NE do sistema aquífero não se dispõe de informação sobre a espessura dos depósitos de terraços. As formações detríticas do terciário, que constituem o principal suporte litológico deste sistema aquífero, são rochas margosas de cor avermelhada, com detritos de natureza e dimensões diversas, arenitos margosos com algumas intercalações de areias, de tons castanhos e avermelhados e, na base, nalguns pontos de água, verifica-se a existência de uma espessa camada de argilas, que chega a atingir 30 m de possança. De acordo com os perfis dos furos, a espessura média destas formações será da ordem dos 60 m, na zona de Roças. No entanto, na zona do Caia, a espessura ronda os 46 m enquanto que no extremo sul do sistema aquífero, as espessuras variam entre 10 e 20 m. Uma vez que o substrato das formações aquíferas é muito irregular, quer na natureza, quer em topografia, é de esperar que a espessura das formações aquíferas apresente uma variação grande num curto espaço. Tectónica Os depósitos terciários apresentam particular desenvolvimento a SE da falha de Campo Maior que faz parte do desligamento sinistrógiro de Odemira-Ouguela. O facto de existirem apenas vestígios dispersos destes depósitos no compartimento noroeste da falha e de, a sudoeste de Campo Maior, a formação terciária ser, nalguns pontos, limitada por este acidente, sugere que o terá havido rejogo em época recente, deste sistema de fracturas. Hidrogeologia Características Gerais Trata-se de um sistema aquífero poroso, multicamada, uma vez que nalgumas áreas se verifica a existência de camadas com uma percentagem elevada de margas no seio dos grés margosos, existindo, possivelmente, alguma conexão hidráulica entre diferentes camadas. A recarga das formações aquíferas é directa onde afloram estas formações e faz-se por drenância, onde se encontram cobertas pelos depósitos quaternários. Uma vez que se verifica a existência de uma camada argilosa na base das formações terciárias, especialmente quando são os calcários do Câmbrico que se encontram subjacentes, não é de prever que exista alguma recarga profunda. No entanto, em zonas onde se desconhece a existência desta camada argilosa, poderá haver alguma recarga profunda. Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 119
5 As camadas captadas são fundamentalmente as dos arenitos margosos, verificando-se que a espessura da formação apresenta valores médios da ordem dos 60 m na parte norte e leste do sistema, diminuindo para SE com valores de 38 m nas Barrancas, 47 m na área do ex-posto Fiscal do Caia e de 16 m na parte terminal sul do sistema (Alagada). A área do sistema é de 176 km 2. Parâmetros Hidráulicos e Produtividade As principais estatísticas dos caudais de exploração calculadas a partir de 20 dados constam do quadro seguinte: Média Desvio Padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 4,4 3,6 0,5 1,5 4,03 5,05 12 Quadro A Principais estatísticas dos caudais Dos dados disponíveis, verifica-se que os caudais de exploração são mais elevados na parte leste do sistema (zona de Roças), junto ao limite. Figura A Distribuição cumulativa de caudais A transmissividade estimada a partir de caudais específicos de 3 captações apresenta os seguintes valores: 8, 26 e 93 m 2 /dia. Análise Espaço-temporal da Piezometria Não se dispõe de dados de piezometria relativos a uma mesma época, pois não existe rede de observações monitorizada de forma sistemática, pelo que não se pode fazer uma apreciação das principais características da superfície piezométrica. Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 120
6 Algumas medições pontuais realizadas em Fevereiro de 1999, em dez captações mostram uma variação de profundidade do nível piezométrico entre escassos centímetros e os 13 m. Do conhecimento que se tem da análise piezométrica geral do sistema, feita para a parte situada em Espanha, mostra escoamento no sentido do Guadiana, que actuaria como zona de descarga natural. Parece razoável admitir que a parte portuguesa, correspondendo ao bordo da Bacia, tenha um comportamento semelhante. Balanço Hídrico A alimentação do sistema aquífero faz-se por recarga directa. Os recursos deverão situar-se entre os 9 e os 15 hm 3 /ano. Este valor foi obtido considerando uma área de afloramento de 176 km 2 e uma recarga média entre 55 e 83 mm/ano, correspondente a um intervalo de 10% a 15% da precipitação média local, que deverá ser da ordem de 550 mm. Do total de pontos de água inventariados neste sistema aquífero, verifica-se que a maior percentagem de água extraída se destina à agro-pecuária, seguindo-se o abastecimento privado (consumo humano e/ou rega), o abastecimento público e a indústria. Quanto à água que é utilizada para a rega, verifica-se que existe uma mistura de origens entre a água superficial, proveniente da albufeira do Caia e a água subterrânea. Assim, na parte norte do sistema aquífero predomina a rega com água subterrânea, porque aqui não se faz sentir a influência do perímetro de rega do Caia, enquanto na parte sul só é utilizada água superficial. Tanto as extracções para abastecimento público como as que se destinam a abastecimento particular, indústria ou pecuária, embora difíceis de estimar, por falta de dados, não deverão atingir volumes anuais significativos, provavelmente não atingirão 1 hm 3 /ano, no conjunto. Quanto às extracções para rega, admitindo uma área regada com recurso a águas subterrâneas, de cerca de 1200 ha, os totais anuais poderiam situar-se próximo dos 7 hm 3. Em face destas considerações o sistema é fortemente excedentário, sendo os excedentes drenados pelos cursos de água que o atravessam, nomeadamente os rios Caia, Xévora e Caiola. Também não se pode rejeitar a hipótese destes mesmos cursos de água poderem ser influentes em certos períodos, pelo menos nalguns sectores. Qualidade Considerações Gerais A maioria das águas tem mineralização total elevada, são muito duras, com predomínio de fácies bicarbonatada cálcica e magnesiana. São águas de qualidade fraca, quer para abastecimento, quer para regadio. Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 121
7 Figura A Diagrama de Piper relativo às águas do sistema aquífero de Elvas- Campo Maior Apresentam-se as principais estatísticas relativas à água subterrânea deste sistema (Quadro A11.2). n Média Desvio padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo Condutividade (µs/cm) ph 51 7,3 0,4 6,2 7,1 7,3 7,5 8,3 Bicarbonato (mg/l) Cloreto (mg/l) Sulfato (mg/l) 17 22,8 16,2 6,5 9,5 21,5 27,9 70 Nitratos (mg/l) 37 43,4 33,8 6, ,4 158 Nitritos (mg/l) 17 0,01 0,01 0 0,01 0,01 0,02 0,03 Cálcio (mg/l) 18 65,1 28,7 18, ,9 88,7 111 Magnésio (mg/l) 19 46,2 18,7 20,2 30,3 45, ,2 Potássio (mg/l) 16 1,0 0,8 0,4 0,6 0,7 1 3,3 Sódio (mg/l) ,3 8,5 31, Ferro (mg/l) 6 0,04 0,01 0,01 0,03 0,04 0,04 0,06 Alumínio (mg/l) 6 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,025 Sílica (mg/l) 19 39,3 13, ,5 38,9 49,2 62,4 Dureza Total (mg/l) Quadro A11.2- Principais estatísticas das águas do sistema de Elvas-Campo Maior Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 122
8 Qualidade para Consumo Humano Para a maioria dos parâmetros analisados, verifica-se que muitos dos VMRs são ultrapassados em grande percentagem, com excepção dos sulfatos, cálcio, potássio, ferro e alumínio, em que a maior parte dos teores determinados se encontra abaixo daquele limite. Relativamente ao VMA, são o magnésio e os nitratos que apresentam a maior percentagem de valores acima daquele limite. Dispõe-se de um conjunto de análises referentes aos anos de 1998 e 1999, em que nalguns pontos se procedeu a duas amostragens e noutros apenas se fez uma amostragem. Algumas das análises correspondem a análises expeditas realizadas no campo, utilizando os métodos WTW e RQflex. Na tabela seguinte faz-se uma síntese da qualidade, tendo como referência os anexos I, para a categoria A1 e o anexo VI, do Decreto-Lei N.º 238/98, de 1 de Agosto. Os resultados apresentam-se em percentagens. Anexo VI Anexo I -Categoria A1 Parâmetro <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph Condutividade Cloretos Dureza total 17 Sulfatos Cálcio Magnésio Sódio Potássio Nitratos Nitritos 0 Fósforo Ferro Fluoreto Alumínio Quadro A11.3 Apreciação da qualidade face aos valores normativos Quanto ao abastecimento público, verifica-se que a maior parte tem origem nas águas superficiais, embora as Câmaras Municipais de Elvas e Campo Maior possuam algumas captações de água subterrânea, ainda que as da Câmara de Elvas sejam as únicas que extraem água deste sistema aquífero. A Câmara Municipal de Campo Maior possui captações de água subterrânea, mas estão a captar outras formações que não fazem parte do suporte litológico deste sistema. Esta Câmara explora uma nascente, junto a Ouguela que utiliza a água para Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 123
9 abastecimento público. Esta nascente encontra-se no contacto do sistema aquífero com outras formações de permeabilidade diferente. Uso Agrícola Águas de má qualidade para uso agrícola. A maioria pertence à classe C 3 S 1 (73,3 %) e as restantes à classe C 2 S 1 (26,7%), pelo que representam um perigo de salinização dos solos médio a alto e perigo de alcalinização dos solos baixo (Fig. A11.5). Figura A11.5 Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 124
10 Bibliografia Gonçalves, F.; Torre de Assunção, C. T. (1970) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 37-A ELVAS. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 50 pág. Gonçalves, F.; Torre de Assunção, C.; Pinto Coelho, A. V. (1972) Carta Geológica de Portugal na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 33-C CAMPO MAIOR. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 41 pág. Gonçalves, F.; Torre de Assunção, C. (1972) Carta Geológica de Portugal na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 33-D RIO XÉVORA. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 11 pág. Oliveira, J. T.; Pereira, E.; Ramalho, M.; Antunes, M. T.; Monteiro, J. H. (1992) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1: Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. Sistema Aquífero: Elvas-Campo Maior (A11) 125
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