SISTEMA AQUÍFERO: ESCUSA (A2)
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- João Henrique de Paiva Sampaio
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2 SISTEMA AQUÍFERO: ESCUSA (A2) Figura A2.1 - Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Sistema Aquífero: Escusa (A2) 50
3 Identificação Unidade Hidrogeológica: Maciço Antigo Bacia Hidrográfica: Tejo Distrito: Portalegre Concelhos: Castelo de Vide e Marvão Enquadramento Cartográfico Folhas 335, 347 e 348 da Carta Topográfica na escala 1: do IGeoE Folhas 28-D e 29-C do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1: do IPCC Folhas 28-D e 29-C da Carta Geológica de Portugal na escala 1: do IGM Castelo de Vide 335 Marvão D 29C Portalegre Crato Figura A2.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero Escusa Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia A formação que constitui o suporte deste sistema aquífero é designada por Calcários Dolomíticos de Escusa, sendo formada, essencialmente, por calcários dolomíticos e dolomitos do Devónico médio. Encontra-se integrada num sinclinal, constituído por outras formações também paleozóicas. Os calcários encontram-se intercalados em xistos pelíticos, a que se seguem xistos argilosos, arenitos e quartzitos, todos do Devónico. Os Calcários Dolomíticos de Escusa constituem um afloramento descontínuo entre Castelo de Vide e a fronteira com Espanha, sendo contínuo entre Castelo de Vide e Porto Espada. A espessura total das formações aquíferas não é conhecida, mas através de sondagens realizadas nos calcários, conhece-se uma espessura de pelo menos de 139 m (Monteiro, 1993). Sistema Aquífero: Escusa (A2) 51
4 Os flancos do sinclinal são constituídos por formações do Silúrico e Devónico. O Silúrico está representado por grés e quartzitos, com lentículas xistentas intercaladas (Perdigão e Fernandes, 1976), enquanto que o Ordovícico é constituído por quartzitos esbranquiçados e azulados. Tectónica Como já foi referido, a formação calcária ocupa o núcleo de um sinclinal cujos flancos são constituídos por formações do Ordovícico e Silúrico. Este sinclinal, designado por sinclinal de Castelo de Vide, apresenta o eixo orientado segundo a direcção NW-SE e estende-se desde as proximidades de Castelo de Vide até à fronteira com Espanha (Monteiro, 1993). Está limitado a NE pelos granitos hercínicos de Nisa e a Sudoeste pelos granitos tectonizados antehercínicos de Portalegre. Os quartzitos da base do Ordovícico apresentam-se discordantes sobre as séries mais antigas do Pré-Câmbrico ou Câmbrico, constituídas pelo Grupo das Beiras (Ribeiro et al., 1979). Os movimentos hercínicos dobraram as formações sedimentares e provocaram o esmagamento dos granitos existentes na região (Granitos tectonizados de Portalegre). Mais tarde fizeram-se sentir os movimentos da fase urálica que actuaram segundo a direcção NE- SW (Fernandes et al., 1973). Os movimentos alpinos provocaram o jogo de fracturas e falhas hercínicas, destacando-se a falha de Castelo de Vide, de direcção NNE-SSW, com desligamento sinistrógiro e com um rejeito de 300 m (ibidem). Hidrogeologia Características Gerais Trata-se de um sistema aquífero cársico, em que ocorre circulação não só nos blocos rochosos como também nas descontinuidades que os compartimentam, apresentando assim, uma porosidade dupla, verificando-se a existência de conexão hidráulica entre os diferentes conjuntos de blocos. Apesar de se tratar de um sistema, cujo suporte são formações carbonatadas, as formas exocársicas são pouco desenvolvidas, não se conhecendo dolinas. No entanto, há registo de abatimentos provocados pelo colapso de cavidades endocársicas (Monteiro, 1993). A cavidade mais conhecida é Cova da Moura, que alberga uma importante colónia de morcegos. A recarga faz-se por infiltração directa quer da precipitação, que cai directamente nos calcários e dolomitos, quer devido à escorrência superficial que ocorre das outras formações envolventes, menos permeáveis, e que se infiltra quando atinge o contacto com as formações mais permeáveis. Nas zonas onde existem depósitos de cobertura, ocorre a infiltração da água nestas formações dando origem a nascentes que por sua vez vão recarregar linhas de água influentes. É o caso das nascentes de Água Formosa e da Atalaia, situadas a sudoeste da povoação de Escusa (Monteiro, 1993). A área do sistema aquífero é de 7,7 km 2. Sistema Aquífero: Escusa (A2) 52
5 Parâmetros Hidráulicos e Produtividade Monteiro (1998) realizou ensaios de caudal em 11 captações do sistema aquífero. As estatísticas obtidas encontram-se no quadro A2.1, em L/s. Média Desvio padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 20,98 28,4 0,8 3,75 9,6 21,4 92 Quadro A2.1 Principais estatísticas dos caudais Quanto às transmissividades obtidas, os valores oscilam entre 5,5 e 4050 m 2 /dia, com os valores mais frequentes entre 123 e 474 m 2 /dia. Análise Espaço-temporal da Piezometria Não existe informação que permita estabelecer uma superfície piezométrica para o sistema aquífero. Monteiro, 1993, fez algumas medições de níveis piezométricos que permitiram estabelecer um modelo de fluxo. Assim, segundo aquele autor, o padrão de circulação será o seguinte: a partir de uma área um pouco a Oeste de Escusa, verifica-se um decréscimo dos valores do potencial hidráulico, para NW, em direcção a Castelo de Vide e para SE, em direcção a S. Salvador de Aramenha. Este facto demonstra que o fluxo se dá em sentidos divergentes, a partir da área de Escusa, em direcção a ambos os extremos. Assim sendo, a área junto a Escusa deverá ser uma área preferencial de recarga. Também junto a Castelo de Vide se verificam entradas importantes, mas uma vez que existem captações de abastecimento, o padrão de circulação é influenciado pelas extracções. Figura A2.4 Modelo conceptual de escoamento (in Monteiro et al., 1998) Balanço Hídrico Os valores que se apresentam em seguida foram estimados por Monteiro, Assim, este autor determinou para as entradas devidas à infiltração directa um valor de 3, m 3 /ano, que corresponde a um valor de infiltração da precipitação de 451 mm. As restantes entradas devidas à escorrência de água superficial proveniente das formações menos permeáveis não foi quantificada. Sistema Aquífero: Escusa (A2) 53
6 Quanto às extracções para abastecimento público, são conhecidos valores de 2, m 3 /ano para as captações de Castelo de Vide e de 6, m 3 /ano, para as de Portalegre, representando as de Marvão um valor pouco significativo. As extracções para rega foram quantificadas em 7, m 3 /ano, tendo em consideração uma área de rega de 2,6 km 2. A indústria que realiza maiores extracções é a de engarrafamento da água de Castelo de Vide, que em 1991 extraiu 1, m 3. As saídas naturais estão representadas pelo caudal dos olhos de água de S. Salvador de Aramenha, com um valor 10 6 m 3 /ano. As restantes nascentes apresentam um caudal reduzido e estão inactivas durante o período de estiagem. O balanço mostra que o sistema se encontra subexplorado, sendo o equilíbrio mantido através das descargas para a rede de drenagem. Qualidade Considerações Gerais Dispõe-se de um conjunto de análises realizadas num período compreendido entre Novembro de 1996 e Janeiro de Algumas das análises correspondem a amostragens realizadas na mesma captação. As fácies das águas captadas neste sistema aquífero são bicarbonatada cálcica e/ou magnesiana, como se observa pelo diagrama de Piper (Figura A2.5). Figura A2.5 Diagrama de Piper para as águas do sistema aquífero de Escusa Sistema Aquífero: Escusa (A2) 54
7 As principais estatísticas apresentam-se no Quadro A2.2. Condutividade (µs/cm) n Média Desvio Padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo ph 35 6,9 0,5 5,7 6,7 7,0 7,2 7,7 Bicarbonato (mg/l) Cloreto (mg/l) 35 11,8 3,2 6,2 10,1 11,5 14,1 22,1 Sulfato (mg/l) 35 6,1 3,9 0,9 4,4 5,4 6,4 19,2 Nitrato (mg/l) 35 12,2 7,5 1,5 6, ,1 33,2 Nitrito (mg/l) 10 0,08 0,041 0,04 0,043 0,06 0,12 0,14 Dureza Total (mg/l) ,7 67, Sódio (mg/l) 35 5,4 2,3 3,2 3,9 4,6 5,9 12,9 Potássio (mg/l) 35 1,02 0,8 0,18 0,46 0,73 1,3 3,87 Cálcio (mg/l) ,8 27,6 33, Magnésio (mg/l) 35 24,9 9,2 9,2 17,9 24,8 29,7 45,2 Quadro A2.2 - Estatísticas principais dos parâmetros físico-químicos do sistema de Escusa Qualidade para Consumo Humano No quadro seguinte (Quadro A2.3) apresentam-se, em percentagem, as violações dos VMR e VMA definidos no Decreto-Lei n.º 236/98, de 1 de Agosto. Como se pode observar, os parâmetros que excedem o VMA são a dureza, com todos os valores acima do VMA e os nitritos, com 40%. Quanto às violações do VMR, destacam-se os nitratos com 6%, a condutividade com 17% e o magnésio com 23%. Pode-se dizer que são águas de boa qualidade. Anexo VI Anexo I Categoria A1 Parâmetro <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph Condutividade Cloretos Dureza total 100 Sulfatos Cálcio Sistema Aquífero: Escusa (A2) 55
8 Magnésio Sódio Potássio Nitritos 40 Nitratos Quadro A2.3 Apreciação da qualidade da água face aos valores normativos Uso Agrícola As águas distribuem-se pelas classes C 2 S 1 (63,2%) e C 1 S 1 (36,8%), pelo que representam um perigo de salinização baixo a médio e um perigo de alcalinização baixo. Figura A2.6 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Bibliografia Fernandes, A. P.; Perdigão, J. C.; Carvalho, H. F; Peres, A. M. (1973) - Carta Geológica de Portugal Continental na Escala 1: e Notícia Explicativa da Folha 28 D CASTELO DE VIDE. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. 44 pág. Sistema Aquífero: Escusa (A2) 56
9 Monteiro, J. (1993) - Hidrogeologia da Formação Carbonatada de Escusa (Castelo de Vide). Dissertação de mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Lisboa. 170 pág. Monteiro, J. (1998) - Castelo de Vide Carbonate Aquifer Hydraulic Parameters and Finite Elements Network. Universidade do Algarve, Faro, Portugal, Centre D Hydrogéologie, Uni. Neuchâtel, Suisse. Internal Report, 9 pág. Monteiro, J. P.; Lourenço da Silva, M.; Carvalho Dill, A. (1998) Dos Modelos Conceptuais aos Modelos Matemáticos de Simulação de Fluxo. O Caso do Aquífero Cársico de Castelo de Vide. Actas do V Congresso Nacional de Geologia. Tomo 84, Fascículo 2. Lisboa, E41-E44. Perdigão, J. C. & Fernandes, A. P. (1976) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 29 C MARVÃO. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. 18 pág. Ribeiro, A.; Antunes, M. T.; Ferreira, M. P.; Rocha, R. B.; Soares, A. F.; Zybszewski, G.; Almeida, F. M.; Carvalho, D.; Monteiro, J. H. (1979) - Introduction à la Géologie Générale du Portugal. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. 114 pág. Sistema Aquífero: Escusa (A2) 57
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