SISTEMA AQUÍFERO: VISO-QUERIDAS (O30)

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2 SISTEMA AQUÍFERO: VISO-QUERIDAS (O30) Figura O30.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 393

3 Identificação Unidade Hidrogeológica: Orla Meridional Bacias Hidrográficas: Mondego, Ribeiras da Costa e Vouga Distrito: Coimbra Concelhos: Cantanhede, Figueira da Foz e Montemor-O-Velho Enquadramento Cartográfico Folhas 217, 218, 228, 229, 239 e 240 da Carta Topográfica na escala 1: do IGeoE Folhas 19-A e 19-C do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1: do IPCC Folhas 19-A e 19-C da Carta Geológica de Portugal na escala 1: do IGM CANTANHEDE A MONTEMOR -O-VELHO COIMBRA FIGUEIRA DA FOZ C SOURE Figura O30.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero de Viso-Queridas Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia Na área do sistema aquífero, afloram terrenos do Cretácico e do Paleogénico e Miocénico indiferenciados, em grande parte recobertos por terrenos plio-quaternários, principalmente areias eólicas. Os terrenos cretácicos agrupam-se nas seguintes formações, de baixo para cima: a) os Arenitos de Carrascal do Aptiano-Cenomaniano, b) os Calcários de Tentúgal do Cenomaniano-Turoniano inferior, c) os Grés de Furadouro do Cenomaniano superior- Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 394

4 Turoniano, d) Grés de Oiã do Turoniano e e) Arenitos e Argilas de Viso do Maastrichitiano- Campaniano (Barbosa et al., 1988). Os Arenitos de Carrascal, em geral, compreendem arenitos mais ou menos argilosos, finos a grosseiros, conglomeráticos, com cascalheiras e seixos, e argilas em geral arenosas. Do ponto de vista da granulometria, a formação apresenta uma diminuição de calibre dos grãos, da base para o topo. Assenta em discordância sobre as formações do Jurássico. A espessura é avaliada em 120±30 m. Uma das unidades intermédias do sistema aquífero é constituída pela formação carbonatada conhecida por Calcários de Tentúgal. Trata-se de calcários, calcários margosos, grés calcários e margas, com textura concrecionada ou apinhoada, e com a superfície lapiezada. A transição para os Arenitos do Carrascal faz-se através de termos com composição margosa e componente detrítica, o que faz diminuir a permeabilidade e ganhar características de aquitardo. A espessura varia entre 10 e 40 m. Nos Grés de Furadouro reconhece-se uma subunidade inferior, essencialmente quartzarenítica, micácea, fina a muito fina, que para o topo, passa a grés mais grosseiros friáveis, menos micáceos e argilosos e ricos em areão e seixo fino de quartzo. A espessura estimada é de 10 a 20 m. Os Grés de Oiã, do Cretácico, são quartzarenitos e arcosarenitos, médios a finos, com matriz silto-argilosa e, no geral, bem consolidados. Espessura estimada de 20±10 m. Os afloramentos cretácicos mais extensos são dos Arenitos e Argilas do Viso, formação cretácica mais recente, constituída por um termo superior de argilas avermelhadas e um termo inferior de fácies predominante arenítica. Na área central da bacia, sob a forma de pequenos afloramentos dispersos, ocorrem os Arenitos Conglomeráticos de Queridas, do Paleogénico e Miocénico indiferenciados. Todas as unidades litostratigráficas apresentam camadas de fácies arenítica, com produtividade aquífera, com excepção dos Calcários de Tentúgal; aqui as camadas com interesse do ponto de vista da captação de água são calcários. A fácies argilosa da unidade Arenitos e Argilas de Viso é improdutiva. Tectónica O sistema aquífero localiza-se numa bacia sinclinal, no extremo oeste de duas estruturas anticlinais de direcção geral NE-SW: a norte, o anticlinal de Tocha-Mogofores e, a sul, o anticlinal de Cantanhede. A oriente, o sistema é limitado pelas falhas de direcção N-S, prolongamento das estruturas que falharam o anticlinal de Montemor-O-Velho. Para oriente destas estruturas, estende-se o sistema aquífero de Tentúgal. A sul e sudoeste, o limite do sistema aquífero coincide com a falha em arco que limita a NE o monoclinal das serras de Boa Viagem e Alhadas e que se prolonga para sul, sob as aluviões do rio Arunca. Completa o quadro estrutural, a falha de Quiaios que acompanha a escarpa da Serra de Boa Viagem e que afecta a estrutura anticlinal do Pincho e os lineamentos de Gatões-Tocha, de Resgatados-Barrins e de Queridas, orientados para NW, que alinham com a orientação da rede hidrográfica (Barbosa et al., 1988). Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 395

5 Segundo a cartografia de Cabral e Ribeiro (1988) são prováveis falhas activas: a falha em arco que limita a NE o monoclinal das serras de Boa Viagem e Alhadas e que se prolonga para sul sob as aluviões do rio Arunca, e a falha orientada para NNE paralela à linha de costa. Hidrogeologia Características Gerais O sistema aquífero é de produtividade média, essencialmente poroso, constituído por materiais detríticos de textura muito variável e estrutura lenticular. As camadas de natureza argilosa separam as várias unidades aquíferas e dão um carácter multicamada ao sistema. Devido à variabilidade da composição granulométrica, também as características hidráulicas podem variar significativamente de local para local. A natureza do substrato do sistema aquífero é desconhecido. Presume-se que seja a formação Arenitos de Boa Viagem do Jurássico superior. A extensa cobertura de areias eólicas sobre as formações mais antigas, para além de dificultar a definição da configuração e estrutura do sistema aquífero, adiciona grandes dificuldades à caracterização hidrogeológica. A cobertura eólica é bastante mais permeável que os terrenos mais antigos, terciários e cretácicos, pelo que dá origem a uma rede de drenagem ramificada quando o manto eólico é de pequena espessura e/ou a formação subjacente é pouco permeável. Esta cobertura desempenha um papel importante na recarga diferida do sistema aquífero, prolongando-a muito para além do período das precipitações. O conjunto de camadas com potencialidades aquíferas têm espessura da ordem dos 200 metros. O tecto destas camadas está a profundidade variável com a localização. A SE do sistema aquífero, aflora a fácies argilosa dos Arenitos e Argilas de Taveiro que confinam o sistema aquífero. Os afloramentos da unidade mais potente e produtiva (Arenitos de Carrascal) têm extensão limitada; nestes domínios e noutros recobertos directamente pelo manto eólico, o sistema deve ser limitado superiormente por uma superfície livre. No entanto, com o aumento da profundidade, a estrutura multicamada rapidamente introduz condições de confinamento/semiconfinamento. A área do sistema aquífero é de186 km 2. Parâmetros Hidráulicos e Produtividade A informação hidrogeológica disponível é escassa, apenas sobre 11 furos (Quadro O30.1). n Média Desvio Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo padrão Profundidade (m) ,4 63,7 27,0 79,9 120,0 133,5 252,0 Fim Ralos (m) ,8 55,3 27,2 84,0 118,0 130,8 238,0 % Zona Captada 11 37,8 21,7 6,0 14,5 39,0 54,5 75,0 Quadro O30.1 Principais estatísticas das características dos furos Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 396

6 A maioria dos furos distribui-se na vizinhança do limite Este do sistema aquífero, nas proximidades do sistema aquífero de Tentúgal. Há quatro furos na zona da Tocha. Os resultados da informação disponível, que se resumem no Quadro O30.2, parecem promissores, tanto mais que os furos inventariados não atravessaram toda a espessura do sistema: n Média Desvio Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo padrão Caudal(L/s) 12 10,6 5,4 2,2 7,5 9,5 13,0 20,0 Caudal específico 10 0,86 0,93 0,11 0,14 0,45 1,14 2,41 (L/s/m) Nível hidrostático (m) 11-8,2 6,4-19,7-15,3-5,3-4,6-1,0 Quadro O30.2 Principais estatísticas da produtividade Dos furos que se conhece o caudal, há um que foi improdutivo: este furo apenas intersectou as Argilas do Viso. Os outros, aproveitaram camadas aquíferas da fácies arenítica da base da formação do Viso, dos Calcários de Tentúgal e Arenitos do Carrascal. Os resultados apresentados permitem considerar que a bacia de Viso-Queridas parece ter potencialidades aquíferas (produtividade e rendimento dos furos) que se assemelham às encontradas nos sistemas aquíferos definidos nas unidades cretácicas (Figueira da Foz - Gesteira e Tentúgal). O alvo litostratigráfico a atingir na pesquisa e captação da água subterrânea são as camadas areníticas da base da formação do Viso, os Calcários de Tentúgal e, principalmente, os Arenitos do Carrascal. Não se dispõem de elementos de ensaios de bombagem que permitam o cálculo de parâmetros hidráulicos. No quadro seguinte (O30.3) apresentam-se as estatísticas principais da transmissividade estimada através da expressão: Transmissividade (m 2 /dia) = 100 Caudal específico (L/s/m) Transmissividade (m 2 /dia) n Média Desvio Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo padrão Quadro O30.3 Principais estatísticas da transmissividade Análise Espaço-temporal da Piezometria Não há elementos que permitam definir a direcção do escoamento subterrâneo e as descargas do sistema aquífero. O rio Mondego, a sul, as lagoas e o Atlântico a oeste, são o destino final do escoamento subterrâneo nas camadas aquíferas mais profundas. As camadas mais superficiais são drenadas pela rede hidrográfica que é particularmente desenvolvida no sector Sudoeste, onde afloram os Arenitos e Argilas do Viso parcialmente recobertos por areias. Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 397

7 Balanço Hídrico A recarga das unidades aquíferas faz-se através das precipitações, pelos mecanismos seguintes: (1) infiltração directa nos afloramentos mais permeáveis, cuja área é relativamente escassa; (2) infiltração diferida através das areias quaternárias que cobrem grande parte da área da bacia e que são bastante mais permeáveis que os arenitos cretácicos: parte da água infiltar-se-á profundamente a outra é drenada para a rede hidrográfica; (3) drenância através do Arenitos Conglomeráticos de Queridas e dos Arenitos e Argilas do Viso. O mecanismo indicado em segundo lugar estende o período da recarga muito para além do período das precipitações e é provável que abarque todo o ano nos locais onde a base da cobertura eólica se mantenha saturada. Este facto, e o desconhecimento da geologia subjacente ao manto eólico, tornam o cálculo da recarga extremamente problemática. Com as devidas reservas e como valor mínimo, propõe-se o valor de 150 mm/ano sobre toda a área do sistema aquífero, isto é, cerca de 28 hm 3 /ano. Este valor é o que foi estimado como representativo da infiltração nas formações do Cretácico inferior. Em termos médios, as saídas do sistema têm o mesmo valor que as entradas. Não se conhecem saídas naturais do sistema sob a forma de nascentes caudalosas. Qualidade Considerações Gerais Só foi possível obter análises da água de um furo (AC2 Gatões). São análises obtidas de amostras recolhidas a duas profundidades distintas; a amostra de água mais superficial foi recolhida em formações areníticas e a mais profunda incluiu um troço com arenitos e calcários. Profundidade (m) 49/63 84/116 Data Apr-82 Apr-82 Resíduo Seco (mg/l) ,5 ph 6,8 7,7 Bicarbonato (mg/l) 34,2 187,9 Cloreto (mg/l) 27,7 28,4 Sulfato (mg/l) 19,8 15,97 Nitrato (mg/l) 0 0 Sódio (mg/l) 25,3 42,1 Potássio (mg/l) 2 2,5 Cálcio (mg/l) 6,8 46,4 Magnésio (mg/l) 3,2 10,7 Ferro (mg/l) 0,04 0,08 Quadro O30.4 Parâmetros determinados nas duas análises químicas Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 398

8 A mineralização aumenta com a profundidade e a fácies hidroquímica passa de cloretadabicarbonatada sódica a bicarbonatada cálcico-sódica. Qualidade para Consumo Humano As concentrações de cloreto e de sódio ultrapassam o VMR e, numa das análises, o valor da concentração do ferro também ultrapassa o VMR. Uso Agrícola A primeira amostra de água é da classe C 1 S 1 e a segunda da classe C 2 S 1. Nenhum dos valores reportados viola o VMR do Decreto-Lei N.º 236/98, de 1 de Agosto. Bibliografia Barbosa, B. P.; Soares, A. F.; Rocha, R. B.; Manuppella, G.; Henriques, M. H. (1988) - Carta Geológica de Portugal na Escala de 1/ e Notícia Explicativa da Folha 19-A CANTANHEDE. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 46 pág. Cabral; J. e Ribeiro, A. (1988) - Carta Neotectónica de Portugal Continental. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. Lauverjat, J. (1982) - Le Crétacé Supérieur dans le Nord du Bassin Occidental Portugais. Thèse de Doctorat d État. Université Pierre et Marie Curie (Paris VI). Paris. Peixinho de Cristo, F. (1998) - Águas Subterrâneas no Baixo Mondego. Projecto Praxis XXI 2/2.1/CTA - 156/94. Rocha, R.; Manuppella, G.; Mouterde, R.; Zbyszewski, G. (1981) - Carta Geológica de Portugal na Escala de 1/ e Notícia Explicativa da Folha 19-C FIGUEIRA DA FOZ. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 126 pág. Sistema Aquífero: Viso-Queridas (O30) 399