SISTEMA AQUÍFERO: PISÕES-ATROZELA (O28)

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2 SISTEMA AQUÍFERO: PISÕES-ATROZELA (O28) Figura O28.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Pisões-Atrozela Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 370

3 Identificação Unidade Hidrogeológica: Orla Ocidental Bacia Hidrográfica: Ribeiras do Oeste e Tejo Distrito: Lisboa Concelhos: Cascais e Sintra Enquadramento Cartográfico Folhas 416, 429 e 430 da Carta Topográfica na escala 1: do IGeoE Folhas 34-A e 34-C do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1: do IPCC Folhas 34-A e 34-C da Carta Geológica de Portugal na escala 1: do IGM 34A SINTRA C CASCAIS OEIRAS 430 Figura O28.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero Pisões-Atrozela Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia Este sistema aquífero insere-se numa zona de grande complexidade estratigráfica e estrutural, onde as formações aquíferas, predominantemente carbonatadas, do Jurássico superior e Cretácico, se encontram envolvidas por formações detríticas, rochas ígneas e depósitos recentes. O substrato do sistema é constituído por formações calco-margosas, os Xistos do Ramalhão, do Oxfordiano superior-kimeridgiano inferior. Esta formação é constituída por uma alternância de calcários compactos, margas e calcários margosos, que foram afectados Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 371

4 por metamorfismo metassomático. Segundo Ramalho (1971), a espessura dos Xistos do Ramalhão situa-se entre 400 e 1000 m. Os Margo-calcários Xistosos (Calcários Corálicos, Calcários com Oncólitos, Calcários de Mem Martins), de idade kimeridgiana-titoniana, são constituídos por uma alternância de calcários compactos, brechas calcárias e calcários margosos, fossilíferos. A sua espessura é superior a 60 m. Por cima, encontram-se os Calcários Nodulares de Farta Pão do Titoniano com uma espessura total de 400 m. Esta formação apresenta-se sob a forma de uma alternância de calcários compactos, nodulares, um pouco margosos, e margas, que, por vezes, contêm nódulos calcários. Muitas vezes esta formação encontra-se carsificada formando pequenos campos de lapiás à superfície (Jesus, 1995). A formação do Cretácico inferior, os Calcários e margas com A. lusitanica, M. purbeckensis e Trocholina, incluindo os níveis de Calcários amarelo-nanquim, constituem o topo do sistema aquífero. Este conjunto, de idade berriasiana, é composto por calcários compactos, calcários margosos e margas com nódulos calcários. Às formações aquíferas seguem-se formações predominantemente margosas, com raras intercalações areníticas, de idade cretácica. Tectónica Esta área está fortemente condicionada pela tectónica associada à intrusão do maciço eruptivo de Sintra e à instalação do Complexo Vulcânico de Lisboa. Associada à intrusão do maciço eruptivo ocorrem complexos filoneanos que se dividem em filões camada (concordantes com a estratificação das formações encaixantes) e filões do tipo cone-sheet e diques radiais (inclinam para o interior do maciço). Outra estrutura que se formou devido à intrusão do maciço de Sintra, é o sinclinal de Alcabideche, que é anelar quase completo, rodeando o maciço. Este sinclinal é ligeiramente dissimétrico, uma vez que as camadas que pertencem ao flanco norte do sinclinal estão mais inclinadas (entre 40 e 70º para sul) do que as camadas do seu flanco sul (entre 14 e 30º para norte), verificando-se uma vergência para norte. No flanco norte deste sinclinal, afloram as formações do Jurássico superior e Cretácico inferior; no núcleo encontram-se as formações do Albiano-Cenomaniano inferior e médio e no flanco sul, afloram as formações do Hauteriviano ao Aptiano. Verifica-se a presença de numerosas falhas, de direcção NW-SE, que são na sua maioria desligame ntos direitos e que afectam o flanco sul das formações encaixantes do maciço eruptivo de Sintra. Hidrogeologia Características Gerais Trata-se de um sistema aquífero cársico, com uma forma alongada e estreita, que se estende ao longo do flanco sul e leste do maciço eruptivo de Sintra. A sua área é de 22 km 2. As formações que constituem o suporte do sistema aquífero são os Margo-calcários Xistosos e Calcários Nodulares de Farta Pão, do Jurássico superior e os Calcários e margas Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 372

5 com A. lusitanica, M. purbeckensis e Trocholina, incluindo os níveis de Calcários amarelonanquim do Cretácico inferior. Este sistema aquífero encontra-se fortemente condicionado pela tectónica que afectou as formações, sendo natural que esteja dividido em compartimentos limitados pelas diferentes falhas e/ou filões. Quer as falhas, quer os filões apresentam um papel determinante na produtividade do sistema aquífero. Assim, se as falhas se encontram preenchidas por material argiloso e os filões se encontram alterados, também para material argiloso, a circulação de água fica bastante dificultada, enquanto que as falhas que não apresentam preenchimento, ou este não é de natureza impermeável, a circulação fica bastante mais favorecida, contribuindo para aumentar a produtividade das formações. A carsificação que se observa à superfície nas formações calcárias, com a presença de pequenas depressões, é indicador da elevada solubilidade destas litologias, podendo existir cavidades, em profundidade, que constituam reservatórios de água. A recarga é feita directamente nas formações aflorantes, em especial onde se encontram carsificadas e conhecem-se algumas descargas naturais, em especial a NW da Atrozela, na vertente norte do sinclinal de Alcabideche, na margem norte da ribeira da Penha Longa. Parâmetros Hidráulicos e Produtividade Dispõem-se apenas de 9 dados de caudal, pelo que não se apresentam as estatísticas. Os extremos variam entre 0,6 e 24,4 L/s. São conhecidas quatro captações de abastecimento público que pertencem aos Serviços Municipalizados de Cascais, localizadas na zona da Atrozela, cujos caudais variam entre 5 e 20 L/s. Os caudais específicos conhecidos variam entre 0,01 e 1 L/s.m. Análise Espaço-temporal da Piezometria Não existe qualquer tipo de informação disponível que nos permita fazer a análise espaçotemporal da piezometria. Balanço Hídrico As saídas para abastecimento público são de cerca de 1 hm 3 /ano (oscila entre 1,4 hm 3 /ano em 1990 e 0,7 hm 3 /ano em 1992). Provavelmente as extracções para rega de pequenas parcelas e de um campo de golfe também se situam perto daquele valor. Não se dispõe de dados que permitam estimar as extracções para a indústria, mas o total deverá ser muito inferior às extracções para abastecimento público e rega. Assim, o total das extracções deverão situar-se entre 2 e 3 hm 3 /ano, no máximo. Para obter uma estimativa da recarga anual média, foi usada a precipitação média no posto udométrico de Alcabideche, que foi de 733 mm num intervalo de 16 anos (anos hidrológicos de 1980/81 a 1994/95). A área total do sistema é de 22 km 2 mas uma parcela importante encontra-se coberta por áreas urbanas, pelo que estimamos em cerca de 80%?18 km 2 a área útil. Dadas as características topográficas e de cobertura, estima-se em cerca de 30% da precipitação, a taxa de recarga, pelo que os recursos médios renováveis deverão situar-se entre 3 e 4 hm 3 /ano. Conclui-se, portanto, que o sistema é excedentário fazendo-se a regulação natural através de exsurgências (Atrozela, por exemplo). Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 373

6 Qualidade Considerações Gerais O conjunto de análises de que se dispõe refere-se a um período compreendido entre Abril e Agosto de Foram obtidas em doze captações de água e só existe uma análise para cada um dos pontos de água. As águas deste sistema apresentam uma qualidade fraca, quer para o abastecimento quer para o regadio. Os VMRs são ultrapassados em todos os iões maiores, excepto para o potássio. A condutividade apresenta todos os valores acima do VMR. Tratam-se de águas duras a muito duras, situando-se todos os valores acima do VMA definido no Anexo VI do Decreto-Lei N.º 236/98, de 1 de Agosto. Quanto à qualidade para rega, a maior parte ultrapassa o VMR dos cloretos e apenas duas amostras ultrapassam o VMR dos nitratos. A fácies dominante é bicarbonatada cálcica, com uma água a demonstrar uma fácies cloretada calco-magnesiana, como se observa na figura O28.3. Figura O Diagrama de Piper relativo às águas do sistema de Pisões-Atrozela Na tabela seguinte apresentam-se as principais estatísticas relativas às águas deste sistema (Quadro O28.1). Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 374

7 n Média Desvio Padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo Condutividade (µs/cm) ph 12 7,11 0,28 6,82 6,93 7,04 7,21 7,73 Bicarbonato (mg/l) , ,2 325, ,6 470,3 Cloreto (mg/l) 12 95,7 31,7 51,8 71,7 89,3 111,8 164,7 Potássio (mg/l) 12 1,55 2,08 0,2 0,38 0,85 1,83 7,7 Dióxido de Carbono (mg/l) 12 51,4 25,8 11,8 31,5 54,2 68,9 84,8 Nitratos (mg/l) 12 37,3 18,4 18,6 23,1 34, ,5 Sulfato (mg/l) 12 35,6 14,4 16, ,2 43,4 65,9 Dureza (mg/l CaCo 3 ) Sódio (mg/l) 12 45,9 13,2 25,3 33,3 48,4 57,2 67,5 Cálcio (mg/l) ,8 26,5 65,6 114,4 124,9 138,8 160,8 Magnésio (mg/l) 12 23,1 12,5 9,2 13,9 18,5 30,4 44,7 Quadro O Principais estatísticas das águas do sistema aquífero Pisões-Atrozela Qualidade para Consumo Humano Pela análise do quadro O28.2, verifica-se que a qualidade da água para consumo humano é má, uma vez que existem violações do VMR para todos os parâmetros, excepto o ph, e mesmo violações do VMA. Para quatro das amostras de água, foram realizadas análises a alguns parâmetros microbiológicos, em especial os coliformes fecais e totais e ainda os estreptococus fecais. Numa delas, verifica-se que ocorre violação do VMR (definido no Anexo I, para uma água do tipo A1) para os três microorganismos analisados, sendo os valores bastante elevados. Anexo VI Anexo I -Categoria A1 Parâmetro <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph Condutividade Cloretos Dureza total 100 Sulfatos Cálcio Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 375

8 Magnésio Sódio Potássio Nitratos Quadro O28.2 Apreciação da qualidade da água do sistema aquífero Pisões-Atrozela face aos valores normativos Uso Agrícola A maioria das águas pertence à classe C 3 S 1, com 91,7% das amostras, pelo que apresentam um perigo de salinização alto e perigo de alcalinização baixo. As restantes (8,3%) pertencem à classe C 2 S 1, conforme se observa na Figura O29.4 Figura O29.4- Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 376

9 Bibliografia Jesus, M. R. (1995) Contaminação em Aquíferos Carbonatados na Região de Lisboa- Sintra-Cascais. Dissertação apresentada à Universidade de Lisboa para obtenção do grau de Mestre em Geologia Económica e Aplicada. Lisboa. 137 pág. Ramalho, M. (1971) Contribution à L étude Micropaléontologique et Stratigraphique du Jurassique supérieur et du Cretacé inferieur des Environs de Lisbonne (Portugal). Mem. Serv. Geol. Port. Lisboa. N.S., N.º pág. Ramalho, M. M.; Rey, J.; Zbyszewski, G.; Matos Alves, C. A.; Moitinho de Almeida, F.; Costa, C.; Kullberg, M. C. (1981) Carta Geológica de Portugal Continental na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 34-C CASCAIS. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 87 pág. Ramalho, M.; Pais, J.; Rey, J.; Berthou, P. Y.; Alves, C. A. M.; Palácios, T.; Leal, N.; Kullberg, M. C. (1993) Carta Geológica de Portugal Continental na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 34-A SINTRA. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 33 pág. Ribeiro, A.; Antunes, M.; Ferreira, M.; Rocha, R.; Soares, A.; Zbyszewski, G.; Almeida, F. M.; Carvalho, D. & Monteiro, J. (1979) Introduction à la geologie générale du Portugal. Ed. Serv. Geol. Portugal, Lisboa. 114 pág. Sistema Aquífero: Pisões-Atrozela (O28) 377