SISTEMA AQUÍFERO: VIEIRA DE LEIRIA - MARINHA GRANDE (O12)
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- Maria Vitória Abreu Valente
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2 SISTEMA AQUÍFERO: VIEIRA DE LEIRIA - MARINHA GRANDE (O12) Figura O12.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 279
3 Identificação Unidade Hidrogeológica: Orla Ocidental Bacias Hidrográficas: Lis, Ribeiras do Oeste e da Costa Distrito: Leiria Concelhos: Alcobaça, Leiria, Marinha Grande e Nazaré Enquadramento Cartográfico Folhas 272, 273, 284, 285, 296, 297, 306-B e 307 da Carta Topográfica na escala 1: do IGeoE Folhas 22-B, 22-D, 23-A, 23-C e 26-B do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1: do IPCC Folhas 22-B, 22-D, 23-A, 23-C e 26-B da Carta Geológica de Portugal na escala 1: do IGM 22B 272 POMBAL A 284 MARINHA GRANDE 285 LEIRIA 22D 23C B ALCOBAÇA 307 NAZARÉ 26B BATALHA 308 PORTO DE MÓS 27A Figura O Enquadramento geográfico do sistema aquífero Vieira de Leiria- Marinha Grande Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia As formações que constituem o suporte litológico do sistema são, essencialmente, as areias de duna, os depósitos miocénicos e plio-plistocénicos indiferenciados, embora também Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 280
4 possam ser intersectados os depósitos paleogénicos e os complexos carbonatados e detríticos cretácicos. As areias de duna afloram em todo o litoral, constituindo uma faixa paralela à costa, cuja largura máxima atinge 7,5 km entre S. Pedro de Muel e Marinha Grande. Os depósitos plioplistocénicos são constituídos por areis finas a médias, com intercalações conglomeráticas e níveis argilosos e lenhitosos. A espessura é muito variável, oscilando entre quinze e 40m, perto de S. Pedro de Muel, ultrapassando os 150m para SE daquela povoação. O Miocénico está representado por arenitos argilosos, mais ou menos grosseiros, níveis conglomeráticos, argilas, concreções calcárias, etc. No furo SPM-2 foram intersectados 130 m de areias e arenitos, por vezes conglomeráticos e argilas micáceas (Zbyszewski e Assunção, 1965). O Paleogénico aflora nas arribas do litoral a sul de Canto de Azeche, sendo constituído por um complexo detrítico formado por arenitos grosseiros, argilas, conglomerados, etc. No interior é cortado pela sondagem SPM-2 (Zbyszewski e Assunção, 1965). O Cretácico está representado por pequenos afloramentos do complexo carbonatado entre o litoral e Marinha Grande e é intersectado por numerosas captações. A sondagem SPM-2 corta 36m de calcários apinhoados brancos e rosados, pertencentes àquele complexo, aos 292m (Zbyszewski e Assunção, 1965). O complexo detrítico do Cretácico inferior aflora em Pataias e está presente nalguns locais em profundidade. Tectónica A tectónica diapírica exerce um controlo decisivo na distribuição das espessuras das formações de cobertura e na organização espacial do substrato das mesmas. Zbyszewski e Assunção (1965) referem a ocorrência de um diapiro a oeste de S. Pedro de Muel (Fig. O12.4) e a ocorrência de falhas de orientação NW-SE. No entanto essas falhas, em geral, não têm expressão cartográfica devido a terem sido cobertas por sedimentos que não são por elas afectados. A irregularidade da topografia do substrato é testemunhada pelas variações de espessura dos depósitos post-cretácicos, que podem atingir nalguns pontos mais de uma centena de metros, até à sua ausência, onde aflora o substrato. No litoral a norte e sul de S. Pedro de Muel e nas margens da ribeira de S. Pedro, para oeste da Marinha Grande, afloram as camadas liásicas. O corte seguinte (Fig. O12.3) ilustra os aspectos referidos. Figura O Corte N-S no diapiro de S. Pedro de Muel (in Lauverjat, 1982) Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 281
5 Figura O Diapiro de S. Pedro de Muel (Lauverjat, 1982) Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 282
6 Hidrogeologia Características Gerais O sistema ocupa uma área de cerca de 320 km 2. Trata-se de um sistema aquífero multicamada. As camadas exploradas são, fundamentalmente, as areias plio-plistocénicas, areias miocénicas e arenitos do Cretácico inferior. Todas as captações de que se dispõe de dados, captam camadas confinadas, tendo nalguns casos o nível piezométrico subido, na altura da construção, acima da cota do terreno mesmo para captações pouco profundas. Por exemplo 3 captações da Praia de Vieira, construídas na década de 60, com profundidades entre 19 e 26 m, apresentavam níveis piezométricos repuxantes. A recarga das camadas profundas dá-se fundamentalmente nas áreas mais elevadas situadas a leste e, provavelmente, por drenância entre camadas e ao longo de cursos de água influentes. Parâmetros Hidráulicos e Produtividade A distribuição dos caudais de exploração não apresenta aparentemente nenhuma tendência espacial, sendo sobretudo influenciado pela profundidade das captações, embora se conheçam captações curtas com caudais superiores a 20 l/s (Praia de Vieira). Estatísticas calculadas a partir de 32 dados, são apresentadas no quadro seguinte (O12.1) Média Desvio padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 16,1 11,1 1 8, ,0 Quadro O12.1 Principais estatísticas da produtividade do sistema aquífero (L/s) Figura O Distribuição cumulativa dos caudais A média e a mediana da transmissividade, estimadas a partir de 47 caudais específicos, são 230 m 2 /dia e 80 m 2 /dia, respectivamente, situando-se os valores mais frequentes entre 30 e 260 m 2 /dia. Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 283
7 Análise Espaço-temporal da Piezometria Não se dispõe de dados de piezometria relativos a uma mesma época, pois não existe rede de observações monitorizada de forma sistemática, pelo que não se pode fazer uma apreciação das principais características da superfície piezométrica. Também não é possível avaliar a existência de descargas naturais mas é provável que não existam ou sejam pouco importantes. Tampouco se pode avaliar a existência de drenância entre as várias camadas que constituem o sistema. No entanto, dada a existência de grandes diferenças nos níveis piezométricos das diferentes camadas, é provável que a drenância, a existir, seja pouco importante. Existe um piezómetro (Fig. O12.6) onde são feitas medições mensais do nível piezométrico. Este piezómetro tem uma profundidade de 270 m e os ralos, descontínuos, situam-se entre os 87 m e os 262 m, devendo estar a monitorizar o Cretácico (de acordo com a DRAOT Centro). Pela análise do gráfico, as oscilações são muito pequenas, tendo sido registado o valor mais baixo em 1992 e, desde então, nota-se uma tendência de recuperação dos níveis, com apenas uma variação em 1995, que demonstra o período de seca que se verificou nesse ano. Nível Piezométrico (m) 284/ Jun-81 Jun-82 Jun-83 Jun-84 Jun-85 Jun-86 Jun-87 Jun-88 Jun-89 Jun-90 Jun-91 Jun-92 Jun-93 Jun-94 Jun-95 Jun-96 Jun-97 Jun-98 Jun-99 Figura O Evolução do nível piezométrico no piezómetro 284/006 Balanço Hídrico Estima-se que, em termos médios, a recarga directa pela precipitação seja da ordem de 300 mm/ano, correspondendo a uma taxa média da ordem de 30%. Assim, os recursos médios do sistema seriam da ordem de 90 hm 3 /ano. O inventário de captações implantadas no sistema permite estimar em cerca de 1,5 hm 3 /ano o total das extracções para abastecimento público. Desconhece-se o total extraído pelas captações particulares, para usos domésticos, industriais e regadio. O excesso é escoado, quer para o vale do Lis, quer, directamente para o mar ou através de nascentes que ocorrem em algumas linhas de água costeiras. Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 284
8 Qualidade Considerações Gerais Dispõe-se de análises referentes a um período compreendido entre 1959 e A maior parte das análises foram efectuadas no final dos trabalhos de perfuração das captações. A maioria das águas tem mineralização total moderada, dureza baixa, fácies cloretada sódica ou bicarbonatada cálcica (fig. O12.7). Figura O Diagrama de Piper relativo às águas do sistema aquífero Em seguida apresentam-se as principais estatísticas para os parâmetros de que se dispõe de dados (Quadro O12.2). n Média Desvio Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo Padrão Condutividade (µs/cm) ph 39 6,8 0,6 5,5 6,3 6,8 7,2 8,2 Bicarbonato (mg/l) Cloreto (mg/l) ,5 35,5 42,6 57,7 351,5 Ferro (mg/l) 38 0, ,006 0,09 0,2 6 Nitrato (mg/l) 38 2, ,3 4,2 16,4 Nitrito (mg/l) 36 0,001 0, ,0003 0,02 Sulfato (mg/l) 39 58,2 132,3 0 7,8 19,3 37,5 654,2 Sódio (mg/l) 39 39,2 34,4 12,2 25, ,2 235,8 Cálcio (mg/l) ,3 4,3 9,8 16,8 44,5 280 Magnésio (mg/l) 39 8,9 12,6 0,2 2,4 5,5 10,8 70,5 Quadro O Principais estatísticas relativas às águas do sistema aquífero de Vieira de Leiria - Marinha Grande Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 285
9 Qualidade para Consumo Humano A partir dos dados disponíveis podem-se considerar as águas deste sistema como de boa qualidade para consumo humano pois apenas o Ferro apresenta alguns valores acima do VMA. Quanto aos restantes parâmetros, verificam-se que apenas os cloretos, sódio e ph não cumprem os VMR. Sublinhe-se os baixos teores de nitrato. Em relação ao Cálcio, 13% dos valores situam-se acima do VMR e em relação ao Magnésio apenas 5%, registando-se um valor acima do VMA. Apenas se dispõe de 6 análises de Potássio. Os valores distribuem-se entre 1,96 e 5,1 mg/l, pelo que todos os valores são inferiores ao VMR. Dispõe-se de 38 análises de ferro, situando-se 39% abaixo do VMR e 21% acima do VMA. A presença de teores relativamente elevados de Ferro é um dos maiores problemas que as águas deste sistema apresentam, em relação à qualidade química. Estas situação é frequente em águas que circulam em materiais pouco reactivos e com tempo de residência elevado pelo que tendem a apresentar um ph e potencial redox abaixo dos valores normais, favorecendo assim a mobilização do ferro. Quanto aos Sulfatos, duas análises ultrapassam o respectivo VMA. Dos restantes valores, 64% situam-se abaixo do VMR. Para os Cloretos, verifica-se que 97% das análises se situam acima do VMR. O valor máximo registado é de 351,5 mg/l. Os Nitratos situam-se todos os valores abaixo do VMR. de referir que a análise mais recente data de Dos 32 valores de condutividade disponíveis, verifica-se que cerca de um terço se situam acima do VMR. Anexo VI Anexo I -Categoria A1 Parâmetro <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph Condutividade Cloretos Sulfatos Cálcio Magnésio Sódio Nitratos Nitritos 0 Ferro Quadro O12.3 Apreciação da qualidade face aos valores normativos Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 286
10 Uso Agrícola A maioria das águas (51,4%) pertence à classe C 2 S 1 sendo a segunda classe mais representada a C 1 S 1 com 35%. As restantes águas distribuem-se pelas classes C 3 S 2 (2,7%) e C 3 S 1 (10,8%). Os VMA não são excedidos em nenhum parâmetro fisico-químico. Os cloretos excedem o VMR em 20% das análises e o ph situa-se abaixo do VmR em 35% dos casos. Quanto aos outros parâmetros, verifica-se o não cumprimento dos VMR apenas em casos isolados: sulfato e Ferro numa amostra, condutividade em duas. Figura O Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Bibliografia Lauverjat, J. (1982) - Le Crétacé Supérieur dans le Nord du Bassin Occidental Portugais. Thèse de Doctorat d État. Université Pierre et Marie Curie (Paris VI). Paris. Teixeira, C.; Zbyszewski, G.; Torre Assunção, C.; Manuppella, G. (1968) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 23-C LEIRIA. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 99 pág. Zbyszewski, G.; Torre de Assunção, C. (1965) - Carta Geológica de Portugal na Escala 1/ e Notícia Explicativa da Folha 22-D MARINHA GRANDE. Serviços Geológicos de Portugal. Lisboa. 45 pág. Sistema Aquífero: Vieira de Leiria-Marinha Grande (O12) 287
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