SISTEMA AQUÍFERO: ALMÁDENA-ODEÁXERE (M2)
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- Iago Estrela Sampaio
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2 SISTEMA AQUÍFERO: ALMÁDENA-ODEÁXERE (M2) Figura M2.1 Enquadramento litoestratigráfico do sistema aquífero Almádena-Odeáxere Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 446
3 Identificação Unidade Hidrogeológica: Orla Meridional Bacia Hidrográfica: Ribeiras do Barlavento Distrito: Faro Concelhos: Vila do Bispo e Lagos Enquadramento Cartográfico Folhas 593, 594, 602 e 603 da Carta Topográfica na escala 1: do IGeoE Folhas 49-C e 52-A do Mapa Corográfico de Portugal na escala 1: do IPCC Folha 52-A da Carta Geológica de Portugal na escala 1: do IGM MONCHIQUE ALJEZUR LAGOS 49C 594 PORTIMÃO VILA DO BISPO A Figura M2.2 Enquadramento geográfico do sistema aquífero Almádena-Odeáxere Enquadramento Geológico Estratigrafia e Litologia As duas formações aquíferas dominantes são os Dolomitos e Calcários Dolomíticos de Espiche (Sinemuriano) e os Calcários e Dolomitos de Almádena (Bajociano). Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 447
4 A primeira formação é constituída por dolomitos e calcários dolomíticos, geralmente maciços, finamente cristalinos ou sacaróides, com espessura superior a 60 metros (Rocha et al., 1979). A idade é considerada do Sinemuriano-Carixiano (Rocha, 1976). A dolomitização é, em geral, secundária e precoce embora possa ser mais tardia em sectores afectados por fracturação. A formação dos Calcários e Dolomitos de Almádena apresenta fácies lagunar anterrecifal e inicia-se com cerca de metros de dolomitos cristalinos branco-rosados aos quais se seguem cerca de 50 metros de calcários oolíticos, calcários corálicos, calcários pisolíticos, calcários calciclásticos e calcários dolomíticos (Rocha et al., 1979). Estas formações são atribuídas ao Aaleniano-Bajociano inferior (ibidem). As formações aquíferas estão, em pequenas áreas, cobertas pela formação quaternária Areias e cascalheiras de Faro-Quarteira. Tectónica As formações aquíferas situam-se numa estrutura sinclinal ampla, com orientação NE-SW, comprimida entre a falha de Barão de S. João, a noroeste e a falha de Espiche, a sudeste (Terrinha, 1998). O limite nordeste do sistema acompanha parcialmente uma falha com direcção NW-SE. Esta direcção de fracturação ocorre juntamente com a direcção NE-SW e direcções submeridianas. Hidrogeologia Características Gerais O sistema aquífero situa-se a Ocidente do rio Andrade, entre as localidades de Odeáxere a Este e de Almádena a W, com uma área de 63,5 km 2. Estende se ao longo duma faixa de direcção NE- SW, em formações carbonatadas do Lias-Dogger. As litologias aquíferas dominantes são: calcários, calcários dolomíticos e dolomitos que apresentam em alguns locais um carso bem desenvolvido. Dentro destes limites, existem algumas áreas restritas que não apresentam interesse hidrogeológico devido ao facto de estarem muito fragmentadas e afectadas por intrusões magmáticas. Trata-se de um aquífero cársico, livre a confinado. A recarga faz-se, quer a partir da infiltração das águas das ribeiras de Bensafrim e de Odeáxere, quer a partir da infiltração directa nas formações. A ribeira de Bensafrim deve funcionar como influente a efluente, tanto para NE como para SW. Nas proximidades do contacto com o Hetangiano, o caudal diminui, podendo ser nulo em algumas épocas secas, o que indica a infiltração das águas nas formações carbonatadas. A ribeira só reaparece na zona das Portelas. A recarga por infiltração directa nas formações é facilitada pelo facto da superfície dos calcários se encontrar lapiezada, assinalando-se algumas dolinas e cavidades subterrâneas. Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 448
5 Parâmetros Hidráulicos e Produtividade As estatísticas principais obtidas a partir de 111 dados de caudais de exploração, expressos em L/s, caracterizam a produtividade do sistema (quadro M2.1, figura M2.3): Média Desvio Padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo 8,0 9,2 0,3 2,2 5, Quadro M2.1 Principais estatísticas dos caudais Figura M2.3 - Distribuição cumulativa dos caudais Os valores de transmissividades calculados a partir de ensaios de bombagem são bastantes variáveis, variando entre 25 e 2100 m 2 /dia. Estimativas da transmissividade a partir do caudal específico (método de Logan) deram os resultados seguintes, expressos em m 2 /dia: Média Q 1 Mediana Q Quadro M2.2 Principais estatísticas da transmissividade A partir de 16 dados (Reis, 1993): Média Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo Quadro M2.3 Principais estatísticas da transmissividade (Reis, 1993) Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 449
6 Análise Espaço-temporal da Piezometria A distribuição dos valores de piezometria aponta para um fluxo divergente, predominantemente no sentido leste e SW, no sector a oeste da ribeira de Bensafrim. Para o sector a leste da mesma ribeira não há dados, sendo de admitir que o fluxo seja dirigido para SW, na direcção da ribeira de Bensafrim que constitui um eixo de drenagem dos dois sectores. Estas observações concordam com o modelo proposto por E. Reis (1993). Esta autora assinala a provável existência de um acidente na zona de Ferrel-Espiche, estendendo-se para NW, que funcionaria como divisória das águas subterrâneas. Assim, as águas infiltradas a NE seriam descarregadas na zona das Portelas, e as infiltradas a SW dirigir-se-iam para a zona de Almádena-Boca do Rio. A primeira zona é considerada como a principal área de drenagem natural, onde existiam exsurgências importantes, hoje praticamente inactivas devido à existência de captações que foram implantadas nas suas proximidades e que abastecem Lagos. Na zona da Boca do Rio, a descarga dá-se de forma difusa ou oculta. O sistema aquífero é dotado de um poder regulador elevado já que as flutuações inter-anuais são pequenas, em geral inferiores a 3 metros. Balanço Hídrico Admitindo uma taxa de recarga situada entre 40 e 60% e tendo em conta a área do sistema que é de cerca de 64 km 2, os recursos médios renováveis deverão situar-se entre 16 e 24 hm 3 /ano. Desde há muito que são conhecidas saídas naturais importantes drenando o sistema Almádena- Odeáxere. Uma delas, situada no Paúl da Abedueira, constituiu a primeira origem de água para o abastecimento à cidade de Lagos (Paradela e Zbyszewski, 1971). As saídas naturais mais importantes situam-se perto da ribeira de Bensafrim que constitui assim o principal eixo drenante do sistema. Existem exsurgências tanto na margem esquerda como na direita. Obviamente, que após se terem iniciado as captações para abastecimento através de furos, inicialmente centrados em Portelas, as saídas naturais perderam muito da sua importância inicial. Uma outra área com saídas difusas situa-se no limite SW do sistema, alimentando uma zona húmida. Infelizmente não dispomos de dados que permitam quantificar minimamente os volumes escoados através das saídas naturais. Apenas se tem indicação do valor de 300 m 3 /h, referido por Reis (1993), em nascentes situadas na ribeira de Bensafrim a sul de Sargaçal, em Fevereiro de As extracções para abastecimento público aproximam-se de 4 hm 3 /ano (3,8 hm 3 em 1993). Quanto a extracções para rega e abastecimentos particulares não dispomos de inventários completos que permitam uma quantificação rigorosa. Um inventário da DRAOT Algarve que cobre aproximadamente metade das captações conhecidas, aponta para valores da ordem dos 1,3 hm 3 /ano. É natural, portanto que as extracções totais se situem próximo do dobro daquele valor. Assim, o somatório das extracções públicas e privadas deverá ser da ordem dos 7 hm 3 /ano. Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 450
7 Qualidade Considerações Gerais As águas deste sistema apresentam uma qualidade fraca, quer para abastecimento, quer para regadio. De facto, embora a frequência de violações dos VMA não seja elevada, os VMR são ultrapassados na maioria dos iões maiores (cloretos, sulfatos, cálcio, magnésio e sódio) e, ainda, dureza e condutividade. Quanto à qualidade para rega, o VMR relativo ao cloreto é ultrapassado em todas as análises e o VMR relativo à condutividade em metade das análises. Predomina a fácies bicarbonatada cálcica, conforme a figura M2.4. Figura M2.4 Diagrama de Piper relativo ás águas do sistema aquífero Almádena-Odeáxere As principais estatísticas apresentam-se no Quadro M2.4. Condutividade (µs/cm) n Média Desvio Padrão Mínimo Q 1 Mediana Q 3 Máximo ph 57 7,7 0,3 7,2 7,5 7,7 8,0 8,3 Bicarbonato (mg/l) Cloreto (mg/l) Ferro (mg/l) , ,1 Nitrato (mg/l) , Sulfato (mg/l) , Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 451
8 Dureza Total (mg/l) Sódio (mg/l) Potássio (mg/l) 55 2,9 2,9 0,8 1,6 1,8 3,0 20 Cálcio (mg/l) Magnésio (mg/l) , Quadro M2.4 - Principais estatísticas relativas às águas do sistema Qualidade para Consumo Humano Para caracterizar este aspecto da qualidade química das águas deste sistema, foram utilizadas análises anteriores a 1995 para a maior parte dos parâmetros, não se tendo usado mais do que uma análise por ponto de água. No caso do ferro, nitritos, azoto amoniacal, fosfatos, oxidabilidade e manganês foram usadas análises recentes incluindo mais do que uma análise por captação. A apreciação da qualidade face aos valores normativos consta do quadro seguinte (M2.5). Anexo VI Anexo I -Categoria A1 Parâmetro <VMR >VMR >VMA <VMR >VMR >VMA ph Condutividade Cloretos Dureza total Sulfatos Cálcio Magnésio Sódio Potássio Nitratos Nitritos 0 Azoto amon Oxidabilidade Ferro Manganês Fosfatos Quadro M2.5 Apreciação da qualidade face aos valores normativos A análise de tendências realizada em dois pontos deste sistema aquífero, monitorizados pela DRAOT Algarve, mostra que num deles (referência 602/006) a água reflecte uma tendência para o Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 452
9 decréscimo da concentração em nitratos até A partir desta data, parece haver uma certa estabilidade com as concentrações a variarem entre 10 e 20 mg/l, mas com duas flutuações fortes. Na figura M2.5 pode observar-se a distribuição das principais captações de abastecimento público que captam neste sistema aquífero. Figura M2.5 Localização das captações de abastecimento público Uso Agrícola A maioria das águas analisadas pertence à classe C 3 S 1 pelo que representam um perigo salinização alto e alcalinização dos solos baixo. As restantes distribuem-se pelas classes C 2 S 1 e C 4 S 1 (figura M2.6). Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 453
10 Figura M2.6 - Diagrama de classificação da qualidade para uso agrícola Quanto aos parâmetros fisico-químicos, nenhum excede o VMA. A condutividade excede o VMR em cerca de 50% dos casos e os cloretos excedem aquele limite praticamente em todas as análises. Bibliografia Costa, F. E., Brites, J. A., Pedrosa, M. Y., Silva, A. V. (1985) - Carta Hidrogeológica da Orla Algarvia, esc. 1: Notícia Explicativa. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. Manuppella, G., Oliveira, J. T., Pais, J., Dias, R. P. (1992) - Carta Geológica da Região do Algarve, escala 1: Notícia Explicativa. Serviços Geológicos de Portugal, Lisboa. 15 pág. Paradela, P. L.; Zbyszewski, G. (1971) - Hidrogeologia Geral do Centro e Sul de Portugal. I Congresso Hispano-Luso-Americano de Geologia Económica. Livro-Guia da Excursão Nº 9. Direcção Geral de Minas e Serviços Geológicos. Lisboa. 123 pág. Reis, M. E. (1993) - Estudo Hidrogeológico das Formações do Lias-Dogger situadas a ocidente do Rio Arade (Algarve). Dissertação para a Obtenção do Grau de Mestre em Geologia Económica e Aplicada. Departamento de Geologia da FCUL. Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 454
11 Rocha, R. B. (1976) - Estudo estratigráfico e paleontológico do Jurássico do Algarve ocidental. Ciências da Terra (UNL), Lisboa, vol. 2, 178 pág. Rocha, R. B., Ramalho, M. M., Manuppella, G., Zbyszewski, G., M. T., Coelho, A. P. (1979) - Carta Geológica de Portugal na escala 1:50 000, Notícia Explicativa da Folha 51-B, VILA DO BISPO. Serviços Geológicos de Portugal. Rocha, R. B., Ramalho, M. M., Antunes, M. T., Coelho, A. P. (1983) - Carta Geológica de Portugal na escala 1:50 000, Notícia Explicativa da Folha 52-A, PORTIMÃO. Serviços Geológicos de Portugal. 57 pág. Terrinha, P. (1998) - Structural Geology and Tectonic Evolution of the Algarve Basin, South Portugal, Thesis submitted for the Degree of Doctor of Philosophy at the University of London. 430 pág. Sistema Aquífero: Almádena-Odeáxere (M2) 455
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