1.3 Cítricos. Diagnóstico
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- Rubens da Fonseca Carneiro
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1 1.3 Cítricos Diagnóstico A cadeia de cítricos contempla as frutas in natura, a produção de sucos (concentrados, reconstituídos, pasteurizados e frescos) e de óleos essenciais e pellets de polpa seca os dois últimos voltados ao uso industrial. A conjuntura recente tem sido marcada por cotações baixas no mercado internacional de suco de laranja concentrado, estoques elevados e excesso de oferta. A citricultura brasileira enfrenta dificuldades específicas, como o agravamento de problemas fitossanitários, os baixos investimentos na reposição de plantios, a concorrência da cultura da cana-de-açúcar e a redução dos tratos culturais. O mercado mundial de sucos de frutas movimentou US$ 31 bilhões em 1998, com média de crescimento anual ao redor de 5% no período recente. Aproximadamente metade do consumo refere-se a suco de laranja. Os principais mercados para o produto são Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Rússia. A Europa Ocidental representa cerca de 30% do consumo mundial de sucos de frutas, com média de 24 litros por habitante/ano. A maior marca per capita é verificada na Alemanha: 41 litros/ano. Em mercados consolidados, como o americano, a indústria vem desenvolvendo novas variedades de produtos e buscando difundir novos hábitos para expandir o consumo entre a população. A Europa Oriental tem se mostrado um dos mais dinâmicos mercados do mundo, com crescimento de 80% ao longo da segunda metade da década de 90. A Ásia também é considerada promissora, com elevação de 50% na demanda por sucos de laranja entre 1992 e A América do Sul vem igualmente exibindo bons resultados. O aumento do consumo na região foi de 40% no período. No Brasil, nota-se uma tendência de aumento da demanda por suco pasteurizado embalado, item que não existia no mercado do país em 1993 e que, em 1999, já havia alcançado a marca de 160 milhões de litros produzidos. A 34
2 média anual de consumo de suco no país é de 20 litros por habitante, metade da média americana. Os citros são as frutas mais cultivadas em todo o mundo. Em 2001, foram 106,6 milhões de toneladas. Entre as variedades cítricas, a laranja é a principal. A produção de laranjas e a industrialização do suco concentram-se em quatro países. O principal é o Brasil, onde 2% da área cultivada é coberta por laranjais, que se espalham por mais de 27 mil estabelecimentos rurais. O país responde por um terço da produção da fruta e por 47% do suco fabricado em todo o mundo. Os Estados Unidos vêm em seguida, com 17% e 44%, respectivamente. Logo depois, aparecem México e Espanha. Principais produtores de laranja e suco de laranja concentrado congelado 1999/00 Laranja (em mil t)* Suco concentrado (65 o Brix) (em t)** % % Brasil EUA México Espanha Outros Total Fontes: *USDA United States Department of Agriculture - World Horticultural Trade & U.S. Export Opportunities - February **National Agricultural Statistics Service and U.S. Department of Commerce, Bureau of Census. Florida Department of Citrus. Reports from U.S. Agricultural Counselors and Attaches and/or USDA/FAS Estimates Toda a produção americana é consumida internamente. A Espanha destaca-se na comercialização de frutas in natura, por causa de suas condições climáticas, técnicas de produção, colheita e comercialização. Beneficiado pelas preferências tarifárias decorrentes do Nafta, o México concorre diretamente com o Brasil nas exportações de suco de laranja concentrado para os Estados Unidos. A cadeia citrícola brasileira é a mais competitiva do mundo, com custos de produção agrícola e industrial imbatíveis. A indústria processadora de suco coordena toda a cadeia produtiva a partir do plantio dos laranjais. Atua também na 35
3 distribuição internacional até os embaladores, na comercialização de frutas in natura para os mercados interno e internacional. O setor nacional de processamento de frutas possui capacidade para esmagar aproximadamente 361 milhões de caixas por ano. São 16 competidores. Na safra 1998/1999, a citricultura representou 7,6% da produção agrícola brasileira. A produtividade média dos laranjais cresceu 30% ao longo da década passada, atingindo 599 caixas por hectare em Da produção brasileira de laranja, 71% destinam-se ao processamento industrial e apenas 0,6% à exportação in natura. Para consumo interno vão 28,4%. A produção e o processamento de frutas para mesa ainda carece de maior eficiência. Além das barreiras tarifárias, as vendas externas de produtos frescos são mais susceptíveis a restrições sanitárias. No Brasil, todas as indústrias que processam o suco também são as envasadoras do produto. Não existe nenhuma empresa que apenas compre o suco concentrado congelado e realize o envase de maneira independente. Buscando aproximar-se dos consumidores finais, as firmas nacionais estenderam sua atuação a outros países como os Estados Unidos por meio de parcerias com empresas de bebidas. Iniciativas de exportação direta com a marca dos compradores também estão sendo tentadas. Por isso, o varejo europeu, principal cliente do Brasil, desempenha influência cada vez maior na cadeia produtiva brasileira de suco de laranja. Em todo o mundo, as empresas de sucos vêm se juntando às multinacionais de bebidas, por meio de fusões e aquisições. O mercado é cada vez mais restrito. As dez principais engarrafadoras da União Européia ocupavam, em 1992, cerca de 28% do mercado regional. O percentual subiu para 36% cinco anos depois. Nos Estados Unidos, onde as grandes companhias de bebidas dominam o segmento de sucos, a concentração é ainda maior: as três líderes respondem por 47%. 36
4 No processamento industrial do suco, verifica-se a presença de empresas especializadas, como as brasileiras Cutrale e Citrosuco que têm alianças estratégicas com a Coca-Cola e a Pepsi-Cola nos Estados Unidos e também exportam o suco para processamento naquele país. Mais três empresas dominam o segmento: Citrovita, Cargill e Coimbra/Dreyfus. O suco concentrado possui um ciclo de vida maior, mas pode perder atributos de qualidade no processo de reconstituição. Como opção, a produção de suco pasteurizado foi aprimorada e o item passou a ser altamente valorizado pelo consumidor. O maior problema para a expansão desse produto no mercado internacional é o transporte, o que dificulta o processamento em locais distantes dos centros consumidores. Comércio internacional A citricultura brasileira é uma das líderes do processo de ajuste e aumento de competitividade experimentado pela economia nacional nos anos recentes, por causa da característica de estar voltada, basicamente, para o mercado externo. O setor gera anualmente divisas em torno de US$ 1 bilhão para o país, como um dos principais itens da pauta das exportações brasileira. O Brasil possui liderança absoluta nas vendas externas mundiais de suco de laranja concentrado, com 80% do total global de 1,4 milhão de toneladas métricas em Por causa da queda de preços no mercado internacional, o valor das exportações brasileiras caiu entre 2000 e Exportações brasileiras de laranja e seus derivados 2001/2002 Valor (US$ mil) Volume (mil t) Suco concentrado ,2 Laranja fresca ,6 Farelo de polpa cítrica ,4 Óleo essencial ,6 37
5 Total ,7 Fonte: Conab, Fev/2002 A União Européia é o principal destino dos embarques de suco de laranja concentrado do país, com 70% do total. Para o mercado americano, seguem outros 20% - participação que veio caindo ao longo da década passada por causa da concorrência dos mexicanos. O suco de laranja concentrado congelado ocupou a oitava posição no ranking de exportações do país em Foi também o segundo item mais importante entre os itens vendidos para o exterior pelo Estado de São Paulo, principal produtor nacional. Em 2000, as duas líderes, Cutrale e Citrosuco, detinham 55,4% do valor das exportações de suco de laranja concentrado congelado. O percentual chegava a 73,6% quando consideradas as quatro maiores companhias do setor. As importações brasileiras de laranja e seus derivados são insignificantes. Em 2001, atingiram US$ 1,4 milhão, referentes à movimentação de 1,1 milhão de toneladas. Do valor, 65% vêm das operações envolvendo a compra de óleos essenciais de laranja no exterior. Exportadores de suco de laranja concentrado (em mil t métricas, a 65º Brix) 1997/ / /01 Brasil EUA Espanha México Itália Outros Total Fonte: Agrianual,
6 Impacto das negociações com a Alca e a União Européia A Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul incidente sobre a importação de produtos cítricos oscila de 11,5% a 15%. Entretanto, como a produção brasileira é altamente competitiva, inibindo importações, a proteção por meio de barreiras tarifárias não se faz necessária e pode se tornar uma importante moeda de troca nas futuras negociações comerciais do país. Nos Estados Unidos a tarifa imposta ao suco de laranja importado do Brasil chega a 56% ad valorem. Além disso, para entrar na Flórida, o produto brasileiro recolhe 2,7 centavos de dólar por galão (US$ 40 por tonelada) como taxa de equalização. A sobretaxa aplicada por aquele estado vem sendo contestada na Justiça americana pelas empresas importadoras e resultou, em agosto de 2002, em abertura de painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) por solicitação do Brasil. O suco de laranja brasileiro concorre diretamente com o mexicano no mercado dos Estados Unidos. A importação do produto do México é taxada em 30%. A Costa Rica, que também disputa uma fatia do mercado americano, é isenta de sobretaxa, por causa de acordos de preferência que beneficiam países do Caribe. A União Européia cobra alíquota de importação de 12% a 70% sobre os produtos brasileiros da cadeia citrícola. As transações envolvendo frutas frescas também são taxadas, mas variam de acordo com a época do ano e com o produto. Existem cotas para entrada de alguns itens, mas os valores são irrelevantes. Em ambos os mercados, sucos não concentrados são taxados com alíquotas inferiores a 15%, abrindo espaço para aumento das exportações brasileiras do produto. A redução tarifária tanto no âmbito da futura Área de Livre Comércio das Américas (Alca) quanto no da União Européia tende a diminuir as cotações de suco de laranja em todo o mundo. Em conseqüência, concorrentes menos competitivos que o Brasil, como México e Estados Unidos, poderiam ter 39
7 dificuldade para produzir e, assim, abandonar o mercado. Com isso, num segundo momento, o volume de exportações de suco brasileiro tende a ser ampliado e a participação do país no mercado global, aumentada. Nos Estados Unidos, o Brasil deverá ganhar fatias de mercado à medida que a produção interna e a mexicana se ajustem ao novo patamar de preços internacionais. Já na União Européia, a liberalização não deverá se converter em maiores volumes exportados pelo país porque o Brasil já domina praticamente todo a pauta de importações de suco de laranja daquele continente. Portanto, os efeitos da liberalização deverão ser maiores no mercado americano, no qual a participação brasileira é menos expressiva. No âmbito interno, mesmo com redução da TEC do Mercosul, as importações de suco de laranja não deverão assumir proporções significativas. Já para as exportações de frutas frescas e sucos pasteurizados, os principais entraves são de caráter tecnológico e mercadológico. No primeiro caso faltam pesquisas de oportunidades e produtos adequados aos mercados consumidores. No segundo, a logística de transporte ainda é tida como muito complexa. O produto in natura também tende a ter suas vendas limitadas por barreiras sanitárias tanto na União Européia quanto no âmbito da Alca. Desafios a serem enfrentados O Brasil já apresenta elevada participação no mercado internacional de cítricos. Com a manutenção das condições atuais, porém, dificilmente o país conseguirá elevar suas exportações, principalmente em função das significativas barreiras tarifárias impostas ao setor nos principais mercados consumidores. Uma boa oportunidade de negócios para o país é e venda de suco pasteurizado, cujas tarifas impostas nos principais mercados compradores são menores que as do produto concentrado. Entretanto, alguns fatores, como transporte, ainda dificultam a sua exportação. Investimentos em pesquisa e 40
8 desenvolvimento tecnológico poderão proporcionar avanços significativos para esse nicho, mesmo se regras restritivas de mercado forem mantidas. O Brasil ainda detém participação pequena no segmento de frutas frescas. As chances de ampliação das exportações nesse caso dependem da incorporação de novas tecnologias e de um maior conhecimento de mercado internacional. Hoje apenas 1% das laranjas colhidas no país são exportadas in natura. Para elevar esse patamar, seriam necessários desde a elaboração de novos cultivares, específicos para a produção de frutas de mesa, até o desenvolvimento de equipamentos de pós-colheita. A imposição de barreiras sanitárias por parte do Brasil podem ser um instrumento para proteção do mercado nacional. O aumento da competitividade da cadeia depende, ainda, da solução para os principais problemas fitossanitários da citricultura o amarelinho e o cancro cítrico, que aumentam o custo da produção nacional. O problema já vem sendo abordado, com ação conjunta entre setor público e iniciativa privada. Com a abertura comercial, o suco brasileiro tende a ganhar mais competitividade, abrindo espaço para maior interação com as companhias multinacionais de bebidas. Para enfrentar estes desafios será preciso: Desenvolver técnicas de transporte para o suco pasteurizado, para explorar oportunidades criadas nesse nicho de mercado e ainda pouco aproveitadas pelo Brasil; Abrir mercados para outros tipos de suco de frutas, beneficiando-se do reconhecimento do suco de laranja brasileiro no mercado internacional; Promover a aproximação da indústria nacional de sucos junto aos consumidores finais, como cadeias de varejo, por meio do fornecimento de produtos com a marca dos compradores; Solucionar problemas fitossanitários e fortalecer a defesa sanitária no país; 41
9 Desonerar a produção nacional de suco de laranja de tributos que prejudicam a competição com concorrentes que dispõe de menores custos; Buscar novos mercados para o suco de laranja, como a Ásia; Desenvolver variedades de cítricos específicas para serem comercializadas como frutas frescas, ao invés de simplesmente adaptar as variedades destinadas ao consumo industrial; Adaptar as tecnologias de pós-colheita existentes no país para melhorar a qualidade das frutas in natura nacionais, com vistas a ampliar as vendas externas; Oferecer informações para o setor privado sobre oportunidades de negócios no exterior envolvendo frutas frescas, bem como sobre as exigências dos consumidores internacionais. 42
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