Perspectivas do Investimento 2010-2013

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Transcrição:

Perspectivas do Investimento 2010-2013 Organizadores: Ernani Torres, Fernando Puga e Beatriz Meirelles 1 a edição Rio de Janeiro - Março de 2011

P467 Perspectivas do Investimento: 2010-2013 / Organizadores: Ernani Torres, Fernando Puga e Beatriz Meirelles. Rio de Janeiro: BNDES, 2010. 360 p. : gráfs. - Vários autores. ISBN: 978-85-87545-40-4 1. Investimentos - Brasil. 2. Economia - Brasil. 3. Indústrias - Brasil. I. Torres, Ernani (Org.) II. Puga, Fernando (Org.) III Meirelles, Beatriz (Org.) IV Título. CDD 332.6780981 4

Sumário Prefácio 6 Apresentação 8 12 1. Perspectivas do investimento na economia brasileira 2010-2013 Fernando Puga Gilberto Borça Jr. Marcelo Nascimento Beatriz Meirelles Petróleo e Gás 52 2. Indústria de petróleo e gás: desempenho recente e desafios futuros André Albuquerque Sant Anna * 53 Siderurgia 70 3. Investimentos na siderurgia brasileira * 71 Paulo Sergio Moreira da Fonseca Pedro Sergio Landim de Carvalho Marcelo Machado da Silva Papel e Celulose 108 4. O potencial de investimento nos setores florestal, de celulose e de papel André Biazus André Barros da Hora Bruno Gomes Pereira Leite Indústria Química 144 5. Balança comercial e potencial de investimento na indústria química brasileira Valéria Delgado Bastos Letícia Magalhães Costa Automotivo 200 6. Setor automotivo: desafios e expectativa de investimentos Tiago Toledo Ferreira Setor Elétrico 228 7. Contexto e panorama dos investimentos no setor elétrico brasileiro Alexandre Siciliano Esposito Logística 258 8. Estratégia geral, ações necessárias e previsão de investimento nos setores portuário, ferroviário e rodoviário Dalmo dos Santos Marchetti Construção Civil 300 9.Construção civil no Brasil: investimentos e desafios Dulce Corrêa Monteiro Filha Ana Cristina Rodrigues da Costa João Paulo Martin Faleiros Bernardo Furtado Nunes * 301 5

Prefácio Os trabalhos apresentados neste livro mostram que a taxa de investimento no Brasil está em vias de passar dos atuais 19% do PIB para 22% em 2013. Com esse nível, o país estará em condições de sustentar um crescimento de 5% a.a., sem incorrer em desequilíbrios econômicos, como inflação e déficit externo elevados. Entretanto, essa trajetória não está livre de percalços. Apesar da recuperação em face da crise de 2008, a conjuntura internacional ainda é cercada de muitas incertezas. A recuperação das economias avançadas continua perdendo fôlego. Nos Estados Unidos, o desemprego mantém-se elevado e há sinais de deflação. Na Europa, os programas de dívida soberana/ajustamento fiscal e as dificuldades do setor bancário devem manter o crescimento em passo lento. No Brasil, a forte atuação anticíclica do sistema público de crédito, conjugada às medidas de estímulos fiscais e provisão de liquidez pelo Banco Central, deu sustentação à retomada da atividade econômica no país. O crescimento do mercado interno, associado às melhorias sociais e na distribuição de renda, constituiu-se em um diferencial importante a favor da economia brasileira. Os indicadores econômicos mostram forte aceleração dos investimentos acompanhada pela redução da taxa de desemprego e a continuidade da melhoria na distribuição de renda e na expansão do consumo doméstico. Embora o país tenha se tornado referência internacional nas medidas de combate à crise financeira, ainda há preocupações advindas do setor externo. O déficit em transações correntes está aumentando de forma consistente, com a forte entrada de produtos estrangeiros, principalmente por força da apreciação do câmbio ocorrida desde 2008. 6

Sustentar a trajetória de crescimento econômico não é, portanto, tarefa simples. Requer que empresas e governo estejam envolvidos, desde já, em um conjunto amplo de decisões de investimento de elevado montante e complexidade. É necessário também que haja complementaridade entre essas decisões, sobretudo no que se refere à eliminação de possíveis gargalos de infraestrutura e à expansão da oferta competitiva de bens e serviços em face das importações. Ao mesmo tempo, não se pode descuidar dos projetos voltados para a melhoria das condições de vida da população, como habitação e saneamento. Este novo livro do BNDES tem o objetivo de compreender as mudanças recentes na dinâmica do investimento na economia e apresentar um cenário para o período 2010-2013. Como principal instituição de fomento de longo prazo, o Banco reúne conhecimento especializado sobre os diversos setores produtivos, com informações obtidas diretamente das empresas. Em um trabalho que envolveu diferentes equipes técnicas do BNDES, foi reunido esse conhecimento, com a identificação dos principais projetos na economia, seus valores e fatores determinantes. O conjunto dessas reflexões mostra um cenário favorável para a economia brasileira. Passado o efeito da crise financeira internacional, as empresas brasileiras revigoraram seu apetite por novos projetos. Esse fenômeno está presente em diferentes setores, o que minimiza a possibilidade de restrição de oferta no futuro. A implementação desses projetos sustentará a trajetória de crescimento econômico, com efeitos relevantes em termos de expansão do parque produtivo, da melhoria da infraestrutura do país e das condições sociais da população. Luciano Coutinho Presidente do BNDES Dezembro de 2010 7

Apresentação No início de 2006, o crescente volume de pedidos de financiamento do BNDES chamou a atenção da instituição. Após décadas de projetos voltados sobretudo à modernização do parque produtivo existente, os pedidos distinguiam-se pelo volume de recursos em novas plantas. Essa mudança levou a um minucioso trabalho, por diferentes equipes técnicas, de levantamento das informações sobre os investimentos na economia, inclusive aqueles que não compõem a carteira do Banco. Tornou-se possível identificar as tendências de diversos setores no mundo e no país, quantificar o total de investimentos, calcular as taxas de crescimento e os determinantes dessas inversões. A análise desse mapeamento passou a ser feita periodicamente e divulgada na publicação do BNDES Visão do desenvolvimento. Em 2007, foi publicado o livro Perspectivas do investimento 2007-2010, com um panorama dos investimentos e estudos sobre o desempenho de importantes setores da economia. Os textos sugeriam que o Brasil estava entrando em um robusto ciclo de investimentos, com grandes projetos em novas plantas. Nos anos seguintes, os dados do IBGE confirmaram esse diagnóstico. A crise financeira internacional levou à interrupção do ciclo de investimentos na economia e à formalização, no BNDES, de um Grupo de Trabalho de Acompanhamento do Investimento para levantar, com maior frequência, os projetos das empresas, ao final de 2008. Houve a preocupação em identificar os principais determinantes da queda nos investimentos e se esse movimento era disseminado ou concentrado em alguns setores. A análise mostrou, de um lado, um importante grupo de setores com projetos resilientes diante da crise. De outro, havia um grupo formado principalmente por setores 8

mais voltados à exportação. Contudo, tratava-se de um movimento mais de adiamento que de cancelamento de projetos e, a partir do segundo semestre de 2009, os investimentos voltaram com força. Este livro apresenta novo levantamento das perspectivas do investimento, agora para o período 2010-2013. Traz informações referentes ao mapeamento de projetos em 14 setores da economia, sendo sete da indústria, seis de infraestrutura e um de construção civil. Os setores foram escolhidos com base na sua relevância para a formação bruta de capital fixo da economia, bem como no grau de conhecimento do BNDES sobre o total dos projetos em curso. Por conta do foco do Banco em financiar investimentos, o levantamento cobre principalmente os setores da indústria mais intensivos em capital e os projetos de infraestrutura. A disponibilidade de informações sobre o programa do governo de apoio à construção de casas populares e dos investimentos relacionados aos grandes eventos esportivos mundiais, a serem sediados pelo Brasil, levou à inclusão do setor de construção civil. A organização dos capítulos obedece à disposição do levantamento das perspectivas do investimento. O primeiro traz uma análise do comportamento prévio e das perspectivas do investimento no período 2010-2013, acompanhada de uma síntese dos estudos. O objetivo é compreender o contexto macroeconômico e setorial que permitiu a retomada das inversões e projetar a trajetória da taxa de investimento da economia para os próximos anos. Os cinco capítulos seguintes analisam os cenários de investimento em setores da indústria. Destaca-se a importância de 9

petróleo e gás nas inversões da economia, tanto em montante quanto em taxa de crescimento. Além de apresentar dinâmica bastante independente das flutuações conjunturais da demanda, deve incentivar o desenvolvimento da indústria local de bens de serviços parapetroleiros. A indústria voltada ao mercado externo, por sua vez, está representada no livro pelos setores de siderurgia e papel e celulose. Embora tenham sofrido forte impacto da crise financeira internacional, os planos de investimento para o próximo quadriênio refletem a recuperação já esboçada a partir do ano passado, com o bom desempenho do consumo chinês. A perspectiva de crescimento econômico nos próximos anos determinou crescimento robusto nos planos de investimento da indústria mais voltada ao mercado doméstico, representada no livro pelos setores de química e automotivo. No caso da química, somam-se ao crescimento a alta elasticidade da demanda a aumentos na renda e os investimentos na produção de petroquímicos. No caso do setor automotivo, os investimentos mapeados também indicam aumento da relevância do país nas decisões estratégicas de montadoras de veículos. Os capítulos 7 e 8 tratam das perspectivas do investimento em setores de infraestrutura energia elétrica e logística. A mudança no marco regulatório em 2004 e a retomada do planejamento estratégico aceleraram os investimentos no setor de energia elétrica, sobretudo em geração. O investimento no setor de logística, por sua vez, mais que dobra no período e puxa o crescimento das inversões em infraestrutura. Trata-se de projetos em expansão e construção de novas redes ferroviárias, manutenção e concessões de rodovias no âmbito federal e estadual, ampliação e implantação de novos portos. 10

O livro se encerra com a análise do cenário na construção civil. Projeta-se que os investimentos em edificações crescerão acima do PIB. Além do Programa Minha Casa, Minha Vida, voltado à redução do déficit habitacional, contribuirão os investimentos públicos por conta dos próximos grandes eventos esportivos a serem realizados no Brasil. A ampliação do crédito habitacional também é fator importante para as inversões no setor, com a melhoria das condições de financiamento e a expansão do emprego e da renda. O conjunto dos estudos mostra um cenário para os investimentos no país, mas também os rumos da economia. A consolidação desse panorama, no entanto, depende em parte do desempenho da economia internacional, de mudanças no marco regulatório e de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento dos mercados de crédito e de capitais. Agradecemos a todos os participantes do GT do Investimento do BNDES, que tornaram possível a realização deste livro: André Sant Anna, Paulo Sergio da Fonseca, Pedro Sergio Landim, Marcelo da Silva, André Biazus, André da Hora, Bruno Leite, Valéria Bastos, Letícia Costa, Tiago Ferreira, Lilian Mendes, Alexandre Esposito, Ludmila Colucci, Luis Inácio Dantas, Dalmo Marchetti, Dulce Monteiro Filha, Ana Cristina da Costa, João Paulo Faleiros e Bernardo Nunes. Criou-se, assim, um ambiente fértil de interação entre equipes técnicas do Banco, com trocas de informação e análises integradas. Gostaríamos de agradecer especialmente ao Superintendente da Área de Pesquisa Econômica, Ernani Torres Filho, ao Diretor das Áreas de Pesquisa Econômica, Planejamento e Gestão de Risco, João Carlos Ferraz, e ao Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, pela aposta no Grupo de Trabalho. Fernando Puga e Beatriz Meirelles 11

13

1. Perspectivas do investimento na economia brasileira 2010-2013* Fernando Puga Gilberto Borça Jr. Marcelo Nascimento Beatriz Meirelles** Introdução A sustentação do crescimento a longo prazo requer, de maneira fundamental, o aumento do investimento. É por meio do investimento que ocorre a ampliação da capacidade produtiva, com efeitos duradouros sobre o emprego e a renda. Durante os 25 anos que vão do início dos anos 1980 a meados da década de 2000, o investimento na economia brasileira foi baixo e volátil. A restrição externa foi, sem dúvida, o principal entrave, tanto nos anos 1980, com a crise da dívida externa e a escassez de linhas internacionais de financiamento, quanto na década de 1990, com as crises financeiras dos países emergentes, em especial a mexicana (1994-1995) e a asiática (1997). A instabilidade macroeconômica e os juros elevados foram outros importantes limitadores dos investimentos. As altas taxas de inflação entre 1980 e 1994 comprometiam a realização de cálculos prospectivos de rentabilidade para a execução de projetos de investimento. O elevado custo de capital, de forma semelhante, * Trabalho desenvolvido com base no mapeamento dos investimentos e análises setoriais realizados pelo Grupo de Trabalho (GT) do Investimento e a Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico (APE) do Economistas, respectivamente chefe, gerentes e técnica do Departamento de Acompanhamento Econômico da Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico (DAE/APE) do BNDES. BNDES. ** 13

inviabilizava a adequação e a composição do funding das empresas para inversões de longo prazo. Assim, houve forte concentração em projetos de investimentos menos intensivos em capital voltados a incrementos marginais de eficiência produtiva, que superassem a combinação de liquidez, segurança e elevada rentabilidade proporcionada pelas aplicações em títulos públicos. Tal cenário restringiu as inversões à modernização de plantas industriais existentes, em detrimento da construção de novas unidades fabris, caracterizadas por vultosa mobilização de recursos e maior prazo de retorno. Na carência de projetos de ampliação da capacidade produtiva, os ciclos de expansão do investimento foram transitórios. Nesse sentido, foram insuficientes para provocar mudanças estruturais na economia e proporcionar aumento do produto potencial do país. Entre 2006 e setembro de 2008, no entanto, o Brasil viveu um importante ciclo de investimentos. Após uma ausência de mais de 20 anos, apareceram grandes projetos em ampliação da capacidade produtiva (greenfield), com a construção de novas unidades fabris e plantas industriais. Embora o ciclo tenha se iniciado em setores exportadores, estimulado por alta de preços de commodities, ao cabo de dois anos os investimentos generalizaram-se e passaram a englobar setores voltados ao mercado interno e de infraestrutura básica. O agravamento da crise internacional, no fim do terceiro trimestre de 2008, atingiu o Brasil em um momento singular, quando muitos setores contavam com projetos ambiciosos de expansão de capacidade produtiva. A deterioração no cenário mundial retração da liquidez global, da atividade econômica e do comércio internacional causou brusca interrupção do ciclo expansionista do investimento. Seguiram-se dois trimestres consecutivos de forte retração dos investimentos, cuja queda acumulada chegou a 20%. A indústria brasileira foi bastante atingida. A situação foi mais grave nos segmentos mais voltados à exportação e em bens de capital, com empresas investindo aquém da necessidade de repor a depreciação dos ativos. Embora o choque tenha sido profundo, a retração nos investimentos teve curta 14 duração. No segundo semestre de 2009, ocorreu a retomada dos investimentos, em resposta ao bom desempenho do mercado doméstico. A adoção de políticas

públicas anticíclicas contribuiu para essa recuperação, em particular o programa de incentivo à compra de máquinas e equipamentos. No início de 2010, esse quadro intensificou-se, com perspectiva de crescimento da formação bruta de capital fixo (FBCF) a taxas cerca de três vezes superiores à do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Para compreender as rápidas transformações que vinham ocorrendo na economia, o levantamento das perspectivas de investimentos do BNDES, iniciado em 2006 e até então realizado anualmente, passou a ser feito com maior frequência. Observou-se, durante o período mais intenso da crise, forte resiliência dos setores de petróleo e gás e de infraestrutura básica, atribuída à existência de projetos de grande porte e prazo de maturação, bem como a avanços no marco regulatório e a políticas públicas. As inversões nos setores exportadores e de bens de capital, no entanto, foram bastante impactadas, por causa da forte queda no comércio internacional e da deterioração das expectativas quanto ao crescimento econômico mundial. A rapidez da retomada dos investimentos veio confirmar o diagnóstico do BNDES de que a crise havia levado a um movimento mais de adiamento do que de cancelamento de projetos. Ao mesmo tempo, a existência de grande número de projetos de larga escala garantia um piso mais elevado dos investimentos. O objetivo deste capítulo é apresentar o novo levantamento sobre as perspectivas de investimentos na economia brasileira, agora para o período 2010-2013. Existe particular interesse em compreender o processo de retomada do investimento. Nesse sentido, procura-se resposta para algumas perguntas. Qual a perspectiva de crescimento dos investimentos? Quais setores deverão se destacar e quais são os fatores críticos que podem comprometer ou beneficiar esse cenário? Para responder a essas perguntas, foi necessária uma análise prévia dos fatores que limitavam o crescimento dos investimentos e das mudanças no cenário ocorridas nos últimos anos, com atenção especial ao ciclo de inversões ocorrido entre 2006 e 2008. Embora os determinantes iniciais desse ciclo não anunciassem maior mia no período, que consolidaram o cenário de crescimento do investimento na economia nos próximos anos. robustez dos investimentos do país, houve importantes transformações na econo- 15

Além desta introdução, o estudo inclui oito seções. A segunda analisa as restrições ao investimento no Brasil entre 1980 e meados da década de 2000 e a terceira faz um breve retrospecto da mudança no cenário econômico no fim desse período. A quarta seção apresenta o panorama dos investimentos nos setores mapeados de 2005 a 2008, avaliando o que determinou a mudança do cenário. A quinta e a sexta mostram, respectivamente, as perspectivas no período 2010-2013 e os novos fatores determinantes dos investimentos. A partir dessas perspectivas, a sétima seção projeta a trajetória da taxa de investimento na economia e, por fim, a oitava seção apresenta as conclusões do estudo. Por que a taxa de investimento não crescia O Gráfico 1 mostra o comportamento do investimento, ao longo de quase 40 anos. Permite comparar os anos de 1970, quando o Brasil vivia seu milagre econômico, com os anos 2000. A taxa de investimento caiu significativamente, tanto a preços correntes em sete pontos percentuais do PIB quanto a preços constantes em 12 p.p. do PIB, entre meados das décadas de 1970 e de 2000.1 Gráfico 1: Taxa de investimento 30 % do PIB 25 20 15 Taxa de investimento (preços correntes) 2009 2007 2003 2005 2001 1999 1997 1995 1993 1991 1989 1985 1987 1983 1981 1977 1979 1975 1973 1971 10 Taxa de investimento (preços constantes de 1980) Fonte: Elaboração da APE/BNDES, com base em dados do IBGE. 1 16 A diferença entre essas quedas é explicada pelo aumento do preço relativo dos bens de capital frente aos demais preços da economia. Puga e Nascimento (2007) explicam essa diferença com base em políticas de ajuste macroeconômico, que resultaram em contenção de demanda, com contenção maior dos preços de economia.

A composição da FBCF brasileira também sofreu grandes transformações nesse período. Para avaliá-las, a Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do BNDES realizou estimativas decompondo a FBCF em seis setores. Utilizou-se a segmentação tradicional entre indústria de transformação e indústria extrativa mineral. No entanto, foram excluídas do primeiro grupo as atividades referentes ao refino de petróleo e, do segundo, a parcela referente a exploração e produção de petróleo e gás natural. Ambos, em conjunto, passaram a compor o setor de petróleo e gás, destaque justificado pela importância que os investimentos nesse segmento passaram a ter nos últimos anos. Também foram separados os seguintes setores: (i) de infraestrutura (que compreende os segmentos de utilidades públicas e os investimentos governamentais); (ii) o de construção residencial (dado seu grande peso na construção civil); e (iii) demais, que abrange agropecuária, comércio e serviços. Os resultados obtidos revelam mudanças importantes na composição do investimento brasileiro desde a década de 1970, com destaque para a perda de participação relativa da indústria de transformação e da infraestrutura. O Gráfico 2 revela que a participação desses dois setores na FBCF caiu de 52%, na década de 1970, para 31%, em 2008, isto é, uma perda de 21 p.p. São setores que concentram projetos de longo prazo de maturação e de elevado valor, que requerem estabilidade econômica e arcabouço institucional apropriado para serem realizados. Essas condições, sem dúvida, estiveram ausentes nos 25 anos que vão do início dos anos 1980 até meados da década de 2000. Gráfico 2: Composição do investimento - principais setores 100 24 45 43 42 22 22 22 22 22 23 12 10 12 11 9 10 15 15 14 13 15 16 16 17 8 2 7 3 7 2 7 3 1 5 2 3 1 4 1 7 9 9 2004 2005 2006 2007 2008 22 40 44 2003 22 41 43 26 25 23 20 17 14 17 16 18 20 18 11 29 23 1 5 1 3 1 2 1 2 1 4 1995-1996 1997-1998 1999 19 1990-1994 1971-1980 1 4 16 1981-1989 18 10 Petróleo e gás Infraestrutura 10 Extrativa mineral Ind. transformação Construção residencial Demais 23 26 27 23 30 0 38 21 40 20 38 47 60 50 35 2002 Em % 70 35 38 2001 22 80 2000 90 Fontes: Bielschowsky (2002), BNDES e IBGE. 17

A instabilidade na economia foi sério entrave ao investimento no Brasil. O ambiente inflacionário, dos anos 1980 à primeira metade dos anos 1990, dificultava o planejamento de longo prazo e os cálculos prospectivos de retorno dos projetos. A presença de juros elevados foi outro importante limitador dos investimentos na indústria de transformação. As empresas foram levadas a se concentrar em projetos cuja atratividade superasse a combinação de liquidez, segurança e elevada rentabilidade proporcionada pelas aplicações em títulos públicos no overnight. Tal cenário restringiu as inversões à modernização de plantas industriais existentes, em detrimento da construção de novas unidades fabris, caracterizadas por maior mobilização de recursos e elevados prazos de retorno. Restrições externas por escassez de divisas foram fatores críticos em diferentes momentos: moratória mexicana (1982), crise do México (1995), crise da Ásia (1997), crises da Rússia e do Brasil (1998-1999) e eleições presidenciais brasileiras (2002). Resultaram em rígidas políticas de ajuste macroeconômico, acompanhadas por retração no crédito e redução da capacidade do Estado de investir. Os acordos entre o Brasil e o Fundo Monetário Internacional (FMI), em 1982 e em 1998, impuseram restrições às inversões do setor público. Diante da reduzida capacidade do Estado de atuar diretamente no desenvolvimento da infraestrutura do país, diversas empresas estatais foram privatizadas, cabendo ao setor privado assumir maior liderança nos investimentos em infraestrutura. No entanto, o arcabouço institucional foi, para a maioria dos setores, um importante entrave a tais inversões. Este livro inclui dois artigos que abordam a importância do desenvolvimento do marco regulatório para os setores de energia elétrica e logística.2 18 2 Ver Capítulos 7 e 8.

Breve retrospectiva da mudança no cenário econômico Em meados da década de 2000, o Brasil apresentava indicadores econômicos bem mais propícios à realização de investimentos. O Gráfico 3 mostra uma seleção desses indicadores. A economia crescia a taxas estáveis e maiores que na média dos 20 anos anteriores. As taxas de inflação e juros apresentavam trajetória de queda e menor volatilidade, o que favoreceu a expansão do mercado de crédito. Os empréstimos às pessoas físicas lideraram esse crescimento, impulsionados pela criação das operações consignadas em folha de pagamento. Gráfico 3: Indicadores econômicos CresCimento do pib 10 8 6 2008 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 0 1980 2-2 -4-6 inflação ipca 25 20 15 10 5 Em % Em % 4 0 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 19

juros selic 90 80 70 Em % 60 50 40 30 20 10 jan/10 jan/09 jan/08 jan/07 jan/06 jan/05 jan/04 jan/03 jan/02 jan/01 jan/00 jan/99 jan/98 jan/97 jan/96 dez/94 0 crédito/pib 50 45 Em % 40 35 30 25 nov/07 fev/08 mai/08 ago/08 nov/08 fev/09 mai/09 ago/09 nov/09 fev/10 mai/10 mai/00 ago/00 nov/00 fev/01 mai/01 ago/01 nov/01 fev/02 mai/02 ago/02 nov/02 fev/03 mai/03 ago/03 nov/03 fev/04 mai/04 ago/04 nov/04 fev/05 mai/05 ago/05 nov/05 fev/06 mai/06 ago/06 nov/06 fev/07 mai/07 ago/07 20 Fonte: Ipeadata. A mudança nas contas externas foi também significativa. As reservas internacionais aumentaram de US$ 57 bilhões, em 2005, para US$ 240 bilhões, em 2009 (Gráfico 4). Como resultado do acúmulo de reservas internacionais, o Brasil passou da condição de devedor para credor líquido em moeda estrangeira em 2006 (Gráfico 4). Essa mudança de status do país rompeu com o perverso canal de transmissão de choques cambiais sobre as contas fiscais. Diferentemente do passado, a desvalorização da moeda nacional agora reduz 20 a dívida pública, abrindo espaço para políticas fiscais anticíclicas em momentos de crise.

Gráfico 4: Reservas internacionais e dívida externa líquida do setor público Reservas internacionais 300 250 241 Em US$ bilhões 200 188 150 100 57 50 36 dez/99 abr/00 ago/00 dez/00 abr/01 ago/01 dez/01 abr/02 ago/02 dez/02 abr/03 ago/03 dez/03 ago/04 abr/04 dez/04 abr/05 ago/05 dez/05 abr/06 ago/06 dez/06 abr/07 ago/07 dez/07 abr/08 ago/08 dez/08 abr/09 ago/09 dez/09 abr/10 0 Evolução da dívida externa líquida do setor público consolidado 20 15 10 5 0-5 -10-9,6 jul/10 mar/10 jul/09 nov/09 mar/09 jul/08 nov/08 mar/08 jul/07 nov/07 mar/07 jul/06 nov/06 mar/06 jul/05 nov/05 mar/05 jul/04 nov/04 mar/04 jul/03 nov/03 mar/03 jul/02 nov/02 mar/02-15 nov/01 Em % do PIB Credor externo líquido Devedor externo líquido 18,0 Fonte: Elaboração da APE/BNDES, com base em BCB. Com a retomada do crescimento, a redução da taxa de juros e o cumprimento das metas fiscais, a dívida líquida do setor público (DLSP) entrou em trajetória de queda. A DLSP saiu de 61% do PIB, no fim de 2002, para 43% do PIB, no fim de 2009. Além da maior solvência do governo, o perfil da dívida melhorou, com crescimento da participação de títulos prefixados a partir de 2003 e alongamento dos prazos a partir de 2006. 21

O desempenho dos investimentos entre 2005 e 2008 A análise da mudança no desempenho dos investimentos e seus fatores determinantes foi feita com base em uma ótica setorial, que resultou do levantamento das inversões nos principais setores da economia. Esse mapeamento foi comparado às transformações ocorridas nos cenários brasileiro e internacional, tendo como resultado um diagnóstico dos efeitos das mudanças na demanda mundial, melhora na distribuição de renda do país e alterações em marco regulatório sobre os investimentos. O levantamento engloba 14 setores (Tabela 1), dos quais sete da indústria, seis de infraestrutura e um de construção civil. A escolha dos setores foi feita com base tanto na relevância de cada um deles para a FBCF quanto no grau de conhecimento do BNDES sobre os projetos em curso e em perspectiva. Por conta do foco do Banco em financiar investimentos, o levantamento cobre principalmente os setores da indústria mais intensivos em capital e os projetos de infraestrutura. Pelo conhecimento dos efeitos do programa de apoio à construção de casas populares e dos investimentos por conta dos eventos esportivos, o setor de edificações foi agregado ao mapeamento. TABELA 1: Lista de Setores com Investimentos Mapeados Indústria Infraestrutura Petróleo e gás Energia elétrica Extrativa mineral Telecom Siderurgia Saneamento Química Ferrovias Veículos Rodovias Eletroeletrônica Portos Papel e celulose Construção civil Edificações 22 Fonte: BNDES.

Para melhor compreensão da dinâmica dos investimentos na indústria, foram agrupados os setores de petróleo e gás, os projetos mais voltados ao mercado externo e aqueles mais voltados ao mercado interno. Desse modo, a análise é focada nos seguintes grupos: Indústria petróleo e gás. Compreende os investimentos em exploração e produção; refino e transportes; e gás e energia. O mapeamento considera os investimentos a serem realizados pela Petrobras e pelas empresas privadas. O Brasil é a principal fronteira para a expansão da produção de petróleo no mundo e deve continuar atraindo empresas em busca de expansão nas suas reservas. Indústria voltada ao mercado externo. Compreende setores com investimentos mais voltados à produção para exportação. Por conta da disponibilidade de informações, o levantamento foca nos setores de extrativa mineral, siderurgia e papel e celulose. Trata-se de grupo que tem sido beneficiado pelo aumento dos preços internacionais de commodities, decorrente do forte crescimento da demanda chinesa por matérias-primas. Reúne setores em que o Brasil tem uma indústria bastante competitiva, com empresas brasileiras que exportam para diferentes mercados. Os baixos custos de produção têm também levado a um deslocamento de unidades produtivas do hemisfério norte para o Brasil, com tais investimentos sendo também mapeados no estudo. Indústria voltada ao mercado interno. O mapeamento abrange dois setores produtores de bens de consumo das famílias veículos e eletroeletrônica, além da química, que tem produção voltada ao mercado interno. São setores particularmente beneficiados pelo crescimento da classe C da população e pela forte expansão do crédito às pessoas físicas. Embora relevantes, não foram cobertos os setores intensivos em trabalho, que também têm produção mais voltada ao mercado interno. A alta participação de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) nesses setores dificulta o levantamento de informações. 23

Infraestrutura. O levantamento abrange os dois principais setores de infraestrutura energia elétrica e telecomunicações, além das áreas de logística (transporte rodoviário, portos e ferrovias) e de saneamento. Não inclui os investimentos mapeados em aeroportos por conta dos eventos esportivos, que já estão incluídos no segmento de edificações da construção civil. Construção civil. O estudo trata somente dos investimentos em edificações não industriais, uma vez que grande parte das inversões em construção pesada e em edificações industriais está incluída nos projetos da indústria e de infraestrutura. Fazem parte da análise os investimentos em construção residencial, edificações comerciais e instalações desportivas. Contudo, não incorpora construção residencial não organizada e os gastos das famílias em reformas de residências. Em 2008, tais investimentos ficaram em R$ 256 bilhões,3 representando: 8% do PIB; 44% da FBCF; 61% dos investimentos da indústria; e 95% dos investimentos da infraestrutura. O setor de edificações tem grande peso no mapeamento, tendo respondido por 37% dos investimentos nos setores analisados em 2008. O setor de petróleo e gás tem também grande importância no levantamento, com participação de 21%. A indústria mais voltada ao mercado externo teve peso de 13%, com destaque para a extrativa mineral. A indústria voltada ao mercado interno respondeu por apenas 7% das inversões, por conta da dificuldade apontada em obter informações sobre alguns setores. Na infraestrutura, com participação de 22%, sobressaem os valores em energia elétrica e telecomunicações. Existem nítidas diferenças entre os setores em termos de desempenho do investimento, entre 2005 e 2008. O Gráfico 5 mostra o crescimento, tendo como referência os valores médios anuais entre 2001 e 2004. A liderança da indústria no aumento das inversões aparece de forma bastante nítida, desde o início do período analisado. 24 3 Valores a preços de 2009, atualizados com base no deflator implícito da FBCF.

Os investimentos em edificações se aceleraram apenas a partir de 2007, enquanto a infraestrutura cresceu somente em 2008. Gráfico 5: Crescimento dos investimentos (média 2001-2004 = 100) 200 180 160 140 120 100 80 2001-04 2005 Indústria 2006 Infraestrutura 2007 Edificações 2008 Total Fonte: BNDES. Os setores voltados ao mercado externo e o de petróleo e gás foram os que puxaram o desempenho da indústria, como mostra o Gráfico 6. Os investimentos dos setores mais voltados ao mercado interno cresceram somente a partir de 2006. De 2006 a 2008, houve aumento generalizado nas inversões dos três grupos. Gráfico 6: Crescimento dos investimentos na indústria (média 2001-2004 = 100) 300 250 200 150 100 50 Petróleo e gás Fonte: BNDES. 2005 2006 Voltados ao mercado externo 2007 2008 Voltados ao mercado interno 2001-04 25

Com base nos gráficos anteriores, é possível identificar três grandes movimentos do investimento no período de 2005 a 2008: 2005-2006, 2006-2007 e 2008. No que segue, são analisados os setores líderes em cada movimento e os fatores econômicos determinantes da liderança. Liderança de petróleo e gás e dos setores voltados ao mercado externo Em 2005-2006, houve expressivo volume de investimento nos setores voltados ao mercado externo e em petróleo e gás. A mudança no cenário externo foi o principal fator determinante dessas inversões. Em meados da década de 2000, a economia mundial, especialmente a da China, apresentava forte dinamismo, acompanhado por aumento da demanda por commodities. A alta expressiva nos preços internacionais dos principais produtos básicos exportados proporcionou variações positivas dos termos de troca do Brasil i.e., da razão entre a evolução dos preços de exportação e de importação. O Gráfico 7 mostra a trajetória dos preços do minério de ferro e da cotação internacional do petróleo. Gráfico 7: Cotação dos contratos de exportação de minério de ferro brasileiro e preço spot do barril de petróleo evolução do preço spot do petróleo 160 140 Em US$/barril 120 100 80 dez/06 60,1 Média 2003-2005 US$40,8/barril 60 40 20 jun/10 mar/10 set/09 dez/09 jun/09 mar/09 set/08 dez/08 jun/08 set/07 dez/07 mar/08 jun/07 set/06 dez/06 mar/07 jun/06 set/05 dez/05 mar/06 jun/05 set/04 dez/04 mar/05 jun/04 mar/04 set/03 dez/03 jun/03 dez/02 26 mar/03 0

Evolução dos preços do minério de ferro (CIF) exportado pelo Brasil 200 180 160 Em US$/t 140 120 100 dez/06 75,9 Média 2003-2005: US$ 53,8 80 60 40 20 jan/10 abr/10 jul/09 out/09 jan/09 abr/09 jul/08 out/08 jan/08 abr/08 jul/07 out/07 jan/07 abr/07 jul/06 out/06 jan/06 abr/06 jul/05 out/05 jan/05 abr/05 jul/04 out/04 jan/04 abr/04 jul/03 out/03 jan/03 abr/03 0 Fonte: Elaboração da APE/BNDES, com base em CRU e Bloomberg. Em 2006, houve forte crescimento nas inversões em segmentos de bens intermediários: siderurgia e papel e celulose. Esse movimento de difusão dos investimentos, com o adensamento da cadeia produtiva, abrangeu tanto empresas já localizadas no país quanto o ingresso de investimentos diretos do exterior. Destacam-se a Thyssen Krupp e a Arcelor Mittal, na siderurgia, e a Stora Enso, em papel e celulose. As vantagens comparativas brasileiras nos setores de siderurgia e papel e celulose foram elementos importantes dessa segunda etapa. O Gráfico 8 mostra que o Brasil tem o menor custo de produção no segmento de celulose, enquanto na siderurgia os custos de produção também se encontram bem abaixo da média mundial. Essas características estimularam o fechamento de fábricas na Europa e nos Estados Unidos e provocaram deslocamentos de bases de produção para os países em desenvolvimento do hemisfério sul, sendo o Brasil um locus de destaque nesse processo. 27

Gráfico 8: Vantagens comparativas brasileiras nos setores de siderurgia e papel e celulose Custo de produção de bobinas a quente em 2010 500 450 430 420 403 400 380 350 340 Em US$/t 310 300 250 200 150 100 50 0 Brasil CIS Média mundial Índia Argentina China Custo de produção de BHKP no segundo trimestre de 2009 515 520 Finlândia Canadá China 301 309 Indonésia Chile 300 454 511 532 464 375 306 Brasil Em US$/t 400 453 Noruega 500 EUA 600 200 100 França Suécia Média mundial 0 Fonte: Elaboração da APE/BNDES, com base em CRU e Hawkins Wright. A fase de adensamento do investimento Em 2006-2007, o investimento passou para uma segunda fase, modificando li- 28 geiramente seu perfil e tornando-se mais robusto. Além da manutenção do crescimento das inversões em petróleo e gás e em setores voltados ao mercado externo,

aceleraram-se os investimentos em setores voltados ao mercado doméstico e em edificações. A melhora das contas externas e os efeitos dinamizados das fases iniciais do ciclo de investimento foram, sem dúvida, importantes para a retomada do crescimento do mercado interno. O consumo cresceu com o aumento da geração líquida de postos de trabalho formais, o aumento do salário real e a expansão do crédito. O Gráfico 9 mostra uma seleção de indicadores do mercado de trabalho e de distribuição de renda. Entre 2003 e 2009, foram criados mais de 8,7 milhões de empregos formais na economia, enquanto a inflação, medida pelo IPCA, caiu de 9,3% para 4,3%. O crescimento da massa salarial real da ordem de 35%, os aumentos reais do salário mínimo e as políticas de transferência de renda, como o programa Bolsa Família,4 explicam a redistribuição da renda no período. O índice de Gini que mede o grau de desigualdade existente na distribuição da renda domiciliar per capita caiu de forma contínua ao longo de toda a década de 2000. Chama a atenção o aumento da importância econômica da classe média, com a migração das famílias que pertenciam às classes D e E (renda domiciliar per capita do trabalho de até R$ 224,00) para a classe C (renda entre R$ 224,00 e R$ 697,00). A classe C, que respondia por 43,2% da renda per capita do trabalho em 2002, passou a representar 53,8% em 2008. O surgimento dessa nova classe média 5 expandiu o mercado interno, levando as empresas a elevar seus níveis de produção em direção a maiores economias de escala. Entre 2003 e 2009, o aumento médio real acumulado do salário mínimo, a preços de novembro de 2009, 4 chegou a 44,5%. O Bolsa Família, lançado em outubro de 2003, com o objetivo de combater a fome e a cresceu de forma rápida. Em 2008, o programa beneficiava cerca de 11,5 milhões de famílias, com dispêndio de, aproximadamente, R$ 1 bilhão. 5 Ver Fundação Getulio Vargas/Centro de Políticas Sociais (2010). pobreza, além de assegurar acesso à rede de serviços públicos e assistência social às camadas mais pobres, 29

Gráfico 9: Criação líquida de empregos formais, massa salarial real, índice de Gini e estrutura de classes ECONÔMICAS criação líquida de empregos formais 2.400 2.200 Formalização de mais de 10 milhões de postos de trabalho 2.000 Em milhares 1.800 1.617 1.600 1.523 1.400 1.200 1.229 995 1.000 800 1.473 1.452 1.254 645 600 400 200 0 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 (até junho) massa salarial ampliada (média em 12 meses) 130 128,6 Em R$ bilhões 120 110 100 94,6 90 80 71,3 nov/04 jan/05 mar/05 mai/05 jul/05 set/05 nov/05 jan/06 mar/06 mai/06 jul/06 set/06 nov/06 jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 set/07 nov/07 jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 set/08 nov/08 jan/09 mar/09 mai/09 jul/09 set/09 nov/09 jan/10 mar/10 mai/10 70 30

Índice de Gini da população ocupada 0,56 0,554 0,55 0,547 0,544 0,541 0,54 0,53 0,528 0,521 0,52 0,518 0,51 0,50 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Evolução da distribuição por classes econômicas 60 Em % da população 50 40 30 20 10 0 2002 2003 2004 AB 2005 C 2006 D 2007 2008 E Fontes: Caged, Banco Central, PNAD-IBGE. O governo também contribuiu para a expansão do investimento com medidas em relação ao investimento público e à indução das inversões do setor privado. Em 2007, lançou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que consistia em ações coordenadas entre os setores público e privado visando promover investimentos em infraestrutura no período 2007-2010.6 O objetivo do programa foi eliminar os gargalos existentes ao crescimento econômico; aumentar a produtividade das empresas; gerar efeitos multiplicadores 6 Em sua versão inicial, o total dos investimentos públicos e privados compreendidos no PAC atingiam o montante de R$ 503,9 bilhões, sendo R$ 274,8 bilhões para a área energética, R$ 170,8 bilhões para a área social e urbana e R$ 58,3 bilhões para logística. e aceleradores de investimentos no setor privado; e reduzir as desigualdades regionais. 31

Generalização do crescimento dos investimentos O ano de 2008 pode ser marcado pelo crescimento do investimento de forma generalizada. Em todos os setores analisados, as inversões foram, em termos reais, maiores do que no ano anterior. Mesmo nos setores voltados ao mercado externo, o agravamento da crise internacional no quarto trimestre de 2008 não foi suficiente para reverter o robusto aumento das inversões nos nove primeiros meses do ano. Tanto o consumo das famílias quanto o crédito continuaram a crescer, impulsionando as inversões dos setores voltados ao mercado doméstico e em edificações. As políticas públicas de incentivo ao investimento (PAC) da infraestrutura básica, por sua vez, levaram a uma expansão dos investimentos em infraestrutura. Em suma, esta seção mostrou a importância do ciclo de investimento ocorrido entre 2006 e 2008. Seu início foi bastante modesto, amparado basicamente no forte dinamismo da economia mundial, com ampla liquidez, elevação dos preços das commodities e aumento das inversões em setores exportadores e em petróleo e gás. A difusão desse processo para outros setores e as mudanças estruturais ocorridas na economia é que tornaram esse ciclo singular. Em meados de 2008, os investimentos eram elevados em diversos setores, atingindo os segmentos ligados aos mercados interno e externo e a infraestrutura básica. A crise financeira internacional, no fim de 2008, levou à interrupção do ciclo de expansão do investimento. No segundo semestre de 2009, contudo, os investimentos já retomavam crescimento. A sustentação do crescimento do mercado doméstico, a existência de grandes projetos e políticas públicas foram fundamentais para essa retomada. A próxima seção destaca a importância desses fatores, ao analisar a perspectiva de investimento 2010-2013. As perspectivas de investimento 2010-2013 O levantamento das perspectivas de investimento cobre tanto projetos financia- 32 dos pelo BNDES quanto por outras fontes de recursos. Para a maioria dos setores, foi possível identificar os projetos existentes. Em petróleo e gás, as fontes de

informação são o plano estratégico da Petrobras, retiradas as inversões no exterior e em outros setores, e o levantamento de investimentos nas demais empresas. No caso da construção residencial, foram calculados os impactos do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) e dos eventos esportivos, acrescidos de estimativa econométrica para os demais investimentos do setor. A Tabela 2 mostra o montante expressivo de R$ 1,3 trilhão de investimentos nos setores mapeados para o período 2010-2013. Chamam a atenção os R$ 465 bilhões em edificações e os R$ 340 bilhões em petróleo e gás. Na infraestrutura, sobressaem as perspectivas de inversões em energia elétrica de R$ 102 bilhões. Setores R$ bilhões % Indústria 549 41,4 Petróleo e gás 340 25,6 Voltados ao mercado externo 122 9,2 Extrativa mineral 52 3,9 Siderurgia 51 3,9 Papel e celulose 19 1,4 Voltados ao mercado interno 87 6,5 Química 34 2,5 Veículos 32 2,4 Eletroeletrônica 21 1,6 Infraestrutura 315 23,7 Energia elétrica 102 7,7 Telecom 67 5,0 Saneamento 39 2,9 Ferrovias 56 4,2 Transporte rodoviário 36 2,7 Portos 15 1,1 465 35,0 1.328 100,0 Edificações Total Fonte: BNDES. Tabela 2: Investimentos mapeados 2010-2013 33

A Tabela 3 apresenta a perspectiva de crescimento nos investimentos para 2010-2013, na comparação com 2005-2008. O cenário é de aumento de 9,2% ao ano nas inversões dos setores mapeados, com destaque para elevação de 11,9% a.a. na indústria. Chama a atenção o cenário de aumento dos investimentos acima de 4,5% ao ano, nos cinco grupos (petróleo e gás, voltados ao mercado externo, voltados ao mercado interno, infraestrutura e edificações). tabela 3: Crescimento dos Investimentos Mapeados 2010-2013 Setores Valores (R$ bilhão) 2005-2008 2010-2013 Crescimento % % a.a. Indústria 313 549 75,8 11,9 Petróleo e gás 160 340 112,5 16,3 Voltados ao mercado externo 96 122 26,9 4,9 Extrativa mineral 53 52 (2,7) (0,6) Siderurgia 26 51 99,5 14,8 Papel e celulose 17 19 10,6 2,0 Voltados ao mercado interno 56 87 53,9 9,0 Química 18 34 87,4 13,4 Veículos 23 32 37,8 6,6 Eletroeletrônica 15 21 39,0 6,8 Infraestrutura 199 315 57,9 9,6 Energia elétrica 67 102 52,0 8,7 Telecom 66 67 2,1 0,4 Saneamento 22 39 76,5 12,0 Ferrovias 19 56 195,3 24,2 Transporte rodoviário 21 36 73,0 11,6 5 15 217,9 26,0 Edificações 343 465 35,6 6,3 Total 854 1.328 55,5 9,2 Portos Fonte: GT do Investimento/BNDES. 34 No que segue, são analisadas as características dos investimentos mapeados em cada setor.

Indústria petróleo e gás A perspectiva de crescimento dos investimentos está claramente puxada por petróleo e gás. A expectativa para o próximo quadriênio é de que os investimentos atinjam R$ 340 bilhões, com crescimento de 113% em relação ao quadriênio 2005-2008.7 Cumpre destacar que as inversões na província do pré-sal respondem por apenas cerca de R$ 50 bilhões do total. Tais inversões são basicamente em exploração, com menor magnitude frente às que deverão ocorrer na etapa posterior de produção. Nesse sentido, pode-se concluir que até 2020 o setor contará com projetos de investimentos ainda mais vultosos em petróleo e gás. O Brasil é a principal fronteira mundial de expansão do setor [Costa et al. (2010) e Sant Anna (2010)]. A perspectiva é de que a produção brasileira de petróleo cresça 2,8 milhões de barris/dia, entre 2008 e 2030. As inversões do setor têm também o potencial de incentivar o desenvolvimento da indústria local de bens e serviços para-petroleiros. Apenas a Petrobras tem planejada a compra de 48 embarcações de apoio, a contratação de 22 sondas de perfuração e 13 plataformas até 2013. Enfim, trata-se de uma grande oportunidade para o país se transformar em uma base importante de produção de bens e serviços associados à cadeia do petróleo.8 Indústria voltada ao mercado externo O cenário é de crescimento de 27% nos investimentos mapeados da indústria mais voltada ao mercado externo no período 2010-2013, frente a 2005-2008. Nota-se um menor dinamismo frente ao crescimento projetado de 49% para os setores mais direcionados ao mercado interno. A explicação está na expectativa de melhor desempenho brasileiro frente aos demais países. Essa diferença, no entanto, tende a mudar com o comportamento dos preços internacionais de commodities e alterações no desempenho da economia mundial. Foram considerados os investimentos em exploração e produção; refino e transportes; e gás e energia. Não compreende os projetos em distribuição de combustíveis e em petroquímica em especial o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), incluído na química. 8 Ver Capítulo 2 deste livro. 7 35

Na extrativa mineral, os investimentos deverão ficar em R$ 52 bilhões, no período 2010-2013. Nos últimos anos, o crescimento da demanda chinesa levou a forte alta nos preços dos minérios, conforme visto na quarta seção. Esse aumento foi decisivo para o ciclo de inversões ocorrido na mineração, com as empresas antecipando projetos. Como resultado dessa antecipação, a projeção é de pequena queda de 3% nos investimentos do setor, na comparação com 2005-2008. O comportamento da economia chinesa continuará a ser fator determinante para o desempenho da mineração nos próximos anos. Em 2009, o aumento das importações da China mais do que compensou a queda no resto do mundo, levando o país a responder por quase 70% da comercialização do minério no mercado transoceânico. Dois fatores têm colaborado para maior demanda chinesa: os planos de investimento do governo em projetos de infraestrutura e o fechamento de diversas minas de alto custo. Na siderurgia, a perspectiva é de investimentos de R$ 51 bilhões no período 2010-2013, dobrando em relação a 2005-2008. A capacidade instalada deverá aumentar de cerca de 42,7 milhões de toneladas de aço bruto, em 2009, para 51,3 milhões de toneladas, em 2013. Os investimentos no pré-sal, as Olimpíadas e a Copa do Mundo representarão um consumo adicional de aço próximo de oito milhões de toneladas, entre 2010 e 2016, o que significa uma média anual de 1,1 milhão de toneladas adicionais de aço bruto, a ser atendida pelas usinas brasileiras. No entanto, a atual capacidade produtiva do país é mais do que suficiente para atender ao aumento da demanda interna.9 Os investimentos mapeados destinam-se principalmente à exportação. Após forte queda no início do ano, o comércio mundial de aço apresentou surpreendente recuperação no fim de 2009. Ainda existe no mundo um significativo excedente de capacidade de produção de aço de 600 milhões de toneladas/ano, com uma capacidade instalada bruta de 1,9 bilhão de t/ano para um consumo aparente de 1,3 bilhão de toneladas. Contudo, o Brasil está bem posicionado em termos de custos de produção. Em 2009, os custos totais de produção de bobinas a quente, por exemplo, ficaram em US$ 340/tonelada, ante uma média mundial de US$ 403/tonelada, de US$ 430/tonelada na China e de US$ 380/tonelada na Índia.10 36 9 Ver Puga, Borça Jr. e Carvalho e Silva (2010). 10 Ver Capítulo 3 deste livro.